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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.15 no.1 Ribeirão Preto  2014

 

EDITORIAL

 

Experiências profissionais com grupos e o espaço do estágio básico para a formação em Psicologia

 

 

Fabio Scorsolini-Comin

Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba-MG

 

 

É com muita satisfação que apresento à comunidade acadêmica o primeiro número do volume 15 da Revista da SPAGESP, ainda inspirado pelas reflexões ocorridas no V Congresso da SPAGESP, na XI Jornada do NESME (Núcleo de Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares) e no V Congresso de Saúde Mental da Região de Ribeirão Preto, em agosto de 2014. Este evento teve como tema "As adversidades no trabalho com grupos: O desafio da diversidade" e reuniu diferentes pesquisadores e profissionais que atuam com grupos e famílias no contexto da saúde mental. Diversas discussões foram tecidas tendo em mente a diversidade que atravessa o campo dos grupos e que, de certa forma, nos ajuda a apresentar este primeiro número do ano de 2014 da Revista da SPAGESP. Falar em grupos e em diversidade possibilita um olhar contemporâneo acerca de como a ciência psicológica tem se constituído diante dos desafios sempre renovados e que orientam também as investigações científicas na área.

Neste presente número, além das pesquisas realizadas sobre grupos e saúde mental, trazemos importantes contribuições que colocam em destaque o estágio básico em Psicologia, realizado anteriormente ao estágio supervisionado e em atenção às Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Psicologia, de 2004, atualizadas em 2011 para a inserção de diretrizes acerca da formação de professores de Psicologia. O estágio básico constitui um momento importante da formação dos estudantes, uma vez que apresenta a oportunidade de que estes entrem em contato com diferentes contextos de atuação, revelando a pluralidade de cenários e possibilidades em que pode se dar a atenção psicológica. Especificamente neste número, alguns relatos de experiências com grupos são aqui priorizados em termos da atuação dos futuros profissionais de Psicologia.

Iniciando a seção de artigos originais, o estudo intitulado "Comunicação inconsciente entre singular e plural: Grupo de pacientes psiquiátricos", de Maria Cristina Zago, Antonios Terzis e Bruneide Menegazzo Padilha, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, apresenta o "jogo-relacional" de um grupo de pacientes psiquiátricos que se reúnem para praticar atividades físicas em um Centro de Convivência. Segundo os autores, a técnica grupal desenvolvida propiciou a emergência da intersubjetividade em sua perspectiva inconsciente, promovendo maior organização interna a partir da realidade compartilhada nos encontros grupais.

A pesquisa de Larissa Wolff da Rosa e Denise Falcke, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, intitulada "Violência conjugal: Compreendendo o fenômeno", buscou estudar a dinâmica de funcionamento desses casais com histórico de violência. As autoras concluíram que existem padrões conjugais que favorecem a eclosão e a perpetuação da violência em seus relacionamentos, o que é amplamante discutido no artigo, inclusive em termos de suas repercussões para as intervenções com casais nessa situação, com foco na prevenção.

"Suporte social em adolescentes com Diabete Melito Tipo I: Uma revisão sistemática", de Luciana Cassarino-Perez, Cássia Ferrazza Alves e Débora Dalbosco Dell'Aglio, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, investigou o suporte social nessa população a partir de um amplo mergulho na literatura científica. As autoras concluíram que as principais fontes de suporte são o apoio dos pais, da família e da equipe de saúde. Discute-se, a partir desses achados, o suporte social como fator de proteção.

O estudo "Inventário do Conhecimento do Desenvolvimento Infantil: Estudo com mães de crianças em acolhimento institucional", de Edson Junior Silva da Cruz, Lilia Iêda Chaves Cavalcante e Janari da Silva Pedroso, da Universidade Federal do Pará, procurou compreender o conhecimento de mães sobre práticas de cuidado e desenvolvimento infantil. Aponta-se que as mães têm um bom conhecimento sobre questões relacionadas ao desenvolvimento infantil e que fatores sociodemográficos como escolaridade, idade e número de filhos foram fundamentais na formação de suas concepções acerca de tal temática.

"As vivências do luto e seus estágios em pessoas amputadas", de Renata Seren e Rafael De Tilio, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, investigou como pessoas que sofreram amputações lidam com a perda de um membro físico e como vivenciam o processo de luto. A partir de entrevistas realizadas com pessoas amputadas, os autores destacam que o luto pela amputação deve ser compreendido como um processo dinâmico que depende de condições individuais e sociais, envolvendo consequências psicológicas complexas.

No artigo "O sonho de um supervisor em uma clínica-escola: Contribuições da psicanálise contemporânea", Sandra Aparecida Serra Zanetti e Julia Archangelo Guimarães, da Universidade Estadual de Londrina, relatam o modo como um profissional de Psicologia pode se beneficiar do próprio material psíquico, como um sonho. A partir do relato de uma experiência profissional, destaca-se a importância do que o supervisor sente, percebe, sonha e pensa ao longo do processo terapêutico, o que deve ser trabalhado e analisado de modo adequado e reflexivo.

Os três últimos estudos reunidos neste número apresentam alguns relatos profissionais que colocam em destaque o estágio básico em Psicologia, obrigatório para a formação do psicólogo no Brasil. Tratam-se de importantes relatos desenvolvidos em diferentes contextos que destacam a construção da identidade profissional a partir do contato com a prática psi. O estudo intitulado "Processo grupal mediado por filmes: Espaço e tempo para pensar a Psicologia", de Tales Vilela Santeiro, Fabíola Ribeiro de Moraes Santeiro, Aurélia Magalhães de Oliveira Souza, Ana Paula de Melo Juiz e Lucas Rossato, da Universidade Federal de Goiás, destaca de que modo os filmes podem ser empregados na formação de habilidades clínicas do psicólogo. O trabalho com grupos operativos permitiu discutir as diversas inserções do profissional de Psicologia, com destaque para a sua atuação clínica.

"Psicologia e adolescentes em conflito com a lei: Reflexões a partir do estágio", de Lucas Rossato e Tatiana Machiavelli Carmo Souza, também da Universidade Federal de Goiás, apresenta o relato de uma experiência de estágio básico junto a um Programa de Liberdade Assistida por meio de atividades grupais. Os encontros permitiram a ressignificação dos atos praticados pelos adolescentes, bem como contribuíram para a construção de novos projetos de vida, o que deve balizar futuras intervenções na área.

Por fim, o artigo intitulado "A Reforma Psiquiátrica e o papel da família no restabelecimento de um sujeito psicótico", de Mayara Colleti, Cristina Bárbara Martins, Bruna Souza Tanios e Tiago Humberto Rodrigues Rocha, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, retrata uma experiência de estágio básico realizado em um Centro de Atenção Psicossocial da cidade de Uberaba, MG. Na discussão do caso, destaca-se a sobrecarga produzida pelo cuidado em saúde mental, o que deve ser constantemente observado pelos profissionais que atuam na área, em um processo que pressupõe que a promoção da saúde mental deve ser ser focada em toda a família.

Desejo a todos e todas uma boa leitura desse material, com votos de que tais conhecimentos possam contribuir para importantes reflexões para o trabalho com grupos, casais, famílias e saúde mental, de modo sempre atento às diversidades e às adversidades que constituem a atuação em Psicologia, especificamente no campo grupal, como retratado nas investigações e relatos do presente número.