Mental
ISSN 1679-4427 ISSN 1984-980X
Mental v.5 n.8 Barbacena jun. 2007
RESENHAS
Emanuel Brick Ribeiro*
Universidade Presidente Antônio Carlos - Brasil
NAZARETH, Cátia Aparecida Lopes; SOUZA, Lúcia Aparecida; FIGUEIREDO, Mariângela Aparecida Gonçalves. A arte como estratégia para a educação em saúde: uma experiência em sala de espera. Juiz de Fora: Editar, 2007. 108 p. ISBN 858827972-8.
Essa notável obra foi produzida e organizada por profissionais de enfermagem do Hospital de Ensino da Universidade Federal de Juiz de Fora, que estavam preocupadas com as questões relativas à sua prática de trabalho. O livro surge como resultado do desejo de atenderem às demandas das salas de espera de instituições de saúde, por meio da demonstração de métodos criados para abordar diversos temas referentes à saúde humana. Por meio de representações teatrais, realizadas na sala de espera do Hospital, as autoras encontraram uma forma de ensinar os pacientes a lidarem com a própria saúde e de conscientizá-los sobre questões ligadas a esse tema. O livro é o relato dessa nova prática que as autoras encontraram para contribuir para o atendimento e o acolhimento do ser humano em relação aos cuidados com a saúde.
As estratégias propostas pelas autoras envolveriam diversos profissionais - enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e médicos - que, junto aos pacientes, às famílias, aos políticos e à população em geral, levariam à prática de educar para a saúde, de modo lúdico e artístico. Tal prática demonstra a importância da criatividade no trabalho de promoção da saúde em locais como salas de espera de hospitais, levando ao usuário desse tipo de serviço condições para preservar a sua própria saúde.
Nesse contexto, é preciso refletir sobre uma questão: o processo educacional deve estar presente em diversas esferas públicas, não apenas em escolas. Ele se inicia no seio familiar, em associações comunitárias, em igrejas, hospitais, clubes, enfim, em locais que estejam a serviço da comunidade. A educação deveria ser ampliada para que o homem, consciente de suas possibilidades, pudesse tentar transformar o mundo e a si próprio.
A intervenção proposta pelas enfermeiras cria novas perspectivas para o sujeito se posicionar no contexto social. Antes de tudo, compreendemos que o homem é um ator social, dotado de sentimentos, muitas vezes encobertos pelas vivências cotidianas nas quais impera o individualismo. O trabalho realizado na sala de espera auxilia os carentes de informação a compreender melhor o universo de experiências humanas, por meio de vivências teatrais; uma estratégia simples, mas inovadora ao olhar de quem não se reconhece como sujeito social. Esse trabalho ajuda o homem a se tornar sujeito, a ocupar seu lugar no mundo.
O tabagismo é um dos temas abordados nas apresentações teatrais descritas na obra. As autoras fazem uma introdução sobre a origem do tabaco, trazem citações de importantes autores que se dedicaram ao tema e apresentam trabalhos de órgãos públicos. Em seguida, detalham a intervenção proposta para responsabilizar os profissionais de saúde e de educação, com o objetivo de despertar no usuário dos serviços de saúde a importância dos hábitos de vida saudáveis e da prevenção de doenças.
A Tuberculose é outro assunto trabalhado nessas apresentações. Nesse item, as autoras destacam a importância do trabalho educativo sobre as formas de transmissão da doença, seus sinais, sintomas, tratamentos e formas de prevenções possíveis. Tudo é exposto de forma a despertar tanto nos profissionais de saúde quanto em seus pacientes a consciência crítica sobre a política atual de controle da patologia.
Posteriormente, encontramos um tema muito presente em nosso cotidiano, os acidentes de trabalho. Nesse capítulo, as autoras mostram, de forma simples e objetiva, que a intervenção deve ser feita por meio de prevenção constante, viabilizada pelo olhar crítico da gravidade de cada situação vivida no ambiente de trabalho.
O quarto tema em questão, parasitose, é discutido pelo viés da carência de saneamento básico de muitos municípios de nosso país. As autoras comentam a respeito dos problemas causados pelas parasitoses e mostram que a intervenção consiste em desenvolver uma educação em saúde que seja permanente nas comunidades, capaz de prevenir tais ocorrências. No final, há também a descrição da apresentação teatral que realizaram sobre as parasitoses mais encontradas nos meios hospitalar e social.
Sobre concepção de saúde, as autoras ressaltam a importância dos hábitos alimentares, da educação, do meio ambiente, do trabalho, dos direitos de todos a condições de saúde favoráveis e o papel do Estado sobre essas questões, apresentadas com uma encenação.
A dependência química é outro tema polêmico, também trabalhado nas apresentações. Por meio delas, os profissionais buscaram se aproximar dos adolescentes, na tentativa de que se conscientizassem da questão e tomassem, como compromisso, sua saúde.
Quanto ao tema acidentes na infância, geralmente causados por negligências no ato de cuidar do outro, as intervenções procuram alertar pais e responsáveis sobre as formas de prevenção contra o problema.
Tão importante quanto os demais temas, e também muito debatido, o alcoolismo aparece na obra, explorado de forma didática, com o intuito de conscientizar os usuários sobre seus riscos, na tentativa de reduzir os danos causados pela dependência do álcool. As autoras lembram o papel e a importância de órgãos como os Alcoólicos Anônimos (AA) e ALANON (que assiste as famílias de alcoólicos) para o tratamento dos dependentes.
Um dos últimos temas tratados na obra é o câncer, enfermidade que acomete grande número de pessoas atualmente. A prevenção contra a doença e a conscientização sobre as formas de tratamento são os principais itens abordados pelas enfermeiras.
Ao final da obra, encontramos as doenças sexualmente transmissíveis e a Aids, trabalhadas sob a forma de apresentação de diversos dados, com o objetivo de conscientizar os pacientes sobre a importância do uso do preservativo, tido como a melhor forma de evitá-las.
A obra demonstra o papel da arte na educação; arte que reinventa, que recria, em cada um de nós, o artista. Essa arte sensibiliza sujeitos oprimidos e carentes de informação. As enfermeiras utilizam a arte para fazer o outro amar a si mesmo e ao próximo; é uma possibilidade de trabalho que deve ser considerada, pois sabemos que é preciso redefinir algumas práticas de saúde pública, criar novos conceitos para atender ao público que recorre aos serviços de saúde. Por isso nos perguntamos: como minimizar o sofrimento trazido pelos usuários dos serviços de saúde e nas organizações? A prática adotada pelos profissionais de enfermagem, descrita nessa obra enriquecedora, seria um caminho para responder a essa questão.
*Aluno do 9º período de Psicologia da UNIPAC/Ubá