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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

 ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.10 no.2 Ribeirão Preto ago. 2014

https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v10i2p93-100 

ARTIGO ORIGINAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.v10i2p93-100

 

Transtornos mentais comuns e consumo de bebida alcoólica e tabaco entre estudantes de enfermagem de uma universidade pública na Amazônia Ocidental brasileira

 

Common mental disorders, alcohol consumption and tobacco use, among nursing students at a public university in the western Brazilian Amazon

 

Trastornos mentales comunes y consumo de bebida alcohólica y tabaco entre estudiantes de enfermería de una universidad pública en la Amazonía Occidental brasileña

 

 

Bruno Pereira da SilvaI; Clarissa Mendonça Corradi-WebsterII; Edilaine Cristina da Silva Gherardi DonatoIII; Miyeko HayashidaIV; Marluce Miguel de SiqueiraV

IMSc, Professor Assistente, Centro Multidisciplinar, Universidade Federal do Acre, Campus Floresta, Cruzeiro do Sul, AC, Brasil
IIPhD, Professor Doutor, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil
IIIPhD, Professor Associado, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil
IVPhD, Enfermeira, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil
VPhD, Professor Associado, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo é identificar a prevalência de transtornos mentais comuns e consumo de bebida alcoólica e tabaco entre estudantes de enfermagem de uma universidade pública da Amazônia Ocidental brasileira. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, utilizando-se os instrumentos AUDIT, SRQ-20 e questionário de tabagismo. Do total de estudantes, 93,4% afirmou fazer consumo de álcool de baixo risco, porém 26% afirmou beber no padrão binge pelo menos uma vez ao mês. Em relação ao tabaco, 78,6% afirmou ter usado por curiosidade e desejo de experimentar e 46,1% afirmou que "sente-se nervoso, tenso ou preocupado" e que tem "humor depressivo/ansioso". A comparação dos resultados possibilita o planejamento de programas de prevenção mais condizentes com as características e necessidade de cada comunidade.

Descritores: Alcoolismo; Hábito de Fumar; Diagnóstico Duplo (Psiquiatria); Estudantes de Enfermagem.


ABSTRACT

The objective of this study is to identify the prevalence of two common mental disorders, alcohol consumption and tobacco use, among nursing students of a public university in the western Brazilian Amazon. This is an exploratory and descriptive study, using AUDIT instruments, SRQ-20 and smoking questionnaire. Of the total number of students 93.4% said they consume a low-risk amount of alcohol, but 26% said they binge drank at least once a month. As for tobacco, 78.6% claimed to have used it because of curiosity and the desire to experiment and 46.1% said they "felt nervous, tense or worried" and had a "depressive/anxious mood." In comparing these results it allows for a more consistent planning of prevention programs that addresses the needs of this community.

Descriptors: Alcoholism; Smoking; Diagnosis, Dual (Psychiatry); Students, Nursing.


RESUMEN

El objetivo de este estudio es identificar la prevalencia de trastornos mentales comunes y consumo de bebida alcohólica y tabaco entre estudiantes de enfermería de una universidad pública de la Amazonía Occidental brasileña. Se Trata de un estudio exploratorio y descriptivo, utilizándose los instrumentos AUDIT, SRQ-20 y el cuestionario de tabaquismo. Del total de estudiantes, 93,4% afirmó  hacer consumo de alcohol de bajo riesgo, pero el 26% afirmó beber en el modelo binge por lo menos una vez al mes. En relación al tabaco, 78,6% afirmó haber usado por curiosidad y deseo de experimentar el 46,1% afirmó que "se siente nervioso, tenso o preocupado" y que tiene "humor depresivo/ansioso". La comparación de los resultados posibilita el planeamiento de programas de prevención más coincidentes con las características y necesidades de cada comunidad.

Descriptores: Alcoholismo; Hábito de Fumar; Diagnóstico Dual (Psiquiatría); Estudantes de Enfermería.


 

 

Introdução

A literatura aponta que os sintomas de ansiedade e depressão(1-2) e o consumo abusivo de substâncias psicoativas vêm crescendo entre os jovens(1-4). A população universitária é um grupo importante de ser estudada epidemiologicamente. São geralmente pessoas que estão na transição da adolescência para a idade adulta, tendo que lidar com as diferentes tarefas desta etapa do desenvolvimento; tarefas que podem ser geradoras de sofrimento emocional. Entre elas, destacam-se o desenvolvimento de novas relações e repertórios sociais, o afastamento emocional e físico da família de origem, a construção da autonomia e de valores e o desenvolvimento de novos papéis sociais(3).

Além disso, as Instituições de Ensino Superior (IES) estão cada vez mais competitivas. Tal competitividade tem início já no processo seletivo do vestibular, que muitas vezes é concorrido para o ingresso em uma boa universidade. Uma vez na universidade, existem as demandas acadêmicas de cada curso, bem como as expectativas para ingressar no mercado de trabalho(5).

Entre os jovens universitários da área da Saúde, esse quadro é agravado pelo contato emocional próximo com diferentes pessoas e com a dor destas. Os estudantes são geralmente pessoas que fizeram a escolha de ajudar outros seres humanos a nascerem, vivenciarem (superar os problemas e as limitações) e morrerem dignamente(6-7).

Alguns estudos já abordaram a temática saúde mental entre universitários. Em estudo desenvolvido com estudantes da área da Saúde de uma universidade pública no interior do estado de São Paulo, foi encontrada a prevalência de 23% de uso problemático de álcool (UPA), 30,6% de transtornos mentais comuns (TMC) e 7,3% de coocorrência de UPA e TMC(4). Em outro estudo, realizado com estudantes de dois cursos de graduação em Enfermagem, verificou-se que uma taxa de prevalência de sintomas indicativos de depressão entre os entrevistados de 14% (n = 114)(2). Resultados expressivos foram encontrados em uma pesquisa que investigou os sintomas depressivos entre alunos de Medicina de uma universidade pública, cuja prevalência foi de 40,5% (n = 84). Desses, 1,2% apresentou sintomas depressivos graves, 4,8%, moderados e 34,5%, leves(1).

Tendo em vista a relevância da temática e o impacto que o consumo indevido de substâncias psicoativas pode ter para jovens que se preparam para a vida adulta e para o mercado de trabalho, alguns estudos têm tratado especificamente do assunto. Alguns abordam estudantes da área da Saúde, em especial os acadêmicos de Medicina(8-9), Enfermagem(10-11) e, em menor quantidade, Farmácia(12) e Odontologia(13). Corroborando com a presente argumentação sobre a importância da temática, em 2010, a Secretária Nacional de Políticas Sobre Drogas, publicou o I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras5. Esse levantamento pesquisou 12.856 universitários de 100 instituições, sendo 51 públicas e 49 privadas e mostrou o perfil do uso de SPAs dos universitários brasileiros. Os resultados mostraram que o consumo de álcool de risco baixo, moderado e alto por universitários foi de 78,2%, 19,2% e 2,6%, respectivamente. O consumo de álcool no padrão binge drinking representou 37,7% e 25,3% de consumo pesado nos últimos 12 meses e 30 dias, respectivamente. O tabaco foi a segunda SPA mais utilizada, com 46,7% para uso na vida, 27,8% no ano e 21,6% no mês. Na região Norte do país, o consumo de álcool de risco baixo, moderado e alto por universitários foi de 79,2%, 18,9% e 1,9%, respectivamente, e 39,4% e 31,4% deles fizeram o consumo de álcool no padrão binge drinking. Para o tabaco, o uso na vida e no ano foi de 17,9%, e no mês foi de 14,1%. Esses estudos desempenham um papel importante para sociedade brasileira, uma vez que reforçam a necessidade da abordagem da temática nas universidades, preocupando-se com a saúde mental dos jovens estudantes de graduação, principalmente os inseridos na área da Saúde(2).

Todavia, os estudos existentes, em sua maioria, trazem informações de amostras de universitários pertencentes a IES de algumas regiões do país, principalmente do Sudeste, com ênfase no Estado de São Paulo. Tal situação limita a comparação de resultados, bem como a construção de uma realidade nacional e fidedigna(5). A realidade sobre o UPA, o consumo de tabaco e a prevalência dos TMC e os efeitos da associação do uso dessas SPAs com as morbidades psiquiátricas entre estudantes da região Norte do país foi pouco estudada(8).

Mediante o exposto faz-se necessário analisar os fatores associados à ocorrência TMC, ao consumo de álcool e tabaco entre os universitários. Tal análise é extremamente importante para evitar o agravamento da sintomatologia e o desenvolvimento de um quadro clínico psicopatológico, além de possibilitar o desenvolvimento de estratégias de redução de danos relacionados ao consumo de substâncias.

Dessa forma, este estudo tem como objetivo identificar a prevalência de transtornos mentais comuns e de consumo de álcool e tabaco entre os universitários do curso de graduação em Enfermagem do Campus Floresta da Universidade Federal do Acre (UFAC). O presente estudo poderá contribuir na compreensão e no planejamento de medidas preventivas em saúde adequadas no meio acadêmico.

 

Métodos

Foi realizado um estudo quantitativo, exploratório e descritivo. O cenário do estudo foi o Centro Multidisciplinar, Campus Floresta da Universidade Federal do Acre. A coleta foi realizada no mês de maio de 2012, com autorização prévia dos professores e da instituição.

Os participantes foram 76 estudantes universitários do 1o, 3o, 5o, e 7o períodos do curso de graduação em Enfermagem dessa instituição. Assim, os critérios de inclusão foram: ser aluno do curso de Enfermagem, estar matriculado no 1o semestre letivo de 2012 e concordar em participar do estudo.

A coleta dos dados realizou-se por meio da utilização de três instrumentos autoaplicáveis; destes, dois de domínio público. O primeiro instrumento foi o Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT)(14) validado para o contexto brasileiro e utilizado para rastrear padrões de consumo de álcool. Suas perguntas avaliam o padrão de consumo de álcool, os sinais e sintomas da dependência e os problemas decorrentes do uso dessa substância. O segundo instrumento foi um questionário autoaplicável com questões fechadas, desenvolvido e validado por pesquisadores(11) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), para investigar o uso do tabaco entre os universitários do curso de Enfermagem. Este investiga variáveis sociodemográficas e questões relacionadas ao consumo do tabaco. O terceiro questionário foi o Self Reporting Questionnaire (SRQ-20), instrumento utilizado para o rastreamento de morbidades psiquiátricas menores, transtornos não psicóticos e/ou transtornos mentais comuns (TMC). Apresenta 20 questões, com respostas do tipo sim ou não. Respostas positivas indicam maior intensidade de TMC ou sofrimento emocional. Escores acima de seis indicam caso clínico positivo para TMC(15).

Os instrumentos foram aplicados em sala de aula com a permissão do professor que ministrava aula no momento e autorização prévia da coordenação do curso de Enfermagem. O tempo médio para responder aos questionários foi de 40 minutos.

Os dados foram inseridos e organizados em uma planilha do programa Microsoft Excel. Utilizou-se a estatística descritiva com emprego da frequência absoluta e percentual para análise dos dados tratados no pacote estatístico Statistical Package for the Social Science – SPSS 17.

A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFAC. Os participantes foram informados dos objetivos da pesquisa e de seus direitos quanto à participação, respeitando a Resolução no 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde(16). Foi também solicitado que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

Resultados

A população do estudo foi composta por 120 estudantes do curso de graduação de Enfermagem, desses, 76 alunos estavam presentes em sala de aula no momento da aplicação dos instrumentos, abrangendo todas as turmas de Enfermagem da instituição. Assim, 76 sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando em participar da pesquisa. As perdas se deram pela ausência; não houve recusas. A maioria era mulher (73,37%, n=56), com idade até 25 anos (76,1%, n=57) e solteira (77,6%, n=59).

A aplicação do AUDIT foi utilizada para a identificação de uso problemático de álcool (UPA) com ponto de corte sete. A análise do escore total do AUDIT da amostra de 76 universitários identificou que 5 (6,6%) estudantes apresentam AUDIT positivo (escore maior ou igual a 8), identificando uso problemático de álcool, 35 (46,1%) estudantes apresentaram AUDIT negativo (escore menor ou igual a 7), identificando uso de baixo risco de álcool, incluindo 36 (47,3%) que informaram não ter consumido bebidas alcoólicas nos últimos 12 meses.

Entre os acadêmicos de Enfermagem, 93,4% apresentou um padrão de beber (Tabela 1) na zona de risco I do AUDIT (escore maior ou igual a 0 e menor ou igual a 7 pontos), caracterizando uso de baixo de risco de álcool, incluindo os estudantes que informaram não ter consumido bebida alcoólica nos últimos 12 meses. Já na zona II do AUDIT (escore maior ou igual a 8 e menor ou igual a 15 pontos), foi identificado que 6,6% apresentou um padrão de beber característico de uso de risco de álcool.

 

 

No presente estudo, não foram identificados estudantes com padrão característico de uso nocivo de álcool nem de uma provável síndrome de dependência do álcool, zona III e IV do AUDIT (escore maior ou igual a 16 e menor ou igual a 20 pontos e, maior que 20 pontos, respectivamente).

Sobre o padrão de binge drinking (questões 2 e 3 do AUDIT), 4 (5,4%) estudantes mencionaram beber duas ou três doses de álcool em um dia típico e 3 (4,1%), seis ou sete doses. Já sobre a frequência de cinco ou mais doses de álcool em uma ocasião, 19 (26,0%) beberam menos que uma vez por mês, 6 (8,2%) uma vez por mês e 2 (2,7%) uma vez por semana.

A experiência dos universitários com o tabaco é apresentada na Tabela 2. Observou-se que 28 (37,3%) dos entrevistados fumaram alguma vez na vida. Desses que experimentaram, apenas um continua fazendo o uso do tabaco.

 

 

A Tabela 3 apresenta os motivos que levaram os estudantes ao uso do tabaco. Observa-se que 78,6% fez uso por curiosidade e desejo de experimentar, 21,4% por influência do grupo extrafamiliar e 10,7% por desconhecimento dos prejuízos à saúde.

 

 

O resultado do SRQ 20 foi distribuído pelos grupos de sintomas reagrupados(16). A Tabela 4 apresenta a distribuição das respostas da amostra pelos itens reagrupados do SRQ-20.

 

 

Nota-se que no grupo de sintomas "humor depressivo/ansioso", 46,1% indicou os itens "sente-se nervoso(a), tenso(a) ou preocupado(a)", 31,6% "assusta-se com facilidade" e 28,9% "tem se sentido triste ultimamente". No grupo de "sintomas somáticos", 31,6% tem dores de cabeça frequentes e 25% "tem sensações desagradáveis no estômago". No grupo de sintomas "decréscimo de energia vital", 32,9% informou ter "dificuldade para tomar decisões" e 26,3% que "se cansa com facilidade". No último grupo, nomeado como "Pensamentos depressivos", 9,2% afirmou que "tem perdido o interesse pelas coisas".

Com a aplicação do teste de qui-quadrado buscou-se conhecer a associação entre transtornos mentais comuns e o consumo de álcool e tabaco. Não foram encontradas associações entre TMC e consumo de bebida alcoólica (χ2 = 0,24; p=0,530) nem entre TMC e consumo de tabaco (χ2 = 1,33; p=0,204).

 

Discussão

Em estudo(17) com universitários do curso de Enfermagem de uma instituição de ensino superior privada, o perfil sociodemográfico mostra que a maioria dos universitários é do sexo feminino, solteiro e está na faixa etária de 20 a 25 anos. Esse perfil assemelha-se ao do presente estudo e com outros achados da literatura(10-11).

De acordo com o estudo que investigou a coocorrência de uso problemático de álcool e transtornos mentais comuns em estudantes de graduação da área da Saúde, realizado por Yosetake(4), 76,5% do estudantes apresentaram um padrão de beber na zona de risco I do AUDIT (consumo de baixo risco), 20,5% na zona II (consumo de risco), 2,6% na Zona III (consumo abusivo) e 0,4% na Zona IV (provável dependência). Vale notar que o estudo em questão também trabalhou com uma amostra majoritariamente feminina, mas com um número maior de homens do que a desta pesquisa, o que poderia explicar os escores maiores encontrados pelo autor.

Em relação ao consumo de bebida alcoólica, pesquisadores(18) encontraram que 83,4% dos estudantes de duas escolas de Enfermagem a consumiram no último ano. Do total de estudantes, 73,4% pontuou AUDIT ≤8. Esses números se aproximam dos encontrados neste estudo.

Sobre a prevalência de episódios de binge drinking, um estudo revelou que 33,4% dos estudantes bebiam deste modo pelo menos uma vez ao mês(4). No presente estudo, apesar de 94,6% dos estudantes fazerem consumo de baixo risco, 26% afirmou consumir bebidas de modo binging pelo menos uma vez ao mês. Considerando-se que o consumo de altas doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião pode colocar os jovens em risco, faz-se importante desenvolver estratégias de redução de danos com esta população(3). Esse dado também indica que, quando utilizado na clínica, o AUDIT deve ser considerado não apenas em relação à sua pontuação total, mas também devem ser observadas as questões individualmente.

Sobre a experimentação do tabaco, encontrou-se na literatura nacional que 23% dos estudantes de Enfermagem do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (CEUNES)(10) experimentaram a substância alguma vez na vida e 77% deles nunca o fizeram. Entre aqueles que experimentaram, apenas 13% continuou consumindo tabaco.

Os resultados de uma pesquisa(17) realizada com estudantes de Enfermagem de uma faculdade privada de Guarapari-ES, mostraram que, quando questionados sobre os principais motivos para o uso do tabaco, 33,3% dos sujeitos responderam tratar-se de curiosidade e desejo de fumar e 19% por influência do grupo extrafamiliar. Em outra pesquisa com estudantes da mesma área, do CEUNES, dos motivos que levaram os universitários ao hábito de fumar, 75% estão relacionados à curiosidade e ao desejo de fumar, e 25% à influência do grupo extrafamiliar(10). Neste estudo, essas questões também foram as mais prevalentes.

De acordo com a literatura(10,17), as motivações encontradas para o consumo de tabaco pelos estudantes universitários são relacionados a fatores do entorno social, como família, meios de comunicação e amigos e também por características pessoais, sentimento de necessidade de pertença, curiosidade, prazer e ociosidade, corroborando os achados deste trabalho.

Os resultados relativos à prevalência de sintomas psiquiátricos menores, rastreado pelo SRQ 20, encontrados em estudo realizado com estudantes da Saúde do interior de São Paulo são semelhantes ao deste estudo(4). Em ambos os estudos os sintomas psiquiátricos menores foram reagrupados em "humor depressivo/ansioso", "decréscimo de energia vital", "sintomas somáticos", "pensamentos depressivos". No grupo de "humor depressivo/ansioso" foi observado que 56,5% informou sentir-se nervoso, tenso ou preocupado, 39,2% disse que se cansa com facilidade. No grupo denominado "decréscimo de energia vital", 28,9% afirmou ter sensações desagradáveis no estômago, já nos grupos de "sintomas somáticos" e de "pensamentos depressivos" 19,8% "tem perdido o interesse pelas coisas". Corroborando com os resultados apresentados na Tabela 4 deste estudo.

Observou-se em estudo que visou a investigar depressão entre estudantes de dois cursos de Enfermagem de universidade pública do interior de São Paulo(2) que 40,2% apresentava sinais indicativos de depressão (leve, moderada e grave). Apesar de ter sido encontrado uma alta prevalência de sintomas de transtornos mentais comuns na amostra, neste estudo não foi encontrada associação entre o consumo problemático de álcool e tais sintomas.

 

Conclusão

Este estudo investigou a prevalência do uso problemático de álcool, consumo de tabaco e ocorrência de transtornos mentais comuns entre universitários do curso de Enfermagem.

Apesar de muitos estudantes relatarem já ter experimentado bebidas alcoólicas, apenas 5,3% deles foram apontados como fazendo uso problemático da substância. Esse número pequeno pode estar relacionado ao fato de a maioria dos entrevistados ser mulher, sendo este grupo já descrito pela literatura como consumidor de bebidas alcoólicas em menor proporção do que os homens. A experimentação do tabaco esteve presente em uma porcentagem considerável de estudantes, entretanto, poucos afirmaram consumo atual. Quanto aos transtornos mentais comuns, observou-se que um número expressivo apresentou respostas positivas para o grupo de sintomas "humor depressivo/ansioso". Os resultados obtidos permitiram ampliar os conhecimentos sobre a temática entre os universitários do curso de Enfermagem da Instituição estudada.

O rastreamento e monitoramento da ocorrência de uso de substâncias psicoativas lícitas e transtornos mentais comuns subsidiam informações importantes quanto à magnitude do fenômeno, no âmbito universitário. Sendo a universidade um ambiente privilegiado de discussão, onde todas as vertentes ideológicas possuem e devem ter voz, faz-se necessária a maior abordagem acadêmica, seja por meio da sua inserção de forma transversal na proposta curricular ou na realização de seminários com a participação de diversas áreas do conhecimento ou na realização de estudos sobre o uso problemático de álcool, consumo de tabaco e sofrimentos emocionais em estudantes universitários.

A comparação dos resultados possibilita o planejamento de programas de prevenção mais condizentes com as características e necessidade de cada comunidade, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias preventivas e a busca por melhor qualidade de vida dos acadêmicos.

Como fator limitante deste e de outros estudos realizados com a população universitária, aponta-se o fato de abordar os participantes no ambiente escolar, uma vez que os estudantes podem se sentir constrangidos em descrever seu consumo de substâncias, mesmo sendo garantida tranquilidade para responder aos questionários e este ser informado sobre o sigilo das informações coletadas.

 

Agradecimentos

À Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça (SENAD-MJ) e à Escola de Enfermagem de Ribeirão da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para o Desenvolvimento da Enfermagem, pela oportunidade de realizar este estudo e especializar-me em Álcool e outras Drogas Psicoativas.

 

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Correspondência
Clarissa Mendonça Corradi-Webster
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
Departamento de Psicologia
Av. Bandeirantes, 3900
Bairro: Monte Alegre
CEP: 14040-901, Ribeirão Preto, SP, Brasi
E-mail: clarissac@usp.br

Recebido: 10.12.2013
Aceito: 22.04.2014