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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

 ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.13 no.4 Ribeirão Preto out./dez. 2017

https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v13i4p221-231 

ARTIGO ORIGINAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.v13i4p221-231

 

Uso de substâncias psicoativas por profissionais de saúde: Revisão Integrativa

 

Use of psychoactive substance by health professionals: Integrative Review

 

Uso de sustancias psicoactivas por los professionales de la salud: Revisión Integradora

 

 

Márcia Astrês FernandesI; Joyce Soares e SilvaII; Jessica de Oliveira Veloso VilarinhoIII; Larissa de Oliveira SeabraIV; Carla Danielle Araújo FeitosaV

IPhD, Professor Adjunto, Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil. Enfermeira, Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu, Teresina, PI, Brasil
IIAluna do curso de graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil
IIIAluna do curso de Especialização em Enfermagem do Trabalho, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Enfermeira, Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini, Bento Gonçalves, RS, Brasil
IVAluna do curso de Especialização em Enfermagem do Trabalho, Centro Universitário Uninovafapi, Teresina, PI, Brasil
VMestranda, Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil

 

 


RESUMO

Objetivou-se conhecer quais fatores levam os profissionais de saúde a utilizarem substâncias psicoativas, identificar as mais utilizadas e as consequências para vida do trabalhador. Trata-se de uma revisão integrativa, com buscas na biblioteca virtual em saúde, que resultou em 88 artigos, dos quais após avaliação restaram-se 12. Constatou-se que os fatores desencadeadores estavam relacionados à cobrança no trabalho, riscos ambientais e individuais e que apesar de reconhecerem os riscos do uso, consumiam drogas de ação central. Conclui-se que se faz importante a realização de pesquisas sobre o perfil profissional com o intuito de implementar ações preventivas em saúde para esta população. 

Descritores: Profissionais da Saúde; Saúde do Trabalhador; Abuso de Substâncias Psicoativas.


ABSTRACT

The aim was to identify which factors lead health professionals to use psychoactive substances, identify the most commonly abused substances and the consequences for the worker’s life. This is an integrative review carried out in the database of virtual health library, which resulted in 88 articles, of which after evaluation there were 12. It was found that triggering factors were related to pressure at work, environmental and individual risks and that centrally acting drugs are used despite they recognized the risks. We concluded that conducting research on the professional profile is important in order to implement preventive health interventions for this population.

Descriptors: Health Personnel; Occupational Health; Substance-Related Disorders.


RESUMEN

El objetivo fue conocer los factores que llevan los profesionales de la salud al uso de sustancias psicoactivas, identificar las más utilizadas y las consecuencias para la vida del trabajador. Se trata de una revisión integradora, la busca fue hecha en la biblioteca virtual en salud, que resultó en 88 artículos, dos puestos para la evaluación restaram-se 12. Se encontró que los factores desencadenantes estaban relacionados con las exigencias del trabajo, con los riesgos ambientales e individuales, y que al tiempo que reconoce los riesgos de uso, consumen drogas de acción central. Se concluye que es importante hacer más  investigaciones sobre el perfil profesional con la intención de implementar  acciones preventivas de salud para esta población.

Descriptores: Personal de Salud; Salud Laboral; Trastornos Relacionados con Sustancias.


 

 

Introdução

As Substâncias Psicoativas (SPA) são substâncias que agem no sistema nervoso central, alterando a função cerebral, e a noção da percepção e comportamento. As SPA são divididas em lícitas e ilícitas, sendo que as drogas lícitas podem ser vendidas no comércio local com autorização governamental e permissão da sociedade, e as drogas ilícitas não, todas são proibidas, sendo em geral associadas ao vício e violência(1).

Dessa forma, é importante ressaltar e saber sobre a incidência do uso de SPA entre os profissionais de saúde que tanto zelam para a saúde do próximo, por vezes renegando a sua. Um estudo realizado em uma faculdade pública do Rio de Janeiro fez um levantamento acerca da epidemiologia do uso recorrente de drogas, revelando que 83% dos participantes da pesquisa já experimentaram ou usaram drogas, sendo em maior proporção álcool, tabaco e ansiolíticos. Quanto ao uso regular de SPA, cerca de 9% assinalaram que ainda utilizavam. A justificativa empregada pelos profissionais é que servia para relaxar, celebrar situações especiais, tirar ansiedade e alegrar-se(2).

Outra pesquisa realizada em uma faculdade de Rondônia com alunos do curso de Enfermagem revelou que o uso de álcool é predominante, seguido de tabaco e maconha. Além disso, a população que mais consumia era do gênero feminino, jovem e em sua maioria solteira. Com isso, a preocupação para com esses profissionais aumenta, pois na sua atuação profissional, todas as noções básicas de saúde para a população serão desenvolvidas e disseminadas pelos mesmos. Dessa forma, se torna importante conhecer o padrão de consumo das SPA desde a graduação até a sua atuação profissional para que medidas de saúde pública possam ser mais bem trabalhadas(3).

O interesse para estudar a referida temática surgiu a partir do estudo da disciplina de Enfermagem em Saúde Mental, que aborda a problemática da dependência química, e a outra disciplina Enfermagem e a Saúde do Trabalhador, que trata das questões relativas â saúde e segurança do trabalhador. Pensando na interdisciplinaridade e transversalidade dos temas, surgiu a motivação e inquietação para realizar a presente revisão integrativa que tem como objetivo conhecer os fatores motivadores do uso de substâncias psicoativas por profissionais de saúde e a percepção dos mesmos sobre o uso, bem como identificar as drogas mais utilizadas e as consequências para a vida do trabalhador.

 

Metodologia

A saúde, em tempos modernos, é desafiada a utilizar da prática baseada em evidência. Para tal, utilizou-se neste estudo da revisão integrativa. Esse método de pesquisa permite reunir os principais resultados de pesquisas sobre um determinado tema, através de critérios de inclusão e exclusão, previamente escolhidos. A revisão integrativa também evidencia as lacunas que necessitam ser preenchidas e direciona futuros estudos científicos(4).

Para operacionalizá-la, utilizou-se das seguintes fases: formulação do problema e identificação do tema, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão, coleta e avaliação dos dados, análise e interpretação dos dados coletados e apresentação dos resultados. Assim, para nortear a revisão, foram utilizadas as seguintes questões: O que motiva profissionais da saúde a utilizarem substâncias psicoativas e que percepções possuem a respeito do uso? Quais substâncias são mais consumidas e como o uso repercute na vida do trabalhador?

Como descritores responsáveis pelo levantamento do estudo utilizaram-se "profissionais da saúde, saúde do trabalhador e abuso de substâncias psicoativas", de forma agrupada e organizada. Os critérios utilizados para a busca foram artigos publicados em periódicos nacionais e artigos que abordaram a temática "uso de substâncias psicoativas por profissionais da saúde". No decorrer da pesquisa percebeu-se que o critério temporal não deveria ser utilizado devido à escassez de estudos direcionados à temática.

No resultado inicial da busca encontrou-se 88 artigos. Após uma leitura sintética dos estudos observou-se que 28 artigos deveriam ser excluídos por estarem repetidos e 49 artigos por não contemplarem a temática escolhida. Dessa forma, permaneceram no estudo 12 artigos publicados em periódicos nacionais. O levantamento bibliográfico foi realizado por meio da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS, com busca nas bases de dados Público/editora Medline - PubMed, Scientific Electronic Library Online - Scielo, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde - Lilacs e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online - Medline.

Após leitura criteriosa dos artigos selecionados e com base na questão norteadora da pesquisa, definiu-se quais informações primordiais deveriam ser ressaltadas dos estudos. Essa etapa culminou na segregação dos trabalhos em duas categorias. Categorias estas que se basearam nos contextos mais retratados pelos artigos e nos assuntos que podem contribuir qualitativamente melhor com o tema escolhido. São elas: Fatores desencadeadores do uso de substâncias psicoativos por profissionais da saúde e a percepção sobre o uso e; Substâncias psicoativas utilizadas por profissionais da saúde e as consequências do uso e abuso.

A partir das análises textuais, elaborou-se um quadro síntese das publicações e foram contemplados os seguintes tópicos: título, periódico, autores, ano, objetivo, resultado e conclusão. A análise dos dados ocorreu após criteriosa leitura dos textos encontrados, com foco nos objetivos propostos e de acordo com os resultados encontrados.

 

Resultados

A partir da leitura na íntegra dos artigos analisados após filtração sobre a luz dos critérios de inclusão e exclusão, elaborou-se um quadro sinóptico (Figura 1) que detalha as informações resgatadas nos nove artigos selecionados.

 

 

Dentre os artigos incluídos na revisão, oito trataram do uso de SPA entre enfermeiros, um entre médicos, dois tratavam do uso especificamente pela classe dos anestesiologistas , um por profissionais de saúde da rede de atenção básica e outro da prática de automedicação por trabalhadores de enfermagem na área hospitalar.

Ao avaliar os locais de pesquisa desses artigos, observou-se que sete desses trabalhos foram realizados em hospitais públicos, dois especialmente realizados entre trabalhadores de uma Unidade de Terapia Intensiva; dois realizados em ambulatórios de dependência química; um com profissionais de saúde da atenção básica e dois em centros de pesquisa de Universidades.

Em relação ao tipo de revista em que foram publicados, seis pesquisas dessa revisão foram publicadas em revistas relacionados a área de Enfermagem, três em revistas médicas e três em periódico de saúde em geral. Quando ao tipo de pesquisa, quatro apresentam abordagens qualitativas, quatro quantitativos, dois estudos transversais e dois levantamentos bibliográficos.

 

Discussão

O estudo sobre o uso/abuso de substâncias psicoativas por profissionais de saúde requer uma análise detalhada e profunda acerca dos fatores desencadeadores e das substâncias psicoativas mais comuns. Por conta disso, os artigos foram divididos e a discussão foi separada em tópicos para melhor entendimento sobre o tema.

 

Fatores desencadeadores

A reflexão acerca dos fatores desencadeadores do uso de substâncias psicoativas deve envolver o entendimento perante a história do indivíduo, o meio social ao qual está inserida, a condição na qual vive e trabalha e os sentimentos vivenciados como as frustrações, insatisfações, medos e angústias que podem fazer com que busquem atividades e meios que tragam prazer e alívio para seus problemas(5).

A utilização de psicotrópicos pode ser influenciada por vários motivos, dentre eles a ansiedade, o nervosismo e o estresse diário. Isso pode ser observado, quando relacionado ao espaço de trabalho, certa influência da carga horária trabalhada. Com isso, o fator de desgaste físico e psíquico pode direcionar a pessoa para o envolvimento com substâncias psicoativas. Há de se apontar ainda outros determinantes como as condições precárias e o ambiente inadequado de trabalho que desmotiva o profissional(5-6).

O perfil dos trabalhadores de enfermagem que utilizam SPA são em geral mulheres, desenvolvem uma segunda jornada de trabalho no lar, não praticam lazer e apresentam sentimentos positivos em relação ao trabalho, contudo, consideram o ambiente de trabalho estressante. Os estressores mais comuns são com relação ao controle excessivo por parte da instituição, dificuldades nas relações interpessoais, inobservância da ética pelos colegas, atividades rotineiras e repetitivas, excessivo número de pacientes, clima de sofrimento e morte, salários insuficientes, falta de lazer, falta de apoio e reconhecimento pela instituição dentre outros(10).

O processo de trabalho da Enfermagem, em todo o Brasil, é representado por uma carga de trabalho exaustiva e de alta demanda. A baixa remuneração faz com que os trabalhadores busquem novos empregos, o que culmina em acumulação de responsabilidades. Desta forma, a qualidade de vida desse trabalhador é prejudicada, já que não sobra tempo para lazer em família e realização de atividades extra laborais que lhes causem prazer(14-15).

A propósito disto, Martins e Zeitoune(5) pontuam que o trabalhador de enfermagem se sente satisfeito com o seu trabalho, o cuidar do outro é gratificante, contudo há momentos de tristeza e sofrimento. E essa ambivalência de sentimentos gera conflitos nesse profissional que por algumas vezes necessita de outros meios não saudáveis para aliviar o estresse. Assim, fazer uso de SPA como solução para alívio de problemas existentes no âmbito familiar ou laboral é perigoso, pois se sabe que seus efeitos são prejudiciais à sociedade como um todo. Além de que, se o indivíduo não tiver os seus fatores de proteção como a família, religião, condições emocionais e outros, bem estruturados, consequentemente outros meios serão utilizados na tentativa de diminuir a angústia e o sofrimento.

Outros fatores desencadeadores podem ser relatados como cobranças do trabalho e da família, riscos ambientais e individuais que facilitam a disponibilidade de drogas, a pobreza, mudança social, predisposição genética e exclusão social. Entretanto, existe tensão para todas as profissões, mas alguns profissionais apresentam mais predisposição ao envolvimento com drogas do que outros. A vivência de prazer ou de sofrimento depende da interação entre a subjetividade do trabalhador e as condições ambientais, socioculturais, econômicas e políticas, nas quais o trabalho está inserido(6).

A saber, dos motivos que podem levar o trabalhador de enfermagem a usar drogas é necessário conhecer os fatores de risco e proteção para o uso dessas substâncias. Os fatores de risco incluem as condições situacionais e o contexto ambiental que envolve a probabilidade do consumo de drogas, e os fatores de proteção corresponde ao contexto ambiental e as condições situacionais que inibem ou reduzem a probabilidade desse uso. Dessa forma, entende- se as razões pelo qual, no mesmo ambiente de trabalho, uns profissionais têm maior comportamento de risco que outros(5,14).

Com relação à categoria médica, pesquisas apontam que é a que mais se envolve com a automedicação, por estar exposta ao estresse de trabalho, em geral com mais de um vínculo empregatício, e com fácil acesso a medicamentos, sendo estes os fatores de risco para o abuso de substâncias psicoativas entre os profissionais de saúde. Com relação aos profissionais de saúde no geral envolvidos na pesquisa, a maioria relacionada ao consumo de SPA era do sexo feminino e um terço era de baixo nível socioeconômico(13).        

Entretanto, não somente o desejo de relaxar, acabar com os problemas e ter um pouco de prazer leva os profissionais a utilizarem drogas. A necessidade de ficar desperto por mais tempo para poder trabalhar mais, muitas vezes a obrigação de ter mais de um emprego para poder sustentar a família influencia em igual importância para o uso de SPA(5).

As condições ocupacionais dos profissionais de saúde devem ser melhor trabalhadas, a carga horária de trabalho e a higiene mental em especial do grupo de enfermagem que está envolvida diretamente com a assistência ao indivíduo, manuseando diariamente substâncias psicotrópicas, estão dessa maneira vulneráveis ao envolvimento com estas drogas. É preciso que a instituição de saúde cuide da qualidade de vida e de trabalho desses profissionais, pois é indispensável cuidar de quem cuida(6).

Alguns estudos trazem diversos motivos relatados por profissionais de saúde enfermeiros que justificam o uso de SPA, entre eles a tristeza e ansiedade causada pela profissão e sua relação com os pacientes. Além disso, referem que a falta da medicação os causam sensação "de que o dia vai ser péssimo". Observa-se, porém, que à medida que esses profissionais são reconhecidos em seus ambientes de trabalho, o índice de incidência do uso de SPA diminui, o que torna o reconhecimento um meio de combate ao adoecimento mental desses trabalhadores(14-15).

Um fator que também pode influenciar no uso ou não de SPA diz respeito ao conhecimento sobre estas substâncias e a percepção dos usuários. Neste sentido, com relação a percepção dos profissionais de saúde sobre o uso de substâncias psicoativas foi possível constatar que os mesmos sabem e reconhecem que as drogas são substâncias químicas que provocam alteração do comportamento, sendo prejudiciais à saúde(7).

O reconhecimento de drogas lícitas como algo incorporado à sociedade, e das drogas ilícitas como algo à parte, é cultural. Contudo, o consumo de ambas é prejudicial à saúde do indivíduo. Algumas pessoas podem afirmar que bebem, fumam e se automedicam sem considerar isso como algo ruim e sim natural. Dessa forma, é necessário assinalar que o álcool, tabaco e alguns medicamentos em especial os ansiolíticos e anfetaminas são as drogas mais consumidas e as que trazem maior prejuízo ao povo(7).

Além disso, a similaridade entre o organismo do paciente e o organismo do próprio profissional é usada como justificativa para o uso de medicamentos, sem uma indicação precisa e avaliação médica. Em meio disso, é notório que o profissional tem a concepção sobre os riscos que a droga traz, assim, observa- se a contradição em saber dos riscos para os outros e não para si(7).

 

Substâncias psicoativas utilizadas por profissionais da saúde

Estudo realizado em dois hospitais públicos no Rio de Janeiro, um hospital geral de grande porte e um centro de referência para a saúde materno-infantil, revelou que a prevalência do uso de automedicação, referida entre os trabalhadores de enfermagem avaliados, foi de 24,2%. Os medicamentos mais consumidos foram aqueles para o sistema nervoso correspondendo a 46,7%, sendo o subgrupo mais utilizado os analgésicos- 43,4%(9).

Estudo realizado em um Hospital Filantrópico de uma cidade do Paraná revelou de todos os enfermeiros entrevistados, 70,5% afirmaram fazer uso de medicações psicoativas e desta porcentagem, 44% se automedicavam, devido à facilidade na obtenção destas medicações(14). Segundo Bittar e Gontijo(16), a automedicação tem relação com o complexo de fatores intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo. Isso inclui sua concepção sobre o trabalho, o nível de satisfação no ambiente laboral, o modo de enfretamento dos desafios da profissão, os padrões culturais e o grau de instrução em relação à medicação. No estudo em um Hospital de Uberaba-MG com trabalhadores de enfermagem, os autores concluíram que 66 % dos enfermeiros praticavam a automedicação de forma frequente ou esporádica e que os transtornos psíquicos como a ansiedade, o estresse e a depressão, foram os problemas de saúde mais relatados pela categoria.

A automedicação tende a ser maior entre os mais jovens, cujo nível de escolaridade mais elevado utiliza mais frequentemente a automedicação. São inúmeras razões que podem ser atribuídas a isso como o maior conhecimento sobre os medicamentos, maior poder econômico, menor confiança nos médicos e maior sentimento de autonomia pessoal diante de decisões próprias de saúde(9).

Com relação aos médicos anestesiologistas o uso de álcool e outras drogas acarretaram na vida profissional deles problemas profissionais (87,7%), problemas conjugais (52,6%), internação psiquiátrica (29,1%), acidentes automobilísticos (21,1%), desemprego no ano anterior (17,5%) e problemas com o Conselho Regional de Medicina (24,6%). O uso de opioides também foi elevado nessa categoria, a idade do início desse vício coincidiu com a fase de residência médica e imediatamente após este período, que parece ser um tempo de maior vulnerabilidade para este tipo de dependência em particular. Além de transtornos de personalidade e comorbidades psiquiátricas pode ser possível que outros fatores específicos possam ter colaborado com o surgimento da dependência de opioides entre os anestesiologistas da amostra deste estudo(11).

Os tipos de agentes anestésicos mais utilizados pelos profissionais anestesiologistas são os opióides, observando um aumento no consumo de proporfol e anestésicos inalatórios. Os anestesiologistas tendem a abusar mais de opioides como fentanil e sufentanil. Diversas são as circunstâncias relacionadas à atividade profissional de anestesiologia, a facilidade de acesso aos fármacos, atividade médica solitária e estressante, números excessivos de horas de trabalho e a possível concomitância com transtornos psiquiátricos(8).

As drogas mais consumidas entre os profissionais médicos são álcool, cocaína, benzodiazepínicos, maconha, opiáceos, anfetaminas e solventes. As especialidades mais envolvidas são clínica médica, anestesiologia, pediatria, ginecologia e obstetrícia, psiquiatria, saúde pública e radiologia. O uso contínuo dessas substâncias provocou depressão, transtorno afetivo bipolar e transtorno de personalidade. Além disso, como já referido, outros problemas foram observados nesses usuários, como desemprego em 30,8% dos casos, problemas no casamento e separação, acidentes automobilísticos, problemas judiciais e problemas junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM)(12).

Estudo realizado em todos os serviços de saúde de atenção básica da zona urbana de Pelotas, entre os meses de maio a setembro de 2004, revelou a prevalência de automedicação encontrada em todos os profissionais de 24,8%, semelhante ao estudo de Barros, Griep e Rotenberg(9). As categorias profissionais com o segundo maior índice nesse estudo foram os enfermeiros e odontólogos (32%). Quem realizava mais atendimentos por dia apresentou a menor prevalência de automedicação(13).

 

Conclusão

A presente revisão permitiu concluir que o uso de substâncias psicoativas mais comuns pelos profissionais de saúde são o álcool, tabaco, ansiolíticos, opióides e automedicação com os mais diversos fármacos. E que os motivos pelos quais buscam o consumo destas substâncias, em geral, estão relacionados à carga horária de trabalho, a tensão laboral, os problemas familiares, bem como outras influências externas que podem contribuir para tal comportamento.

Portanto, é preciso que as instituições de saúde estejam mais preparadas para atender casos como esses em seus profissionais, criando protocolos específicos de conduta para esse fim. Ademais, é necessário que haja mais pesquisas voltadas ao assunto, pois o uso de SPA é um problema que não envolve somente o profissional, mas toda a comunidade. Dessa forma, mais estudos de campo, para mapear e observar o perfil destes trabalhadores é necessário, visto que poderá subsidiar a implementação de ações nas instituições de saúde para um cuidado preventivo mais direcionado. 

 

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Recebido: 18.01.2016
Aceito: 23.01.2017

Endereço de correspondência:
Márcia Astrês Fernandes
Universidade Federal do Piauí
Campus Universitário Ministro Petrônio Portela
Bairro: Ininga
CEP: 64049-550, Teresina, PI, Brasil
E-mail: m.astres@ufpi.edu.br

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