SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas
ISSN 1806-6976
SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.15 no.3 Ribeirão Preto jul./set. 2019
https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2019.151938
ARTIGO ORIGINAL
Consumo de álcool entre estudantes mexicanos de bacharelado
Alcohol consumption in Mexican high school students
Ángel Alberto Puig-LagunesI; Ángel Puig NolascoII; Luis Enrique Salinas MendezIII; Jesús Enrique Vargas ÁlvarezVI; Sandra Cristina PillonV
IUniversidade Veracruzana, campus Minatitlán, Veracruz, México
IIUniversidade Veracruzana, campus Minatitlán, Veracruz, México
IIIUniversidade Veracruzana, campus Minatitlán, Veracruz, México
IVUniversidade Veracruzana, campus Minatitlán, Veracruz, México
VUniversidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil
RESUMO
O consumo de álcool por jovens e adolescentes é um fenômeno mundial que tem aumentado nos últimos anos.
OBJETIVO: avaliar o padrão de consumo e as percepções sobre o uso de álcool por pessoas próximas aos estudantes mexicanos de bacharelado.
MÉTODO: Trata-se de um estudo do tipo transversal e de abordagem quantitativa, envolvendo 940 estudantes de seis cursos de bacharelado do Estado de Veracruz, México.
RESULTADOS: As prevalências de uso foram: 57,4% na vida, 31,5% no último ano, 25,3% no último mês; 7,4 % consumiam alcohol em nível problemático. As percepções negativas sobre o consumo de álcool foram avaliadas por pais e mães, predominantemente entre os estudantes com consumo de baixo risco.
CONCLUSÃO: O consumo de álcool entre estudantes de bacharelado é elevado, principalmente entre os homens, com início cada vez mais precoce e incidência de intoxicação. Além disso, é muito presente entre estudantes com problemas nas relações parentais. Os resultados podem subsidiar o desenvolvimento de programas preventivos em relação ao consumo de álcool no âmbito escolar.
Descritores: Consumo de Álcool, Adolescente, Estudantes de Bacharelado, Epidemiologia, Fatores de Risco.
ABSTRACT
Alcohol consumption by young people and adolescents is a worldwide phenomenon that has increased in recent years.
OBJECTIVE: to evaluate the consumption pattern and the perceptions about alcohol use by people close to the Mexican high school students.
METHOD: this is a cross-sectional and quantitative approach, involving 940 students from six bachelors courses in the State of Veracruz, Mexico. Outcomes: prevalence of use was 57.4% in life, 31.5% in the last year, 25.3% in the last month; 7.4% consumed alcohol on a problematic level. Negative perceptions about alcohol consumption were evaluated by fathers and mothers, predominantly among students with low risk consumption.
CONCLUSION: alcohol consumption among baccalaureate students is high, especially among men, with an earlier onset and incidence of intoxication. In addition, it is very present among students with problems in parental relationships. The results may support the development of preventive programs in relation to alcohol consumption in school settings.
Descriptors: Alcohol Consumption, Teens; High School Students, Epidemiology, Risk Factors.
INTRODUÇÃO
O Relatório Mundial sobre álcool e saúde estimou que cerca de 5,9% (3,3 milhões) de mortes a nível mundial foram atribuídas al consumo de álcool(1). Existe uma preocupação em relação aos adolescentes, pois eles constituem uma grande população que consome essa substância; 40% dos jovens com idade de 15 anos ou mais têm consumido álcool nos últimos 12 meses e 16% desses bebedores contumazes consome bebidas alcoólicas em excesso(1).
O consumo de álcool por jovens e adolescentes é um fenómeno mundial e no México não é exceção. Uma vez que o uso e o abuso figuram entre os principais problemas sociais e de saúde pública neste país e que afetam especialmente adolescentes e jovens, resultam em um enorme custo social e de saúde em função das incapacidades que geram(2).
Estudo reportou que uma proporção considerável de adolescentes usuários ocasionais de álcool poderia continuar consumindo até chegar a beber de uma maneira problemática ou tornar-se dependente, uma vez que começam a ingerir álcool muito cedo (entre 13 e 15 anos), o que pode potencializar os riscos na idade adulta(3). Além disso, o consumo excessivo afeta o desempenho académico, na medida em que está associado a faltas e abandono escolar, bem como pode comprometer o desenvolvimento saudável e a transição da etapa da adolescência para a vida adulta. No México, o comércio de bebidas alcoólicas na população menor de 18 anos é proibido, já que é considerado ilícita a venda de álcool para essa população. No entanto, o consumo é considerado como parte natural das atividades socioculturais nessa população e no país(4).
O consumo de álcool entre estudantes adolescentes tem gerado preocupação por parte das autoridades, educadores, profissionais de saúde e familiares quanto às tendências de aumento do consumo nessa população, devido à diversidade de problemas e conflitos familiares, sociais e de saúde resultantes do abuso(5-6). Os Inquéritos Nacionais de Adição (ENA) realizadas no México(7) mostram incremento significativo na prevalência do uso de álcool na população de 12 a 17 anos, considerando que o consumo na vida passou de 35,6% para 42,9%, no último ano de 25,7% para 30,0% e no último mês de 7,1% para 14,5%(7).
Nos estudantes de 12 anos ou menos, a prevalência do consumo de álcool na vida foi de 26%; aumentou para 78,4% nos estudantes de 17 anos e 83,8% nos estudantes maiores de 18 anos. Em relação ao uso excessivo de álcool as prevalências foram ainda mais elevadas, à medida que aumenta a idade: 12 anos ou menos (4%), 17 anos (28,8%) e entre os estudantes com 18 anos chega a 37,7%(8). Esse aumento também foi observado tanto em homens (11,5% a 17,4%) como em mulheres (2,7 a 11,6%), especialmente no consumo do último mês(7). Estudos realizados no México com estudantes de bacharelado reportam prevalências de consumo com enormes variações: de 12,2 a 78,8% em homens e 7,6 a 66,7% em mulheres(9-10); o consumo em nível de risco varia de 14,3% a 66,1%, sendo de 1,1 a 5% com sintomas de dependência e 2,9 a 21,3% com consumo prejudicial(10-11).
De acordo com o Inquérito Nacional de Consumo de Drogas em Estudantes (ENCODE)(8), a prevalência de consumo do álcool em estudantes de bacharelado revelou maior consumo nos homens: na vida 56,5%, no último ano 43,8% e o consumo excessivo de álcool 27,3%, enquanto que nas mulheres foram observados os seguintes índices: 52,1%, 40% e 21%, respectivamente. Na cidade do México, 55,3% consumiram álcool no último mês, sem diferença estatisticamente significante em relação ao sexo (71,4%)(12). Na Sierra Nororiental do Estado de Puebla, 83,8% dos estudantes consumiram álcool uma a duas vezes por mês, sendo que a média de idade para o início do uso foi 14,3 anos(13).
No Estado de Veracruz, 58,3% dos adolescentes consumiram álcool, 40% consumiram em nível de baixo risco, 17,2% em nível de risco e 1,1% apresentaram provável dependência(11). A prevalência do consumo de álcool em mulheres adolescentes é mais elevada e o uso na vida é de 52%, sendo que 20% delas consomem frequentemente(14). Embora os homens consumam mais, as mulheres apresentam um importante índice de consumo de álcool, já que a cada três homens adolescentes que apresentam provável dependência há uma mulher, enquanto que na população adulta essa proporção se apresenta 6:1, respectivamente. Esse panorama é um fenómeno recente nas mulheres adolescentes, o que sugere a necessidade de fortalecer as medidas preventivas e de redução de danos voltadas a essa população.
A maioria dos estudos realizados com estudantes de bacharelado tem avaliado o consumo de álcool de maneira isolada(8-11,15-17). Assim, há uma escassez de dados sobre o uso de álcool e as percepções de seus familiares a respeito do consumo por estudantes mexicanos. Além disso, novos estudos se justificam devido ao aumento do consumo do álcool entre adolescentes e a necessidade de empregar estratégias preventivas, de redução de danos e políticas institucionais direcionadas a essa população. Face ao exposto, o presente estudo teve por objetivo avaliar o padrão de consumo e as percepções sobre o uso de álcool por pessoas próximas aos estudantes mexicanos de bacharelado.
Método
Trata-se de um estudo do tipo transversal e de abordagem quantitativa, envolvendo 940 estudantes de seis cursos de bacharelado do Estado de Veracruz, México.
Trata-se de um estudo do tipo transversal, de abordagem quantitativa. Foi realizado em seis cursos do Colégio de Bacharelado (COBAEV) localizado no Sudeste do Estado de Veracruz, México.
Para obtenção da amostra foi realizado cálculo amostral para proporções em uma população finita de 5145 estudantes inscritos no ano de 2014, com uma confiabilidade de 95%, precisão de 1,5% e Zα de 0,05, o que corresponde ao valor de Z de 1,96. Para o presente estudo foram incluídos todos os estudantes matriculados no segundo, quarto e sexto semestres dos seis cursos do COBAEV. Foram selecionados 940 (100%) estudantes, distribuídos da seguinte maneira: 224 (23,8%) de Cosoleacaque, 191 (20,3%) Jáltipan, 100 (10,6%) Chinameca, 109 (11,6%) Nanchital, 216 (23%) Minatitlán e 100 (10,6%) Zaragoza. Todos os questionários aplicados aos estudantes foram respondidos integralmente, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os estudantes foram selecionados de acordo com os seguintes critérios de inclusão: estar matriculado no segundo, quarto ou sexto semestres, estar presente em sala de aula em pelo menos uma de três buscas consecutivas. Para a coleta de dados foi aplicado um instrumento dividido em três partes: (1) Informações sociodemográficas como: idade, sexo, curso, estado civil, religião, renda pessoal e familiar, convivência com familiares, perdas emocionais e percepção sobre o uso das drogas; (2) Questionário de Estudantes 2006(18), baseado na ENA. Contém 158 perguntas fechadas, divididas em fatores de risco para o uso de droga. No entanto, para fins deste estudo foram utilizados somente 14 itens relacionados ao uso de álcool e percepções sobre esse consumo. Este instrumento tem sido utilizado em diferentes inquéritos com adolescentes e escolares no México e apresenta validade e confiabilidade adequadas para o uso no contexto mexicano(19); (3) Teste de Identificação de Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool (AUDIT)(20-22). É um instrumento de identificação do uso problemático de álcool, desenvolvido por pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de um teste composto por 10 itens que avalia o uso do álcool nos últimos 12 meses. Neste estudo a classificação considerada foi: (a) abstêmios ou baixo risco (AUDIT < 7) e uso de risco ou problemático de álcool (AUDIT > 8)(20-22). O AUDIT foi testado na população mexicana em adolescentes, apresentando validade e confiabilidade adequadas, com sensibilidade de 90% e especificidade de 94%(20-23).
A coleta de dados foi realizada no período de fevereiro a julho de 2014. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comité de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Veracruzana, campus Minatitlán, Veracruz (Processo número CIM-002).
Para a análise dos dados foi elaborado um banco de dados no programa EPI-Info versão 6.02. A análise estatística foi realizada com medidas de tendência central e dispersão, frequências simples e relativas, assim como teste Chi-quadrado (Chi2), cálculo de Razão de Momios (RM) ou de probabilidade e seus respectivos Intervalos de Confiança (IC) de 95%.
Resultados
As características sociodemográficas dos estudantes mostraram predomínio de mulheres (52,8%), com média de idade de 16,8±1,0 anos, variando entre 14 e 20 anos, solteiros (96,9%), de religião católica (63,6%) e de baixa renda familiar mensal (Tabela 1). O consumo em nível problemático de álcool (AUDIT > 8) foi predominantemente encontrado entre estudantes do sexo masculino (64,2%), de religião católica (64,2%) e com baixa renda familiar (67,1%), com valores estatisticamente significantes. Observa-se que praticamente dobram as chances entre os homens (RM 2,1; IC 95% 1,24-3,66) e que ter experimentado perdas emocionais aumenta as chances em 1,6 (IC 95% 1,97-2,77) em consumir álcool em nível problemático entre os estudantes avaliados.
Em relação às prevalências de consumo de álcool, mais da metade (57,4%) dos estudantes consumiram na vida, 31,5% no último ano e 25,3% no último mês. A média de idade para o início do consumo foi de 12 anos, variando entre seis e 18 anos. Quanto ao padrão de consumo do álcool nos últimos 12 meses, a frequência de uma ou mais vezes ao dia foi observada em 45,9% dos homens e o padrão de consumo excessivo, em menor frequência entre as mulheres (79,6%) (Tabela 2).
Os tipos de bebidas alcoólicas consumidas por copo foram: cerveja 390 (41,5%), destilados 353 (37,6%), vinho 247 (26,3%), bebidas preparadas (por exemplo: Presidencola; New Mix) 210 (22,3%), bebidas tipo cooler, "vinha real" 192 (20,4%), pulque 71 (7,7%) e álcool puro ou aguardente 45 (48%). Ademais, foi observada uma frequência de embriaguez ou intoxicação alcoólica em 179 (19%) estudantes que não haviam bebido no último ano, 222 (25,6%) que beberam pelo menos uma vez no último ano, 66 (7%) uma vez no último mês, 53 (5,6%) duas ou três vezes no último ano, 22 (2,3%) uma ou mais vezes na última semana; 398 (42%) estudantes nunca haviam consumido álcool. A frequência de embriaguez foi a seguinte: 318 (33,9%) nunca consumiram no último ano, 147 (15,6%) beberam pelo menos uma vez no último ano, 36 (3,8%) uma vez no último mês, 26 (2,8%) duas a três vezes no último mês e 404 (43%) declararam que nunca consumiram álcool, com diferenças estatisticamente significantes entre os sexos (p < 0,05).
De acordo com os estudantes, as percepções sobre o consumo de álcool foram avaliadas pelos pais, mães, professores e amigos. No entanto, eles receberam avaliação negativa ("mal"), com predominância entre os que consomem em baixo risco (p < 0,05). A percepção a respeito do consumo de álcool foi referida como uso "perigoso" e "muito perigoso" para a maioria das pessoas que estão no entorno dos estudantes que faziam uso de baixo risco. Observou-se elevadas porcentagens das mães e dos pais em relação à percepção negativa do uso de álcool. Entre os estudantes, 92,6% consumiam álcool em nível de baixo risco ou eram abstinentes, e 7,4% mostraram uso problemático (AUDIT) (Tabela 3).
Acima de um terço dos estudantes declararam ter problemas familiares devido ao uso de álcool (37,2%), sendo 12,4% na relação com o pai, 1,2% com a mãe, 3,5% com o irmão (a) e 19,9% com outro parente próximo. Em relação às brigas entre as pessoas da família, dois a cada 10 estudantes manifestaram que esse comportamento é comum entre os pais. Quando indagados se essas brigas estiveram associadas ao consumo de álcool, 15,5% dos adolescentes responderam positivamente.
Discussão
O presente estudo avaliou o padrão de consumo e as percepções sobre o uso de álcool em uma amostra de estudantes mexicanos do bacharelado. A amostra foi composta majoritariamente por mulheres, solteiras, católicas, com baixa renda familiar. Esse perfil sociodemográfico provavelmente reflete a localização geográfica na qual a pesquisa foi realizada. Dados similares foram reportados em estudos conduzidos com estudantes de bacharelado de diferentes partes do país(4,9-10,13).
O consumo de álcool tem sido cada vez mais um comportamento comum entre os estudantes e a prevalência do consumo é elevada (57,4% na vida, 31,5% no último ano e 25,3% no último mês). Esses dados corroboram os resultados de outros estudos realizados com estudantes de bacharelados no México(8-13). Por outro lado, a prevalência está abaixo dos valores encontrados no presente estudo(12). A média de idade do início do consumo de álcool entre os estudantes do presente estudo foi menor em comparação aos dados da literatura(13-14), que mostraram média de idade de 14,3 anos, o que indica um consumo de álcool com início mais precoce na amostra investigada.
A frequência de consumo de álcool de uma ou mais vezes ao dia nos últimos 12 meses foi de 45,9% entre os homens. Tal resultado é semelhante ao obtido por outros estudos com amostras semelhantes(9-12). No entanto, no inquérito da ENCODE de 2014(8) as prevalências observadas foram superiores. De modo geral, esses dados indicam que continua prevalecendo o consumo de bebidas alcoólicas entre os homens quando comparados ao uso de álcool por mulheres(9-12). Todavia, foram observados índices crescentes de consumo pelas mulheres, quando comparados com os dados disponíveis na literatura(9,14-15).
O consumo de álcool no padrão binge (embriaguez) foi predominante entre os homens, com valores superiores aos apresentados pelo estudo de Villatoro Voásquez et al.(12). Já a bebida de preferência dos estudantes corrobora dados apresentados pela literatura nacional(7-8,13,24). O consumo de cerveja entre estudantes de bacharelado também foi reportado em estudo realizado no México(25), sendo justificado por diversos fatores tais como: baixo custo, acessibilidade, permissividade familiar e o clima quente-úmido do sul do Estado de Veracruz.
O consumo no padrão binge entre os estudantes foi de 7% uma vez no último mês, valor menor do que a média nacional (14,5%)(8) e em estudantes de bacharelado (9,9%)(25). Um fato que pode estar relacionado a esse valor menor é que a maioria dos estudantes tem baixa renda familiar e é católica. Estudos anteriores mostraram que os jovens sem religião ou praticantes de outras religiões que não a católica apresentam maior prevalência de abuso do álcool(19,24).
Sobre a percepção de risco a respeito do consumo, os estudantes referiram que o uso é mal visto por seus pais, mães, professores e amigos, o que corrobora os resultados da ENCODE(8). Por outro lado, metade dos estudantes perceberam que o consumo de álcool é "perigoso" e 43,7% o perceberam como "muito perigoso", coincidindo com a média nacional(8) e os estudos realizados na cidade do México(11,24), onde mais participantes reportaram aumento na percepção de perigo (78,4%) entre aqueles que não consumiam. Se bem que, no México, a prevalência do consumo de álcool tem se mantido elevada. Uma das hipóteses propostas para compreender esse fenômeno é que o beber é concebido como parte natural da sociabilidade por amigos, família, redes sociais e meios de comunicação de massa, o que aumenta a influência dos fatores sociais e culturais. Além disso, tem-se encontrado que as principais razões do consumo de álcool na adolescência são: curiosidade, para chamar a atenção, por ser parte dos hábitos do grupo de pares, para liderar um grupo, pela reprodução de modelos, para resolver problemas na vida e por gosto(25). Considerando essas motivações, torna-se necessário coordenar ações dos diferentes setores da vida dos estudantes (âmbito educativo, social e familiar), dando mais ênfase aos riscos reais que o consumo de bebidas alcoólicas podem potencializar.
Em relação aos níveis de risco (AUDIT), 92,2% dos estudantes eram abstêmios ou consumiam em nível de baixo risco e 7,8% faziam uso de risco ou abusivo. Esses resultados diferem de outros estudos que reportaram uso de maior risco ou abuso(8-10,12-14,21), o que, em parte, pode ser justificado pelas condições socioeconômicas e religiosas, considerando que vários cursos estão localizados em capitais municipais semiurbanizadas e alguns em zonas indígenas, que ainda mantêm seus costumes ancestrais enraizados, além do que não existem tantos locais ("antros de vícios") que poderiam promover o consumo de álcool.
Conclusão
O consumo de álcool entre estudantes dos distintos cursos do COBAEV mostrou ser um comportamento comum, principalmente entre os homens, com destaque para o contínuo incremento do uso entre as mulheres.
Um fator importante e que é motivo de atenção para a prevenção e redução do uso de álcool em adolescentes é que o início do consumo está ocorrendo cada vez mais cedo. Além da precocidade, causa preocupação a presença de intoxicação decorrente do abuso de álcool em tão tenra idade em uma parcela da população considerada vulnerável por estar vivenciando etapa de transição do processo de desenvolvimento.
Observou-se nesta investigação que o padrão de consumo prejudicial do álcool se mantém apesar de ser considerado como perigoso pelos próprios estudantes e de as pessoas próximas terem uma percepção de que o uso intenso constitui um mal hábito e que, portanto, deveria ser desencorajado entre adolescentes e jovens.
Ademais, o consumo de álcool se mostrou presente e acompanhado de perto dos problemas de relacionamento familiar da população jovem investigada, principalmente as dificuldades conjugais dos pais. Os resultados obtidos podem contribuir para o planejamento de programas e ações preventivas em relação ao consumo de bebidas alcoólicas no âmbito escolar, de modo a envolver professores, pais, familiares e estudantes no esforço preventivista.
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Autor Correpondente:
Ángel Puig-Nolasco
E-mail: apuign@hotmail.com
Recebido: 27.02.2018
Aceito: 07.12.2018