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Estudos e Pesquisas em Psicologia
versão On-line ISSN 1808-4281
Estud. pesqui. psicol. v.7 n.1 Rio de Janeiro jun. 2007
ARTIGOS
A manutenção da discriminação feminina no contexto brasileiro: um estudo sobre a fidedignidade do sexismo ambivalente
The maintenance of the feminine discrimination in the brazilian context: a study on its trustworthly of the ambivalent sexism
Nilton S. Formiga *, I; Thaís T. V. Araújo **, II; Carmem P. S. Cavalcante ***, III
I Professor e membro de pesquisa sobre desenvolvimento sócio-moral na Universidade Federal da Paraíba-UFPB
II Aluna do curso de Graduação em Psicologia da UFPB
III Aluna do curso de Graduação em Psicologia da UFPB
RESUMO
Este estudo objetiva avaliar a consistência interna e estrutural do inventário de sexismo ambivalente em dois contextos brasileiros. Este instrumento, adaptado por Formiga, Gouveia e Santos (2002) é constituído por 22 itens, respondidos em escala de cinco pontos, tipo Likert; teoricamente avalia dois fatores: sexismo hostil e sexismo benévolo. Duas amostras, a primeira 257 sujeitos da população geral da cidade de Palmas; a segunda, 287 sujeitos entre população geral e universitários de João Pessoa, compuseram este estudo. O inventário foi aplicado individualmente, nas ruas de ambas as cidades; os transeuntes eram abordados e, após concederem autorização, recebiam o instrumento. Para isso, era garantido o anonimato das respostas. Os resultados confirmaram, nas duas amostras, a existência dos dois fatores, bem como sua consistência interna, corroborando os estudos Formiga, Gouveia e Santos (2002).
Palavras-Chave: Sexismo, Fidedignidade, Estereótipos.
ABSTRACT
The objective of this study went the one of evaluating to consistency it interns and structural of the ambivalent sexism inventory in two Brazilian contexts. This instrument, adapted by Formiga, Gouveia and Santos (2002) it is constituted by 22 items, answered in scale of five points, type Likert; theoretically it evaluates two factors: hostile sexism and benevolent sexism. Two samples, the first 257 subject of the general population of the city of Palmas; in the other, 287 subjects among general and university of João Pessoa population composed this study. The inventory was applied individually, in the streets of both cities; after getting the peoples' permission when approached the instrument was given. For that, the anonymity of the answers was guaranteed. The results confirmed, in the two samples, the existence of the two factors, as well as, its consistency interns, corroborating the studies Formiga, Gouveia and Santos (2002).
Keywords: Sexism, Trustworthly, Stereotype.
Introdução
O estudo sobre o preconceito tem sido um tema de grande interesse nas ciências sociais e humanas, especialmente na Psicologia Social; partindo do pressuposto que os fenômenos sociais ocorrem na dinâmica das relações interpessoais (BROWN, 1990). Pensar desta forma é conceber o ser humano em movimento (LANE 1987), onde sociedade e indivíduo se entrecruzam (ELIAS,1994; TAJFEL, 1983) em direção à construção dos fenômenos sócio-humanos. Com isso, parece que as pessoas, na construção de um sentido para a sua realidade social, baseiam-se na interdependência social, na qual cooperação, individualismo e competição se inserem na manutenção tanto do significado quanto da prática do comportamento e atitude discriminatória (BROWN, 1990; FERREIRA, 2002; FIÚZA, 2001; LEYENS; YZERBYT, 1999), seja ela direta ou indireta.
Dois aspectos parecem ser consensuais nesta temática: primeiro, é um fenômeno multideterminado e, segundo, ele manifesta uma mudança no seu modo de expressão no contexto da sociedade atual (BIERNAT; VESCIO; THENO; CRANDALL, 1996; GÓMEZ; HUICI, 2001; NAVAS, 1998). Frente a esse consenso, alguns termos teóricos vêm sendo empregados em oposição ao preconceito tradicional ou flagrante (ALLPORT, 1954; JONES, 1972), por exemplo: Racismo Simbólico ou Moderno (McCONAHAY; HOUGH, 1976); Racismo Aversivo (GAERTNER; DOVIDIO, 1977); Racismo Ambivalente (KATZ; HASS, 1986) e Preconceito Sutil (PETTIGREW; MEERTENS, 1995). Estas nomenclaturas servem para expressar a idéia de que a discriminação aberta, aquela remetida às crenças quanto à inferioridade do grupo minoritário e o distanciamento social para com os membros do grupo excluído, estão sendo substituídos por formas mais sutis no tratamento discriminatório (FORMIGA, 2004).
Partindo desse pressuposto é que os teóricos atuais têm se preocupado em desvendar as formas sutis de tratamento que reproduzem as atitudes e comportamentos, sem desafiar as normas sociais de desejabilidade (VASCONCELOS et all., 2005). É possível observar que essas formas mutáveis do preconceito nas sociedades modernas, as quais vêm sendo influenciadas por normas sociais carregadas com grito de justiça e direitos igualitários, revelam uma espécie de combate psicossocial, no qual apenas o sujeito troca a camuflagem de sua expressão comportamental ou do discurso na sua interação social (FORMIGA; YEPES; ALVES, 2004; SWIM; MALLETT; STANGOR, 2004; THOMAS; ESSES, 2004).
De fato, a discriminação social atinge diversos grupos sociais, especialmente os considerados minoritários ou de menor poder de expressão, ou até aqueles destinados a meritocracia social (por exemplo, os negros, os homossexuais, as mulheres, etc.), fazendo com que os danos sofridos por estes grupos, conseqüente desse corte social e humano, venham demorar a cicatrizar individual e socialmente o que este fenômeno causou (MONTE, 2001). Apesar da mudança e dinâmica que o problema do preconceito vem revelando nos últimos anos, o que é refletido para alguns intelectuais e pesquisadores como uma evolução em termos da relações interpessoais baseada na tolerância, ainda é saliente que este fenômeno não se extinguiu, apenas adquiriu uma nova capa, tornando-se sutil, disfarçado, etc. (PETTIGREW; MEERTENS, 1995; SWIM; AIKIN; HALL; HUNTER, 1995; TOUGAS; BROWN; BEATON; JOLY, 1995).
Para tanto, a metáfora de Munanga (2002) é real e faz jus ao que se pretende tratar neste trabalho. Segundo o autor, considerando o preconceito racial, este fenômeno pode ser comparado a um iceberg, cuja maior parte está encoberta e apenas se vê sua ponta. Estas novas formas do preconceito podem ser consideradas, justamente, essa parte submersa do iceberg, a qual se vê com muita dificuldade ou até se finge não enxergar. Se quanto ao fenômeno racial é assim, em relação ao gênero não é diferente, já que esta categoria é observada como grupo “minoritário” (FORMIGA et all., 2004) e talvez seja pior, principalmente porque o gênero é percebido na sociedade brasileira como algo que não existe, devido à mobilidade estereotipada que se tem em relação às mulheres.
Mesmo sabendo das mudanças na sociedade civil brasileira, encontradas na Constituição de 1989, quanto à igualdade entre homens e mulheres, tomando-a como princípio geral, é possível acompanharmos um avanço sim, mas não uma superação dessa desigualdade (MARODIN, 1997). Da Lei às teorias científicas reconhecidas na sociedade, não se pode deixar de crer que elas também estão impregnadas de ideologias capazes de guiarem e justificarem os comportamentos do indivíduo tornando-os “comuns”, fazendo com que sirvam de base para que homens e mulheres adotem esquemas psicológicos e ideologias que reflitam condutas a respeito da formação discriminatória de papéis sexuais (PAEZ; TORRES; ECHEBARRÍA, 1990), principalmente, em relação à estabilidade sutil dessas práticas.
O tema a respeito da discriminação da mulher permite muitas especulações em âmbitos diversos das Ciências Humanas e Sociais; causas e conseqüências podem ser hipotetizadas e defendidas, porém não se conhecerá sua verdadeira extensão se não considerar diretamente os agentes que o fomentam: homens e mulheres da sociedade civil. Suas opiniões, atitudes e pensamentos sobre o papel da mulher em diferentes facetas da sociedade são cruciais no momento de compreender formas e conteúdos desse fenômeno (FORMIGA; GOUVEIA; SANTOS, 2002).
Partindo dessa perspectiva, bem como dos inúmeros estudos a respeito desse fenômeno, observou-se que são poucos ou nenhum os instrumentos que avaliam o preconceito feminino no Brasil. Por exemplo, em busca recente realizada durante a construção do presente estudo para aferir esta situação, a qual tinha as seguintes combinações de palavras-chave: escala e discriminação, mulher ou instrumento, gênero e preconceito (INDEX PSI, 2003), encontrou-se apenas um artigo que trata da validação de um instrumento desenvolvido por Formiga, Gouveia e Santos (2002), o qual aborda este fenômeno social em destaque. Com isso, a partir desse estudo, resolveu-se avaliar a consistência interna e estrutura fatorial do inventário do sexismo ambivalente, adaptado por esses autores para o contexto brasileiro.
Ao tratar da fidedignidade de um teste, faz-se referência à característica que este teste deve possuir quanto à mensuração do objeto de estudo. Assim, ao mensurar o fenômeno estudado com os mesmos ou outros sujeitos em situações diferentes, permitindo garantir a precisão do instrumento consecutivamente à medida do fenômeno, seja na sua estrutura fatorial ou considerando um coeficiente de precisão, o qual para isso, o Alfa de Cronbach é tomando como critério de consistência (KERLINGER, 1980; RICHARDSON, 1999; CRONBACH, 1990; ANASTASI; URBINA, 2000), vem refletir-se o quanto o fenômeno poderá manifestar sua manutenção nas relações interpessoais. Este alfa é um dos indicadores psicométricos mais utilizados para verificar a fidedignidade ou validade interna do instrumento, o qual deverá apresentar um escore perto ou igual a 1; assim, quanto mais próximo desse número, melhor será sua precisão, o que significa que os itens são homogêneos em sua mensuração, produzindo a mesma variância (KLINE, 1994; PASQUALI, 1997; PASQUALI, 2001; TABACHNICK; FIDEL, 1996) e caracterizando uma segurança para a medida do fenômeno que se quer avaliar.
Desta maneira, no presente trabalho, trata-se de avaliar a consistência interna e estrutural, item-fator do inventário de sexismo ambivalente em dois contextos brasileiros, e detalhada a seguir. Para tanto, tendo como base teórica e metodológica o inventário do sexismo ambivalente (FORMIGA; GOUVEIA; SANTOS, 2002; GLICK; FISKE, 1996), espera-se que possa encontrar semelhante organização item-fator.
Método
Amostra
Duas amostras compuseram este estudo: da primeira participaram 257 sujeitos da população geral da cidade de Palmas – TO, de ambos os gêneros, sendo que a maioria era do sexo feminino (62%) e com idade variando de 20 a 56 anos (M = 25,10; DP = 7,80), compondo a amostra N1. E, da segunda amostra, 287 sujeitos da cidade de João Pessoa - PB, a maioria do sexo feminino (58/%) e idade variando de 18 a 56 anos (M = 27,29; DP = 8,17), compondo a amostra N2. Estas amostras são não probabilísticas, podendo ser definidas como intencionais, pois foram consideradas as pessoas que, ao serem consultadas, dispuseram-se a colaborar, respondendo o questionário que era apresentado.
Instrumento
Os participantes responderam um questionário constando de duas partes:
Inventário de Sexismo Ambivalente, ISA. Elaborado originalmente em língua inglesa (GLICK; FISKE, 1996) e adaptado por Formiga Gouveia e Santos (2002) para o contexto brasileiro. Este instrumento é composto por 22 itens, que avaliam os estereótipos assumidos por cada gênero (masculino e feminino) a respeito de duas dimensões do sexismo: hostil (por exemplo, as mulheres feministas estão fazendo exigências completamente sem sentido aos homens; a maioria das mulheres não aprecia completamente tudo o que os homens fazem por elas) e benévolo (por exemplo, As mulheres devem ser queridas e protegidas pelos homens; muitas mulheres se caracterizam por uma pureza que poucos homens possuem). Para respondê-lo, a pessoa deveria ler cada item e indicar o quanto está de acordo com o conteúdo expresso, utilizando para tanto uma escala de quatro pontos, tipo Likert, com os seguintes extremos: 1 = Discordo Totalmente a 4 = Concordo Totalmente. Em um estudo original (ver FORMIGA; GOUVEIA; SANTOS, 2002), a partir de uma análise fatorial confirmatória, o inventário apresentou parâmetros psicométricos aceitáveis para a população brasileira, com os seguintes indicadores de bondade de ajuste: GFI = 0,77 e AGFI = 0,72; ?²/g.l. = 3,18; RMSR = 0,10. (FORMIGA et all., 2002).
Caracterização Sócio-Demográfica: Uma folha separada foi anexada ao instrumento prévio, onde eram solicitadas informações de caráter sócio-demográfico (por exemplo, idade, sexo, estado civil, etc.).
Procedimento
Procurou-se definir um mesmo procedimento padrão, que consistia em aplicar o ISA individualmente, tanto na cidade de Palmas–TO quanto em João Pessoa-PB. Aplicadores devidamente treinados ficaram responsáveis pela coleta dos dados em ambos os Estados. Após conseguirem a permissão dos transeuntes quando abordados, os estudantes se apresentavam como interessados em conhecer as opiniões e os comportamentos daspessoas no dia a dia, solicitando a colaboração voluntária dos mesmos, no sentido de responderem um questionário breve. Foi-lhes dito que não havia resposta certa ou errada e que respondessem o mais sinceramente possível, assim que o responsável pela aplicação do instrumento tivesse finalizado a informação contida no mesmo. A todos era assegurado o anonimato das suas respostas e que estas seriam tratadas em seu conjunto. Desta forma, contando com as instruções necessárias para que pudessem ser respondidas, as pessoas responsáveis pela aplicação estiveram presentes durante toda essa aplicação, para retirar eventuais dúvidas ou realizar esclarecimentos que se fizessem indispensáveis. Um tempo médio de 20 minutos foi suficiente para concluir essa atividade. Após a coleta total dos instrumentos, o pacote estatístico SPSSWIN em sua versão 11.0 foi utilizado para tabular os dados e realizar as análises estatísticas descritivas, bem como os cálculos referentes à correlação r de Pearson, Alfa de Cronbach (?) e Análise de Componentes Principais; neste caso, adotou-se uma rotação varimax.
Resultados e Discussão
Tendo como objetivo principal do estudo a avaliação da fidedignidade do Inventário de Sexismo Ambivalente em dois contextos brasileiros, procedeu-se à realização de uma análise de Componentes Principais para as duas amostras (N1 = Palmas-TO e N2 = João Pessoa-PB). Para a amostra N1 o uso desta técnica se mostrou meritório (KMO = 0,80; Teste de Esfericidade de Bartlett, ? ² = 1192,97, p < 0,001) (BISQUERRA, 1989), isto é, estes índices permitiram afirmar que é possível realizar essa ferramenta estatística no estudo.
Esta solução fatorial permitiu identificar dois componentes com eigenvalue superior a 1,00, explicando conjuntamente 32,7% da variância total; os principais resultados desta análise são apresentados na Tabela 1. Uma saturação de ± 0,30 foi assumida como satisfatória para interpretar os componentes. O primeiro deles, com eigenvalue de 4,70, reuniu 11 itens, podendo ser descrito como Sexismo Hostil (por exemplo: as mulheres feministas estão fazendo exigências completamente sem sentido aos homens; a maioria das mulheres não aprecia completamente tudo o que os homens fazem por elas) com uma consistência interna de 0,81. O segundo componente apresentou um eigenvalue de 2,49, estando formado por 11 itens que representam diretamente o Sexismo Benévolo (por exemplo: muitas mulheres se caracterizam por uma pureza que poucos homens possuem; as mulheres, em comparação com os homens, mostram um sentido refinado para a cultura e o bom gosto) tendo com isso, apresentando um alfa (?) de Cronbach de 0,75. Vale destacar que foi observada, nesta amostra, uma relação direta entre o sexismo hostil e benévolo (r = 0,31; p < 0,01).
Para a amostra N2, a medida de adequação também mostrou-se meritória (KMO = 0,79; Teste de Esfericidade de Bartlett, x ² = 1277,27, p < 0,001); observou-se que a solução fatorial apresentou dois componentes com eigenvalue superior a 1,00 e explicando 31,07% da variância total; desta forma, mantendo a saturação realizada na análise da primeira amostra (N1), que foi de ± 0,30 visando a interpretação dos componentes. É possível observar que o primeiro fator, com eigenvalue de 4,18 reunindo 11 itens, podendo ser descrito como Sexismo Hostil com uma consistência interna de 0,76. O segundo componente apresentou um eigenvalue de 2,65, estando formado por 11 itens que representam diretamente o Sexismo Benévolo apresentando um alfa (?) de Cronbach de 0,72, resultados que podem ser acompanhados na tabela 2. Também, foi observada uma correlação positiva entre o sexismo hostil e benévolo (r = 0,30; p < 0,01) para essa amostra.
A partir desses resultados no presente estudo, tanto a estrutura quanto os alfas encontrados para o inventário do sexismo ambivalente correspondem aos encontrados por Formiga, Gouveia e Santos (2002) no Brasil. Algo que merece atenção quanto aos indicadores da consistência interna (alfa [?] de Cronbach), diz respeito à observação de maiores alfas no estudo vigente, que aqueles encontrados no estudo anterior desenvolvido por Formiga e cols. (2002), os quais estiveram entre 0,66 a 0,77. Além disso, comparando as tabelas 1 e 2 é possível observar que os itens do inventário correspondem aos respectivos fatores destacados pelos autores citados, isto é, o sexismo hostil é composto pelos itens 02, 04, 05, 07, 10, 11, 14, 15, 16, 18 e 21; já o fator do sexismo benévolo é formado pelos itens 01, 03, 06, 08, 09, 12, 13, 17, 19, 20 e 22, que, além de manter, melhorou os índices na sua consistência interna e fatorial do inventário.
Apresentados os resultados, esta pesquisa pretendeu contribuir na seguinte direção: avaliar a consistência interna e a organização item-fator do inventário de sexismo ambivalente, considerando dois contextos brasileiros. Desta forma, tomando como base para este estudo a pesquisa de Formiga, Gouveia e Santos (2002), foi possível reunir provas a favor do instrumento utilizado e sua segurança de mensuração. Estes autores mostraram a existência de uma estrutura fatorial simples, convergente com a encontrada nos estudos anteriores em outros países (EXPÓSITO; MOYA; GLICK, 1998; GLICK; FISKE, 1996; MLADINIC et all., 1998). Assim, os dois fatores do sexismo, o benévolo e hostil, são visíveis na análise dos Componentes Principais, bem como, garantindo sua consistência a partir dos alfas encontrados, os quais estão próximos aos revelados por Mladinic et all. (1998), Glick e Fiske (1996) e Formiga, Gouveia e Santos (2002). Vale destacar que, no estudo desses últimos autores, os alfas se mostraram inferiores, observando um aumento na atual pesquisa; tal fato se deve à sugestão feita por eles quanto ao aspecto semântico e cultural dos itens, o que foi considerado no presente estudo.
Desta maneira, é possível pensar na manutenção da discriminação feminina, apontando para sua forma mais ancestral de sexismo, o hostil, compartilhando com uma forma sutil, que neste caso seria o sexismo benévolo. Esse estudo corroborou os resultados antes encontrados em outro contexto social, tanto na sua estrutura quanto a consistência interna, tornando com isso, fidedigno o instrumento. Para tanto, espera-se que os objetivos deste estudo tenham sido cumpridos, tendo sido apresentado provas sobre a consistência do Inventário de Sexismo Ambivalente (GLICK; FISKE, 1998), especificamente sobre sua validade de construto em dois contextos brasileiros.
Um outro destaque diz respeito à bidimensionalidade que o sexismo ambivalente comporta, o qual expressa um conjunto de estereótipos quanto à avaliação cognitiva, afetiva e atitudinal sobre o papel apropriado que cada indivíduo deve ocupar ou executar na sociedade (EXPÓSITO; MOYA; GLICK, 1996). Como também que, na existência de uma das formas de sexismo, possivelmente, a outra forma discriminatória frente às mulheres poderá se apresentar, pois as dimensões de sexismo estiveram interrelacionadas positivamente. Por fim, merece refletir que o surgimento do sexismo benévolo pode ser destacado como um problema, quando se pretende a relação de igualdade e de justiça social, o que difere do sexismo hostil, cuja manifestação é evidente e é diretamente atacado. A forma mais sutil parece escorrer por entre os dedos, na busca de se apalpar de forma justa e honrosa os direitos de todos os seres humanos, principalmente dos grupos minoritários (MONTE, 2001).
Assim, a discriminação contra a mulher vem sendo mascarada e através de sutis atitudes; ao tratá-la como um ser especial, frágil e que necessita de cuidados, na verdade não se está deixando de discriminar, apenas expressando tais diferenças a partir de uma forma mais discreta. O que atualmente encontramos, tanto acompanhando o cotidiano quanto em resultados científicos, os quais vêm confirmar praticamente o óbvio, é que o elogio ou gratidão diante da mulher na maioria das vezes revela, sutilmente, ser a outra face da moeda há muito conhecida: o sexismo mascarado, velado, sutil, etc. (SWIM; MALLETT; STANGOR, 2004; THOMAS; ESSES, 2004). O instrumento considerado nesse estudo, sua comprovação na organização itens-fatores e sua consistência, não permitirão acabar com as atitudes discriminatórias, mas pelo menos oferecerá base para conhecer a extensão do problema e antecipar conseqüências vindouras, o que o torna útil nos estudos que tratem da questão do preconceito contra as mulheres, já que poucos são os instrumentos nesta perspectiva teórica. De fato, alguns limites merecem ser enfatizados no presente estudo, por exemplo: 1- seria de grande valia a avaliação convergente do sexismo entre as famílias (pai, mãe e filho) ou até entre gerações; 2 – outra utilidade na área do estudo sobre sexismo seria a comparação desse instrumento entre espaços urbanos e rurais, bem como níveis sócio-demográficos diferentes; reflexões essas que serão tratadas em estudos futuros.
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Endereço para correspondência
E-mail: nsformiga@yahoo.com
Recebido em: 09/05/2007
Aceito para publicação em: 12/03/2007
Notas
* Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba. Doutorando na mesma instituição.
** Aluna do curso de Psicologia na Universidade Federal da Paraíba, que contribuiu na organização e elaboração do presente estudo.
*** Aluna do curso de Psicologia na Universidade Federal da Paraíba, que contribuiu na organização e elaboração do presente estudo.