Estudos e Pesquisas em Psicologia
ISSN 1808-4281
Estud. pesqui. psicol. v.7 n.3 Rio de Janeiro dez. 2007
ARTIGOS
A importância das experiências táteis na organização psíquica
The importance of tactile experiences in the psychic formation
Rebeca Nonato MachadoI; Monah Winograd II, *
I Psicóloga, Bolsista de Apoio Técnico (CNPq) da Linha de Pesquisa: Família e Casal - Estudos Psicossociais e Psicoterapia da PUC-Rio
II Psicanalista, Profª do Departamento de Psicologia da PUC-Rio
RESUMO
Quando se trata de entender a organização do aparelho psíquico, o simbólico é usualmente enfatizado como o primeiro elemento organizador. Contudo, verifica-se igualmente a importância das primeiras experiências táteis, tanto para o desenvolvimento físico, quanto para a organização do aparelho psíquico do sujeito. Neste ensaio, investigamos o papel das experiências táteis em particular e das sensoriais em geral na formação das representações e, portanto, para a base da organização psíquica. Utilizando os trabalhos de Ashley Montagu (1971/1988) e Didier Anzieu (1988/2000) como referência básica, pretendemos demonstrar ser o contato corporal na relação mãe-bebê a primeira forma de comunicação do ser humano. Esta comunicação primária gerará marcas que serão levadas ao longo da vida.
Palavras-chave: Corpo, Toque, Aparelho psíquico, Eu, Pele.
ABSTRACT
When we try to understand the organization of the psychic apparatus, the symbolic is usually emphasized as the first organizing element. However, it can also be verified that the first touching experiences are equally important to the physical development and to the organization of the psychic apparatus of the subject. In this paper the research focuses in particular on the role of touching experiences and at large on the role of sensorial experiences in forming representations, and thus, creating the bases of the psychic organization. Using Ashley Montagu’s (1971;1988) e Didier Anzieu’s (1985;2000) works, as a basic reference we want to point out that bodily contact in the mother-baby relationship is the human being’s first form of communication. This primary communication will leave marks that will be carried for the rest of his life.
Keywords: Body, Touch, Psychic apparatus, Ego, Skin.
Segundo a história traçada por Ashley Montagu (1971) — antropólogo e humanista inglês que investigou os efeitos humanizantes do toque — desde a década de 40, as funções da pele vêm sendo um foco bastante fértil de pesquisas. A pele é o primeiro sistema sensorial a tornar-se funcional em todas as espécies: humanos, animais e aves. Segundo a lei embriológica geral, quanto mais cedo se desenvolve uma função fisiológica, mais fundamental provavelmente ela será (MONTAGU, 1971).
A pele é formada por duas partes: epiderme e derme. A primeira é constituída por tecido epitelial estratificado e é formada por células mortas na camada mais externa. A segunda, formada por tecido fibrilar, favorece a elasticidade característica da pele (JÚNIOR, ANTUNES e ANTUNES, 1959). Tanto a pele quanto o sistema nervoso originam-se da mais extensa das três camadas de células embriônicas, a ectoderme de onde deriva a epiderme, os fâneros cutâneos e o sistema nervoso periférico e central (LOBO, MAIA, ENGELHANDT e PEREIRA, 1973). Justamente por ambos terem a mesma origem, Montagu considera o sistema nervoso como “uma parte escondida da pele ou, ao contrário, a pele pode ser considerada como a porção exposta do sistema nervoso” (MONTAGU, 1971, p.23).
Muitos anos antes de Montagu, Paul Schilder (1981), médico vienense influenciado pelos conceitos da psicanálise e da filosofia, já considerava a pele humana como uma roupagem contínua e flexível que nos envolve por completo. Ao mesmo tempo em que nos protege, ela também é um dos nossos primeiros meios de comunicação. Por ser um dos órgãos mais sensíveis, capaz de receber estímulos e responder a eles, a pele possui uma área extensa com um número enorme de receptores cutâneos, cuja função é captar estímulos tais como calor, frio, toque, pressão e dor. Ou seja, como o corpo é totalmente recoberto pela pele, conseqüentemente entramos em contato com o meio externo através dela: a pele é, assim, uma das principais mediadoras entre o “ser” e o mundo.
Na espécie humana, as primeiras percepções do bebê sobre a realidade externa se dão através da pele, cujas estimulações cutâneas devem ser tranqüilizadoras, reconfortantes e agradáveis para que o bebê possa ter uma continuidade saudável do seu desenvolvimento, sem nenhuma interrupção da sua continuidade de existência. Este órgão sensorial primário é um sistema de proteção da individualidade, um veículo primário de troca com o meio. Por nos fornecer uma forma individual, possui uma importante função na estrutura psíquica do sujeito (SCHILDER, 1981).
A mão tem uma função importantíssima na estimulação corporal, já que no momento em que tocamos com as mãos um objeto externo as fronteiras visuais e táteis ficam praticamente idênticas, sendo o limite entre o objeto e o corpo muito tênue. Apesar disto, só nós mesmos podemos sentir a distinção entre nós e o objeto, entre o interno e o externo. A partir desta distinção nos colocamos no mundo como algo diferente dele, como algo concreto e limitado. De fato, a pele participa na construção da nossa organização e integração psíquica, favorecendo uma relação dialética com o mundo. De acordo com Schilder (1981), não faz sentido dizer que para um recém-nascido o corpo exista e o mundo não, porque são experiências interconectadas.
O corpo erógeno e o aparato psíquico
Desde o nascimento, os bebês são tocados e se tocam. Tais toques enriquecem a construção da imagem do corpo e também a vivência de prazer ou desprazer corporal. Noutras palavras, o corpo além de ser biológico é também erógeno, pois nele são inscritas marcas de prazer e desprazer a partir da relação com o outro e do contato com o mundo. A pele seria a membrana decodificadora destas marcas, viabilizando as percepções sensoriais táteis que posteriormente serão inscritas no registro simbólico1.
Para entendermos como um toque passa do sistema perceptivo-sensorial para o sistema simbólico no corpo erógeno, Freud é referência obrigatória. Garcia-Roza (1994), um estudioso dos conceitos freudianos, destaca que seu conceito mais inovador é o de pulsão – particularmente o de pulsão sexual. Situada na fronteira entre o psíquico e o somático, a fonte da pulsão são processos de estimulação internos ao organismo. Embora tenha no corpo a sua fonte, seu caráter fronteiriço se manifesta na medida em que ela encontra expressão psíquica através de dois representantes: o ideativo (a representação ou a idéia) e o afeto (GARCIA-ROZA, 1994). Seu alvo é sua satisfação, ou seja, a eliminação da estimulação na fonte.
O conceito freudiano de pulsão possui quatro elementos fundamentais para sua compreensão (WINOGRAD, 2006 e FREUD, 1972): a pressão (soma da força) que funciona como motor da atividade psíquica; a fonte, encontrada no “processo somático localizado no corpo e seus órgãos, cuja excitação é representada no psiquismo pela pulsão” (ROUDINESCO; PLON, 1988, p. 630); o objeto variável ao infinito, através do qual atinge seu alvo; e o alvo ou a meta que é a própria satisfação, eliminando a excitação encontrada na origem da pulsão.
Segundo Winograd (2006), as forças pulsionais são anteriores às funções biológicas e nelas atuam, apesar de não se originarem delas. A fim de exemplificar isto, faremos um paralelo entre dois comportamentos típicos do bebê. O primeiro é o de nutrição, considerado um comportamento instintivo, já que todo ser vivo deve alimentar-se para sobreviver. Contudo, o segundo seria o chuchar — “repetição rítmica de um contato de sucção com a boca” (FREUD, 1972, p.168) — que estaria para além da função de nutrição, pois nele haveria uma excitação prazerosa dos lábios e da língua, provocando uma satisfação de outra ordem. Apoiada numa função somática vital, a sexualidade é alimentada pela pulsão sexual que, “de um lado, opera com seus aspectos derivados da própria constituição ou das variações corporais dos indivíduos e, de outro lado, com seus modos de inscrição psíquica dependentes dos contextos ‘acidentais’ da vida destes indivíduos” (WINOGRAD, 2006, p. 153).
A partir destas considerações, podemos afirmar que as primeiras percepções táteis do bebê derivam do investimento sobre ele mesmo (quer venha de outros, quer seja auto-erótico), evoluindo posteriormente em direção ao mundo (objeto externo). As mensagens recebidas pelo bebê através da pele fornecem-lhe a descoberta da realidade externa e proporcionam-lhe as sensações de prazer ou desprazer.
De acordo com Andrade (2003) — psicanalista didata da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro e estudioso das relações entre psicanálise e neurociências —, durante o período inicial da vida, as descargas corporais prazerosas e desprazerosas promovem o surgimento de estruturas afetivas formadas pelos registros mnêmicos das percepções ocorridas nos primórdios das vivências afetivas. Experiências de prazer enriquecem e favorecem a construção de tais estruturas afetivas, ao passo que experiências de desprazer podem ser empobrecedoras e tender para um enrijecimento do psiquismo. Andrade acrescenta que, nesta fase, estamos falando do ego corporal mencionado por Freud, um Ego que é a projeção da superfície corporal na qual são produzidas as sensações externas e internas.
Andrade (2003) constata que, para Freud, o Ego é uma “estrutura bifronte, voltada para o mundo externo e para o mundo interno, onde tem contato com o Id e o Superego” (ANDRADE, 2003, p.63). Demonstra também que o desenvolvimento do psiquismo se constitui a partir dos representantes psíquicos da pulsão, brevemente mencionados acima: a representação (idéia/pensamento) e o afeto. Este último é composto por uma descarga do processo somático, iniciada como excitação da pulsão, sendo o ponto final deste processo somático, mas também “o ponto inicial do processo psíquico gerado pela percepção sensorial (consciência) da descarga somática” (ANDRADE, 2003, p.68).
Noutras palavras, o afeto corresponde à variação corporal e psíquica, que será apreendida pela consciência num movimento reflexivo. Ele inclui o que acontece ao indivíduo e o modo como ele percebe e entende o que lhe acontece (WINOGRAD, 2006). Por isso, podemos pensá-lo como a forma final da pulsão, tendo em vista que envolve a percepção da descarga de energia, que é alvo da pulsão. A partir desta descarga, sentida como prazer-desprazer, ocorre uma percepção sensorial que será registrada em traços mnêmicos. Portanto, Andrade concebe o afeto, ao mesmo tempo, como uma expressão biológica e psicológica. Acrescenta também que este conceito tem um aspecto qualitativo e senso-perceptivo, justamente por corresponder à percepção da descarga de energia.
Todavia, ao falar de quota de afeto, também fazemos referência ao seu aspecto quantitativo. Winograd (2006), ao mencionar a passagem do texto As Neuropsicoses de Defesa de Freud (1894), demonstra como Freud caracterizou quota de afeto como algo quantitativo e que se desloca da representação:
[...] algo (monte de afeto, soma de excitação) que tem todas as propriedades de uma quantidade – ainda que não tenhamos meio algum para medi-la –; algo que é suscetível de aumento, diminuição, deslocamento e descarga, e se difunde pelas vias mnêmicas das representações como o faria uma carga elétrica pela superfície dos corpos (FREUD apud WINOGRAD, 2006, p.66. O grifo é da autora).
A representação refere-se ao registro mnêmico da percepção do afeto, ou seja, é lembrança da percepção dessa descarga acompanhada de prazer ou desprazer. A diferença básica entre a representação e o afeto é o fato de a primeira ser um registro mnêmico da percepção, e o segundo derivar da intensidade da percepção. Andrade (2003) relembra a fase inicial do psiquismo, caracterizada por uma indiferenciação generalizada entre o afeto e a representação, o processo primário e secundário, o Isso e o Ego. Ele compara esta indiferenciação interna com a indiferenciação externa (a não separação) vivida entre o sujeito e o objeto. Conforme as experiências de prazer ou desprazer vão ocorrendo, o psiquismo se regula através das representações construídas pela lembrança mnênica de afetos.
Freud, no artigo O Ego e o Id (1923/1972), destaca serem as representações derivadas das percepções e, mesmo tendo sido recalcadas, podem se tornar conscientes novamente, assim como todos os resíduos mnêmicos. A partir desta afirmativa, podemos pensar que a importância do toque para a organização psíquica justifica-se também na medida em que as lembranças de afetos inicias podem retornar à consciência.
Foi necessário investigar a evolução do psiquismo, partindo do afeto (descarga de energia) para a representação (lembrança da descarga), para ilustrar a importância das experiências de prazer ou desprazer no corpo erógeno e como isto poderá repercutir ao longo da vida do sujeito. Devemos agora retomar um conceito crucial que permeia esta evolução: a pulsão (sexual). Lembremos que ela começa apoiada na função biológica de nutrição.
Freud (1905/1972) demonstra, em A sexualidade infantil, que a separação da satisfação sexual (pulsão) da necessidade de nutrição encontra seu ápice e sua consolidação no momento em que os dentes vão nascendo e a alimentação deixa de ser unicamente via sucção para ser obtida também pela mastigação. O que antes acompanhava e se confundia com a função de nutrição torna-se autônomo tanto relativamente a esta, quanto relativamente ao objeto (alimento). A criança não usa mais um corpo estranho (o seio) para sua satisfação oral, retomando intensa e deliberadamente o próprio corpo para satisfazer-se. Segundo a teoria freudiana de 1905, esta seria a fase do auto-erotismo, embora possamos considerar que atividades auto-eróticas já existiriam mesmo antes do nascimento, por exemplo, na prática de chupar o polegar, comumente observada em fetos a partir do advento das tecnologias de imagem intra-uterinas, inexistentes na época de Freud.
Tratando do auto-erotismo, Freud (1905/1972) refere-se justamente às zonas erógenas do corpo — regiões de revestimento cutâneo-mucoso provedoras de excitação de tipo sexual. O toque teria uma função erogeneizante para o corpo envolvido pela pele. Esta seria uma “facilitadora orgânica” para a busca da satisfação, ao viabilizar a percepção de prazer através de seus receptores especializados:
A necessidade de repetir a satisfação sexual dissocia-se então da necessidade de absorção de alimento – uma separação que se torna inevitável quando aparecem os dentes e o alimento já não é exclusivamente ingerido por sucção, mas também mastigado. A criança não se serve de um objeto externo para sugar, mas prefere uma parte de sua própria pele, porque isso lhe é mais cômodo, porque a torna independente do mundo externo... (FREUD, 1905/1972, p. 170).
Entre os anos 1920 e 1923, Freud elaborou sua 2ª Tópica, reformulando a teoria psicanalítica. Neste período, formulou o modelo de psiquismo composto por três instâncias psíquicas: o Id, o tão mencionado Ego e o Superego. No Dicionário de Psicanálise de Roudinesco e Plon (1999), encontramos definições sintéticas, mas esclarecedoras, para cada instância.
O conceito de Id absorve os atributos antes relativos ao sistema inconsciente (Ics.) na primeira tópica, formando um reservatório de conteúdos de natureza pulsional. Este reservatório pulsional caracteriza-se pela desorganização e pelo caos, sendo a “sede das ‘paixões indomadas’, que sem a intervenção do Ego, seria joguete de suas aspirações e caminharia inelutavelmente para sua perdição” (ROUDINESCO; PLON, 1999, p.399).
Quanto ao Ego, ao longo do tempo Freud foi aprimorando sua definição. Em 1923, na 2 ª tópica, formulou ser o Ego uma parte diferenciada do Id. Através da influência direta do mundo externo, por intermédio do sistema percepção-consciência (Pcpt-Cs), uma parte do Id se modifica, formando o Ego. Por incluir o sistema perceptivo, torna-se o lugar de recepção mnêmica deixada pelas palavras e, porque não, dos “toques” vitais da primeira infância.
Por sua vez, o conceito de Superego foi construído durante longo tempo, tendo sido sugerido inicialmente no artigo Sobre o narcisismo: uma introdução de 1914. Neste artigo, Freud (1914/1972) formulou a noção de ideal do ego – sendo o instrumento utilizado pelo Eu para observar a si mesmo. O Superego seria portador do ideal do ego, sendo considerado um sinônimo deste ideal, os quais aparecem como herdeiros do Complexo de Édipo. É em parte inconsciente e suas funções estão ligadas ao ideal, à proibição e ordem, e à função repressora.
O Ego, ao qual pertence o sistema perceptivo, registrará os traços mnêmicos de afetos, sendo a projeção mental da superfície corporal, devido a este contato com o mundo externo. O corpo de uma pessoa, principalmente sua superfície, constitui o local de origem de sensações externas e internas, que possibilitam a construção da imagem do próprio corpo no núcleo do Ego. Esta construção freudiana será a idéia central de Anzieu (1988) para definir seu conceito de Eu-pele. Ao falar do corpo e do Ego, Freud formula que
[...] ele é visto como qualquer outro objeto, mas, ao tato, produz duas espécies de sensações, uma das quais pode ser equivalente à percepção interna... O ego é, primeiro e acima de tudo, um ego corporal; não simplesmente uma entidade de superfície, mas é, ele próprio, a projeção de uma superfície (FREUD, 1925;1972, p. 37-38).
O envelope tátil do psiquismo
O conceito de Eu-pele foi criado pelo psicanalista francês Didier Anzieu, professor de Psicologia Clínica da Universidade de Paris X. Com este conceito, ele tinha como objetivo elaborar o percurso metafórico/conceitual do Ego, o qual vai da pele ao pensamento. Para Anzieu (1988), parte do psiquismo é adquirida a partir da interação com o meio, respeitando a especificidade dos fenômenos psíquicos, em paralelo com a realidade orgânica. Para explicarmos isto melhor, devemos lembrar que os traços mnêmicos são formados a partir da percepção das estimulações de prazer ou desprazer. O afeto corresponde a esta percepção. E a partir da lembrança da descarga afetiva se compõe a representação. Portanto, o meio influencia a construção psíquica, já que pode produzir estimulações de prazer e desprazer.
Assim, Anzieu (1988) baseia-se em Freud, ao dizer que “toda função psíquica se desenvolve com o apoio de uma função corporal, cujo funcionamento se transpõe para o plano mental” (ANZIEU, 1988, p.127). As diversas funções da pele, posteriormente descritas, servem de suporte para o Eu-pele ser o envelope psíquico. Este envelope seria uma forma de demarcação entre o mundo interior e o exterior, cuja origem estaria apoiada no envelope corporal. Esta elaboração de Anzieu tem como base a afirmação de Freud de que o Ego é antes de tudo, um Ego corporal, sendo assim uma projeção da superfície (a pele). Ou seja, o Ego também se constitui a partir das sensações corporais e representa a superfície do aparelho psíquico.
De acordo com Anzieu (1988), o Ego envolve dois fatores relevantes da experiência corporal: as sensações de calor e de frio fornecidas pela pele e as trocas respiratórias concomitantes às trocas epidérmicas. Freud não descreve especificamente estas sensações, porém concebe o tato e a superfície do corpo como influência externa no ego. Para Anzieu, citar somente o tato foi uma negligência de Freud, embora possamos ressaltar o registro das detalhadas sensações táteis, de modo a sublinhar a presença da percepção tátil da pele na origem do psiquismo, tornando o aparelho psíquico apto a conter conteúdos simbólicos, isto é, representações.
Retomando a idéia de que a origem do Eu-pele (Anzieu, 1988) está apoiada no envelope corporal, poderíamos dizer ser este envelope representado inicialmente pela mãe do bebê, na medida em que ela exerce o “círculo maternante”, caracterizado pelos cuidados que envolvem o bebê. Através disto, cria-se um envelope externo repleto de mensagens direcionadas à superfície corporal e, ao mesmo tempo, flexível o bastante para deixar um espaço para o envelope interno. Fazendo isso, a mãe permite ao seu bebê que ele construa um espaço próprio.
Fortemente influenciada pelo pensamento kleiniano e introdutora das noções de pele psíquica e de segunda pele, a psicanalista Esther Bick (apud Anzieu, 1988), afirma ser o objeto continente (quem exerce a maternagem) concretamente vivido como uma pele e constituído, durante a mamada, através da experiência dupla entre o mamilo e a boca, além das trocas de calor epidérmicas no abraço da mãe com o bebê. Este continente será introjetado, possibilitando ao bebê construir um Self separado do objeto. Vale lembrar que Anzieu (1988) utiliza o termo Self quando se refere ao Ego como objeto para a consciência, diferenciado dos outros objetos do mundo externo.
Bick (apud Anzieu, 1988) argumenta que as partes primitivas do psiquismo ainda não são diferenciadas das partes do corpo, pois acredita que não haja uma “força coesiva” capaz de manter uma ligação entre elas. Assim, a introjeção de um objeto externo, o qual tem a função de conter as partes do corpo, exerceria uma função interna de conter as partes do Self: “O bebê procura freneticamente um objeto – luz, voz, odor, etc. – que mantenha uma atenção unificadora sobre as partes de seu corpo e lhe permita, ao menos momentaneamente, fazer a experiência de manter juntas as partes do Self” (ANZIEU, 1988, p. 248).
No que diz respeito a esta argumentação, podemos dizer que Bick e Freud estão de acordo. Para o último, o Ego é essencialmente a projeção mental da superfície do corpo, sobretudo das sensações externas que, para Bick, serão introjetadas para conter este Ego. Segundo Anzieu (1988), caso o envelope externo (o objeto continente de Bick) seja muito frouxo – entende-se por frouxo um envelope incapaz de emitir mensagens positivas e até mesmo de captar as mensagens do bebê – o Ego ficará sem consistência, sem esta capacidade de sentir-se um Ego único e capaz.
Um conceito importante para compreender a especificidade da relação mãe-bebê proposta por Anzieu (1988) é a noção de interface que, para o autor, seria a primeira etapa de constituição do Eu-pele. Esta seria representada por uma “pele comum”, estabelecida a partir do nascimento, constituída pela mãe e pelo filho (entre o interno e o externo). A “pele comum” fornece uma intensa ligação – uma relação simbiótica —, que assegura a ambos uma comunicação empática recíproca.
Com o tempo, o círculo maternante é introjetado, formando-se o mundo interior dos pensamentos e afetos, provocando assim uma separação entre o Self e o Outro, fazendo com que o funcionamento psíquico fique cada vez mais aberto. A interface encaminha a mãe e o bebê para funcionamentos mais separados, saindo da etapa simbiótica ou, como Andrade define (2003), saindo da etapa de indiferenciação generalizada no psiquismo.
A segunda etapa descrita por Anzieu (1988) requer o desaparecimento da “pele comum” e o reconhecimento de que cada um tem sua própria pele e seu próprio Ego. Gradativamente, a criança irá adquirir um Eu-pele, de acordo com o processo de transformação desta interface, o qual se tornará o envelope psíquico continente dos conteúdos psíquicos. Este envelope tem como uma de suas funções ser um limite assim como a pele é uma fronteira que permite ao aparelho psíquico estabelecer a diferença entre o que é do Self e o que provém do Outro (RIBEIRO, 1997). Convém ressaltar que todas as principais funções do Eu-pele designadas por Anzieu (1988) estão correlacionadas com as da pele e estariam a serviço da pulsão de apego2 e depois da pulsão libidinal. São nove as funções do Eu-pele:
1) Função de manutenção do psiquismo: relaciona-se com o fato da mãe exercer uma função continente, envolvendo e sustentando o bebê. Isto será interiorizado, fazendo com que o Eu-pele seja uma parte desta mãe, fornecendo solidez e unidade ao aparelho psíquico, necessárias para a sua manutenção;
2) Função continente: corresponde ao fato da pele recobrir a superfície do corpo e o Eu-pele recobrir o aparelho psíquico. Ele seria uma casca necessária para conter as pulsões e o Id pulsional.
3) Função de estrutura virtual: tem um papel de pára-excitação, da mesma forma que a camada superficial da epiderme protege a derme (camada mais sensível). Noutras palavras, trata-se da função de barreira psíquica.
4) Função de individualização do self: assim como a pele, o Eu-pele também fornece uma individualização, justamente por permitir ao sujeito que ele se sinta único, com uma pele própria, a qual o diferencia do Outro.
5) Função de intersensorialidade: Anzieu destaca que o Eu-pele é uma superfície psíquica que liga as sensações de diversas naturezas originadas no envelope tátil. A ligação entre elas faz com que não ocorra uma fragmentação do corpo, abrindo um espaço para serem simbolizadas pelo Eu-pele.
6) Função de superfície de sustentação da excitação sexual: a pele acaba sendo mediadora entre o bebê e o contato materno, fazendo com que a mãe seja um objeto de investimento libidinal, proporcionando sensações de prazer e desprazer, noutros termos, a tela de fundo para os prazeres sexuais. Assim, o Eu-pele captaria qualquer investimento libidinal sobre toda a superfície do corpo.
7) Função de recarga libidinal: o Eu-pele recarrega libidinalmente o aparelho psíquico, é responsável pela manutenção da tensão energética interna e sua distribuição entre os subsistemas psíquicos.
8) Função de inscrição de traços sensoriais táteis: corresponde à inscrição dos traços sensoriais táteis, recebendo e decodificando as informações do mundo externo. Para que ocorra esta função, existe um apoio duplo do Eu-pele no biológico (a pele) e no social (fazer parte de um grupo, que começa entre a dupla mãe-bebê).
9) Função tóxica: esta função não é bem elaborada pelo autor, até mesmo porque seria a única função “negativa” do Eu-pele, segundo ele. Pode-se compreender esta função tóxica como uma pele imaginária protetora do Self — ou seja, do sentimento de unidade do ego, objeto para a consciência — a qual seria uma túnica envenenada e asfixiante, para rejeitar os ataques de auto-destruição inerentes do Id contra o Self.
O caso de João e a dimensão pré-simbólica do tato
Neste ponto, parece importante resgatar o sentido da palavra comunicar, realizado por McDougall (1987). O sentido original do termo vem do latim comunicare: tornar comum, estar em relação com. A autora complementa esta definição afirmando ser o ato de comunicar nada mais do que um ato de preservação de contato com o outro. Por isso, a função da informação no ato de comunicar acaba sendo secundária, já que o mais importante é a formação de um elo com o outro.
O tato proporciona este elo porque propicia a criação de uma intimidade e a demonstração de afeto, muitas vezes, fazendo mais “sentido” do que as próprias palavras, pois atingem o objetivo primordial do ato de comunicação, formulado por McDougall. O contato tátil é primordial para o ser humano, para a sua organização psíquica ao longo de sua vida. Conforme defende Fontes (2002), as experiências precoces – mais especificamente táteis – não podem ser rememoradas pela linguagem verbal já que foram impressas em um registro sensorial corporal. De fato, este período sensorial é o primeiro registro da história do sujeito, viabilizando a capacidade de representação. Além disso, a organização da linguagem ocorre também através da primeira relação “mãe-filho”, posto que o bebê não consegue sobreviver sozinho. Como os primeiros contatos desta relação inicial foram corporais, sendo permeados pela linguagem, esta vai sendo aprendida. Assim, o toque poderia ser considerado a forma precursora da linguagem, que vai sendo aprimorada com o tempo, passando para um registro simbólico.
Ou seja, a relação “corpo-a-corpo” seria a primeira etapa de uma comunicação que irá amadurecer para se tornar uma comunicação verbal. Esta primeira etapa seria bastante relevante, posto que o bebê percebe inicialmente o mundo externo a partir das suas sensações corporais. Sua mãe terá a função não só de proporcioná-las, mas também de traduzi-las para uma linguagem mais amadurecida (a verbal) que será um instrumento futuro para este bebê relacionar-se com as demais pessoas.
Tocar e ser tocado não são estimulações sensoriais impessoais, já que significam uma realização e uma satisfação simbólica da busca de intimidade, aceitação, tranqüilização e conforto. Todavia, para aqueles que tiveram alguma deficiência nessa área, poderá ocorrer a fuga desses contatos ou a busca insistente de comportamentos de auto-manipulação – como, por exemplo, a masturbação, a sucção de algum dedo etc. – a fim de substituir tais privações táteis (MONTAGU, 1971). Além disso, a estimulação cutânea inadequada pode provocar na criança uma deficiência na comunicação da experiência do amor, já que não recebeu esta primitiva forma de amar.
Efetivamente, o contato corporal é uma necessidade básica dos mamíferos, a qual deve ser atendida para que ocorra um bom desenvolvimento. O sujeito precisa disto para que possa desenvolver adequadamente seus movimentos, seus gestos e sua vinculação com as pessoas. Caso contrário, ele pode desenvolver determinados comportamentos ocasionados por esta falta de contato, tais como: afetar a percepção do seu esquema corporal ou uma construção frágil da imagem do corpo, possuir um comportamento sexual confuso, ser bastante ansioso, e também não se interar com o corpo do outro – como, por exemplo, evitar abraços. Em suma, a privação de uma quantidade significativa de “toques amorosos e cuidadores” favorece que a criança apresente algumas características, tanto em seus relacionamentos com os outros, como também na sua organização psíquica.
A partir de uma experiência durante o período de um ano em um Hospital de referência em pediatria no Rio de Janeiro – vinculado a uma Fundação do Governo Federal, cuja intenção é servir de campo de pesquisa – poderemos clarificar a idéia de Montagu (1971). Nesta instituição, foi solicitado por duas médicas um atendimento especial a João — nome fictício atribuído para proteger a identidade do bebê —, um bebê afro-brasileiro de três meses, abandonado pela mãe. Seu quadro clínico era bastante grave: tinha atresia de esôfago, insuficiência renal crônica (IRC) e cardiopatia. Vestia apenas uma fralda porque não possuía nenhuma roupa própria, nem mesmo uma manta para cobri-lo e aquecê-lo. Contudo, isto só foi percebido pela equipe médica e modificado no dia em que a psicóloga o pegou no colo e passeou com ele pela enfermaria, sustentando-o e também segurando suas medicações intravenosas. Todos perguntavam quem era o bebê que estava passeando ao som de cantigas de ninar.
No primeiro contato, ele olhava a psicóloga fixamente, sem olhar para mais ninguém, mesmo que o chamassem ou colocassem um brinquedo na sua frente. Era como se, naquele momento, estivesse com “sede de um olhar”. Precisava também de um colo que o organizasse e que o tocasse afetuosamente. Quando tocavam em seu pé ou em sua perna não os mexia, não respondendo aos estímulos. Era como se não fizessem parte dele. Neste primeiro encontro, algum tempo depois de permanecer no colo, foi adormecendo, mas despertava assustado e angustiado sempre que escutava algum barulho alto. Parecia reagir ao ambiente hostil em que vivia e seu despertar aparentava dever-se ao medo que tinha da interrupção de sua continuidade de existência3.
Durante muitos encontros, manteve o olhar fixo, colocando o polegar na boca e sugando-o vorazmente, o que chamava a atenção de inúmeras mães que acompanhavam seus filhos. Elas ficavam admiradas como um bebê tão pequenino vivia com o dedo na boca. Baseando-nos nas elaborações de Montagu (1971), podemos compreender o fato dele colocar intensamente o dedo na boca como uma compensação da carência de contato e carinho. “A falta de toques é vivida como ansiedade de separação, como falta de contato, de ‘ligação’ e de amor” (MONTAGU, 1971, p.255).
Conforme os encontros foram se dando, João foi apresentando comportamentos que até então não apresentava como, por exemplo, sentir cócegas quando seus pés eram tocados. Passou a mexer a perna também quando era acariciada e “apertada”. Quanto à sua “sede de olhar” dirigida para a pessoa que o segurava, esta passou a ser menos intensa e João começou a observar as pessoas que estavam à sua volta e os brinquedos que lhe eram mostrados. Todavia, as mudanças não ocorreram somente no comportamento deste bebê, mas também no da equipe, que começou a trazer roupinhas, mantas e brinquedos. Uma das funcionárias do hospital quis adotá-lo e providenciou todos os processos burocráticos até que finalmente conseguiu realizar seu desejo. Ela ia à enfermaria visitar seu futuro filho quase todos os dias durante o processo de adoção, sempre fazendo carinho e brincando. João saiu do hospital embalado nos braços de sua mãe adotiva.
O destino de João aos dois anos de idade é uma incógnita. Resta-nos questionar em que medida o vínculo entre a psicóloga e João contribuiu para a constituição do sentimento de unidade do Ego? Sabemos que, por meio desse vínculo, houve um acolhimento de colo, de carinho e de atenção, oferecendo-lhe a possibilidade de estar em contato com alguém e de diferenciá-lo dos contatos invasivos característicos do ambiente hospitalar. Será que a função de continente exercida pela psicóloga pôde proporcionar àquele bebê seu lugar de sujeito, vivo e amado? Somente sabemos que o olhar da psicóloga fez com que a equipe também o olhasse de uma forma diferenciada e pudesse vê-lo além de sua doença, como um indivíduo que também possui saúde e que pode se desenvolver. Assim, a função de envelope exercida pela psicóloga promoveu um movimento da equipe hospitalar no sentido de cuidar não só da patologia de João, mas também de suas demandas de afeto.
Esta experiência ilustra a importância de um contato humanizado na instituição hospitalar. Evidencia a importância da equipe estar atenta às necessidades de contato físico não invasivas, como um instrumento terapêutico no tratamento da doença do paciente. No hospital, o sujeito internado sente uma forte angustia de aniquilamento, devido à confrontação com a possibilidade de morte. Justamente por isso, torna-se necessário, na medida do possível, que o ambiente hospitalar ofereça um espaço continente. A presença deste espaço não contribuiria no desenvolvimento de uma experiência de descontinuidade de existência, mas sim na promoção de um acolhimento às demandas fisiológicas e psíquicas, se é que podemos separá-las. Arán et al. (2004) elabora sobre a capacidade de um Hospital Geral ser um espaço intermediário, no qual há uma mediação entre os diversos discursos – principalmente médico e do paciente –, configurando uma articulação entre suas peculiaridades. Pois, ao mesmo tempo em que o sujeito é paciente daquela instituição, o ambiente hospitalar deve oferecer um espaço potencial4 para que ele também seja tanto visto como indivíduo desta instituição, não sendo somente o doente de um determinado leito da enfermaria ou do C.T.I., mas também como um indivíduo que deve ser ouvido e respeitado em sua singularidade.
Arán et al. (2004), ao descreverem a função do grupo terapêutico de pacientes com dermatoses crônicas num Hospital Geral, utilizam como referência o conceito de “Eu-pele” desenvolvido por Anzieu (1988). Por outro lado, porque não pensar na função da instituição hospitalar também como um “Eu-pele”? Portanto, um envelope psíquico como enfatiza Anzieu, mas também físico, podendo proporcionar proteção e sustentação ao paciente neste momento de vulnerabilidade.
Conclusão
A investigação sobre a importância vital do toque na organização psíquica teve como ponto de partida algumas questões. De onde vem esta necessidade de contato corporal e porque isto nos faz bem psiquicamente? Porque a pele é importante na organização psíquica e como participa desta construção? Como é suprida esta necessidade no ambiente hospitalar, caracterizado, de um lado, pela evitação de contatos por conta das infecções e, de outro lado, pelos contatos mediados de procedimentos dolorosos?
Tais questões levaram à investigação de construções teóricas sobre os diversos aspectos do toque, destacando sua importância, não só nos processos psíquicos, mas também nos processos físicos. Usualmente, consideramos o discurso como o primeiro organizador do aparelho psíquico. Porém, demonstramos como o discurso sempre se faz acompanhar de experiências sensoriais, dentre as quais sublinhamos o toque. A partir da formação dos traços mnêmicos das estruturas afetivas, viabilizam-se lembranças constituintes das representações. Portanto, para aqueles que acreditam na existência da estrutura psíquica a partir do discurso, devemos lembrar como a linguagem sensorial envolve e marca este corpo erógeno, não podendo falar em psiquismo sem ressaltar o papel vital das experiências sensoriais nesta organização.
O simbólico é viabilizado através das lembranças das percepções, destas sensações (afetos), que serão as representações. Portanto, através disso, podemos afirmar que a memória se constrói na relação com o outro. Na relação com a mãe, o bebê aprende a distinguir, categorizar e memorizar episódios específicos de sua vida, organizando-os no aparelho psíquico, que terá uma base afetiva perceptiva. O destino do bebê está sendo escrito nestes primeiros momentos, a partir das marcas fundantes (experiências sensórias com o outro) do Ego/ Eu-pele.
As experiências sensórias proporcionam um elo entre o sujeito e o outro, um elo que envolve intimidade e demonstração de afeto, sendo fundamentais para o ser humano, para a sua organização psíquica ao longo de sua vida. O toque é uma linguagem que não deve ser esquecida, já que, por meio dele é que entramos em contato com uma das mais primitivas formas de demonstração de afeto.
Podemos dizer que o indivíduo e o ambiente se tornam interdependentes e o toque oferecido pelo outro, ao longo da vida, será um dos elementos de reorganização psíquica. Permitirá re-significações do passado, a experiência de sentir-se amado e vivo em sua primeira forma de comunicação e, também, a possibilidade de demonstrar afeto. Isto responde à pergunta sobre como uma simples mão no ombro ou um forte abraço podem significar mais do que palavras. Cabe aqui uma questão que demanda futuras investigações e reflexões: por que afastarmos este contato tátil e suas ricas significações do setting analítico?
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Endereço para correspondência
Rebeca Machado
E-mail: recanm@gmail.com;
Monah Winograd
E-mail: winograd@uol.com.br
Recebido em: 09/10/2006
Aceito para publicação em: 18/06/2007
Notas
* Doutora em Teoria Psicanalítica/ UFRJ, Coordenadora do grupo de pesquisa Materia Pensante, editora do site Matéria Pensante (http://geocities.yahoo.com.br/matéria_pensante), autora do livro Genealogia do Sujeito Freudiano (Artmed, 1998) e de diversos artigos em revistas científicas de Psicologia.
1 Utilizamos o termo ‘simbólico’, em consonância com o emprego que Lacan faz dele, a partir de 1936, para designar um sistema de representação baseado na linguagem, isto é, em signos e significações que determinam o sujeito à sua revelia, permitindo-lhe referir-se a ele, consciente e inconscientemente, ao exercer sua faculdade de simbolização (ROUDINESCO; PLON, 1988).
2 O conceito de pulsão de apego foi criado por Bowlby, o qual apresenta “a hipótese de uma pulsão independente da pulsão oral e que seria uma pulsão primária não-sexual” (Bowlby apud Anzieu, 1988, p. 35). Anzieu faz alusão a este conceito por referência à crença de Freud na possibilidade de novas pulsões serem descobertas.
3 Essa é uma expressão usada por Winnicott, que significa dar continuidade à experiência de continuar a ser, a qual oferece uma base para a construção do “eu sou”, através da integração do ego. Para ele, o “ego é o potencial herdado que está vivenciando uma continuidade do ser” (Winnicott apud Davis, M.; Wallbrigde, D., 1981, p. 52).
4 Para Winnicott, espaço potencial é a possibilidade de articulação entre um mundo interno e externo, sendo vividos como indiferenciados e separados, ao mesmo tempo, o que caracteriza um dos paradoxos winnicottianos.