Prezadas leitoras, prezados leitores,

Iniciamos este ano de 2023 com grandes expectativas e desejos de um futuro melhor: para o país, para as ciências, para a educação e saúde públicas brasileiras. Sabemos que esse não será um horizonte fácil de ser alcançado, e esperamos que a democracia de nosso país possa se fortalecer para isso. A fim de inaugurarmos o ano editorial de 2023 da revista Estudos e Pesquisas em Psicologia, trazemos um número que conta com qualificados artigos em quatro diferentes seções. Aproveitamos, ainda, para celebrar a manutenção da nota A2 na última avaliação do Qualis Capes (Quadriênio 2017-2020). Esta conquista foi fruto do trabalho de toda a equipe (envolvendo editoras/es, técnicas/os e extensionistas) e das valiosas contribuições de autoras/es e de pareceristas que têm colaborado com nossa revista.

A seção de Psicologia Social inicia com o artigo A Família Está em Chamas(?): Razão de Estado, Conservadorismo e (Reconhecimento à) Diferença, de Fernando Altair Pocahy e Henrique Caetano Nardi, que busca compreender como se estabelecem intersecções enunciativas entre marcadores de diferença e a racionalidade liberal na economia e na visão conservadora dos costumes, tomando como foco a (des)articulação em torno da precarização de parentalidades e conjugalidades diversas. O artigo Representações e Práticas Sociais em Disputa: O Trabalho Doméstico Remunerado Segundo Relatos em Rede Social, de Caio Gracco Lima Ancillotti e Priscilla de Oliveira Martins da Silva, por sua vez, apresenta estudo documental que analisou as representações sociais sobre o trabalho doméstico remunerado, compartilhadas na página do Facebook “Eu, Empregada Doméstica”, e as práticas sociais delas decorrentes. Já no artigo Vivências de Violência e Percepção do Medo entre Estudantes Universitários, as autoras Catarina Gordiano Paes Henriques, Elisa Avellar Merçon-Vargas e Edinete Maria Rosa traçam um panorama das violências vivenciadas e temidas por estudantes no contexto universitário, buscando descrever as frequências dessas violências, bem como a percepção dos alunos sobre suporte psicológico da Universidade e denúncia do agressor. Em Onde Vivem os Monstros? Enlaces entre Cinema, Adolescência e Horror, Bruna Rabello de Moraes, Alice Sippert e Amadeu de Oliveira Weinmann propõem uma reflexão sobre os enlaces entre adolescência, cinema e horror, no momento em que a adolescência como categoria social se consolida, isto é, nos anos de 1950. O artigo Trabalho Docente no Contexto da Expansão Universitária, de Francisco Pablo Huascar Aragão Pinheiro, busca compreender, a partir do referencial da Clínica da Atividade, os impedimentos ao poder de agir de docentes que atuavam em um campus estruturado a partir do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Encerrando esta seção, o trabalho Implicações da Pandemia para a Psicologia nas Políticas Públicas, de autoria de Pedro Henrique Antunes da Costa, Amanda Figueiredo Falcomer Meneses, Antonio Juvenal da Silva Júnior, Débora Ferreira Couto Pinto, João Gabriel Carvalho Araújo Mello de Oliveira, Marília Batista Carvalho, Otto Leone Corrêa, Soraya Souza de Andrade, Kíssila Teixeira Mendes e Telmo Mota Ronzani, analisa desafios e potencialidades no trabalho de psicólogas(os) nas políticas públicas brasileiras na conjuntura pandêmica, em um estudo exploratório-descritivo de abordagem mista.

Abre a seção Psicologia do Desenvolvimento o artigo Sentidos do Trabalho para Brasileiros de Meia-Idade: Um Estudo Fenomenológico, de Rosana Garcia Martho e João Carlos Caselli Messias. Nele, os autores discutem os sentidos que dez brasileiros entre 50 e 59 anos atribuem ao trabalho em um momento de transição de carreira, em uma pesquisa fenomenológica que empregou narrativas compreensivas individuais, elaboradas a partir de um encontro dialógico com cada participante. Já o artigo Suporte Familiar, Traço/Estado Depressivo e Motivos para Viver em Usuários da Atenção Primária/Secundária, de Mirela Alves de Oliveira Dorta, Ana Celi Pallini e Makilim Nunes Baptista, se propõe a testar um modelo teórico preditivo (path analysis) do suporte familiar sobre traço/estado depressivo e sobre os motivos para viver dos pacientes do Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas e da Estratégia de Saúde da Família. O trabalho Características Cognitivas e Comportamentais Associadas à Distrofia Muscular de Duchenne: Revisão Integrativa, de Clara Monte Arruda, Dalva Rafaela Pessoa Chaves e Mariana Costa Biermann, realiza uma revisão integrativa da literatura sobre a Distrofia Muscular de Duchenne, doença neuromuscular progressiva recessiva causada por mutações genéticas ligadas ao cromossomo X, para investigar os aspectos cognitivos e comportamentais a ela associados pela literatura, nos últimos dez anos. Em Função de Cuidar na Educação Infantil: Contribuições de Grupos de Discussão de Trabalho com Educadoras, de Amanda Schöffel Sehn e Rita de Cassia Sobreira Lopes, as autoras discutem os resultados do estudo que ofereceu um espaço de escuta para educadoras, com vistas a refletir sobre os desafios da função de cuidar de bebês e crianças bem pequenas na Educação Infantil. O artigo Terapia Cognitivo-Comportamental em Grupo: Estratégia de Psicoeducação com Estudantes de Enfermagem, de Deise Coelho de Souza, Lucas Rossato, Marta Regina Gonçalves Correia Zanini e Fabio Scorsolini-Comin, apresenta os resultados de um grupo psicoterápico psicoeducativo desenvolvido com estudantes de Enfermagem, indicando que o processo de integração à universidade requer mobilização cognitiva, afetiva e social, sendo que as relações com os pares, professores e familiares foram destacadas como importantes para essa adaptação. O artigo Comunicação do Diagnóstico da Síndrome de Down: Experiências de Mães e Médicos, escrito por Rosani Viera Lunardi, Pâmela Schultz Danzmann e Luciane Najar Smeha, propõe conhecer as experiências de mães e médicos em relação ao comunicado do diagnóstico da síndrome de Down, por meio de uma pesquisa exploratória e transversal com delineamento qualitativo. No artigo Percepções e Vivências de Psicólogos/as sobre a Punição Física em Crianças, Tatiane França, Jean Von Hohendorff, Ana Claudia Pinto da Silva e Carlos Costa apresentam estudo qualitativo e transversal que investigou as percepções e vivências das/os psicólogas/os sobre o uso da punição física em crianças, apontando a necessidade de capacitações a psicólogas/os e a estudantes sobre os prejuízos e as alternativas à punição física em crianças. Por fim, o artigo Habilidades Sociais Educativas de Professoras e Relação com Comportamentos de Pré-Escolares, de Cristiane de Azevedo Guimarães e Carolina Severino Lopes da Costa, avalia as Habilidades Sociais Educativas de professoras de crianças pré-escolares com desenvolvimento típico, problemas de comportamento e deficiência.

A seção Psicologia Clínica e Psicanálise abre com o artigo O que Terapeutas Comportamentais Aprendem para sua Prática Clínica na Relação Terapêutica?, de Olívia Rodrigues da Cunha e Luc Marcel Adhemar Vandenberghe, que discute o que terapeutas comportamentais aprendem, em sua prática clínica, na relação com seus clientes, para além do estudo sobre teoria, intervenções e técnicas, e da supervisão clínica. Em Efeitos da Intervenção Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade em Pacientes com Diagnóstico de Câncer, de autoria de Daiane Linz da Silva de Jesus, Bruna Fernanda da Silva e Natalia Veronez da Cunha Bellinati, as autoras realizam uma revisão integrativa da literatura acerca da produção sobre a intervenção Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade, como um potencial meio para a melhoria do bem-estar de pacientes acometidos pelo câncer. Já o artigo Entre Silêncios e Formas: Censura e Pós-Censura na Arte Brasileira Contemporânea, de Morgana Rech e Joel Birman, trata da censura na arte brasileira contemporânea que, desde 2016, com o encerramento da exposição Queermuseu, marcou o retorno de um tipo de ato censório (pós-censura) que difere da censura praticada desde a redemocratização, propondo um retorno até as formas da censura institucionalizada na Ditadura Militar (censura clássica) e sua dissolução na cultura. Já o artigo A Liderança Fundamentalista: Uma Abordagem a partir de Freud, de Thiago Araújo Oliveira e Jacqueline de Oliveira Moreira, oferece, por meio de revisão de literatura, uma abordagem do fundamentalismo religioso sob a perspectiva da teoria freudiana, destacando o poderio dos líderes, capazes de atrair, influenciar e mobilizar as massas.

Encerrando este número, a seção Clio-Psyché traz o artigo em espanhol Albores de la Psicología Formal en Puerto Rico: Pléyade de Influencias (1900-1934), escrito por Irma Roca de Torres, que apresenta as biografias de nove profissionais que contribuíram para o desenvolvimento da Psicologia em Porto Rico e que estão incluídos na The Palgrave Biographical Encyclopedia of Psychology in Latin America, organizada por Ana Jacó-Vilela, Hugo Klappenbach e Rubén Ardila.

Desejamos a todas e todos uma boa leitura!