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Estudos e Pesquisas em Psicologia

 ISSN 1808-4281

Estud. pesqui. psicol. vol.23 no.3 Rio de Janeiro set./dez. 2023   03--2024

https://doi.org/10.12957/epp.2023.79266 

PSICOLOGIA SOCIAL

A Inovação pelo Conflito de Ideias: Retornando às Fundações da Influência das Minorias

Innovation through the Conflict of Ideas: Returning to the Foundations of Minority Influence

La Innovación a través del Conflicto de Ideas: Volver a los Fundamentos de la Influencia de las Minorias

Thiago Rafael Santin* 

Doutorando em Psicologia (UFES). Bacharel, Licenciado e Mestre em Filosofia (PUCRS).


http://orcid.org/0000-0002-1295-304X

Rafael Moura Coelho Pecly Wolter** 

Pós-Doutor (UERJ), Doutor e Mestre em Psicologia Social pela Universidade de Paris V (René Descartes). Professor titular da UFES.


http://orcid.org/0000-0003-1633-2141

*Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, Vitória, ES, Brasil

**Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, Vitória, ES, Brasil


RESUMO

A influência minoritária surgiu na psicologia social na década de 1960. Este artigo teórico tem por objetivo apresentar e analisar os estudos pioneiros de Serge Moscovici e seus desdobramentos atuais. A partir da explicação do modelo genético de influência social por Moscovici, aponta-se o diagnóstico da falta de abrangência do modelo funcionalista para explicar o conflito de ideias, a conversão e a inovação por ideias minoritárias. O artigo explica esses conceitos e mostra em âmbito de conceito e de operacionalização a consistência comportamental e o conflito informacional. Detalham-se os estudos fundacionais do paradigma azul-verde, a fim de explicitar a construção teórica e metodológica e a incongruência entre ambas. Exploram-se as relações com a teoria da identidade social nas perspectivas divergentes das teorias da conversão da autocategorização. Apresentam-se novos conceitos de minorias: as vitimizadas, as perpetrantes e as que buscam tolerância. Por fim, os autores apontam os avanços já realizados e os ainda necessários, a partir de revisões e análises do campo.

Palavras-chave: influência minoritária; influência social; inovação; conformismo.

ABSTRACT

Minority influence appeared in social psychology in the 1960’s. This theoretical paper aims to present and analyze Serge Moscovici’s pioneering studies and their present development. From Moscovici’s explanation of the genetic model of social influence, it points out the diagnostic of the lack of comprehensiveness of the functionalist model to explain the conflict of ideas, the conversion and the innovation by minorities’ norms and ideas. This paper explains these concepts and exhibits the behavioral consistency and the informational conflict in the conceptual and the operational level. The authors detail the foundational studies of the blue-green paradigm in order to show theoretical and methodological constructs and the incongruence between both. They explore the relationship with social identity theory in the divergent perspectives of the conversion theory and the self-categorization theory. They present new concepts of minorities: the victimized, the perpetrators and those who seek tolerance. Finally, the authors point out the developments already made and those still needed, based on reviews and analysis of the field.

Keywords: minority influence; social influence; innovation; conformity.

RESUMEN

La influencia de las minorías surgió en la psicología social en la década de 1960. Este artículo teórico pretende presentar y analizar los estudios pioneros de Serge Moscovici y sus desarrollos actuales. A partir de la explicación del modelo genético de influencia social de Moscovici, se señala el diagnóstico de la falta de integralidad del modelo funcionalista, para explicar el conflicto de ideas, la conversión y la innovación por ideas minoritarias. El artículo explica estos conceptos y muestra en el ámbito del concepto y la operacionalización la consistencia conductual y el conflicto informativo. Los autores detallan los estudios fundacionales del paradigma azul-verde para explicitar el constructo teórico y metodológico y la incongruencia entre ambos. Exploran las relaciones con la teoría de la identidad social en las perspectivas divergentes de las teorías de la conversión de la autocategoría. Presentan nuevos conceptos de minorías: las victimizadas, las agresoras y las que buscan la tolerancia. Por último, los autores señalan los avances ya realizados y los que aún son necesarios, a partir de revisiones y análisis del campo.

Palabras clave: influencia de las minorias; influencia social; minorías activas; innovación; conformidad.

A influência social é um dos tópicos centrais da psicologia social, tendo papel relevante desde sua origem (Harkins et al., 2017). Ela pode ser considerada como o processo de mudança de pensamento, atitude ou comportamento deflagrado pelo contato direto ou indireto com outra pessoa ou grupo. As pesquisas na área até a década de 1960 foram voltadas para a influência da maioria e de quem detinha poder ou status, seja pela quantidade numérica ou pela autoridade. Serge Moscovici (1928-2014) mudou radicalmente a concepção de influência social, enfocando a influência das minorias, grupos e indivíduos sem poder, não apenas os grupos com menor número.

Moscovici (2011) criou o conceito de influência minoritária, sintetizado em seu livro Psicologia das minorias ativas. A edição original, em língua inglesa, é de 1976, “Social influence and social change”. Em 1979, o livro foi editado na França, com o título “Psychologie des minorités actives”, acrescido de um apêndice com a análise da biografia de Alexander Soljenitsyne, um dissidente russo no regime comunista, a minoria de um só. A edição brasileira, de 2011, traduziu o título francês e manteve o apêndice.

Para Moscovici (1980), a inovação social, a mudança de opiniões e as normas vigentes, seriam causadas pelas ideias alternativas, divergentes das estabelecidas, e defendidas de forma consistente por essas minorias, que levam à conversão da maioria. Com base em análises de mudanças sociais e da literatura sobre influência social, Moscovici (2011) identificou alguns dos mecanismos e pressupostos dos estudos do campo e propôs a influência social minoritária, pelo modelo genético ou paradigma da inovação, notadamente minorias sociais concebidas como grupos sem poder, à margem do estabelecimento de normas sociais hegemônicas. Desde então, a discussão acerca das minorias sociais avançou muito, com diversas pesquisas em diferentes áreas e contextos sociais e culturais (p.ex.: Santos Miguel et al., 2020). O olhar psicossocial, em especial no contexto brasileiro, tem diversas áreas e linhas de pesquisas sobre minorias e mudança social (p.ex.: Gomes de Jesus, 2013; Sawaia, 2014). Contudo, parece ter sido deixado de lado o campo de pesquisas acerca da influência das minorias, havendo poucas obras que tem a teoria das minorias ativas como central (Souza Filho, 1991; Del Prette, 1995; Leite, 2019), que a partir dela investigam a mudança social (Rodrigues, 2018; Barreira & Maia, 2022) ou que são aplicadas ou com interlocuções teóricas (Gomes, 1995; Castro, Roso e Gonçalves; 2022). Inspirados no legado de Moscovici e motivados pelo contexto social presente, pretendemos voltar à fonte para analisar os principais conceitos e pesquisas do campo, bem como seus desdobramentos recentes, a fim de alavancar o desenvolvimento técnico-conceitual e a análise dos fenômenos psicossociais atuais.

Modelo Genético de Influência Social

Influência Social e o Modelo Funcionalista

O modelo genético é assim denominado porque Moscovici buscou explicar parte da gênese psicossocial dos processos de inovação social que testemunhara, como as mudanças causadas pelo movimento sufragista no início do século XX, os movimentos grevistas e estudantis dos anos 1960, bem como as lutas políticas por independência entre nações colonizadas. Para explicar a transformação social pela influência, Moscovici (1980) compara o seu modelo genético com o modelo funcionalista, mostrando que o primeiro explica a produção da diversidade e de inovações na sociedade, enquanto o último explica a padronização e o estabelecimento da conformidade.

A influência no modelo funcionalista era pensada de forma unilateral, da fonte para o(s) alvo(s), somente a maioria numérica ou de poder e o grupo poderiam ser apresentados como fontes e somente a minoria numérica ou de poder e o indivíduo eram os alvos. Para haver um processo de influência, era necessário haver assimetria e dependência (Gardikiotis, 2011). A assimetria é a desigualdade de posições, em termos de número, status ou poder para estabelecer normas, que gera a dependência de um indivíduo ou grupo em relação a outro, sendo a maioria independente a fonte e a minoria dependente o alvo (Moscovici, 2011).

O objetivo dos processos de influência era, portanto, gerar ou aplicar normas sociais para orientar a relação dos sujeitos com o ambiente, por meio da redução da incerteza em objetos desconhecidos ou ambíguos; bem como manter a funcionalidade das relações intra e intergrupais, evitando ou minimizando dissensos e conflitos (Moscovici, 1980). Os processos de influência social eram concebidos no formato de conformismo, portanto, com a função de estabelecer informações objetivas sobre a realidade (norma de objetividade) ou fazer com que o grupo tivesse coesão, por meio da conformidade de seus indivíduos (normalização ou correção de desviantes) (Gardikiotis, 2011).

Reinterpretações e Avanços a partir do Modelo Funcionalista

Moscovici reinterpreta os conceitos de maioria e minoria, saindo da visão quantitativa do modelo funcionalista para uma abordagem qualitativa (Faucheux & Moscovici, 1967). Ele também rompe com o pressuposto de condicionamento do processo de influência pela dependência entre as partes (Moscovici et al., 1969). Os processos de influência passam a ser examinados em duas direções: além da relação maioria-minoria e grupo-indivíduo, passa-se também a conceber que indivíduos influenciam grupos e minorias influenciam maiorias - ambos sem possuir status ou poder. Mudou-se também a dinâmica de desenvolvimento da influência: ao invés de poder, o conflito sociocognitivo. Esse tipo de conflito deixou de ser tomado como negativo, um problema a ser evitado ou superado nas relações grupais, e passou a ter o papel de desencadeador da inovação (Moscovici, 2011).

Minorias Ativas e Consistência

Moscovici (1980, 2011) afirma que as normas sociais estabelecidas pelas maiorias são desafiadas pelas normas das minorias (nômicas) ativas. Há minorias que não possuem normas sociais (anômicas) e há as que possuem normas, mas não desejam que elas se tornem majoritárias (minorias passivas). As minorias ativas são aquelas que possuem uma outra norma e o desejo de implementá-la (Moscovici, 1980), tais como os antigos movimentos antiescravagistas e os atuais veganismos.

As minorias ativas disputam o campo social e conflitam com a norma estabelecida e endossada pela maioria. O conjunto de comportamentos físicos ou verbais e seu significado simbólico sobre seus agentes ou fontes nos processos de influência é chamado de estilo de comportamento (Moscovici, 2011). O estilo de comportamento consistente, ou consistência comportamental, é a marca das minorias ativas e possui duas dimensões: a sincrônica e a diacrônica. A sincrônica é o consenso do grupo minoritário acerca da sua posição, sua coesão interna, exibida pelo consenso grupal (não necessariamente unânime), em diferentes contextos. A diacrônica é a manutenção dessa posição ao longo do tempo, a persistência da defesa da ideia, sua estabilidade cronológica (Moscovici, 2011).

Teoria da Conversão

A teoria da conversão (Moscovici, 1980) vem de um artigo que nomeia a teoria e é uma espécie de compilação. Ela é também um refinamento teórico que coloca a conversão como o objetivo último dos processos de influência pelas minorias ativas. Moscovici (1980) propunha que todas as tentativas de influência geram um conflito, independente da fonte. O conflito pode ser de dois tipos, normativo, quando a norma de pertença grupal (consenso ou imitação) é considerada, ou informacional, quando a informação (ideia ou valor) sobre o objeto de influência é considerada. Cada um é associado (de modo não exclusivo) com uma categoria de grupo social (maiorias e minorias, respectivamente) e apresentam constituição, funcionamento resolução e efeitos distintos.

Uma vez que a esfera pública seja o âmbito da pressão da maioria, o conflito informacional só pode ser proposto por uma minoria que evite a comparação normativa, que não pertença ao mesmo grupo social da maioria, portanto, uma minoria exogrupal. Se a minoria fosse endogrupal, a pressão normativa recairia sobre ela e sua posição não seria considerada, gerando um conflito normativo, de acordo com Moscovici (1980).

O conflito informacional proposto pelas minorias consistentes precisa ser resolvido pela maioria. Se elas não cedem em suas posições abertamente, o ônus pesará cada vez mais sobre elas, causando um desconforto psicológico interno. Assim, quanto menos um conflito informacional é reduzido no nível público, por aquiescência à pressão majoritária, em conformidade com o grupo, mais ele precisará ser reduzido no nível privado, pelo processo de validação informacional - a análise cognitiva da posição (norma ou ideia) da minoria, que leva à conversão (Moscovici, 1980).

Na teoria da conversão (1980), Moscovici postulou que a influência ocorre em dois níveis e duas formas distintas, conforme seu tipo: a influência normativa corresponde o nível direto, de forma manifesta, em âmbito público; e a influência informacional corresponde o nível indireto, de forma latente, em âmbito privado. Os efeitos da influência se dividem, por conseguinte, em latentes e manifestos. Os latentes são, em geral, inconscientes e de caráter privado. Podem ainda ser tardios (após o processo de influência ocorrer) ou indiretos (adjacentes ou periféricos ao tópico ou objeto central do processo de influência). Os efeitos manifestos, por sua vez, são, em geral, conscientes e de caráter público, imediatos (ocorrem durante o processo de influência) e diretos (sobre o objeto ou tópico central em disputa), conforme explicado anteriormente sobre o modelo funcionalista.

Os Experimentos Azul-Verde de Moscovici

Moscovici realizou estudos experimentais que formam o chamado paradigma azul-verde, dentre os quais destacamos os dois principais: Moscovici et al. (1969) e Moscovici e Lage (1976). Com eles, demonstrou a existência da influência minoritária, testou algumas das suas suposições teóricas e propôs-se a investigar os processos de influência em níveis posicionais e ideológicos dentro do laboratório.

Moscovici desejava mostrar que uma minoria também pode exercer influência na sociedade. Seu estudo pioneiro de influência minoritária foi planejado para explorar a capacidade da minoria de produzir influência e comparar os seus dois níveis, o direto (público e manifesto) com o indireto (privado e latente).

Primeira Série de Experimentos: A Consistência Minoritária Converte

A primeira série de experimentos (Moscovici et al., 1969) consistiu em um estudo com duas partes: julgamento público de cores de slides e teste privado de discriminação de cores. Ambos foram realizados de maneira encoberta, como testes de percepção de cores e fadiga ocular, com participação de comparsas de pesquisa (cúmplices que cumpriam papeis de participantes e respondiam de modo combinado), exceto nos grupos controle. As participantes, todas estudantes do sexo feminino, N = 194 (esse é um cálculo nosso, pois os autores não informam o número exato no artigo), realizaram o experimento em grupos de seis pessoas, sendo duas comparsas e quatro participantes. Ao final, foram aplicados questionários individuais para avaliar a participação, suspeição e efeitos complementares da interação.

A primeira parte consistiu em tarefa de julgamento com 36 rodadas coletivas nas quais cada participante devia identificar em voz alta acerca de slides azuis, mas, de modo ambíguo, levemente esverdeados: 1. a intensidade do brilho (resposta ignorada, a pergunta era feita apenas para dar maior realismo), e 2. a sua cor básica (a quantidade de respostas “verde” era a medida da variável dependente - influência direta). A manipulação principal, variável independente binária, consistia nos comparsas responderem publicamente “verde” de dois modos. Na primeira condição, de “minoria consistente” (n = 128), as respostas das comparsas eram sempre “verde”, nos 36 slides. Já na segunda, de “minoria inconsistente” (n = 44), as respostas dos comparsas eram ⅔ “verde” e ⅓ “azul” (24/12), aleatoriamente distribuídas. Na condição controle não houve comparsas, nem manipulação.

Como resultados da primeira parte, julgamento público dos slides, VD de influência direta, o grupo controle (n = 22) teve 0,25% de respostas “verde” (uma participante, com duas respostas), assegurando a identificação dos slides como azuis. Na condição de minoria inconsistente, apenas 1,25% do total das respostas foi “verde”. Na condição de minoria consistente, houve o total de 8,42% de respostas “verde” pelas participantes (cerca de 388 respostas verde em 4.608, segundo cálculos nossos). Nos grupos nessa condição, 43,75% das participantes (56 de 128) mudaram suas respostas de “azul” para “verde” ao longo do experimento, sendo pelo menos quatro respostas “verde” do total de 36 de cada participante. Também houve 32% das participantes que mantiveram sempre “azul” como resposta, criando duas categorias: as que foram influenciadas e as que não o foram.

Na segunda parte, que se seguiu de forma privada, logo após a primeira, foi investigada em 10 grupos a mudança do código perceptual de cor (de azul para verde), ou seja, a VD era a influência indireta (chamada também de privada e latente). 16 discos do teste de visão Farnsworth-100, cuja gradação de cor varia do verde ao azul, eram apresentados de forma aleatória às participantes por 10 vezes. Eles deviam responder por escrito julgando a cor de cada disco como “azul” ou “verde”. Dos 16 discos, 3 eram verdes (#41 a 43), 3 eram azuis (#54 a 56) e 10 (#44 a 53) eram ambíguos, segundo os valores de referência do teste (Moscovici & Faucheux, 1972).

A mensuração da VD influência indireta ocorreu por meio dos limiares de mudanças de resposta de verde para azul na curva suavizada a partir do gráfico de respostas individuais. A classificação ocorreu em três limiares, ou umbrais, conforme a quantidade de respostas de cada cor: limiar diferencial, 50% “azul” e 50% “verde”; limiar inferior, com 75% “verde” e 25% “azul”; e limiar superior, ao contrário, 25% “verde” e 75% “azul” (Moscovici, 2011). O gráfico de distribuição de respostas da influência indireta dos grupos controle e experimental, segundo Moscovici e Faucheux (1972, p. 196, conforme figura 1), indica pontos nos quais o grupo controle demora mais que o grupo experimental para deixar de “ver a cor verde”, assim como inicia a “ver azul” mais tarde.

Os resultados dos grupos conforme os limiares são os constantes da Tabela 1:

Tabela 1 Comparação dos resultados da influência indireta dos grupos experimentais e controle no teste privado de discriminação de cores dos discos (cf. Moscovici et al.,1969). 

Limiares Grupo Controle (n=22) Grupo Experimental (n=37) tep (unicaudal)
Média DP Média DP
diferencial (50%-50%) 47,39 1,21 48,03 1,38 1,78 (0,038)
inferior (75% "verde”) 46,16 1,42 46,85 1,54 1,68 (0,047)
superior (25% "verde”) 48,41 1,14 49,19 1,28 2,33 (0.01)

Pode-se calcular o tamanho do efeito a partir da consideração dos 10 discos ambíguos e da diferença de médias entre os grupos controle e experimental. No limiar diferencial, o efeito de influência indireta é de 6,4%; no limiar inferior, 6,9%; e no limiar superior, 7,8%. Assim, temos a influência indireta composta por três medidas de efeito quantitativo. Porém, o efeito mais importante não é quantitativo, mas qualitativo. Moscovici e Faucheux (1972) apontam que, no grupo controle, 7 discos foram julgados sem ambiguidade, com 99% ou 100% de respostas. Já no grupo experimental de minoria consistente, todos os discos foram julgados de forma ambígua, havendo divergência de respostas em algum grau, o que indica a alteração do critério de julgamento perceptual.

Esses resultados são assim interpretados: a resposta pública não mostra a totalidade do fenômeno de influência minoritária; há necessidade de resolução interna do conflito originado por minorias consistentes; essa necessidade é satisfeita pela mudança das respostas, ou públicas ou privadas; a quantidade das últimas tende a ser inversamente proporcional a da primeira; a influência exercida pela minoria consistente é a última, indireta; ela é independente da influência direta; as minorias inconsistentes não exercem nem influência direta, nem indireta (Moscovici et al., 1969).

Por fim, temos os resultados dos questionários pós-experimentais. Nesses, as minorias foram julgadas como menos competentes, em geral; as participantes foram julgadas como mais competentes que as comparsas, independente das respostas “verde”. Entre as comparsas, também houve diferença, sendo a primeira julgada como menos competente, mas mais confiante de suas respostas que a segunda. Isso mostra, segundo Moscovici e colegas (1969), que o desvio das respostas “verde” era atribuído à primeira comparsa, sendo a segunda vista como uma espécie de seguidora. Igualmente, a minoria inconsistente não é vista como segura.

Ficou demonstrado que o exercício de influência não é exclusivo das relações assimétricas de dependência, nem exige poder, status ou competência, por parte da fonte de influência. Minorias que defendam consistentemente suas ideias podem exercer influência.

Segunda Série de Experimentos: Maiorias Conformam e Não Convertem

Uma segunda série de experimentos (Moscovici & Lage, 1976) buscou identificar se o efeito da influência indireta poderia ser alcançado também por uma maioria, unânime ou não, testando o conformismo na produção de inovação. Também se investigou uma minoria de apenas um, para avaliar se ela produziria algum efeito de influência. Em condições semelhantes às da primeira série de experimentos, foram variados o número de comparsas, as respostas dadas e a ordem dos participantes, em duas grandes categorias, majoritária e minoritária, para comparar conformidade e inovação nos processos de influência. Ao total, foram seis categorias (N = 250): controle, minoria consistente, indivíduo consistente, minoria inconsistente, maioria unânime e maioria não unânime.

Os resultados da quantidade de respostas “verde” foram as seguintes. No grupo controle, 1,22%. Nas condições de influência minoritária: minoria consistente, 10,07%; indivíduo consistente, 1,22%; e minoria inconsistente, 0,75%. Nas condições majoritárias: unânime, 40,16%; e não unânime, 12,07%. Esses resultados confirmam a existência de influência direta nos grupos minoritários e majoritários. Dentre as minorias, apenas aquelas com o estilo de comportamento consistente podem exercer um pouco de influência direta de forma significativa, sendo próxima em tamanho de efeito ao de uma maioria não unânime. As maiorias unânimes foram as com maior capacidade de produzir esse tipo de influência.

Também se confirmaram as previsões teóricas acerca da influência indireta. Em procedimento semelhante ao da série anteriormente apresentada, a influência indireta foi mensurada de forma privada por meio do julgamento da cor dos discos. Verificou-se, de forma significativa, o deslocamento das respostas dos grupos experimentais comparativamente ao controle, dentre os quais apenas os de minoria consistente produziram efeito de mudança no código perceptual. As minorias de apenas um sujeito consistente e de dois sujeitos inconsistentes, assim como todas as maiorias, não produziram influência indireta significativamente.

Associando os resultados da influência indireta aos questionários, Moscovici e Lage afirmam que esse tipo de influência gera efeitos além dos auferidos e concluem reafirmando a diferença de natureza dos dois tipos de influência: “todas as diferenças que apareceram entre os mecanismos de influência engendrados pela inovação e aqueles engendrados pela conformidade têm considerável importância teórica. Eles sugerem que os dois processos têm diferentes efeitos de longo prazo” (1976, p. 173, tradução nossa).

Síntese dos Dois Tipos de Influência Social segundo Moscovici

A partir da teoria da conversão e dos experimentos azul-verde, podemos sintetizar a diferenciação da influência social em geral e da minoritária conforme a Tabela 2:

Tabela 2 Síntese dos dois tipos de influência social segundo Moscovici (2011; 1980). 

Característica Influência Majoritária Influência Minoritária
Resultado Conformismo Inovação
Efeito Aquiescência Conversão
Tipo Normativa Informacional
Ambito Público Privado
Nível Manifesto Latente
Temporalidade Imediata Postergada
Incidência Direta Indireta
Fonte Maiorias Minorias ativas
Norma Consenso Originalidade
Pensamento Convergente Divergente
Processo Comparação Validação
Nível relacional Intragrupo e intergrupo Intergrupo

Diversos conceitos da teoria da conversão (Moscovici, 1980) já estavam presentes nos experimentos azul-verde, como vimos. Contudo, apesar dos avanços teóricos, no âmbito metodológico dos experimentos, Moscovici não conseguiu abarcar os níveis posicional e societal das relações de influência como no mundo social (Papastamou et al., 2017). O descompasso entre a inovação da teoria e os limites nos métodos disponíveis levou Moscovici a abstrair nos experimentos partes das relações de grupos, como a identidade e a pertença social. Ao demonstrar a influência minoritária no laboratório nos níveis intra e interpessoal e extrapolá-los para os níveis posicional e ideológico, Moscovici utilizou uma nave de escala. Ele lançou mão de explicações originadas em um nível de análise para dar conta de outro.

Avanços Teóricos na Influência Minoritária

Estudos sobre Identidade e Influência

Gabriel Mugny (1949-2021) foi o pioneiro na utilização de questionários atitudinais como instrumentos principais nos estudos de influência minoritária, buscando formular experimentos de modo que se ampliasse as articulações entre grupos e ideologias com os sujeitos participantes (Álvaro & Crano, 2017). Ao trazer características de identidade e posições de grupos para o campo, as análises de influência social buscaram passar a abarcar também metodologicamente os níveis posicional e ideológico (Papastamou et al., 2017).

Pérez e Mugny (1987) investigaram as previsões da teoria da conversão sobre a relação entre ideologia e identidade social num estudo sobre posições de estudantes colegiais mulheres quanto à legalização do aborto. Eles utilizaram a categorização da identidade de grupos minoritários fonte de influência pró-legalização e de grupos majoritários contrários como duas variáveis independentes em dois níveis de gênero: 1. categorização da origem da mensagem da minoria-fonte pró-legalização como mulheres (endogrupo) ou homens (exogrupo); 2. categorização de grupo majoritário antilegalização do aborto como mulheres (endogrupo) ou homens (exogrupo). As duas VIs foram cruzadas, gerando 4 condições experimentais: endogrupo pró e exogrupo contra; endogrupo pró e contra; exogrupo pró e endogrupo contra; e exogrupo pró e contra. Assim, a minoria era sempre apresentada como pró-legalização e a maioria como contrária, variando apenas a sua pertença (endo-exogrupo) por gênero em relação às participantes. As variáveis dependentes consistiram em influência direta, sobre a legalização do aborto, e indireta, sobre contracepção, além de avaliação da imagem da fonte minoritária da mensagem.

A influência direta ocorreu apenas na condição de maioria exogrupal (homens) contrária face à minoria também exogrupal (homens) pró-legalização, sem resultado de influência indireta. Já a influência indireta ocorreu apenas na minoria endogrupal (mulheres) face à maioria exogrupal (homens), mas sem influência direta. Na avaliação da posição sobre a legalização do aborto, feita pela comparação da posição inicial (pré-avaliação) com as medidas de influência, os resultados mostram que a maioria exogrupal foi a única a obter influência direta e que a interação maioria e minoria exogrupais foi a que mais produziu influência ao todo.

Os autores concluem que há uma ordem paradoxal nos processos de influência experienciados pelas participantes: primeiro elas lidaram com as questões identitárias, por meio da comparação social; após isso, ocorreu o processo de validação informacional. A semelhança identitária (condições endogrupais) torna saliente o processo de comparação - associado à conformidade, que por sua vez inibe a validação informacional. Já a diferença identitária (condições exogrupais) é associada à inovação, pois auxilia na validação informacional (Pérez & Mugny, 1987).

Souchet e colegas (2006) buscaram comparar as previsões concorrentes das teorias da autocategorização (Turner, 1991) e da elaboração do conflito de Pérez & Mugny (1987), vista no estudo acima. Segundo a teoria da autocategorização, um grupo só pode considerar as opiniões de outro grupo com o qual compartilhe ao menos uma característica em comum, que torne possível a assimilação da sua categoria. A influência é, assim, um processo que ocorre sempre dentro do grupo de pertença. O conflito da minoria torna saliente as diferenças individuais (no nível informacional), e, se levado ao nível do grupo (normativo), pode conduzir a um dentre três possíveis desfechos: criar uma subdivisão categorial no grupo com base na questão, tornar a minoria um exogrupo que será ignorado, ou deixar a influência ocorrer em alguma direção (Souchet et al, 2006). Assim, um grupo mais próximo, uma minoria endogrupal, é aquele que tem chances de veicular suas ideias e instaurar conflitos informacionais pelo dissenso, buscando influenciar o grupo majoritário ao qual pertence, contrariamente ao proposto pela teoria da elaboração do conflito.

Os autores realizaram experimento sobre a representação social da droga, sob a condição central de dependência, buscando exercer influência por mensagem indutora atribuída a grupos de homens e mulheres, distribuídas em oito condições experimentais. Utilizaram delineamento com três VIs binárias: status do grupo, por quantidade numérica (maioria-minoria), pertença grupal, por gênero (masculino-feminino) e atribuição da mensagem indutora, por gênero (endogrupo-exogrupo). Os resultados mostram que a influência direta foi maior nas condições de maioria endogrupal. Já a influência indireta foi significativa na minoria exogrupal, na amostra de mulheres, e nas minorias, tanto endogrupal quanto exogrupal, na amostra de homens. Esse efeito não foi previsto por nenhuma das teorias que fundamentam o estudo. Os autores utilizaram o conceito de relação de dominância, acerca do gênero, para discutir os resultados e concluíram indicando a necessidade de mais investigações sobre a relação intergrupal fonte-alvo levando em conta suas posições.

Novos Conceitos de Minorias: Vitimizadas, Perpetrantes e Tolerantes

Moscovici & Pérez (2007) avaliam que, ao longo da década de 1990, houve mudanças no campo psicossocial pelo surgimento de minorias vitimizadas, com base na culpabilidade social. Esse movimento consistiu, de um lado, pelos pedidos de desculpas e retratações públicas de grandes instituições ante as minorias que foram por elas vitimizadas. Exemplificam com a Igreja Católica, na figura do Papa João Paulo II, pedindo perdão desde os anos 1980 por erros da Igreja (mea culpa), como a Inquisição, as Cruzadas e outros; e a Rainha Elizabeth II pedindo perdão aos maoris pelo mau tratamento do Império Britânico. Do outro lado, pedidos de reconhecimento e reparação por parte de minorias se tornaram comuns, fosse de ordem financeira, de direitos políticos, fosse simplesmente de assunção de erros, reconhecimento e pedidos de desculpas.

Os autores diferenciam as minorias ativas das vitimizadas por meio de algumas características. As ativas visam a conversão por meio do seu conflito informacional com a maioria, numa relação de oposição. As vitimizadas visam o reconhecimento e, algumas vezes, algum tipo de reparação, buscados por meio do senso de culpa, baseado na discriminação sofrida, numa relação moral de equiparação com as maiorias, que têm de lidar com um conflito interior (reconhecer e/ou reparar, ou não).

Pesquisas teóricas e empíricas, de caráter experimental, foram feitas nessa linha, cujos resultados sintetizamos. Moscovici e Pérez (2007) realizaram dois experimentos, para testar a produção de influência pela culpa social, tanto na reparação pelo passado quanto na valorização presente. Os resultados indicaram que as minorias vitimizadas obtiveram a reparação, mensurada como influência direta, mas não melhor reconhecimento pela maioria - a influência indireta, ou mudança de sua representação pela maioria. As minorias ativas não obtiveram concessão de reparação, mas mudaram significativamente para positivo a imagem da minoria pela maioria. Pérez et al. (2022) realizaram experimento para investigar os efeitos de minorias étnicas de ciganos, apresentadas ora como minorias ativas buscando mudança social, ora como minorias vitimizadas buscando compensação grupal, relacionando a atribuição de culpa coletiva da maioria, níveis de racismo individual e responsabilização da minoria por sua condição. Como resultados indicam que: as minorias ativas levam a maior percepção de desviantes em contexto de culpa coletiva; as minorias vitimizadas suscitaram mais compensação, especialmente em participantes menos racistas; a responsabilização dos ciganos por sua marginalização é maior para minorias ativas em contexto de culpa coletiva e alto racismo.

Dois trabalhos teóricos relativamente recentes da América do Norte buscam pensar os efeitos da violência e tolerância na influência. Chen & Kruglanski (2009), em exercício teórico, propõem pensar o terrorismo como característica de minorias que buscam exercer influência por meio da violência, ainda que com altos custos sociais. Por sua vez, Prislin et al. (2017) investigam outro estilo de comportamento nos processos de influência por minorias ativas: a tolerância. A ideia central é a de que a conversão foca em uma norma ou posição de um grupo, antes minoritário, mas que se tornará também majoritário - o que pode inclusive manter a assimetria social, apenas trocando o conteúdo/qualidade da norma/grupo numa relação de dominação. Já a tolerância implica aceitação da diversidade de normas, sem necessariamente preferência por alguma, mas necessariamente sem saliência ou dominação. Assim, a tolerância é teoricamente maior promotora da diversidade que a conversão.

Quid disso tudo? Que Desafios Permanecem?

A abertura ao uso de atitudes para mensurar os processos de influência distanciou as pesquisas dos comportamentos e seus efeitos diretos, uma vez que o próprio conceito de atitude pode ser interpretado como uma disposição para agir e não como uma ação (Álvaro & Crano, 2017). Algumas saídas para esse problema envolveram o uso de outras metodologias, como a exploração de representações sociais de grupos pela técnica do questionamento, ou mise-en-cause (Souchet et al., 2006), o uso de experimentos com grupos de julgamento e discussão (Álvaro & Crano, 2017), dentre outras. Porém, o desafio metodológico de estudar comportamentos permanece no campo, como indicam algumas revisões e análises.

Wood et al. (1994) realizaram a meta-análise de 97 estudos empíricos do período de 1950 a 1991. A partir das teorias das minorias ativas e da conversão, contrastadas com modelos alternativos, compararam os efeitos de influência de minorias com grupos controle e de minorias com maiorias nos âmbitos público, privado com medidas diretas e privado com medidas indiretas. Obtiveram como resultado principal a influência pública pelas maiorias e influência privada indireta pelas minorias, confirmando parcialmente as previsões de Moscovici, e obtiveram efeito pequeno de influência privada direta, contrariamente às previsões. Também descartaram explicações por modelos únicos de influência social e afirmaram a saliência de resultados de influência minoritária em estudos cujas minorias eram ligadas a identidades de grupos sociais fora do laboratório.

Prislin et al. (2017) levantam uma série de questões sobre o campo da influência minoritária e analisaram 238 estudos de influência minoritária entre os anos de 1960 (década do lançamento pioneiro de Moscovici et al. (1969)) e 2011. Trazem como resultados a diminuição atual de publicações em psicologia social sobre o tema, após o ápice na década de 1990. Apontam certa exaustão dos conceitos e métodos tradicionais, que precisam ser renovados para levar o campo adiante. Afirmam que há necessidade de enfoque dos estudos nas minorias fonte, que são geralmente operacionalizadas de modo apenas quantitativo, e que é preciso mudança na concepção dos efeitos da influência, que são mensurados de forma cognitiva em nível individual, enquanto teoricamente extrapolados para o nível intergrupal de forma social.

No contexto brasileiro, a discussão acerca da influência social ainda é incipiente. A tradução do livro seminal de Moscovici foi publicada apenas em 2011 e há alguns poucos capítulos de livros didáticos e manuais que tratam acerca da influência minoritária, usualmente como seções dentro de textos sobre influência social (p. ex. Gouveia, 2023). Ainda que considerando produções estrangeiras em língua portuguesa, foram encontradas poucas obras a partir dos termos “influência minoritária” e “minorias ativas”, no buscador Google Acadêmico (25), acrescidos do operador “ou” no portal periódicos CAPES (109), e na base de dados Scopus (0), em janeiro de 2023. Considerando título e resumo, a maioria das obras (122) não contêm base ou aplicação da teoria: algumas fazem breves menções, pois são de outras temáticas (p. ex.: educação, assistência); outros são trabalhos de outras áreas que utilizam os termos de forma homônima (p. ex.: ligas químicas minoritárias); umas poucas fazem uso retórico ou figurativo, sem utilizar os conceitos ou teorias da influência minoritária. Apenas um autor brasileiro foi encontrado com produção recorrente no campo, Edson Souza Filho, que realizou tese de doutorado com Serge Moscovici (1979-1984) cujas obras, principalmente dos anos 1990 e 2000, consistem, em geral, em aplicações teóricas e interlocuções temáticas no campo da psicologia social da educação, como a citada anteriormente.

Sinteticamente, podemos afirmar que houve desenvolvimentos na área em alguns eixos: 1. conceitos de minorias; 2. objetos de influência; 3. métodos usados nas pesquisas; 4. tipos de relação entre grupos (estilos de comportamento). 1. Os conceitos de minorias passaram de numéricos, apenas o grupo ou facção com maior quantidade, para uma concepção de posição social (grupos sem poder ou marginalizados), depois de ideologia (grupos com pensamento vigente hegemônico ou alternativo) e, por último, para sua concepção a partir das razões e dos meios pelos quais buscam exercer influência (ativas - conversão, vitimizadas - reconhecimento/compensação; tolerantes - diversidade/igualdade; terroristas - reconhecimento/aceitação). 2. os objetos passaram de alvos perceptuais para questões sociais, simples e complexas. 3. os métodos passaram, majoritariamente, do uso de tarefas experimentais para questionários atitudinais. 4. novos estilos de comportamento foram desenvolvidos e investigados: estilo de negociação rígida X flexível; perpetração de terrorismo; indução de culpa; reconhecimento da diversidade - sem deixar de lado a existência ou fundação dos anteriores, especialmente a consistência.

Considerações Finais

A compreensão dos estudos pioneiros de Moscovici é chave para entender desdobramentos e disputas posteriores que ocorreram no campo. A consolidação da área com diferentes teorias e perspectivas da identidade social se mostrou necessária para abarcar fenômenos em níveis de análise situacionais e ideológicos, cruciais para a perspectiva psicossociológica na qual nasceu o modelo genético da influência minoritária. A integração entre diferentes modelos e saberes das disciplinas que compõem e são próximas ao campo, a fim de desenvolver conceitos e métodos de pesquisa, é o desafio aos pesquisadores que desejarem contribuir para a ampliação e precisão da influência minoritária.

O campo da influência minoritária é vasto e conforme mostramos é repleto de conflitos e oposições de visões, como todo campo intelectualmente fértil que trata de grandes questões sociais. O que nos surpreende é que, dentre a explosão de estudos sobre minorias que a psicologia brasileira vive no momento, existam pouquíssimas referências aos trabalhos sobre influência minoritária, como mencionamos. A despeito das divergências teóricas, o fenômeno de influência minoritária precisa de mais espaço para que possamos discutir a relação da sociedade brasileira com as minorias com um arcabouço teórico sólido.

Os trabalhos de influência minoritária aqui apresentados trazem ferramentas teóricas que podem auxiliar grupos minoritários a compreender a razão de não conseguirem modificar suas posições. Eles podem ajudar nas políticas públicas, para que promovam condições intergrupais de inovação e mudança de ideias, além de trazer aos acadêmicos explicações sobre as relações intergrupais em nossa sociedade. Investigações acerca da bipolarização política, processos comunicacionais nas redes sociais (como as bolhas comunicacionais e fake news), relações identitárias e interseccionais (como etnia, nacionalidade e gênero) são alguns dos campos nos quais a influência social minoritária pode ajudar a compreender a dinâmica das relações que leva à mudança social, seja para a inovação, seja para o recrudescimento.

Realizar análises psicossociais rigorosas e fundamentadas e ao mesmo com aporte teórico amplo, foi um legado deixado por Moscovici no campo da influência minoritária. A teoria das minorias ativas, desde sua fundação, buscou ser ponte entre os fenômenos de mudança social e o pensamento psicossocial. Acreditamos que esta vocação não se exauriu e pode ainda render muitos frutos.

Financiamento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, por meio de bolsa de doutorado do primeiro autor.

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Recebido: 29 de Abril de 2021; Revisado: 30 de Junho de 2023; Aceito: 04 de Julho de 2023

Endereço para correspondência Thiago Rafael Santin Avenida dos Expedicionários, 273/601, Jardim Camburi, Vitória - ES, Brasil. CEP 29090-490, Endereço eletrônico: santin.thiago@gmail.com

Rafael Moura Coelho Pecly Wolter Avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória - ES, Brasil. CEP 29075-910, Endereço eletrônico: rafaelpeclywolter@gmail.com

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