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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas
versão impressa ISSN 1808-5687versão On-line ISSN 1982-3746
Rev. bras.ter. cogn. vol.14 no.1 Rio de Janeiro jan./jun. 2018
https://doi.org/10.5935/1808-5687.20180007
ARTIGOS DE REVISÃO
Empatia e relação terapêutica na psicoterapia cognitiva: uma revisão sistemática
Empathy and therapeutic relationship in cognitive psychotherapy: a systematic review
Julia Santos MartinsI; Luna Singulani OliveiraI; Rosa Cristina da Costa VasconcelosI; Ana Lúcia Novais CarvalhoII
IGraduanda pela Universidade Federal Fluminense - (Estudante) - Campos dos Goytacazes - RJ - Brasil
IIDoutora - (Professora Adjunta do departamento de Psicologia pela Universidade Federal Fluminense)
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi traçar o panorama da produção em português de trabalhos acadêmicos sobre empatia e relação terapêutica, dando enfoque para a Terapia Cognitivo-Comportamental. Inicialmente foi realizada uma revisão sistemática da literatura sobre o tema, abarcando todas as abordagens da psicologia, usando os descritores "relação terapêutica" AND "empatia". Em seguida, a busca foi refinada para "terapia cognitiva" AND "empatia", contemplando as bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), da Scientific Electronic Library Online (SciELO). A partir dessas pesquisas, foram analisados três artigos válidos sobre o tema. Os resultados indicam que a empatia é uma habilidade relevante para o estabelecimento de uma adequada relação terapêutica, sendo esta essencial para o sucesso do tratamento. A necessidade de publicação, em língua portuguesa, de mais estudos é destacada.
Palavras-chave: Empatia; Psicoterapia; Relação Terapêutica
ABSTRACT
The objective of this study was to outline the production of academic papers in portuguese on empathy and therapeutic relationship, focusing on cognitive behavioral therapy. A systematic review was initially conducted on the subject contemplating all the psychology approaches, with the descriptor "therapeutic relationship" AND "empathy", and them, refining the descriptor to "cognitive therapy" AND "empathy" contemplating the data bases Biblioteca Virtual emSaúde (BVS), da Literatura Latino-americana e do Caribe emCiências da Saúde (LILACS), da Scientific Electronic Library Online (SciELO). From these surveys, 3 valid articles on the topic were analyzed. The results indicate that empathy is a relevant ability to establish an adequate therapeutic relationship, which is essential for treatment success. It is highlighted the need for more studies published in Portuguese.
Keywords: Empathy; Psychotherapy; Therapeutic relationship
INTRODUÇÃO
A empatia é definida como uma habilidade social fundamental para nossa interação efetiva em sociedade (Baron-Cohen & Wheelwright, 2004; Motta, Falcone, Clark, & Manhães, 2006). Sampaio, Camino e Roazzi (2009) esclarecem que empatia deriva da palavra grega empatheia, cujo significado é paixão ou ser muito afetado. Sobre o seu uso na psicologia, Baron-Cohen e Wheelwright (2004) esclarecem que foi o estruturalista Edward Bradford Titchener, em 1909, o primeiro a usar a palavra empathycomo tradução de Einfühlung, palavra de origem alemã que comporta em seu significado a ideia de projeção de si mesmo de algo observado do meio externo. Estes autores acrescentam que, apesar de toda a sua relevância, definir empatia ainda não é uma tarefa simples.
Sobre os componentes desta habilidade, nos estudos iniciais a ênfase foi direcionada para análises que destacavam os componentes afetivos ou cognitivos deste constructo. Também havia estudos que observavam conjuntamente os aspectos cognitivos e afetivos (Baron-Cohen & Wheelwright, 2004; Koller, Camino, & Ribeiro, 2001). Pesquisas mais recentes, como as de Falcone (1999) e Falcone et al. (2008), por exemplo, enfatizam que a empatia envolve componentes cognitivos (tomada de perspectiva), afetivos (sensibilidade afetiva) e comportamentais. Sobre o componente cognitivo, a empatia caracteriza-se pela capacidade de compreender acuradamente os sentimentos e pensamentos de alguém. Já sobre o componente afetivo, envolve um interesse, classificado como genuíno, pelo bem-estar do outro. No componente comportamental, consiste em uma demonstração explícita de compreensão do outro, através da comunicação verbal e não verbal. Este componente tem um papel fundamental para que a pessoa perceba que de fato está sendo compreendida.
Pesquisas confirmam que a empatia é uma habilidade importante na manutenção dos relacionamentos. Apenas para citar alguns exemplos, o seu papel vem sendo destacado nos estudos sobre relacionamento conjugal (Ribeiro, Pinho, & Falcone, 2011; Sardinha, Falcone, & Ferreira, 2009), sobre perdão interpessoal (Pinho, Falcone, & Sardinha, 2016) e prevenção da agressividade na infância (Pavarino, Del Prette, & Del Prette, 2005). Assim, como já afirmava Falcone (1999), a habilidade empática traz efeitos sociais importantes e indivíduos que apresentam menor capacidade empática podem se prejudicar nas relações de trabalho, familiares e de amizade, por exemplo.
Sobre a prática psicoterápica, a empatia é considerada uma habilidade essencial para os psicoterapeutas (A. T. Beck, Rush, Shaw, & Emery, 1979; Wright, Basco, & Thase, 2008). O comportamento empático do terapeuta proporciona o fortalecimento do vínculo terapêutico e, consequentemente, a maior adesão ao tratamento.
Ainda sobre o contexto clínico, Burleson (1985) afirma existir um modo de verbalizar, que faz com que haja uma maior demonstração de empatia. Essa é uma verbalização que se debruça nos sentimentos e nos pensamentos narrados pelo paciente, validando-os, abrindo mão das próprias perspectivas do psicoterapeuta. Nesse caso, não há lugar para julgamentos. O paciente tem espaço para falar, sem que seus problemas sejam menosprezados. As verbalizações menos empáticas são voltadas para os acontecimentos de fato, não para os sentimentos, que podem vir a ser desvalidados ou até mesmo ignorados pelo ouvinte, que encara a situação a partir de suas próprias concepções.
Seguindo ainda a perspectiva clínica, a empatia é a habilidade essencial para a adesão ao tratamento e para o estabelecimento de uma relação terapêutica positiva, que depende de diversos fatores, como a demonstração de compromisso com o processo terapêutico, a valorização e compreensão dos problemas e ideias do paciente e a expressão da empatia nas ações direcionadas a ele (J. Beck, 2013). O estabelecimento da relação terapêutica positiva entre terapeuta e cliente favorece o desenvolvimento da cooperação e participação nas metas estabelecidas e na resolução das queixas apresentadas pelo paciente (Araujo & Shinohara, 2002; Pert et al., 2013),
Compreendemos, então, que a empatia, no contexto clínico da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), corresponde à capacidade que o terapeuta deve possuir de se colocar no lugar do paciente, compreendendo seus sentimentos e pensamentos, sem deixar de lado a objetividade necessária para identificar cognições e padrões de comportamentos mal adaptativos (Wright, Basco, & Thase, 2008). Na TCC, acredita-se que o exercício de se colocar no lugar do paciente possibilita a identificação, com maior facilidade, das dificuldades que ele pode sentir durante o tratamento (J. Beck, 2013).
A partir do exposto, o presente artigo tem como objetivo investigar a produção de trabalhos e estudos, publicados em língua portuguesa, sobre o tema empatia e sua importância para a relação terapêutica. Foram acessados apenas artigos escritos em língua portuguesa, delineando suas tendências e resultados. Para tal, foi realizada uma revisão sistemática na literatura acerca do tema.
MÉTODO
O presente estudo trata-se de uma revisão sistemática da literatura, caracterizada como um processo que reúne e avalia diversos estudos de maneira organizada (Costa & Zoltowsky, 2014). O foco foi direcionado às produções científicas em língua portuguesa, disponibilizadas pelas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), da Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), da ScientificElectronic Library Online (SciELO), sendo a consulta realizada no período de 01 de outubro a 01 de novembro do ano de 2017. As bases de dados citadas foram selecionadas por conveniência e pela relevância destas nas áreas da saúde e da Psicologia.Os descritores utilizados foram [relação terapêutica AND empatia; terapia cognitivo-comportamental AND empatia; psicoterapia AND empatia; terapia cognitiva AND empatia].
Após a busca inicial, as autoras, que neste momento serão identificadas como juízas, leram o título de cada artigo, excluindo aqueles que claramente não atendiam aos objetivos deste estudo. Depois desta primeira etapa, todos os resumos dos artigos selecionados foram analisados pelas juízas, seguindo os seguintes critérios de inclusão: a) ser um trabalho científico com ênfase no tema empatia e relação terapêutica; b) ter sido publicado em português. Para que um artigo fosse excluído era necessária a concordância de todas as juízas.
Em seguida, foram obtidos os artigos completos dos resumos selecionados. A leitura dos artigos, na íntegra, também foi feita pelas juízas, seguindo com a análise dos critérios de inclusão. Após a filtragem dos artigos, passou-se para a etapa da análise qualitativa dos textos completos.
RESULTADOS
Após o refinamento das buscas, com os critérios de inclusão e exclusão, restaram 13 artigos que falavam sobre o tema empatia em diversas abordagens clínicas, dos quais quatro foram analisados por estarem associados à abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental exclusivamente ou sendo esta uma das abordagens apresentadas. Por fim, três artigos foram considerados por estarem dentro dos critérios de inclusão. Todo o processo de busca está exposto na Figura 1.
No BVS foram encontrados 11 artigos a partir dos descritores "relação terapêutica" AND "empatia", dois com os descritores "terapia cognitivo-comportamental" AND "empatia", um com descritores "terapia cognitiva" AND "empatia" e 22 com "psicoterapia" AND "empatia".
A busca no SciELO não obteve resultados com os descritores "terapia cognitiva" AND "empatia" e "terapia cognitivo comportamental" AND "empatia". Com os descritores "relação terapêutica" AND "empatia", um resultado foi rastreado e com "psicoterapia" AND "empatia" cinco resultados foram encontrados.
A pesquisa no LILACS não alcançou nenhum resultado com os descritores "psicoterapia" AND "empatia" e "terapia cognitivo-comportamento" AND "empatia". A partir de "terapia cognitiva" AND "empatia" foi encontrado apenas um trabalho em português. Os descritores "psicoterapia" AND "empatia" alcançaram 11 resultados em português.
Considerou-se pertinente realizar a exposição das informações gerais observadas nos trabalhos explorados na pesquisa, tais informações encontram-se na Tabela 1.
No estudo de Falcone, Gil e Ferreira (2007), realizado com 16 psicólogos clínicos (12 mulheres e quatro homens), de diferentes abordagens (Psicoterapia Cognitivo-Comportamental, Terapia Centrada na Pessoa, Gestalt Terapia e Psicanálise Lacaniana), a habilidade empática foi avaliada a partir da análise do primeiro atendimento realizado com uma paciente. Esta paciente, que era uma aluna, apresentou um problema real e foi atendida pelos participantes da pesquisa. As sessões foram gravadas e, posteriormente, análises sobre o comportamento empático e não empático dos terapeutas foram realizadas por juízes treinados. A paciente também realizou uma avaliação sobre o comportamento do terapeuta, tendo este sido classificado, posteriormente, como empático ou não empático. Especificamente sobre o comportamento empático, os resultados demonstraram que os terapeutas cogntivo-comportamentais ficaram em segundo lugar na frequência de verbalizações da dimensão empática, isso na avaliação dos juízes e da paciente.
Neste estudo os autores fazem uma série de considerações metodológicas para pesquisas futuras e destacam o fato do caso apresentado ser classificado como "fácil". A realização de estudo com a presença de um paciente classificado como "difícil", como ocorre no transtorno de personalidade borderline, é sugerida. Outra crítica relevante é que, nas análises dos dados, os juízes tiveram acesso apenas ao relato verbal, enquanto a paciente teve acesso aos comportamentos verbais e não verbais do terapeuta. Isso pode justificar, mesmo que parcialmente, as diferenças encontradas entre as análises dos juízes e da paciente.
No estudo de caso de uma mulher com comportamento de comprar compulsivo, Brandtner e Serralta (2016) analisaram os efeitos de uma intervenção cognitivo-comportamental. O tratamento foi realizado em 12 sessões e as avaliações do processo foram feitas em cinco momentos (pré-tratamento, após a 6ª sessão, após a 12ª sessão, 16 semanas após o final do tratamento e 32 semanas após o final do tratamento). Com resultados positivos e mantidos nas análises de follow up, a empatia do terapeuta é destacada como uma importante característica que contribuiu para o sucesso do processo. Além da empatia, os autores destacaram o apoio, a diretividade e a proposição de tarefas de casa como importantes contribuições por parte do terapeuta.
Alves (2017) apresenta uma revisão bibliográfica sobre o tema relação terapêutica. Especificamente sobre a TCC esclarece que ela é uma terapia colaborativa, assim, a boa aliança terapêutica é essencial para o sucesso clínico. Ainda destaca que a empatia é um elemento chave para o estabelecimento desta boa relação terapêutica.
Buscando fazer uma análise entre propostas racionalistas e construtivistas em TCC, Alves (2017) esclarece que A. T. Beck et al. (1979) já destacavam o papel da empatia sincera no processo psicoterapêutico. Assim, o autor acrescenta que a aliança terapêutica, que inicialmente era vista como algo complementar, hoje, nas atuais TCCs, é considerada parte integrante do processo de tratamento.
DISCUSSÃO
A relação terapêutica é considerada elemento necessário e essencial para que o processo clínico se desenvolva e, segundo Easterbrook e Meehan (2017), vem recebendo uma maior atenção nas pesquisas em terapia cognitivo-comportamental. Desta forma, faz-se necessário que o terapeuta possua algumas habilidades que facilitarão o estabelecimento destes vínculos. Nos três estudos identificados a empatia é apresentada como uma habilidade importante para o desenvolvimento de uma relação terapêutica adequada.
A. T. Beck et al. (1979) já destacavam que a empatia, a autenticidade e a aceitação são características fundamentais do terapeuta e facilitam uma maior adesão do cliente à terapia. Ainda segundo estes autores, a empatia se traduz como o modo do terapeuta de se adentrar no mundo do paciente. A autenticidade é a capacidade de ser honesto consigo mesmo e com os outros, assim, o terapeuta e o paciente formam um time de trabalho, na qual a terapia se concretiza como uma atividade conjunta de investigação. E, por último, a aceitação é a demonstração sincera de interesse pelo paciente.
A ênfase no processo de mudança é apresentada por Wright et al. (2008). Estes autores esclarecem, mais uma vez, que a relação terapêutica só terá utilidade no processo clínico se for autêntica e tiver como base a busca conjunta por soluções diante dos problemas apresentados pelo paciente.
Semelhante ao que foi destacado por Wright et al. (2008), Alves (2017) afirma que estabelecer uma boa relação terapêutica e promover a empatia são alguns desafios da prática clínica. Este autor acrescenta que o desenvolvimento de uma boa relação terapêutica está diretamente relacionado com o incentivo à mudança, redução dos níveis de resistência do paciente, manejo da raiva e da ansiedade do próprio terapeuta.
Ainda sobre o manejo clínico, estes dados de Alves (2017) são apreciados no estudo de Falcone e Macedo (2012). Em um estudo de caso os autores apresentam o atendimento de um paciente com o diagnóstico de transtorno da personalidade narcisista. Esclarecem que para a realização da conceitualização do caso, parte essencial do processo terapêutico, foi necessário criar um ambiente de cooperação entre a terapeuta e o paciente. Este processo não foi simples e, como relatado, só foi possível a partir do estabelecimento de uma boa relação terapêutica, desenvolvida através do uso das técnicas de confrontação empática e de validação. Assim este estudo está de acordo com a visão de Leahy (2008), ao destacar que a abordagem cognitiva pode levar à compreensão das causas e à elaboração de estratégias para superação dos impasses que podem ocorrer no processo psicoterápico.
Nos estudos de Brandtner e Serralta (2016), onde um caso clínico sobre o comportamento de comprar compulsivo foi apresentado, ficou evidente que a empatia foi uma variável relevante, que permitiu que a paciente não se sentisse julgada e levou-a a ser mais colaborativa com o processo terapêutico. Mais uma vez a empatia e a responsividade foram apontadas como variáveis essenciais para o sucesso relatado.
Esta importância da empatia aparece no estudo de Falcone et al. (2007), onde foi encontrado que psicoterapeutas cognitivo-comportamentais, quando comparados a profissionais de outras abordagens, ficavam em segundo lugar na frequência de verbalizações empáticas durante a sessão clínica. Assim, esta é uma habilidade que costuma ser utilizada pelos terapeutas cognitivo-comportamentais.
Pensando nas novas modalidades de psicoterapias, estudos atuais buscam avaliar a efetividade das intervenções psicoterápicas via internet. Em uma revisão bibliográfica, Singulane e Sartes (2017) tiveram como objetivo compreender o processo de formação e o papel da aliança terapêutica nas terapias cognitivo-comportamenais via videoconferência. Como resultado, os autores observaram que a maioria dos estudos indicou que há a formação de uma aliança terapêutica, sendo esta classificada como alta no decorrer de todo o processo clínico. Também o artigo destaca que estes resultados positivos devem ser vistos de maneira cautelosa, porque os estudos ainda são escassos e algumas questões metodológicas devem ser apreciadas. Uma aspecto que destacamos, para novas análises, é o papel da empatia no estabalecimento de uma relação terapêutica efetiva em psicoterapias cognitivo-comportamentais realizadas via videoconferência. Assim, temos mais um tema relevante para investigação, considerando o interesse crescente nas intervenções via internet.
Sabemos que a empatia é uma habilidade social que pode ser treinada, como destacam os estudos de Falcone (1990) e Motta et al. (2006), por exemplo. Assim, sendo ela uma habilidade importante para o estabelecimento de uma relação terapêutica efetiva, podemos pensar em seu uso no treinamento em clínicas-escola nos cursos de graduação em Psicologia, considerando os diferentes contextos de atuação e a ampliação do conceito de clínica, conforme destacado no artigo de Sousa e Padovani (2015).
Bennet-Levy (2006), ao falar de habilidades terapêuticas, destaca que o processo de aprendizagem acontece em três níveis, sendo eles o declarativo, o procedimental e o reflexivo. Analisando a proposta do referido autor, especificamente sobre a empatia, o saber declarativo estaria, então, associado ao conhecimento sobre este constructo e o seu papel na relação terapêutica. Já o saber procedimental estaria associada à execução destas habilidades na intervenção. O papel deste treimento empático para a evolução do saber declarativo para o procedimental deve ser considerado, principalmente na formação de graduandos em Psicologia.
Desta forma, apesar do pequeno número de publicações em português, todos os estudos concluíram que a empatia é uma variável importante para o estabelecimento de uma boa relação terapêutica e, consequentemente, para a adesão e para o sucesso da terapia. A realização de estudos sobre as estratégias para o desenvolvimento desta habilidade nos psicoterapeutas é relevante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão sistemática da literatura sobre a empatia na relação terapêutica permitiu concluir que, apesar da grande importância desta temática, a produção em língua portuguesa ainda é escassa.
A partir dos dados levantados neste artigo, conclui-se que são necessários novos estudos e produções científicas sobre esta temática. Assim a prática clínica poderá ser avaliada e reestruturada de acordo com os resultados obtidos nas novas pesquisas, a fim de promover aperfeiçoamento na conduta dos profissionais, consequentemente, obtendo maior sucesso nas intervenções.
Além disso, a produção de novos estudos em língua portuguesa seria um grande benefício para os estudantes de diversos níveis de formação, que não possuam acesso a materiais de língua estrangeira.
Desta forma, a empatia é uma variável importante na relação terapêutica para terapeutas cognitivo-comportamentais, como já destacado desde o início da proposta de A. T. Beck. Esta é uma habilidade que pode ser desenvolvida e aprimorada nos terapeutas e, portanto, deve ser considerada na formação de terapeutas cognitivo-comportamentais.
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Correspondência:
Julia Santos Martins
Instituição: Universidade Federal Fluminense
Rua José do Patrocínio, 171, Centro
Campos dos Goytacazes, RJ. Cep: 28010-385
E-mail: julia.ltg@gmail.com
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBTC em 15 de dezembro de 2017. cod. 591.
Artigo aceito em 15 de abril de 2018.