Pesquisas e Práticas Psicossociais
ISSN 1809-8908
Pesqui. prát. psicossociais vol.12 no.3 São João del-Rei jul./set. 2017
EDITORIAL
A revista Pesquisas e Práticas Psicossociais completa seu 12º ano de vida com análises de práticas de cuidado e inclusão
Maria de Fátima Aranha de Queiroz e MeloI; Marília Novais da Mata MachadoII; Larissa Medeiros Marinho dos SantosIII
Ie-mail:fatimaqueiroz.ufsj@gmail.com
IIe-mail:marilianmm@gmail.com
IIIe-mail: medeiros.lara@gmail.com
Neste número, Pesquisas e Práticas Psicossociais cumpre o seu caráter multitemático, destacando dois grandes eixos que sustentam a prática de uma Psicologia engajada: o cuidado e a inclusão, temas amplos e muito caros para os que professam práticas relacionais num mundo que muda a todo instante, provocando-nos a pensar a respeito de quem dele faz parte e de quem almeja reconhecimento como categoria a ser incluída e cuidada. Grupos marginalizados em diversas condições de vulnerabilidade têm sido focos do trabalho de profissionais da Psicologia na interface com a Saúde e a Assistência Social, gerando a necessidade de elaborar estratégias de cuidado muito variadas. Não menos importantes são os objetos de estudo até então pouco abordados na Psicologia como, o "livro em tela" ou o "estrangeirismo" dos ciganos, temas que nos movem a considerar a heterogeneidade das formas de habitar este mundo, sejam elas humanas ou parceiras na nossa humanidade, tão estrangeiras e ao mesmo tempo tão familiares, porque nossas. Ao incluir categorias, estaremos sempre com a responsabilidade de cuidar e, ao cuidar, estaremos desenvolvendo estratégias de inclusão. Não fosse essa uma tarefa pela qual vale a pena lutar de muitas maneiras, seria a mais importante daquelas que se intitulam ciências humanas. Algumas dessas temáticas estão registradas nos artigos a seguir.
Em Categorias imanentes do livro em tela: a experiência dos leitores, Luciana Dadico, da Universidade Nove de Julho, partindo de uma concepção teórico-crítica, buscou compreender e descrever em categorias como o livro em tela, enquanto objeto substancialmente afetado pela mediação digital, aparece para o seu leitor.
Os eternos estrangeiros: contato, campo afetivo e representações sociais de ciganos entre não ciganos da grande Vitória/ES apresenta os resultados da investigação de como se organizam as representações sociais de ciganos entre não ciganos da Grande Vitória/ES, a partir da dimensão afetiva e dos níveis de contato entre esses grupos. Tem como autores Mariana Bonomo e Grecy Kelle de Andrade Cardoso, ambas da Universidade Federal do Espírito Santo, Jéssica Maria Gomes Faria do Instituto Metropolitano de Ensino Superior de Ipatinga-MG, Julia Alves Brasil da Universidade do Minho e Lídio Souza (in memoriam) da Universidade Federal do Espírito Santo.
Dois artigos mães em suas experiências de vida.
Yara Alves Costa Justino da Faculdade Multivix (São Mateus/ES), Larissy Alves Cotonhoto do Instituto Federal do Espírito Santo e Célia Regina Rangel Nascimento da Universidade Federal do Espírito Santo escreveram A perspectiva de mães a respeito das relações parentais frente a um contexto de violência doméstica contra mulher. Nesse artigo investigaram como mães percebem suas relações com filhos adolescentes e como avaliam a relação entre esses filhos e o pai, em um contexto familiar onde foram expostos a situação de violência do pai contra a mãe.
O artigo A experiência da maternidade pela primeira vez: as mudanças vivenciadas no tornar-se mãe de Edinara Zanatta, Caroline Rubin Rossato Pereira e Amanda Pansard Alves da Universidade Federal de Santa Maria traz os resultados de um estudo que buscou conhecer as mudanças percebidas pelas mães primíparas, em suas vidas, nos seus relacionamentos e na rede de apoio disponível a elas durante a experiência da maternidade.
Dois trabalhos lançam luz sobre os cuidados que profissionais dedicam à criança.
Em A saúde mental infantil na atenção primária: reflexões acerca das práticas de cuidado desenvolvidas no município de Horizonte-CE, Karina de Andrade Batista da Saúde da Família (ESP-CE) e Pedro Renan Santos Oliveira da Universidade Estadual do Ceará objetivaram compreender as Práticas de Cuidado em Saúde Mental Infantil desenvolvidas por profissionais das Unidades Básicas de Saúde, no município de Horizonte-CE, tendo como cenário a Atenção Primária à Saúde.
Cassandra Pereira França, da Universidade Federal de Minas Gerais, descreve no artigo intitulado Um corpo maculado na infância: a necessidade de intervenção precoce dos profissionais de saúde, como a coisificação do corpo e o entorpecimento dos afetos aparecem como as principais consequências do abuso sexual infantil que podem ser elaboradas a partir de processo psicoterápico psicanalítico.
A preocupação dos profissionais com o uso abusivo de drogas e o cuidado dedicado aos usuários aparecem em dois artigos.
Em Abordagem do comportamento de uso abusivo de substâncias psicoativas no Brasil: o estado da arte, Marcella Regina Silva Rieiro Guerra, da Pontifícia Universidade Católica de Goiânia/GO, e Luc Vandenberghe, da Universidade de Gent, Bélgica, apresentaram os resultados de uma revisão da bibliografia brasileira sobre a reabilitação do usuário. Mostraram que os estudos se concentram no sul do País, tendo como tema principal o tratamento da dependência e abordando as pessoas como um todo, com atenção para suas necessidades individuais.
Eloisa Helena Lima, da Universidade Federal de Ouro Preto, Carla Almeida Capanema, da Fundação João Pinheiro/MG e Maria José Nogueira, da Fiocruz Minas, em A prática dos grupos reflexivos sobre drogas como estratégia possível para redução de riscos e danos, a partir de pesquisa com profissionais que atuam em grupos reflexivos, discorrem sobre a adoção de medidas alternativas para usuários de drogas e sobre estratégias de intervenção voltadas para redução de riscos e danos.
Em quatro artigos, a interface da Psicologia com a Assistência Social e a Saúde se faz presente.
Em Representações sociais da Psicologia sobre os(as) usuários(as) do CRAS: uma perspectiva relacional, Vinicius Tonollier Pereira, da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), e Pedrinho Guareschi, das universidades federais do Rio Grande do Sul e de Ciências da Saúde de Porto Alegre, utilizando entrevistas, investigaram representações sociais de profissionais da Psicologia atuantes em Centros de Referência de Assistência Social (Cras) sobre os(as) usuários(as) desse serviço. Os resultados apontaram uma perspectiva relacional entre os(as) destinatários(as) da assistência social.
Em A experiência de ser trabalhador na Assistência Social: imagens de vidas implicadas com o campo da desigualdade social, Allan Henrique Gomes Mestre, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Letícia de Andrade, da Faculdade Guilherme Guimbala de Joinville/SC, e Kátia Maheirie, da UFSC, fundamentados teórica e metodologicamente em conceitos de Jacques Rancière, analisaram atividade realizada com recurso imagético junto a trabalhadores da proteção social básica do SUAS/Joinville-SC. Mostraram como a constituição desses trabalhadores é atravessada pela política pública da assistência social e pelas relações, dilemas e práticas dessa profissão.
Em Acompanhamento terapêutico: concepções sobre a prática e setting terapêutico, Kelly Guimarães Tristão, Luziane Zacché Avellar e Pedro Machado Ribeiro Neto, da Universidade Federal do Espírito Santo, a partir de entrevistas semiestruturadas e análise temática, buscaram os significados atribuídos por psicólogos ao Acompanhamento Terapêutico (AT) e ao seu setting. Apontaram como principais significados a construção de autonomia, a reabilitação psicossocial e a retomada das funções cotidianas.
No artigo Diabetes mellitus e atenção primária: percepção dos profissionais sobre os problemas relacionados ao cuidado oferecido às pessoas com diabetes, Carlos Rocha Alberto Pegolo da Gama, Denise Alves Guimarães e Guilherme Navarro Gontijo, da Universidade Federal de São João del Rei, apresentam um estudo exploratório realizado por meio de grupos focais em que discutiram as percepções dos profissionais da Atenção da Saúde Primária de Divinópolis/MG sobre o tratamento e o cuidado oferecidos as pessoas com diabetes. São apontados problemas relacionados ao sistema de saúde, aos profissionais e sua formação, e aos pacientes, e discutidas possibilidades de transformações das práticas.
Fechando o número 12(3), dois artigos, um dedicado ao campo escolar e outro trazendo contribuições à área do trabalho, evidenciam a necessidade de ter sempre em foco os temas do cuidado e da inclusão em qualquer que seja a área de atuação do profissional da Psicologia.
Larissa Paraventi, Luísa Scaff, Denise Cord eLeandro Oltramari, da Universidade Federal de Santa Catarina, no artigo Mediação grupal como estratégia de ressignificação da queixa escolar, trazem um relato de experiência de um estágio curricular na área de Psicologia Escolar em um colégio público federal de Florianópolis. A partir de uma proposta de intervenção em grupo, iniciada a partir do acolhimento da queixa escolar, os autores descrevem como essa estratégia colaborou para a sua ressignificação e do processo educacional.
Em Trabalho e Depressão: Tendências na Produção de Conhecimento, Aline Librelotto Rubin e Adriane Roso, da Universidade Federal de Santa Maria, mapearam, a partir por meio de uma pesquisa bibliográfica realizada a partir do Scielo e do Banco Virtual em Saúde - BVS, entre os anos de 1991 a 2010, a produção em Psicologia sobre a díade trabalho-depressão, adotando uma perspective psicossocial. Os resultados apontam que, apesar da prevalência da visão biomedical e psiquiatrica, está crescendo a abordagem da questão a partir da Psicologia.
2017 foi um ano de muito trabalho e também de muitas conquistas para a nossa revista. Este é o terceiro número de nossa publicação que passou a ser quadrimestral. Mas não nos limitamos a três números, uma vez que está sendo gestado, em regime de publicação continuada, um quarto número, em inglês, dedicado justamente ao tema central de nosso periódico: as pesquisas e práticas psicossociais.
Para que essas ações se concretizassem, muito oportuno foi fazer jus ao financiamento da ANPEPP que tornará possível, pelo menos por um ano, a presença deste periódico nas bases de indexadores como o PEPSIC e a expectativa de uma melhor classificação no Qualis Capes. Num momento em que se impõe um severo corte de gastos às universidades públicas, esse recurso custeará despesas fundamentais como a revisão do inglês, a conversão para HTML e marcação SGML no padrão SciELO que tem sido feita pela Caboverde Tecnologia e Serviços. Outra despesa a ser financiada é o DOI (Digital Object Identification), já demandado pelos autores que publicam em nossa revista. Ter as publicações disponíveis nas bases de dados de indexadores de grande visibilidade dá aos nossos autores a possibilidade de divulgar mais amplamente os seus trabalhos com a expectativa de um maior acesso por outros pesquisadores. Dessa forma, estaremos alimentando um ciclo de acumulação de conhecimento e cumprindo as metas de um periódico científico que vem se consolidando ao longo de mais de uma década.
Continuamos gratas à valiosa colaboração do Setor de Editoração da UFSJ para revisão, diagramação e postagem no Sistema de Editoração Eletrônica de Revistas: Rogério Lucas de Carvalho e seus assistentes administrativos: Adalberto Nunes Pereira Filho, Laércio Carlos Ribeiro dos Santos Maus e Michel Montadon de Oliveira.