Desidades
ISSN 2318-9282
Desidades vol.9 Rio de Janeiro dez. 2015
TEMAS EM DESTAQUE
Análise da produção bibliográfica em livros sobre a infância e a juventude na América Latina1
Análisis de la producción bibliográfica en libros sobre la infancia y la juventud en América
Lucia Rabello de CastroI; Isa Kaplan VieiraII; Juliana Siqueira de LaraIII; Karima Oliva BelloIV; Sabrina Dal Ongaro SavegnagoV
I Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
II Núcleo de Pesquisa para Infância e Adolescência Contemporâneas, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
III Núcleo de Pesquisa para Infância e Adolescência Contemporâneas, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
IV Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
V Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
RESUMO
Este artigo, empreendido por integrantes da equipe do periódico DESidades, examina e discute criticamente algumas tendências a partir de um trabalho minucioso de buscas de obras científicas publicadas sob a forma de livro, nas áreas de Ciências Sociais e Humanas, no âmbito dos países latino-americanos, que se desenvolve desde o lançamento desse periódico. A análise dos levantamentos bibliográficos evidenciou que, ao longo do período de janeiro de 2014 a junho de 2015, essa produção se apresenta incipiente e pouco acessível, revelando que o mercado editorial na América Latina para a publicação e divulgação de obras científicas sobre esses campos se mostra problemático. As publicações encontradas apontam para a prevalência da área da Educação como aquela que detém a maior produção de livros, sendo esta mesma área aquela que não faz menção às crianças e aos jovens nos resumos de suas obras, atestando uma invisibilização desses sujeitos nos processos educacionais em que estão inseridos, mostrando-se controversa. Muitos desafios são apontados por esse mapeamento, o que nos faz refletir sobre os esforços menos comedidos que devemos coletivamente assumir para que os campos da infância e juventude se estruturem e se consolidem na América Latina.
Palavras-chave: produção bibliográfica, infância, juventude, América Latina.
RESUMEN
Este artículo, emprendido por integrantes del equipo de la revista DESidades, examina y discute críticamente algunas tendencias, a partir de un trabajo minucioso de búsquedas de obras científicas publicadas en forma de libro, en las áreas de Ciencias Sociales y Humanas, en el ámbito de los países latinoamericanos, que se desarrolla desde el lanzamiento de esta revista. El análisis de los levantamientos bibliográficos evidenció que, a lo largo del período de enero del 2014 a junio del 2015, esa producción se presenta incipiente y poco accesible, revelando que el mercado editorial en América Latina se muestra problemático para la publicación y divulgación de obras científicas sobre esos campos. Las publicaciones encontradas apuntan para la prevalencia del área de la Educación como aquella que posee la mayor producción de libros, siendo esta misma área aquella que no menciona a niños y jovens en los resúmenes de sus obras, demostrando una invisibilidad de esos sujetos en los procesos educacionales en que están insertados que resulta controvertida. Muchos desafíos son apuntados por este mapeamiento, lo que nos hace reflexionar sobre los esfuerzos menos limitados que debemos colectivamente asumir para que los campos de la infancia y la juventud se estructuren y se consoliden en América Latina.
Palabras-clave: producción bibliográfica, infancia, juventud, América Latina.
1. Introdução
Os campos da infância e da juventude têm sido compreendidos como eminentemente transdisciplinares (Alderson, 2013; Wyn, Cahill, 2015) para onde confluem e interagem perspectivas disciplinares distintas. Tomadas tanto como um campo integrado e conjunto, ou como campos disjuntos e específicos, eles têm sido responsáveis pelo surgimento de um número significativo de novos veículos para a divulgação da produção científica, muitos em língua inglesa, como por exemplo: ‘Childhood’, lançada em 1993, ‘Young’, em 1993, ‘Children, Youth and Environments’, em 1984, ‘Youth and Society’, em 1969, ‘Children and Society’, em 1987, e outros latino-americanos, como a ‘Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud’, iniciada em 2003, a revista chilena ‘Última Década’, especializada em estudos sobre juventude, lançada em 1993 e a revista colombiana ‘Infancias Imágenes’, iniciada em 2002. No Brasil, lançamos em dezembro de 2013 o periódico DESIDADES, com o objetivo de divulgar a produção científica latino-americana sobre infância e juventude no âmbito das Ciências Humanas e Sociais.Este periódico apresenta, a cada edição, o levantamento de obras científicas publicadas sob a forma de livro, relativas ao trimestre anterior, nas áreas de Ciências Sociais e Humanas, no âmbito dos países latino-americanos. Essa produção é responsável por visibilizar discussões e experiências de pesquisa que, frequentemente, não se fazem circular tão mais fácil e amplamente que quando veiculadas em periódicos.
Em estudo que se propôs a divulgar a preferência dos diferentes canais de comunicação de pesquisadores, principalmente professores de cursos brasileiros de pós-graduação, Mueller (2005) revelou que a publicação de livros e capítulos de livros apresenta dados significativos nas áreas das Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Linguística, Letras e Artes. As preferências dos pesquisadores das áreas das Ciências Humanas são, na ordem: periódicos nacionais, seguido dos capítulos de livros, anais de congressos nacionais, livros completos e periódicos estrangeiros; nisto se diferem dos pesquisadores das Ciências Exatas e da Terra, Biológicas e Engenharias que, segundo os dados obtidos, recorrem muito menos ao canal livro e capítulo de livro, preferindo publicar em periódicos.
Analisar a produção bibliográfica de uma área pode resultar em indicações valiosas para apreciar seu estado da arte e, sobretudo, aferir tendências e relações entre a produção científica e fatores críticos mais amplos, de ordem política e social. Um exemplo é a análise empreendida por Sposito e Colaboradores (2009), sobre teses e dissertações no Brasil, que enfocou especificamente a temática da juventude nas áreas das Ciências Sociais, Educação e Serviço Social. O balanço realizado aponta para os desafios relativos à estruturação desse campo cuja emergência recente mostra recorte pouco específico. Neste sentido, o estudo apontou que qualquer reflexão mais atenta sobre a condição juvenil requer a construção de uma transversalidade de questões e modos de investigá-las frente à diversidade das pesquisas deste campo.
Também Castro e Kominsky (2010) empreenderam uma análise do estado da arte dos estudos da infância a partir das publicações em artigos de 64 periódicos científicos no âmbito das Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia, Comunicação, Ciência Política). A análise dos periódicos mostra a posição incipiente dos estudos sobre a infância no campo das Ciências Sociais no Brasil. Embora a promulgação de legislação nacional e internacional dos direitos da criança tenha alavancado o número de publicações, os tópicos que abarcam ainda estão restritos a temas na interface entre Educação e Sociologia. Nos grupos de trabalho institucionalizados dos Simpósios de Associações de Pós-graduação não foram encontradas discussões sobre estudos da infância, apenas da juventude.
Tais análises podem fazer ver lacunas importantes no conjunto da produção bibliográfica ao oferecerem um panorama amplo dos campos, utilizando-se de alguma mediação – artigos, teses, dissertações – publicadas ao longo de um determinado período de tempo. Neste artigo, debruçamo-nos sobre o trabalho empreendido pelo próprio periódico DESIDADES, acumulado ao longo do período de janeiro de 2014 a junho de 2015, para examinar e discutir algumas tendências na produção bibliográfica em livros sobre infância e juventude nos países latino-americanos.
Em primeiro lugar, nos damos conta de que, embora contando com a vantagem da proximidade geográfica, o intercâmbio científico entre países latino-americanos se faz com certa dificuldade, mesmo que o compartilhamento de discussões sobre problemas comuns da infância e da juventude seja cada vez mais relevante e premente. Urge aprofundar uma discussão que potencialize teorias mais afinadas com a singularidade histórica e política destes países. Parece importante evidenciar como se desenha o panorama da produção latino-americana, tanto nas suas ênfases temáticas, como também nas dificuldades práticas de ir além das fronteiras nacionais de cada país. Evidenciar este panorama favorece mobilizações e debates na direção de se construir uma rede regional de interações acadêmicas. Neste artigo, esperamos chamar a atenção para aspectos que possam contribuir para incrementar o debate latino-americano sobre a infância e a juventude, ao examinar o conjunto de publicações no sentido de ‘o que’, ‘como’ e ‘quanto’ está sendo produzido sob a forma de livro. Com bases nas análises feitas, almeja-se também fornecer elementos para instigar o interesse para a formação de redes de interação e pesquisa nos campos da infância e juventude e promover a reflexão acerca dos investimentos e do interesse do mercado editorial por estes campos.
2. Metodologia de busca das obras divulgadas nos Levantamentos Bibliográficos do periódico DESIDADES
A análise deste balanço baseou-se nos dados obtidos a partir dos levantamentos bibliográficos publicados pelo Periódico no período de janeiro de 2014 a junho de 2015. Tais levantamentos tiveram periodicidade trimestral, de acordo com o lançamento de cada edição da revista, e contaram com uma equipe de assistentes para a sua realização.
No levantamento publicado pela edição inicial do Periódico, de dezembro de 2013, foram coletados dados somente de obras brasileiras publicadas de janeiro a novembro do mesmo ano. A equipe1 consolidou uma lista de editoras brasileiras, divididas em universitárias e comerciais, pesquisadas através do site da ABEU (Associação Brasileira de Editoras Universitárias) e através de buscas virtuais e presenciais em livrarias. Essa primeira lista de editoras foi acrescida, ao longo das edições posteriores, de outras editoras brasileiras, assim como de editoras de outros países latino-americanos.
A inclusão de potenciais editoras na lista do Periódico foi feita a partir de um filtro que descartou aquelas editoras que possuíam endereços eletrônicos expirados ou desatualizados há mais de dois anos, ou aquelas que fossem destinadas a âmbitos do saber muito específicos sem qualquer conexão com os campos da infância e juventude. Foram excluídas também da lista editoras que continham exclusivamente obras religiosas, de literatura e de desenhos gráficos.
A partir da segunda edição, março de 2014, e ao longo das cinco edições subsequentes, que foram incluídas na presente análise, o número de editoras na lista de busca incluiu os seguintes países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Venezuela, Cuba, Bolívia, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala, Peru, Paraguai e Uruguai. A lista passou a contar com 195 editoras brasileiras (106 comerciais e 89 universitárias), e 254 de países latino-americanos de língua espanhola, totalizando 449 editoras latino-americanas.
A lista consolidada tem servido como um banco onde a cada edição se buscam, nos respectivos sites eletrônicos das editoras, as publicações daquele trimestre nos campos da infância e juventude. Os levantamentos das obras são feitos através de termos-chave, tais como: “infância”; “juventude”; “crianças”; “jovens”; “escola”; “educação”; “adolescência”; “adolescentes”. A seção de “Lançamentos” de cada editora também é consultada, quando existente em seus sites.
Nem todas as obras encontradas através desses procedimentos são incluídas na lista a ser publicada trimestralmente. Além do fato de que para ser selecionado o livro deve tratar de temas relativos à infância e/ou juventude no campo das Ciências Sociais e Humanas, estas obras devem conter, primeiramente, informações editoriais, como o seu título, o ISSN, o número de páginas, o ano e o mês de publicação, o seu resumo e a cidade de origem da editora. Sendo fornecidos esses dados e tendo seu mês de lançamento ocorrido no trimestre anterior ao número de edição do Periódico, a obra passa por outro filtro, que é o da leitura do conteúdo de seu resumo. A obra, cujo título se torna elegível para ser publicado no levantamento da revista, deve ser resultado de pesquisa científica, ou reflexão teórica ou metodológica, sendo excluídas aquelas enquadradas como manuais didáticos, manuais pedagógicos, obras de auto ajuda, literatura infantil ou juvenil, ou obras de cunho médico. Alguns exemplos de obras não incluídas a partir do filtro temático foram: “Educar sem violência: Criando filhos sem palmadas” ou “Embriologia humana integrada”.
Neste processo, a cada edição, apresentam-se diversas dificuldades, especialmente, no que diz respeito à disponibilidade de informações sobre as publicações. Em muitos sites de editoras, não há uma sessão de lançamentos ou, na maioria das vezes, essa se encontra desatualizada; alguns sites, por exemplo, têm seus últimos lançamentos anunciados com datas de três anos atrás. Além disso, informações técnicas sobre o livro, principalmente o mês e o ano de lançamento, frequentemente não são apresentadas. A equipe busca contornar tais dificuldades se valendo de outras ferramentas de pesquisa, como o site do Facebook, anúncios de lançamentos na própria busca do Google, busca em sites de redes/associações de editoras e/ou em blogs de eventos que anunciam a publicação dos livros. Mesmo se utilizando dessas alternativas, a busca pelas informações completas sobre uma obra não é sempre bem sucedida, e a mesma acaba não entrando no levantamento do Periódico por este motivo.
A aproximação direta com as editoras, como um recurso adicional para alimentar o levantamento de publicações, também tem se provado frequentemente infrutífera. No início de 2014, o Periódico enviou uma carta a todas as editoras da lista, encaminhada aos endereços eletrônicos divulgados nos seus respectivos sites, em que se solicitava que, ao publicarem livros sobre a temática da infância e/ou juventude, notificassem-no para uma possível inserção da obra no levantamento. O índice de resposta das editoras foi extremamente baixo, e muitas mensagens voltaram, o que aponta para a desatualização dos e-mails das editoras nos seus respectivos sites. Além disso, em outros casos, as editoras incluíram o e-mail da revista em sua própria ‘newsletter’, outras disseram não possuir obras com as temáticas em questão, algumas mostraram interesse de enviar exemplares de livros para o endereço do Periódico, e duas editoras associaram a solicitação com a área de literatura infanto-juvenil. Essa aproximação parece indicar certa desorganização administrativo-comercial das editoras ao responder de forma precária a solicitações que contribuem para a divulgação de suas próprias publicações. Também nos parece indicar, um relativo desprestígio comercial das publicações científicas sobre infância e juventude que, do ponto de vista das editoras, não parecem ser muito lucrativas.
3. Análise e discussão
Para fins da presente análise, tomamos os resultados obtidos a partir dos Levantamentos Bibliográficos publicados pelo Periódico a partir da segunda edição da revista, lançada em março de 2014, quando as editoras latino-americanas de língua espanhola foram incluídas. A partir desta edição do Periódico, o número de editoras da lista incluiu os países da Argentina, Chile, Colômbia, México, Venezuela. A partir da sétima edição do Periódico, em março de 2015, editoras dos países Cuba, Bolívia, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala, Peru, Paraguai e Uruguai também foram agregadas à lista para a realização das buscas das obras.
3.1 Os campos da infância e juventude interessam às editoras?
As editoras incluídas na listagem do Periódico constituem uma amostragem de cada país, ainda que não representativa, tendo em vista que a metodologia de inclusão pressupôs a possibilidade de acesso a elas por meio de seus sites. Muitas foram as editoras excluídas cujos sites estavam sistematicamente fora do ar e desatualizados. Mesmo assim, pudemos traçar um panorama de como, em cada país, se comporta o mercado editorial em relação à divulgação de trabalhos científicos sobre a infância e a juventude.A Figura 1 apresenta o número de editoras incluídas na lista de busca por país latino-americano, e o número de editoras que tiveram efetivamente obras incluídas no levantamento em alguma das seis edições.
O que ressalta na figura 1 é a defasagem entre o número de editoras incluídas na lista (n=449), e o número de editoras que efetivamente publicaram sobre infância e/ou juventude no período (n=88). O exame sistemático, ao longo de mais de um ano, das informações sobre as publicações das 449 editoras selecionadas da nossa lista, mostrou que apenas 20% delas aparecem como tendo publicado nestes campos. Três países aparecem no topo da lista com quase 80% do total de editoras incluídas na lista - Brasil, Argentina e México. O resultado obtido para o Brasil, com 43% do total das editoras da lista, tem a ver com o fato de a lista incluir 195 editoras brasileiras, ao passo que tão somente 254 editoras de todos os outros países latino-americanos. É forçoso dizer que, para a equipe, o fato de se navegar em sites brasileiros, “nacionais”, pode ajudar a tarefa de busca de editoras. Cabe ressaltar que a inclusão de outras editoras na lista tem sido um objetivo permanente de modo a abarcar um número próximo deste universo.
Nem sempre o número de editoras de algum país resulta em uma maior contribuição na divulgação de títulos sobre infância e/ou juventude. É o caso do Chile, se comparado ao México, por exemplo: no primeiro, embora mostre um menor número de editoras incluídas na lista em relação ao segundo, esse apresenta uma proporção superior de editoras que publicam nestes campos. Embora a ordenação obtida tenha que levar em conta que as editoras de alguns países entraram tardiamente na lista e, portanto, são os que arcam em geral com um percentual pequeno de editoras na mesma, há exceções dignas de nota. Por exemplo, o Peru, incluído tardiamente, encontra-se em quarto lugar com 6,9% de editoras na lista, logo depois do México, que arca com 10%. Colômbia e Venezuela, ambos os países incluídos desde o início, em conjunto, somam menos que 3% das editoras incluídas na lista.
Do total de editoras que publicaram obras sobre infância e juventude no período, foram as editoras brasileiras, 61,36%, que se destacaram quanto ao maior volume de publicações no período. Este resultado converge com o fato de que há mais editoras brasileiras na lista de busca do Periódico. No entanto, não parece haver uma relação direta entre número de editoras incluídas e seu potencial para divulgação de obras nos campos da infância e juventude. Embora alguns países tivessem tido muitas editoras incluídas na lista (11 para Cuba e Uruguai, 21 para o Paraguai e 31 para o Peru), eles tiveram nenhuma (Cuba e Uruguai), ou apenas uma editora (Paraguai e Peru) que contribuiu com publicações sobre infância e juventude no período.
O que podemos constatar, com certa consternação, é que os campos de estudos e pesquisas científicas sobre infância e juventude não parecem exercer grande atratividade por parte das editoras. Isto nos fala das possibilidades mais rarefeitas de publicação sobre infância e juventude oferecidas pelas editoras, quando um número relativo bastante reduzido dentre elas parece se interessar na divulgação de estudos e pesquisas destes campos.
De maior relevância para nossa análise é o exame do número de publicações levantadas pelo Periódico e como se dá a distribuição das publicações por cada editora. Vemos que, no período em questão, foi divulgado um total de 210 títulos que se distribuem bastante irregularmente pelas 88 editoras que efetivamente publicaram sobre infância e/ou juventude. Agrupando as editoras pela frequência de títulos divulgados pelo Periódico no período, podemos ver como se dá a distribuição destas publicações pelas editoras. A Figura 2, abaixo, apresenta esta distribuição.
Digno de nota é o fato de que 50 editoras (56,82%) contribuem com apenas uma publicação no período analisado, no total de 210 títulos divulgados pelo Periódico. Esta parece ser a contribuição módica das editoras para o campo de estudos da infância e juventude. Outras vinte e cinco editoras (28,41%) contribuem com 2 ou 3 publicações no período. Assim, cerca de 85% das editoras contribuíram com uma, duas ou até três publicações no período. A Figura 3, abaixo, mostra quais editoras se destacam, com 3 ou até 28 publicações no período, na relação com as demais.
Observa-se que a distribuição de editoras que tiveram livros divulgados contempla majoritariamente o Brasil, seguido de editoras da Argentina e Colômbia. Dentre as editoras que tiveram maior número de títulos divulgados (25% das contribuições no total de publicações levantadas) há quatro editoras brasileiras: CRV, EdUFBA, Mercado de Letras e Cortez.
A editora comercial CRV, do Paraná, destaca-se dentre todas, com 28 livros divulgados no período, 13,33% do total. Este dado chama a atenção pois, em seguida, as editoras comerciais Mercado de Letras e Cortez, ambas de São Paulo, publicaram, respectivamente, 4,29% e 3,81% dos livros divulgados pelo Periódico, ocupando a segunda e a terceira posição em relação ao número de livros por editora. Depois destas quatro editoras brasileiras citadas, aparecem editoras argentinas, em especial, Miño y Dávila, Noveduc e Brujas, que foram responsáveis, cada uma, por 3,33% dos títulos divulgados pelo Periódico. A editora CLACSO, também da Argentina, especializada em publicações na área de Ciências Sociais, contribuiu com 2,86% das publicações.
Coube à editora universitária da Universidade Federal da Bahia (EdUFBA) a melhor posição, dentre as editoras universitárias, em número de publicações, com 3,81% dos títulos divulgados pelo Periódico.
3.2 Como se caracterizam as publicações em livro sobre infância e juventude na América Latina?
Algumas análises foram feitas sobre o conteúdo dos títulos divulgados pelo Periódico. Interessou-nos saber, por exemplo, sobre o tipo de publicação, se versavam sobre infância e/ou juventude, a que campo disciplinar estavam preponderantemente associadas e, ainda, quais temáticas abordavam. Neste sentido, podemos obter um panorama mais qualitativo sobre o que tem sido publicado em infância e juventude na forma de livros nos países latino-americanos.Para tal, foram organizadas as informações considerando os seguintes eixos: ‘a) Título do livro’; ‘b) País onde o livro foi publicado’; ‘c) Tipo de editora’, em que as editoras brasileiras foram discriminadas entre universitárias, isto é, que eram vinculadas a alguma universidade, e editoras comerciais. As editoras de outros países também abarcavam comerciais e universitárias, mas não foram discriminadas. ‘d) Campo abordado pela obra’, o qual foi classificado, exclusivamente, pela menção declarada no título e/ou resumo da obra pelos seguintes termos, “infância”, “juventude” e/ou “adolescência” ou “crianças”, “jovens” e/ou “adolescentes”. Algumas das obras selecionadas não mencionaram ‘explicitamente’ tais campos, mas continham debates e reflexões sobre temas julgados relevantes sobre a infância e a juventude. Estes casos foram classificados com a sigla ND - Não Declarado. ‘e) Área de conhecimento da obra’, classificada, primeiramente, a partir da informação da própria editora. Em muitos casos, entretanto, essa informação não era declarada, cabendo às autoras do presente artigo a realização da classificação, segundo o conteúdo do resumo da obra e seu sumário e/ou área de formação do autor. A classificação realizada seguiu a Tabela de Áreas do Conhecimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)/Brasil2. Entretanto, pareceu-nos relevante o acréscimo da área nomeada como Psicanálise como área específica e não subposta à Psicologia. Livros que possuíam mais de três áreas do conhecimento simultâneas foram classificados como multidisciplinares. ‘f) Tipo de produção’, classificação embasada no agrupamento normalmente realizado por periódicos científicos. Incluíram-se, assim, as categorias Pesquisa Empírica, Coletânea de Textos, Relato de Experiência, Pesquisa Teórica e Metodologias e Práticas de Ação e Intervenção, classificação feita a partir da leitura do resumo e do sumário, quando este estava disponível para consulta. As categorias Relato de Experiências e Metodologias e Práticas de Ação e Intervenção, embora possam se remeter a conteúdos empíricos, se distinguem da categoria Pesquisa Empírica pelo fato de que, de acordo com o resumo apresentado, não são resultados de pesquisa, mas relatos sobre experiências e intervenções. A categoria Coletânea diz respeito a uma coleção de textos de diferentes autores sobre uma temática, podendo contemplar pesquisas teóricas e/ou empíricas. A Figura 4 apresenta a distribuição de obras divulgadas pelo Periódico segundo o tipo de produção.
Interessa aqui, principalmente, destacar a preponderância das pesquisas de cunho exclusivamente teórico, com 91 publicações, equivalente a 43,33% do total. A produção bibliográfica do tipo pesquisa empírica aparece com um percentual relativamente baixo, quase a metade da teórica, com 45 publicações, 21,43% do total, embora devamos levar em conta que as coletâneas possam estar também contemplando pesquisas empíricas.
Sobre a primazia da produção da pesquisa teórica em livros, supomos que exista a tendência, nas áreas de Ciências Sociais e Humanas, em se privilegiar a publicação de pesquisas teóricas em livros, em relação à publicação de pesquisas empíricas. Em geral, as discussões teóricas envolvem espaço e podem alcançar uma extensão considerável que vai além do que é geralmente permitido sob a forma de artigos nos periódicos – em torno de 20 páginas. Neste sentido, alongar-se sobre um assunto pode ser melhor contemplado pela amplitude permitida por meio da publicação em forma de livro. Além disso, a publicação em periódicos tem sido cada vez mais valorizada pelo sistema produtivista vigente, o que leva muitos autores e autoras a optar por escoar sua produção empírica, mesmo que parceladamente, sob a forma de artigos em periódicos, e não esperar a finalização de todo o processo empírico de uma investigação, que pode levar muito tempo, para ser, enfim, publicada sob a forma de livro. Neste sentido, as coletâneas, em que alguns capítulos podem incorporar também pesquisas empíricas, se apresentariam como mais interessantes segundo as demandas do atual sistema de avaliação de docentes do que a escrita de livros inteiros dedicados à discussão de uma determinada investigação empírica.
Na Figura 5, interessou-nos mapear a distribuição dos títulos publicados em relação aos campos infância, adolescência ou juventude, ou levando em consideração a junção destes campos a partir do conteúdo e título das próprias publicações. Nas publicações em que estes campos não foram explicitamente declarados no seu título ou resumo, classificou-se o campo da publicação como “Não Declarado”, embora a obra tenha sido considerada relevante para a infância e/ou juventude.
A Figura 5 nos mostra o campo da infância como aquele que detém o maior percentual de títulos levantados nas seis edições do Periódico, levando-se em conta as publicações de todos os países, com 47 obras encontradas, representando 22,38% do total. Este dado assinala o destaque que as questões referentes à infância e às crianças têm ganhado nos últimos anos. Segundo Sirota (2006), o campo da infância está passando por uma redescoberta após, por muito tempo, manter-se às margens das ditas Ciências Sociais. Este “pequeno objeto”, como caracteriza a autora, encontra-se na encruzilhada de diversas disciplinas canônicas, situando-se como um campo em disputa nas diversas tradições disciplinares das Ciências Humanas e Sociais. Neste sentido, as crianças e suas infâncias parecem se inserir em um cenário de mudanças que está se reconfigurando como um campo de interesse específico de estudos científicos na contemporaneidade.
Destaca-se também nesta tabela o elevado número de obras categorizadas no campo “Não Declarado” (ND), com 49 obras identificadas, apresentando 23,33 % do total. Este dado aponta que tais obras não fazem referência a crianças, adolescentes e/ou jovens, ou infância, adolescência e/ou juventude, mesmo que abordem problemáticas e questões em que estes sujeitos estão subsumidos como objetos de investigação, ou que se destinem a eles. Esta situação pareceu-nos revelar a pouca importância dada aos sujeitos crianças e jovens, que se tornam “invisíveis” aos próprios olhos dos pesquisadores/as que os envolvem nas pesquisas realizadas, e lhe destinam seus resultados sem sequer reconhecer sua presença na produção destas investigações. Assim, como destinatários invisíveis de um grande número de investigações, as crianças e os jovens são sequer mencionados como aqueles que delas participam ou vão sofrer o impacto de seus resultados. Interessou-nos saber quais eram estas obras que não mencionavam a infância e/ou a juventude, e/ou seus cognatos, mesmo que destinadas a elas. Uma análise específica destes títulos, que não tiveram o campo da infância e/ou juventude explicitamente declarado, revelou que 100% destas publicações correspondiam à área da Educação, ou à área da Educação em interface com outras áreas.
A nomeação conjunta dos campos da infância e juventude, com 19,52% das obras publicadas, também se destaca. Para alguns (Sposito e cols., 2009), este resultado pode refletir uma imprecisão quanto à delimitação de campos e problemáticas específicas. No entanto, por outro lado, a junção destes campos tem a ver com sua constituição histórica em algumas tradições disciplinares como, por exemplo, a Psicologia, em que infância e adolescência/juventude foram considerados na sua articulação e contiguidade sob um paradigma desenvolvimentista. Além disso, do ponto de vista da institucionalização destes campos, é bastante frequente sua conjunção no âmbito de Centros de Estudo3, publicações (como as citadas no início deste artigo) e Comitês de Pesquisa em associações científicas internacionais4. Portanto, consideramos que a junção destes campos ainda reflete o processo de consolidação de ambos que, por vezes, requer sua separação e, por outras, demanda sua junção. Todavia, as questões conceituais e teóricas que se colocam, seja ao juntá-los, seja ao separá-los, ainda requerem maior aprofundamento.
Na Figura 6 encontramos a distribuição das publicações divulgadas por área do conhecimento, seja na condição de área principal ou em combinação com outra. Publicações com mais de três áreas declaradas foram classificadas como multidisciplinares.
A Educação aparece como a área que detém o maior percentual de títulos divulgados pelo Periódico no período, com 33,33%. É ela que também aparece em maior proporção em combinação com outras áreas, 21,43%. Seguem-se, como áreas únicas, a Psicologia, com 8,09%, e a Sociologia, com 6,19%. Dois outros aspectos relevantes emergem nestes resultados: primeiro, cerca de 52,85% dos títulos divulgados associam-se a duas ou mais áreas do conhecimento, o que expressa a significativa transdisciplinaridade dos campos de estudos da infância e da juventude. Em segundo lugar, e convergindo com este aspecto, destaca-se o elevado percentual de títulos considerados multidisciplinares, 13,33%, em comparação com áreas tradicionais de pesquisa sobre infância e juventude, como a Psicologia, cuja contribuição como área única é bem menor. Estes aspectos refletem a emergência de perspectivas cada vez mais sistêmicas, interdisciplinares, que reconhecem a natureza complexa das problemáticas relativas a esses campos insuficientemente compreendidas desde uma ótica disciplinar única.
A Figura 7 que segue abaixo aborda, de outra perspectiva, o que tem sido publicado nos títulos levantados. Nela aparece a classificação dos títulos divulgados segundo temáticas amplas, com o objetivo de destacá-las para além dos encaixes disciplinares. Essas temáticas foram geradas a partir de uma análise dos resumos das publicações e de seus sumários, quando estes se encontravam disponíveis.
Destacam-se significativamente as publicações que versam sobre temáticas em educação, com 59,04% dos títulos levantados, cobrindo uma variedade de conteúdos: ensino e aprendizagem, a instituição escolar, educação e sociedade, educação infantil, ensino médio e superior, educação inclusiva, educação e tecnologia, dentre outros. Este resultado converge com os anteriormente analisados que mostravam o predomínio da área da Educação no tocante ao número de publicações sobre infância e juventude.
O predomínio de temáticas relacionadas à educação também pôde ser verificado ao se analisar as publicações da editora comercial brasileira CRV a qual, conforme já mencionado, foi a editora que mais se destacou pelo número de publicações em Infância e Juventude, com 28 títulos levantados no período. Destes, 23 (82,14%) tratam de temas relacionados à educação.
A temática que, em seguida, aglutinou o maior número de títulos abrange as obras sobre ‘Infância, Juventude e Sociedade’ que representam 11,43% do total. Em terceiro lugar, temáticas relacionadas exclusivamente à Juventude abarcaram 10% das publicações.
3.3 Análise da distribuição da produção brasileira em livros sobre infância e juventude
No caso do Brasil, foi possível qualificar os dados sobre as publicações segundo o tipo de editora, comercial ou universitária. Para os outros países da América Latina, esta informação coloca dificuldades adicionais para a equipe, no sentido de não se ter condições de verificar o estatuto das editoras universitárias e se este estatuto é comparável entre países latino-americanos. Portanto, nesse aspecto, nossa análise ficou restrita à situação brasileira.Na Figura 8 observa-se que São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro se destacaram nas publicações em editoras comerciais, representando, respectivamente, 37,50%, 28,85% e 22,12% dos títulos divulgados pelas editoras comerciais. O número de editoras comerciais incluídas na lista de busca foi de 47 de São Paulo, 42 do Rio de Janeiro e 3 do Paraná. Destas, 14 editoras comerciais de São Paulo, 11 do Rio de Janeiro e 2 do Paraná tiveram obras incluídas no levantamento bibliográfico. Desse modo, pode-se observar uma concentração nas editoras comerciais na região Sudeste do país, que detêm o predomínio dos títulos divulgados neste eixo Sul-Sudeste do Brasil.
No entanto, se por um lado houve um número elevado de publicações por editoras comerciais em São Paulo e Rio de Janeiro, por outro, nestes estados o desempenho das editoras universitárias é bem menos expressivo: São Paulo com 5,41%, e Rio de Janeiro com 8,11%, do total de títulos divulgados pelo Periódico em infância e juventude para este tipo de editora. Vale salientar que esta contribuição pouco significativa não se deve ao número reduzido de editoras universitárias listadas nestes estados, uma vez que foram pesquisadas 18 editoras universitárias de São Paulo e oito do Rio de Janeiro. Neste sentido, ao considerarmos as publicações de São Paulo e Rio de Janeiro por editoras universitárias, talvez seja possível afirmar que as mesmas não estejam contemplando a demanda de publicação nos campos de infância e juventude com a mesma eficiência que as editoras comerciais. Digno de nota é o fato de que a editora universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro, universidade que publica o Periódico, não teve sequer uma publicação no campo da infância e/ou juventude no período analisado.
Em relação ao número de livros em infância e juventude publicados por editoras universitárias, os estados que apresentaram maior número foram Bahia e Paraná. O Estado do Paraná pode ser considerado o que apresentou maior equilíbrio em relação ao número de publicações em editoras universitárias e comerciais, ocupando a segunda posição nas duas classificações, com 28,85% das produções de editoras comerciais e 18,92% das produções de editoras universitárias.
Nota-se que as publicações das editoras universitárias estão um pouco melhor distribuídas entre os estados brasileiros quando comparadas às das editoras comerciais, que tem uma maior concentração de publicações no Sudeste e no Sul do Brasil. Foram encontradas publicações em infância e juventude em editoras de universidades fora do eixo sul-sudeste, como na Bahia (24,32%), no Distrito Federal (8,11%) e no Ceará (5,41%).
Não foram encontradas publicações de livros sobre infância e juventude nas editoras universitárias consultadas dos seguintes estados brasileiros: Pernambuco, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Amazonas, Mato Grosso, Piauí, Roraima, Sergipe e Tocantins.
Considerações finais
O balanço da produção bibliográfica em livros sobre infância e juventude nos países latino-americanos realizado neste estudo nos permitiu construir um olhar analítico e crítico sobre a caracterização e as tendências desta produção, que se mostra incipiente no contexto da América Latina. Temos em mente as limitações do estudo apresentado, já que o número de editoras de países latino-americanos de língua espanhola é relativamente bem menor que o das editoras brasileiras incluídas. Contudo, a desatualização de muitos sites de editoras torna difícil, quase impossível, a busca de lançamentos de publicações e o acesso ao catálogo atualizado em alguns países da América Latina.Os resultados indicam o que parece se configurar como uma falta de atratividade do mercado editorial para a publicação de obras científicas sobre a infância e/ou juventude, seja pelas editoras comerciais ou universitárias. Nos sites e nos e-mails trocados com editoras ficou nítida a prevalência do interesse pela área de literatura infanto-juvenil, cujas publicações aparecem em abundância, em contraponto às publicações científicas. Além disso, proliferam os manuais didáticos da área da Educação.
Em relação às publicações científicas, as editoras que publicaram algum título, publicaram, modalmente, uma única obra ao longo do período analisado, ou seja, um ano e meio. Brasil, Argentina, México e Chile foram os países que mais tiveram títulos divulgados pelo Periódico.
A infância e a juventude aparecem como campos eminentemente transdisciplinares, a se julgar pelas áreas a que podem ser atribuídas as publicações divulgadas, na sua maioria pertencentes a duas ou mais áreas das Ciências Humanas e Sociais. No entanto, ressalta-se a prevalência da área da Educação que, como área única, detém a maior produção de livros nesses campos.
Entretanto, são os títulos que não fazem menção à infância e à juventude nos seus resumos que pertencem integralmente à área da Educação. Essa se apresenta, tradicionalmente, como aquela que se ocupa de pesquisar os processos de transmissão inter-geracional, formais e não formais, aos quais está submetida a maioria das crianças e jovens. Ainda que as publicações sobre a temática da transmissão educacional se refiram diretamente a esses sujeitos ao abordar, por exemplo, o ensino, a aprendizagem, as estratégias metodológicas didáticas, a instituição escolar, elas não apresentam os sujeitos-fins de suas atividades investigativas como foco e sub-temática importante das investigações. Constata-se, portanto, a invisibilização que esta área faz da infância e da juventude, que muitas vezes são sequer mencionadas como aspectos que definem a produção bibliográfica na área da Educação. A nosso ver, este fato parece aludir à fantasia adultocêntrica de que a pesquisa em educação pode acontecer, para além do educando.
Vimos também que os campos de estudo infância, adolescência e juventude estão estreitamente relacionados, não existindo limites que os separem com precisão. São campos que aparecem frequentemente juntos nas investigações. A conjunção, ou a separação, destes campos coloca desafios conceituais que ainda necessitam ser aprofundados.
Por fim, as dificuldades encontradas no trabalho de mapeamento das publicações sobre infância e juventude na região também apontam para a carência de canais efetivos de comunicação entre os países latino-americanos, apesar de sua proximidade geográfica. Essa constatação limita notoriamente o fluxo de informações sobre as pesquisas entre os países latino-americanos, assim como as possibilidades de criar redes de trabalho que permitam pensar em conjunto e coletivamente as problemáticas que afetam a crianças e jovens destes países. Portanto, a contribuição para a estruturação e consolidação dos campos da infância e da juventude depende de esforços menos comedidos no que tange à produção, manutenção e divulgação da bibliografia em livros sobre crianças e jovens.
Referências
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Data de recebimento: 31/09/2015
Data de aceitação: 04/11/2015
1 Agradecemos à equipe de buscas: Arthur José Vianna Brito, Clara Marina Hedwig Willach Galliez, Isa Kaplan Vieira, Juliana Siqueira de Lara, Luciana Mestre, Marina Provençano Del Rei, Paula Pimentel Tumolo, Priscila Gomes, Suzana Santos Libardi e Yasmim Sampaio dos Santos.
2 http://www.cnpq.br/documents/10157/186158/TabeladeAreasdoConhecimento.pdf
3 Por exemplo, Centre for the Study of Childhood and Youth, Universidade de Sheffield, Reino Unido; Centro de Niñez y Juventud, Universidade de Manizales, Colombia; Childhood & Youth Research Institute, Cyri, Universidade de Turku, Finlândia.
4 Por exemplo, o Committee of Childhood and Youth, da IUAES (International Union of Anthropological and Ethnological Sciences) e a International Childhood and Youth Research Network (ICYRNet).
I Professora Titular do Programa de Pós-graduação em Psicologia, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Pesquisadora Senior do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Brasil. Editora Chefe da revista DESidades. E-mail: lrcastro@infolink.com.br
II Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduação em Psicologia pela mesma Instituição. Integra o Núcleo de Pesquisa para Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude. E-mail: i.kaplanvieira@gmail.com
III Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduação em Psicologia pela mesma Instituição. Integra o Núcleo de Pesquisa para Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude. E-mail: j.siq.lara@gmail.com
IV Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Psicologia pela Universidad de la Habana, Cuba (UH) e graduada em Psicologia pela mesma instituição. Professora Assistente da Universidad de la Habana. Integra o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude. E-mail: koliva2009@gmail.com
V Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e graduada em Psicologia pela mesma instituição. Integra o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude. E-mail: sabrinadsavegnago@gmail.com