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Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol v.55 n.124 São Paulo jun. 2006

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Corpo e imagem corporal no início da adolescência feminina

 

Body and body image in the beginning of feminine adolescence

 

 

Viviane Namur Campagna; Audrey Setton Lopes de Souza1

Instituto de Psicologia da USP

 

 


RESUMO

O início da adolescência feminina é uma fase de intensas transformações corporais, frente às quais torna-se necessária uma reformulação da imagem corporal. Este processo parece mais complexo na contemporaneidade, onde ocorre uma idealização do corpo feminino. Nesse contexto, esse trabalho procura investigar a imagem corporal de mulheres no início da adolescência, através do estudo de entrevistas e Desenhos da Figura Humana realizados por 20 jovens de 12 anos, de classes média e média-alta da cidade de São Paulo. Conclui que esta é uma fase do desenvolvimento percebida pelas jovens como de transição, onde é difícil elaborar uma imagem de si mesma. A insatisfação, insegurança e ansiedade em relação à aparência corporal, que é apenas sugerida nas entrevistas, torna-se bastante perceptível nos Desenhos da Figura Humana, que revelam também um estado de fragilidade egóica e a existência de formas diferentes de lidar com a sexualidade nesse momento.

Palavras-chave: Adolescência feminina,Imagem corporal, Desenho da Figura Humana.


ABSTRACT

The beginning of the feminine adolescence is a phase of intense corporal transformations, when a new elaboration of the body image becomes necessary. Nowadays, this process seems to be more complex, since an idealization of the feminine body occurs. In this context, this work intends to investigate teenagers’ body image at the beginning of their adolescence, through interviews and Human Figure Drawings made by 20 middle class girls, at the age of 12, from São Paulo city. The conclusion is that this phase of the development is perceived by the girls as a transition, in which it is difficult for them to elaborate their own self-image. The insecurity, dissatisfaction and anxiety related to body appearance, that were only suggested in interviews, became well detectable in the Human Figure Drawings, which also disclosed a ego fragility state and the existence of different forms to deal with the sexuality at this moment of life.

Keywords: Feminine adolescence, Body image, Human Figure Drawing Test, Draw-a-person.


 

 

A ADOLESCÊNCIA E A IMAGEM CORPORAL

O início da adolescência feminina é facilmente observável, pois num curto espaço de tempo, junto com o advento da puberdade, ocorrem mudanças substanciais no corpo e na mente da, agora, adolescente.

Faz-se uma certa confusão entre puberdade e adolescência, pois essas duas condições ocorrem mais ou menos ao mesmo tempo na vida das jovens. A puberdade, no entanto, diz respeito aos processos biológicos, que culminam com o amadurecimento dos órgãos sexuais. A adolescência, por sua vez, compreende as alterações biológicas, mas também as psicológicas e sociais que ocorrem nessa fase do desenvolvimento.

Há uma certa discordância quanto a se a adolescência começa um pouco antes, durante ou logo após a puberdade, mas com certeza esta é a marca que permite calcular o seu início (Calligaris, 2000).

As mudanças corporais que ocorrem nas garotas, nessa fase do desenvolvimento, são consideráveis. Desencadeadas pela produção dos hormônios, a partir dos oito ou nove anos, promovem mudanças no tamanho do corpo, nas suas proporções, e o desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias. O surto de crescimento da puberdade começa um ano ou dois antes que os órgãos sexuais amadureçam, e depois disso, dura de seis meses a um ano. Nas meninas começa entre 8,5 e 11,5 anos, com um pico de rapidez que ocorre em média aos 12,5 anos, declinando depois disso até parar por volta de 15 a 16 anos. O crescimento em altura segue um padrão regular e geralmente precede o aumento de peso. Em cerca de três anos, até um ano depois da puberdade, a menina ganha, em média, 17 quilos.

Durante a puberdade a cabeça cresce lentamente em relação ao resto do corpo, a testa se torna mais alta e larga, o nariz cresce rapidamente, a boca se alarga, os lábios tornam-se mais cheios e o queixo passa a ser mais pronunciado; desenvolve-se a linha da cintura, ombros e quadris se alargam, os braços e as pernas se alongam e tornam-se mais moldados, em conseqüência dos depósitos de gordura; além disso, há o desenvolvimento dos seios, o aparecimento dos pêlos púbicos, axilares, faciais e nos membros. Também ocorrem alterações na voz e na cor e textura da pele. Mudanças também acontecem nos órgãos internos, nos sistemas digestivo, circulatório, endócrino e respiratório; os ovários e o útero crescem e amadurecem rapidamente. Acompanhando essas transformações, vem o sangramento menstrual cíclico ou menstruação (Hurlock, 1979). A menarca deve ocorrer por volta dos 12 anos, segundo Penna, Epps e Deluqui, 1970, Berenstein, 1995 e Kuczynski, 1998.

Frente a todas essas mudanças, a imagem corporal também precisa ser reformulada. A imagem corporal ou esquema corporal é a representação mental do próprio corpo, o modo como ele é percebido pelo indivíduo. Compreende não só o que é percebido pelos sentidos, mas também as idéias e sentimentos referentes ao próprio corpo, em grande parte inconscientes (Schilder, 1999).

A imagem corporal vai se desenvolvendo como um produto da relação do indivíduo consigo mesmo e com os outros. Como acrescenta Lourenção van Kolck (1984), a imagem corporal é uma unidade adquirida, é dinâmica, portanto alterações corporais provocam mudanças na imagem corporal, e esse fenômeno é particularmente intenso na adolescência.

Desde que deixa de ser um bebê o corpo do ser humano até a adolescência mantém uma identidade; essa identidade sofre uma desorganização com a emergência dos caracteres sexuais secundários. As mudanças que ocorrem nesse período levam a uma perda da antiga imagem corporal e da identidade infantis, o que implica na busca de uma nova identidade. A menina adquire, agora, um novo status e, com a chegada da menstruação, tem como tarefa psíquica que definir seu papel e identidade sexual (Aberastury, 1990).

A adolescente precisa elaborar o luto pelo corpo infantil que vai perdendo, e aceitar a chegada da menstruação, que lhe impõe uma definição sexual e de seu papel na união com o par do sexo oposto e na procriação. A angústia e os estados de despersonalização que, muitas vezes, acompanham esses momentos, devem-se, segundo Aberastury, à angústia de perceber que é o próprio corpo que produz essas mudanças.

Como diz Calligaris (2000, p 25) “entre a criança que se foi e o adulto que ainda não chegou, o espelho do adolescente é freqüentemente vazio” Com que parâmetros pode olhar para si mesmo, se não se sente mais amado pela sua aparência, como era quando criança, e ainda não é reconhecido como um par pelos adultos?

Observando-se esta questão do ponto de vista do desenvolvimento feminino, percebe-se que, além da dificuldade intrínseca de fixar uma imagem de si, mesmo que temporária, nesse corpo em transformação, a jovem, em nossa sociedade ocidental contemporânea, tem que lidar com novos desafios, trazidos pela globalização e forte influência dos meios de comunicação nos comportamentos humanos.

Como afirma Ruffino (1993), as sociedades modernas vão, cada vez mais, homogeneizando comportamentos, e cada grupo social vai perdendo seus traços culturais característicos. Assim, a chegada da menstruação, por exemplo, que freqüentemente demarcava uma passagem para um novo estágio de desenvolvimento e era tida como um acontecimento social em muitas culturas, passou a ser vivida solitariamente por cada jovem.

Além da falta do apoio social para lidar com suas transformações, as jovens deparam-se com os modelos de beleza e com a extrema valorização da aparência veiculada pelos meios de comunicação. É preocupante o fato de que esses modelos sejam internalizados, sem ser questionados, como algo natural do sujeito. Como afirma Kehl (2001), a intensidade com que os meios de comunicação atingem as culturas é mais intensa que a capacidade de assimilação das pessoas, fazendo com que o que se vê seja incorporado sem ser simbolizado. Em nossa sociedade, há uma desconsideração da subjetividade e uma supervalorização da imagem, um culto narcísico ao corpo, que é vendido como objeto de consumo, onde, mais importante do que sentir, pensar, criar, é ter medidas perfeitas, considerando-se o padrão de magreza como ideal. Assim, a adolescente, que já tem que lidar com suas transformações físicas, é colocada frente a esses modelos e à impossibilidade de corresponder a eles.

O excesso de preocupação com a aparência e o aumento da insatisfação com o corpo, principalmente com o peso, na contemporaneidade, tem sido objeto de muitos estudos científicos. Esse interesse é motivado pelo reconhecimento do crescimento dos distúrbios alimentares em garotas adolescentes e mulheres jovens, principalmente. A preocupação com o peso é entendida como resultado da internalização de padrões irreais de beleza, e, muitas vezes, predispõe as jovens à depressão. Especialistas em distúrbios alimentares defendem que haja esforços no sentido de alterar esse padrão de beleza de extrema magreza e as atitudes sociais frente ao aumento de peso, ao mesmo tempo, que sejam feitos estudos de intervenção para melhorar a imagem corporal das garotas (Striegel-Moore, 2001). Ao se defrontarem com modelos geralmente fora dos padrões de normalidade, as jovens, que já lidam com as dificuldades intrínsecas de possuir um corpo em transformação, tendem, segundo esses estudos, a ter um autoconceito rebaixado.

Essa idéia é comprovada por uma pesquisa com 580 adolescentes coordenada pela Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas, apresentada por De Lucia (2001), no Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde, que mostrou que 80% delas não gostam da própria aparência e 50% procuram dietas porque acham que são gordas. Uma das conclusões dessa pesquisa é que a motivação para a dieta não estava relacionada à atual forma física delas, mas à busca de um corpo ideal.

Nesse contexto de grandes mudanças corporais e forte pressão da mídia e da sociedade para a exibição de um corpo idealizado, este trabalho pretende investigar qual é a imagem corporal das garotas que estão entrando na adolescência, utilizando, para isso, entrevistas semi-dirigidas e o Teste do Desenho da Figura Humana, segundo a adaptação de Lourenção Van Kolck (1984) da obra de Machover (1967).

 

O TESTE DO DESENHO DA FIGURA HUMANA COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Teste do Desenho da Figura Humana (DFH) consiste basicamente em pedir ao sujeito que desenhe uma pessoa como quiser, desde que inteira e não um desenho pedagógico; pede-se depois que desenhe uma pessoa de sexo diferente da primeira e então responda a um inquérito sobre a figura que representa o próprio sexo (Anexo I).

Machover (1967), a criadora do teste, tem como hipótese que o indivíduo, ao atender à solicitação de desenhar uma figura humana, projeta no papel a imagem corporal que possui, em grande parte inconsciente para ele. O desenho representa, portanto, a expressão do eu no ambiente. É no corpo e no desenho do corpo que se expressam, na visão de Machover, as diversas forças contrárias, os impulsos e as pressões internas e externas que vão compondo a personalidade. Para compor a “sua pessoa”, o indivíduo busca a imagem que faz de si, mas também das outras pessoas, imagens que habitam a sua mente. O Desenho da Figura Humana pode refletir também imagens idealizadas, emoções momentâneas, atitudes frente aos outros, à vida, à sociedade. A figura retratada é, freqüentemente, uma combinação dessas imagens, produto das experiências, das identificações, projeções e introjeções, que constituem a organização do eu.

O desenho é também um produto social. Estereótipos culturais e sociais contribuem para a concepção da pessoa, juntamente com as experiências particulares exclusivas de cada indivíduo. Todas essas imagens se incorporam para produzir a projeção do eu (Lourenção van Kolck, 1984).

Machover (1967) identificou inúmeros indicadores específicos para compreender a projeção da imagem corporal dentro de um referencial psicanalítico, levando-se em conta os aspectos gerais, a estrutura e o conteúdo dos desenhos.

Entre os aspectos gerais estão a posição da folha, a localização do desenho na página, o tamanho, as qualidades do grafismo, as resistências a desenhar e o não completamento das figuras.

Entre os aspectos estruturais estão o tema (quem é retratado, idade, o que faz), postura ou posição da figura, o grau de completamento e detalhe, a simetria, a perspectiva, as proporções, o sombreado, os reforços e as rasuras, a ordem das figuras e o tratamento diferencial das duas figuras do par.

O conteúdo dos desenhos consiste na significação e no tratamento dado a todas as partes individuais do corpo, a vestimenta e os acessórios, e também a expressão facial e a postura da figura.

O Teste do Desenho da Figura Humana é uma técnica projetiva de avaliação da personalidade e, como tal, recebe críticas dos que trabalham unicamente com testes objetivos, já que não responde plenamente aos requisitos científicos de validade e precisão.

Hammer (1981) concorda que a interpretação do DFH não possui validade experimental suficiente e nem informações inequívocas, assim como qualquer outra técnica de avaliação da personalidade, mas isso não o invalida como tal. Segundo ele, é fácil verificar a consistência interna do teste, comparando os resultados com outras informações sobre o sujeito e com outros testes utilizados

Kahill (1984) revisou a literatura sobre pesquisas com o DFH, de 1967 a 1982. Os resultados das suas pesquisas mostraram-se contraditórios sobre a validade da premissa de que o Desenho da Figura Humana revela a imagem corporal do sujeito, salientando que talvez o conceito de imagem corporal seja muito complexo e difícil de ser operacionalizado satisfatoriamente. De todo modo, concluiu que os resultados das medidas globais são mais encorajadores que os sinais individuais.

Gottsfritz (2000), em sua Dissertação de Mestrado sobre a confiabilidade na interpretação do DFH, também chegou à conclusão que o teste demonstra maior coerência nos aspectos globais que nos parciais. Os DFH masculino e feminino feitos por uma menina de 9 anos foram avaliados por 32 psicólogos, que não tinham acesso aos demais dados do sujeito. Os resultados demonstraram coerência entre as conclusões globais e em relação ao psicodiagnóstico, embora houvesse diferenças de critérios e de interpretações dadas quanto aos aspectos parciais. Esse trabalho é importante, pois mostra que, apesar da dificuldade de avaliá-lo com o mesmo rigor que os testes dito objetivos, testes projetivos,como o DFH vão adquirindo confiabilidade, quando confrontados com as inúmeras pesquisas e com outros materiais (entrevistas e testes) obtidos do mesmo sujeito.

No entanto, apesar de serem necessárias avaliações parciais dos diversos itens de interpretação que compõem o DFH, a análise só ganha sentido quando feita uma avaliação global dos resultados, onde o peso de cada interpretação é relativizado. Todos os testes projetivos devem ser tratados dessa maneira. Dentre as pesquisas feitas com o Desenho da Figura Humana, serão citadas duas cujos sujeitos têm a mesma idade e sexo dos sujeitos deste trabalho.

Machover (1966) fez um amplo estudo normativo com 100 crianças de classe média de 5 a 12 anos de idade, dos Desenhos da Figura Humana (masculinos e femininos), que foram classificados em 45 características gráficas principais, incluindo aspectos estruturais e do conteúdo das figuras. Na análise dos desenhos descobriu que as diferenças entre os sexos são tão importantes quanto as diferenças em relação à idade. Quanto às meninas de 12 anos, concluiu que uma das características fundamentais dessa fase de desenvolvimento é a sua luta com as sensações de seu próprio corpo em crescimento. Seus desenhos variam de acordo com sua situação puberal (mais ou menos sexualizados). Elas desenham menos mãos, com as quais é possível agarrar. A diminuição de seu interesse nos objetos é paralela a uma preocupação maior pelos processos corporais. A menina de 12 anos, oscila notavelmente em relação à sua estabilidade e se preocupa com o futuro. Os desenhos, em geral, refletem incerteza, meditação depressiva e certo retraimento.

Num trabalho mais recente e de autores brasileiros, Souza e Zanetti (2004) analisaram os DFH de 173 crianças e adolescentes de ambos os sexos, com idades entre 4 e 15 anos, sendo 36 de 11 a 12 anos. Observaram também diferenças acentuadas entre os desenhos de meninos e meninas. As meninas, aos 12 anos, vão substituindo o padrão gráfico anterior, mais contido e com figuras mais idealizadas, por outras formas de representação, que incluem a presença marcante de mãos escondidas e um início de erotização das figuras femininas, que começam a apresentar maior número de elementos (bocas, olhos, seios, cabelos) que revelam o desejo de ser sexualmente atraentes para o sexo oposto. Esses dados permitem supor que, com o início da adolescência e da puberdade, quando a jovem é invadida por impulsos sexuais, há, por um lado, uma culpa em relação e esses impulsos, e, por outro, uma maior possibilidade de assumir a sexualidade e a identidade adultas. Este estudo também concluiu ser o DFH um ótimo instrumento para estudo da personalidade de crianças e adolescentes, principalmente no que se refere a aspectos da formação da identidade sexual.

 

MÉTODO

Sujeitos

Participaram dessa pesquisa, jovens que cumprissem os seguintes pré-requisitos: ter 12 anos, pertencer à classe média ou média-alta (renda de pelo menos 15 salários mínimos), estudar em colégio particular, estar na série adequada para sua idade (6ª ou 7ª série), e não estar fazendo psicoterapia no momento da pesquisa.

Considerou-se 12 anos a idade mais freqüente de início da adolescência feminina, tendo-se como referência a idade média da menarca (baseado em autores como Penna, Epps e Deluqui, 1970 e Kuczinsky, 1998). A escolha do grupo sócio-econômico foi determinada pelo fato de buscar-se um grupo que tivesse pleno acesso aos meios de comunicação (TV, revistas e Internet). O fato de estabelecer que o grupo estivesse na série adequada e não fizesse psicoterapia deveu-se à necessidade de estabelecer um grupo não clínico, sem dificuldades de aprendizagem ou emocionais acentuadas.

A amostra foi composta de 20 jovens, do sexo feminino, entre 12 anos e 3 meses e 12 anos e 11 meses de idade, estudantes de colégios particulares da cidade de São Paulo. A renda familiar, de pelo menos 15 salários mínimos, chegou a uma renda superior a 60. Todos os pais tinham pelo menos o curso superior incompleto, eram na maioria profissionais liberais, funcionários de nível superior, empresários e comerciantes. As mães tinham todas o nível superior e trabalhavam fora em sua maioria.

Instrumentos

Entrevista, Desenho da Figura Humana e Teste de Rorschach.

Procedimento

Após indicação de colegas e outros profissionais, as jovens e seus pais eram contatados para um esclarecimento dos objetivos do trabalho. Havendo concordância dos pais e interesse das mesmas em participar da pesquisa, um dos pais assinava um termo de consentimento, autorizando a filha a participar da pesquisa.

Era então marcado um encontro com elas, individualmente, em suas casas. Considerou-se que um ambiente mais familiar favorecesse o contato e a obtenção de dados mais significativos, embora sujeitasse o pesquisador a lidar com uma adaptação maior à condição de cada espaço, principalmente na aplicação do Desenho da Figura Humana. Apesar disso, foram observadas e respeitadas todas as condições de privacidade e adequação do espaço (luminosidade adequada, ausência de ruídos).

Num primeiro momento era realizada a entrevista, gravada com o consentimento das jovens. Em seguida era proposto o Desenho da Figura Humana. O encontro durava por volta de uma hora. Num segundo encontro foi realizado o Teste de Rorschach, que será apenas brevemente citado neste trabalho. É importante ressaltar que este artigo é um recorte de um trabalho maior que procurou investigar diversos aspectos da identidade feminina no início da adolescência e serão apresentadas apenas as conclusões relativas à imagem corporal das adolescentes obtidas através das entrevistas e DFH.

As entrevistas eram semi-dirigidas, no modelo proposto por Bleger (1985), que propicia uma certa liberdade para o entrevistador conduzi-las de modo a fazer emergir a personalidade de cada entrevistado e destacar-se o mais importante para ele. Bleger considera que o entrevistador é parte do campo da entrevista, de certa maneira condicionando o que vai observar, e deve utilizar, portanto, sua subjetividade, no modo de olhar para o outro.

Algumas questões, portanto, organizaram o campo da entrevista, mas o entrevistador podia mudar sua ordem ou acrescentar outras questões que julgasse necessárias para obter maior proveito da mesma.

As questões foram:

• O que você acha de ter 12 anos? Como é ter sua idade?

• O que há de positivo e negativo nessa idade? Por que?

• Como você se descreveria para alguém? Por que?

• Você se acha bonita, simpática, inteligente? Por que?

• Do que gosta e do que não gosta em você? Por que?

• É feliz? Quais são suas preocupações? Por que?

• Quando você se irrita? Por que?

• Quando você fica nervosa? Por que?

• Do que você tem medo? Por que?

• Você tem muitos amigos? De onde?

• O que dizem os outros a seu respeito?

• Você se importa com o que os outros dizem sobre você?

• Você já menstrua? Quais são (eram) suas expectativas em relação a ficar menstruada?

• O fato de ter ficado menstruada mudou alguma coisa na sua vida?

• Você tem namorado? Já ficou com alguém? Gosta de algum menino?

• Como você descreveria seu pai e sua mãe?

• Você se acha parecida com eles? Por que?

• Quais são as pessoas que você mais admira? Por que?

• Quais são as pessoas que você não admira? Por que?

• Você acha que a opinião de seus pais é importante para você? Por que? Em que assunto? Você as leva em conta quando tem que tomar uma decisão?

• Que profissão você quer ter no futuro? Por que?

• Como você se vê no futuro?

• Você conversa com alguém sobre sexo, menstruação?

• Você gosta de ler? Ver TV? Utilizar a Internet?

As entrevistas foram transcritas e analisadas, buscando-se os conteúdos mais significativos, agrupados em temas: percepção que tinham de si mesmas, de seus pais, dos amigos, das relações amorosas, da menstruação; modelos de identificação e perspectivas de futuro.

A análise dos desenhos, neste trabalho, foi baseada principalmente na adaptação de Lourenção van Kolck (1984) dos trabalhos de Machover, que é em linhas gerais a mesma da adotada por Hammer (1981). Na apresentação dos resultados, no entanto, não é descrita uma análise exaustiva de cada item, mas são destacados os aspectos gerais, estruturais e de conteúdo que se mostraram mais significativos no conjunto dos desenhos.

Os desenhos foram analisados unicamente pela pesquisadora, mas é importante assinalar que foram confrontados com os dados das entrevistas e com os protocolos de Rorschach, o que possibilitou consistência interna e maior confiabilidade nos resultados.

Os resultados serão apresentados separadamente, de acordo com o que foi obtido nas entrevistas e nos desenhos, sempre destacando-se os aspectos relativos à imagem de si mesmas, objeto desse trabalho. Na conclusão estes elementos serão integrados.

 

RESULTADOS

As entrevistas: um modo de apresentar-se ao outro

Uma vez que aceitavam participar da pesquisa, as garotas eram muito afáveis, embora isso não se traduzisse necessariamente em facilidade de comunicação. Podemos fazer, desde o início, uma subdivisão neste grupo de pesquisa: uma parte dos sujeitos era composta de jovens mais extrovertidas, comunicativas, que pareciam estar gostando de ter alguém para, como disse uma delas, “perguntar o que ninguém havia perguntado antes”. Outra parte era composta de jovens mais inibidas, que falavam menos, mais baixo e com menos desenvoltura. Independente disso, ambas pareciam ter dificuldades em traduzir suas idéias numa comunicação oral clara e coerente. Também mostravam muito em comum na percepção de si e do mundo.

A primeira questão importante relativa à imagem corporal, é que as jovens entrevistadas não se consideravam ainda adolescentes. Adolescência, para elas, seria uma fase em que estariam mais “resolvidas”, tanto corporalmente quanto em termos de maturidade emocional. Tampouco se viam como adultas ou crianças, talvez pré-adolescentes.

A única certeza é que estavam em transição e, nesse percurso, às vezes, queriam ir para a frente e, às vezes, voltar para trás. Dentre as 20 meninas, cinco (25%) achavam que ser criança era melhor do que a idade que tinham agora, pois as crianças eram “mais livres” e não tinham que se preocupar com escola, provas, só brincavam. “Ninguém espera nada de você. Você chega em casa, fica vendo TV, brincando, essas coisas”, disse uma delas. Achavam que, na infância, os pais ajudavam mais e não era necessário ser educado e responsável. Outras cinco preferiam ter sua própria idade, porque consideravam que cada época tinha seus atrativos e, afinal, ainda não eram adultas, não tinham que trabalhar nem tinham muitos problemas. Outras cinco oscilavam entre desejar a infância, o presente ou o futuro. Poucas, somente duas, preferiam ser somente mais velhas, achando que o futuro traria maior liberdade e maior autoconfiança.

Acreditavam que ainda não haviam alcançado totalmente a adolescência, porque esta era, para elas, uma idade idealizada, de definições, de certezas, coisas que não possuíam. O corpo delas ainda não estava definido, oscilavam entre desejar um retorno à infância e se comportar de uma maneira mais infantil em alguns momentos, enquanto em outros desejavam ser mais independentes e ter experiências amorosas.

De qualquer maneira, essa era uma época considerada por elas de amadurecimento. Como disse uma delas, “é uma época de mudanças em relação a tudo; você começa a fazer escolhas, crescer, o corpo muda, você começa a pensar no futuro, em namorados”. Essas mudanças pareciam fazer também com que essa fase fosse vivida muitas vezes com impaciência e irritação, e sensações de estar "meio perdida", além da insegurança de ser amada.

Percebiam-se olhando mais para si mesmas, para seus sentimentos, suas qualidades e defeitos, porque precisavam dessa avaliação para se relacionar melhor com os outros, os iguais, que começavam a adquirir maior importância.

Nesse processo, mostravam mais segurança em relação aos seus recursos cognitivos e capacidade de empatia com os outros do que em relação à aparência física que possuíam. Poucas falavam em gostar do conjunto de sua aparência, a maioria desmembrando o físico em qualidades e defeitos, ou afirmando que a beleza precisava ser construída, aparecia quando se “produziam”, não sendo um dom natural. Peso e altura adequados eram características muito importantes para elas na construção de seus modelos de beleza e fonte de muita preocupação. As que se achavam altas e magras, respiravam aliviadas. Estas, no entanto, eram poucas (20 %). A maioria gostaria de ser mais alta ou mais magra, apontando para gordurinhas muitas vezes imperceptíveis.

Quanto às características de personalidade uma parte do grupo (25%) descreveu-se, como já havia sido observado, como tímida e considerava esta uma desvantagem e outra parte se achava extrovertida, considerando isso uma qualidade (25%). A capacidade de se entrosar com as pessoas, fazer amigos, ser bem aceita pelos outros, foi muito valorizada, tanto que o que não gostavam nelas era principalmente a timidez, apontado pelas tímidas. Outras características de personalidade, que acreditavam possuir e desvalorizavam também, se referiam à relação com o outro. Julgavam como características negativas o fato de falarem alto, falarem besteiras ou coisas que não queriam dizer e depois se arrependerem ou de serem “estúpidas”, quando ficavam nervosas. Parece que a dificuldade e o desejo de controlar melhor os impulsos, para obter uma melhor comunicação com o outro, são aspectos que começam a adquirir maior importância nessa idade. Pode-se pensar que há aí um problema na modulação da comunicação, que nesse momento é muito importante para elas, mas que muitas vezes ainda não conseguem dominar.

Apesar dessas dificuldades, todas se consideravam felizes, apontando como motivos para isso o fato de terem quase tudo que é necessário para ser feliz: uma família acolhedora, amigos, uma boa escola, uma boa casa. Achavam que tinham uma boa vida, gostavam do que era seu, não tinham muitos motivos para preocupação. Sentiam-se protegidas pela família e, apesar de desejarem ser um pouco mais livres, temiam perder essa condição.

O fato de sentirem-se constantemente irritadas, no entanto, indicava que, internamente viviam num momento de turbulência afetiva, provavelmente devido a essa condição de não ter um lugar definido e assegurado, agora que já não podiam contar tanto com os pais para resolver seus problemas.

A maior parte das 20 jovens já tinha menstruado, 15 delas (75%), dessas a maioria com 11 anos (onze). Não esperavam a chegada da menstruação, quando esta veio, e não desejavam ficar menstruadas, não naquele momento de suas vidas, algumas porque queriam crescer mais fisicamente, outras porque já tinham ouvido falar do incômodo de trocar absorventes e das cólicas, e outras, ainda, porque se achavam ainda muito crianças e ficarem menstruadas significava entrar em outra fase, para a qual não estavam preparadas. Apenas uma disse ter ficado feliz, “apesar de ser um saco”, por ser um “sinal de amadurecimento”. Apesar disso, achavam que a menarca não tina mudado nada em suas vidas, foi um acontecimento normal, sem importância. Como afirmou uma delas: “foi só mais uma etapa cumprida. A gente deixa de ser criança, mas ainda não é adolescente”.

Talvez o fato de estarem menstruando cedo demais, quando ainda não se sentem adolescentes, tenha feito com que a menarca tenha perdido o significado de ritual de passagem, pois significava, para elas, uma saída da infância, mas não uma entrada na adolescência.

Das que não tinham menstruado (cinco), nenhuma delas desejava que acontecesse logo. Sabiam que iria acontecer, mas quanto mais tarde, melhor. Uma delas sentia-se preocupada e assustada com a primeira vez. Temia que a mãe não estivesse por perto, embora já houvesse explicado o que fazer. Achavam que era um fato importante, mas não significava uma mudança em suas vidas. Temiam as cólicas e parar de crescer.

Todas declararam nunca ter namorado ninguém, mas oito delas (40%) já tinham “ficado”. ‘Ficar” significava, para elas, um relacionamento curto e descompromissado. São os primeiros beijos “de língua”, as primeiras intimidades com o sexo oposto. Esses relacionamentos têm em comum o fato de terem ocorrido, em sua maioria, com pessoas que elas não conheciam muito, não tinham intimidades. Pareciam movidas, a princípio, pela curiosidade de saber como era e por um certo “status”, que ter essa experiência conferia perante o grupo, e não necessariamente por uma atração pelo outro. Talvez por isso algumas tenham comentado ter achado a primeira vez meio “nojenta” ou “esquisita”. Repetiram ou queriam, apesar disso, repetir a experiência.

Apesar dessas primeiras experiências amorosas, da chegada da menstruação e do desejo de serem mais livres e tomarem suas próprias decisões, elas mostraram ainda forte identificação com os pais, os quais eram as pessoas que mais admiravam, cuja opinião era muito importante e a sua escolha profissional provinha principalmente de uma identificação com os familiares.

Apesar de dizerem não se identificar muito com o que viam, a maioria gostava de assistir TV, só uma dizendo gostar “mais ou menos”. Gostavam principalmente de novelas, desenhos, seriados americanos, clipes na MTV e filmes. É interessante que o segundo programa mais visto fosse desenho animado, revelador dos aspectos ainda infantis de suas personalidades. Apesar de gostarem muito de TV, disseram não admirar ninguém famoso. Alegavam não conhecer de fato as pessoas públicas, só vendo a imagem delas na TV ou revistas.

Também a Internet fazia parte do cotidiano do grupo, embora menos que a TV. A maior parte gostava e usava a Internet habitualmente. A Internet era usada principalmente para comunicação (e-mails, ICQ), e para fazer trabalhos escolares. Gostavam também de jogar, fazer testes, ouvir música, salas de bate-papo.

O grupo se dividiu entre as que gostavam de ler, as que gostavam mais ou menos e as que não gostavam. Mesmo as que não gostavam de ler apreciavam revistas. A mais votada por elas foi a Capricho.

Os Desenhos da Figura Humana: reveladores de conflitos

A maioria das jovens mostrou-se mais tranqüila nas entrevistas do que na execução dos desenhos. Enquanto desenhavam, muitas demonstravam ansiedade e faziam comentários depreciativos sobre seus desenhos, procurando justificar suas dificuldades de desenhar uma figura humana (“Que olho pequeno, parece um zumbi, que horror!” ou “Tá parecendo um débil, um robô.”)

Serão ressaltadas a seguir os aspectos que se destacaram nos desenhos, sempre dentro da abordagem de Lourenção van Kolck (1984) da obra de Machover.

Aspectos Gerais dos Desenhos

Posição da folha: a quase totalidade (95%) dos sujeitos respeitou a posição dada (vertical), que indica como o sujeito se coloca perante o ambiente e o manipula. A aceitação da posição dada indica que não há uma reação de oposição ao ambiente ou, por outro lado, uma certa passividade e falta de liberdade em relação ao aplicador.

Localização: os desenhos localizaram-se predominantemente (75%) no lado esquerdo da folha e, destes, a maioria (40%) no quadrante superior esquerdo (Figura 1). O lugar em que o sujeito coloca seu desenho mostra sua orientação geral no ambiente e consigo próprio. A localização no lado esquerdo da folha está ligada a uma atitude mais regressiva e de busca de satisfação imediata dos impulsos, e no quadrante superior esquerdo a uma atitude passiva, de expectativa diante da vida e de desejo de retornar ao passado e/ou permanecer absorto na fantasia. Mostram, em conjunto, um predomínio do passado e da fantasia, reveladores da dificuldade de contato com a realidade e do medo de crescer.

Tamanho: houve leve predominância do tamanho médio (40%), ocupando entre 1/4 e 1/8 da folha (Figura 2), embora houvesse também desenhos grandes (30%), ocupando 1/2 da folha ou mais (Figura 3), e pequenos (30%), ocupando 1/16 da folha ou menos (Figura 1). O tamanho expressa a relação dinâmica do sujeito com seu ambiente, o modo como reage às pressões deste. Nesta amostra, uma parte das jovens suporta melhor a pressão, enquanto outra manifesta mais diretamente sentimentos de inadequação e inferioridade (desenhos pequenos), e outra ainda, de uma maneira defensiva a esses sentimentos, reage com fantasias compensatórias (desenhos grandes). Como tanto desenhos pequenos quanto grandes expressam, de certa maneira, sentimentos de inadequação, a maior parte dos desenhos revela a presença desses sentimentos.

 

 

Aspectos Estruturais dos Desenhos

Tema (dados do inquérito): a figura retratada é mais velha que elas, tendo de 14 a 25 anos, ou a sua idade. É solteira, não tem filhos, não trabalha, só estuda. É inteligente, tem boa saúde, é bonita ou normal de aparência. O que mais a irrita é quando fazem ou falam algo que ela não gosta: quando acham que não está bonita, dizem não a ela, riem da sua cara, “enchem o saco”, não dizem o que deve fazer, fazem gracinha, brigam, se irritam com ela, falam mal pelas costas. Ela gosta muito de sua família e muito, ou normal, médio, da escola. Seus maiores desejos são se casar e ter uma família. Deseja também ser bem sucedida na profissão, gosta de sua aparência.

As garotas se dividem entre as que gostariam de ser como a figura, as que não gostariam e as que gostariam em alguns aspectos. Vê-se nessas respostas, uma representação de uma jovem ideal, um pouco mais velha, solteira, estudante, inteligente, bonita, saudável, apegada à família, preocupada em casar, ter também uma família e, além disso, ser bem sucedida na profissão.

Tipo de imagem do corpo: a representação do corpo é bastante variada. Algumas desenham um corpo de menina, que não difere dos de meninas com menor idade (Figura 1). Oito delas (40%) já utilizam nos desenhos alguns elementos que permitem identificar a pessoa retratada com uma adolescente; o corpo ainda não tem formas definidas, mas o tipo de vestimenta e acessórios, como brincos, bolsas e anéis, é típico de jovens (Figura 2). Outras seis (30%) já desenham a mulher, com seios, cintura, quadris, o corpo já formado (Figura 3). Parecem representar os vários estágios da aquisição de um esquema corporal adulto. Alguns desenhos revelam o desejo de atrair sexualmente de uma maneira mais clara, com a presença de decotes e umbigos de fora (Figuras 3 e 4).

 

 

É interessante observar que os desenhos onde aparece maior definição das características sexuais femininas são de tamanho médio ou grande, ao contrário daqueles onde a figura retratada é mais infantil, em geral pequenos. Pode-se levantar a hipótese de que os primeiros são reveladores de maior contato com as mudanças sexuais, que alteram a relação com o mundo, promovendo maior expansão dos afetos e impulsos, e os segundos, de maior inibição da sexualidade.

Sombreamentos, correções e borraduras: a maior parte usou a borracha com freqüência para fazer correções nas figuras, que ocorreram em todas as partes do corpo, resultando em muitos traços apagados. Quatro desenhos (20%) da figura feminina tinham linhas reforçadas nos seios (Figura 4). Três (15%) apresentaram algum sombreamento.

Todos esses são indicadores de conflito. As correções e retoques estão ligados à insatisfação e à insegurança, às vezes à agressividade. As borraduras, resultantes das correções, à insegurança e desejo de perfeccionismo. Os reforços das linhas são sinais de ansiedade, possivelmente aqui ligados à emergência das características sexuais, já que apareceram no desenho dos seios. Os sombreamentos também são sinais de ansiedade.

Ordem das figuras: a maioria desenhou o próprio sexo em primeiro lugar, o que era esperado, indicando identificação com as características do próprio sexo. A figura feminina, em metade dos casos, é maior ou mais elaborada que a masculina. A figura mais elaborada é aquela à qual se atribui maior importância. Na amostra houve um predomínio da valorização do próprio sexo e/ou da figura materna.

Aspectos do Conteúdo

O conteúdo dos desenhos variou bastante, não tendo um padrão. Pode ser destacado que as figuras femininas tinham cabelo comprido ou médio, até os ombros. Não houve um padrão no tipo de cabelo: alguns são penteados, outros desordenados, alguns abundantes, outros escassos. Os cabelos estão ligados à vitalidade sexual e as diferenças encontradas talvez reflitam os diferentes estágios em que elas se encontram frente a esta questão.

Os desenhos têm, em geral, simetria nas partes, mas chama a atenção um número considerável de braços curtos e a presença de desenhos com mão para trás do corpo (cinco desenhos apresentam pelo menos uma mão nessa posição, como as Figuras 2 e 4), além de um desenho com a mão no bolso e outro onde não couberam os braços. Esses elementos indicam dificuldades no contato social. As mãos para trás indicariam a fuga desse contato ou, apenas uma mão, o conflito entre proximidade e distanciamento, expressão ou controle dos impulsos hostis. Sugerem também sentimentos de culpa em relação à emergência da sexualidade e das atividades masturbatórias.

Chama a atenção, também, a presença de desenhos (25%) onde os pés não aparecem, porque estão encobertos pela roupa ou o desenho não coube inteiro no papel (Figuras 3 e 4). Além destes, outros (15%) têm os pés com linhas reforçadas e outro, a linha tênue das pernas. Todos esses traços podem ser indicativos de dificuldades no equilíbrio e fragilidade egóica, já que os pés são a base de sustentação do corpo, podendo também estar relacionados com a dificuldade de apreensão do esquema corporal ou com a angústia de castração.

Muitos desenhos também possuem traços que podem ser interpretados como indicativos de dificuldades no controle dos impulsos: pernas grudadas no corpo, presença de cintos ou cintura fina (Figuras 2 e 4), braços colados no corpo, roupa cobrindo todo o corpo até o pé, gargantilha no pescoço e desenho só da cabeça. Totalizam 11 desenhos (55%) em que, de alguma maneira, aparece a dificuldade em lidar com os impulsos.

 

DISCUSSÃO

As garotas desse grupo encontram-se num momento de difícil definição para elas, algum lugar entre o final da infância e início da adolescência. O corpo está em transformação, a maioria já menstruou e algumas começam a ter suas primeiras experiências amorosas. Isso ainda não parece ser suficiente, no entanto, para que se reconheçam como adolescentes. A menarca, inclusive, ocorreu para a maioria das jovens desse grupo antes da idade apontada por Penna, Epps e Deluqui (1970), Berenstein (1995) e Kuczinski (1998), aos 11 ao invés de 12 anos. Este é um grupo muito pequeno e diferenciado cultural e economicamente, mas aponta para a necessidade de novas pesquisas sobre o tema.

De qualquer maneira, há uma falta de sincronicidade entre aspectos biológicos e psicológicos neste grupo. A menstruação parece tomar as garotas de surpresa, mesmo quando elas estão informadas a respeito. É um processo vivido isoladamente, não compartilhado com a família, nem com amigos. Não raro elas afirmaram que só mais tarde descobriram que amigas tinham ficado menstruadas na mesma época que elas. Estes dados confirmam as observações de Ruffino (1993), de que, na medida em que foram desaparecendo os ritos pubertários na sociedade moderna, os jovens passaram a fazer solitariamente o que antes ocorria no laço social.

Muitos autores, como Aberastury (1990), afirmam que a menarca é um acontecimento que, simbolicamente, assinala as transformações que ocorrem na identidade feminina, fazendo com que a maioria dos autores a coloque como marco da entrada na adolescência. No entanto, a menarca, nesse grupo, parece antecipar-se muitas vezes às transformações psicológicas e à entrada na adolescência, despertando constrangimento e incômodo. Não há expectativa pela chegada da menstruação como sinal da concretização da feminilidade, da definição sexual e da capacidade procriativa, como esta autora afirma. Conseqüentemente, nem perante o grupo, nem a si mesmas, tem o significado de ritual de passagem, parecendo apartada desse significado.

As garotas sentem, no entanto, que deixaram para trás um corpo e identidade infantis, e a nova identidade é buscada, embora faltem elementos externos, sociais, demarcadores desse momento em que vivem. A passagem da infância para um outro estágio não é clara e elas oscilam entre querer ir para a frente e voltar para trás.

Os desenhos revelam que elas estão muito atentas às desarmonias e assimetrias do que vêem e produzem, reflexos de uma percepção de si mesmas que, nesse momento, parece privilegiar os aspectos negativos, principalmente em relação à imagem corporal.

Percebe-se, no discurso, falas que apontam para uma insatisfação com o corpo. São dúvidas em relação à própria aparência, relatos sobre o incômodo de ter um peso um pouco acima do que desejariam ou a impressão geral de que para estar bonita é preciso estar produzida, vestida, maquiada, penteada, conforme os padrões sociais. São reveladores de uma fragmentação da imagem corporal e da dificuldade de enxergar-se de uma maneira mais realista.

Embora afirmem perceber a diferença entre o que é real e fictício, seus relatos estão impregnados desse modelo vigente de beleza divulgado pelos meios de comunicação, onde para ser belo é preciso ter um corpo com medidas definidas e utilizar os produtos de beleza oferecidos pela mídia, e seu efeito nesta idade talvez seja ainda mais devastador, pois o corpo está num momento de intensa transformação.

Confirmam as observações de Kehl (2001), de que o que chega até as pessoas pelos meios de comunicação é incorporado sem ser pensado, simbolizado, como se fosse algo que estivesse estado sempre ali. Isso é preocupante na medida em que a mídia difunde um modelo de aparência física extremamente idealizado, símbolo de status e poder, que é internalizado sem ser contestado. As entrevistas revelam que elas assistem muito à TV e recebem muitas informações pela Internet. Se, por um lado, afirmam saber que, na TV, é difícil saber o que é “verdadeiro”, mostram, em suas opiniões sobre si mesmas, um descontentamento com aquilo que não está de acordo com o corpo idealizado pela mídia. Ao colocarem no papel a imagem corporal, as dificuldades e angústias em relação ao próprio corpo ficam ainda mais evidentes em seus Desenhos da Figura Humana. De uma maneira geral, o grupo mostrou uma postura mais tranqüila nas entrevistas do que na execução dos desenhos, pois nestes apresentou-se mais crítico e insatisfeito com seu desempenho.

Pode-se pensar em várias hipóteses que, integradas, podem explicar essa dificuldade quanto ao desenho. Parece que o discurso verbal, nesse momento, está mais “sob controle” do que o desenho, e mais submetido, portanto, aos sistemas de defesa dos sujeitos. O desenhar, ao ser revelador dos aspectos inconscientes, que ficam ocultos no discurso, desperta mais ansiedade e angústia.

O que Calligaris (2000) diz sobre “olhar para o espelho e vê-lo vazio” pode ser transposto para a folha em branco, onde elas tinham que desenhar uma figura humana. As jovens olhavam para esta e pareciam não saber, num primeiro momento, o que colocar ali. Aos poucos iam tentando elaborar uma imagem, mas era um trabalho sofrido, com muitas críticas, apagamentos e sombreados, revelando ansiedade e angústia. Apesar do esforço, no final, quase todas conseguiram elaborar alguma imagem, com a exceção de uma jovem que não conseguiu desenhar uma pessoa de corpo inteiro, mas unicamente um rosto e mostrando a grande dificuldade de lidar com a imagem corporal.

Os desenhos, em parte pequenos, em parte grandes, também falam dessa dificuldade de se localizar no espaço, ora revelando uma postura inibida, de contenção dos impulsos (pequenos), ora uma expansão sem controle (grandes, às vezes, saindo do papel).

A dificuldade de situar-se nesse momento da vida também está presente nos desenhos no predomínio da localização destes no lado esquerdo da folha. O lado esquerdo da folha está ligado a um predomínio do passado e uma atitude regressiva e passiva diante da vida. Essa interpretação combina com os relatos sobre a “nostalgia” que grande parte diz sentir da infância, o medo de crescer e das responsabilidades, e a visão desse momento como de “espera”, nem criança, nem adolescente.

Uma outra forma de lidar com a angústia desse momento é se projetar no futuro, o que fazem ao descrever a figura retratada, na fase do inquérito, identificando-se com uma figura feminina mais velha e idealizada. Observa-se que, apesar de dizerem, em parte, que não gostariam de ser como a figura, esta traz muitos elementos de como elas se percebem ou do que idealizam. Em primeiro lugar, a figura retratada tem a idade que muitas acham ideal, um pouco mais velhas, entre 14 e 25 anos. Nesta idade imaginam que seus corpos já terão ou estarão próximos do formato adulto, trazendo menos angústias, e elas terão um pouco mais de liberdade para sair, ir a boates, festas, namorar. Por outro lado, continuam adolescentes, a maioria sem trabalhar e, portanto, sem a responsabilidade de cuidar da própria vida, que é algo que temem.

Percebe-se que a figura retratada também revela uma preocupação consciente, que já havia aparecido nas entrevistas, de se mostrar de acordo com o que é valorizado socialmente: ser bonita, saudável, inteligente, com muitos amigos e um dia se casar, ter filhos e ser bem sucedida na profissão. Nesse momento mostram maior apreensão daquilo que é esperado socialmente e desejam corresponder a esses padrões. Nesse sentido, a figura retratada já tem um corpo definido e é bonita e saudável, além de ter boas relações sociais, o que é valorizado. Muitas delas também têm profissões, em que a imagem física é muito valorizada, como modelos e atrizes.

Enquanto a figura retratada no inquérito possui todas essas qualidades, os desenhos são descritos, na realidade, como feios, desarmoniosos, mostrando uma autoimagem com características mais negativas. Então, enquanto a projeção no futuro revela a idealização, o presente é vivido como frustrante. Nesse sentido, os desenhos revelam o desejo de usar o corpo como objeto de sedução (decotes, umbigo à mostra), mas ao mesmo tempo apontam para a ansiedade em relação às transformações corporais (sombreados, reforços, apagamentos).

Além das distorções causadas pela idealização do corpo feminino, o grupo parece sofrer com as próprias transformações corporais da puberdade, causadoras de fantasias de deformidade e sensações de ser assimétrico, desarmonioso, meio “alienígena”.

Além da dificuldade de lidar consigo mesmo, há a dificuldade de lidar com os outros. A descrição da figura retratada também revela a tensão interna causada pelo receio de ser de alguma maneira rejeitada pelos outros, provavelmente projeção de suas inseguranças em relação à auto-imagem e dificuldade em relação ao controle dos impulsos.

Essas questões aparecem nos desenhos em alguns aspectos como não saber “onde colocar os pés e as mãos”, braços curtos, desenhos com mão para trás do corpo, mão no bolso, outro ainda sem os braços. Todos esses elementos indicam dificuldades no contato social, além de remeterem para a questão da sexualidade, possivelmente sentimentos de culpa em função de atividades masturbatórias.

Chama a atenção, também, a presença de desenhos onde os pés não aparecem, ou têm linhas tênues ou reforçadas, indicativos de dificuldades no equilíbrio e fragilidade, revelando que o equilíbrio egóico, está um tanto precário, sendo necessário um esforço para se manter “em pé” e conter todas essas inseguranças.

A visão desse momento como de passagem, de transição, é percebida também nos diferentes tipos de representação corporal, que vão de uma menina a uma mulher adulta. Essa oscilação nos DFH entre um padrão mais infantilizado e outro mais identificado com características sexuais adultas também apareceu nas pesquisas de Machover (1966) e Souza e Zanetti (2004), parecendo ser uma das características principais dessa idade de transição entre infância e adolescência. Junto com o advento dos traços sexuais femininos, todos esses trabalhos apontam para a existência de angústia, ansiedade e culpa relacionadas às transformações corporais e à emergência da sexualidade, esta última associada principalmente à ausência de mãos ou mãos para trás do corpo em muitos desenhos.

Os resultados no Rorschach confirmam a existência de angústias ligadas às transformações corporais (algumas respostas são muito claras a esse respeito como: “borboleta mutante, se arrasta ao invés de voar”, ou “monstro Frankestein”), sensações de falta de equilíbrio e proporcionalidade do corpo (“pezões e braços finos” ou “uma mão maior que a outra”) e atitudes negativas frente ao corpo e às funções corporais, que afetam a construção de uma auto-imagem mais positiva. A fragilidade egóica também aparece no alto número de respostas de baixa qualidade formal, denotando confusão entre fantasia e realidade.

Todas essas características aparecem nas entrevistas, desenhos e protocolos de Rorschach do grupo como um todo, mas quando nos detemos a examinar separadamente os desenhos com características mais sexuais dos outros percebemos que existem dois subgrupos com traços distintos dentro desse grupo.

Um deles é composto por nove garotas (45%) que fizeram desenhos predominantemente pequenos (seis) ou médios (três), com figuras humanas mais infantis, sem características sexuais femininas mais definidas. Relacionando esses desenhos com as entrevistas correspondentes, observa-se que grande parte das jovens (sete) se descreve ou se mostra mais tímida ou inibida no contato, com maiores dificuldades na comunicação. Os desenhos revelam maior inibição da sexualidade e maior dificuldade na introjeção das mudanças corporais. Um desenho característico desse grupo é mostrado na Figura 1.

Outro grupo é composto por 11 (55%) desenhos de tamanho médio (cinco) ou grande (seis), sendo que a maior parte deles (nove) já apresenta características sexuais femininas mais definidas: presença ou insinuação de seios, quadris ou cintura, além de maior preocupação ou riqueza no vestuário. Esses desenhos pertencem, em sua maioria (nove), às garotas que são mais expansivas e com mais facilidade de comunicação, que parecem mais em contato com sua sexualidade emergente e expressando mais seus impulsos, às vezes sem muita modulação (caso dos desenhos grandes). Confirma essa hipótese o fato deste grupo incluir mais jovens que já tiveram alguma experiência amorosa que no outro (seis neste grupo e apenas uma, no outro). Exemplos deste grupo são as Figuras 3 e 4.

É interessante verificar que este segundo grupo apresenta uma auto-imagem com aspectos mais negativos, mais sofrimento psíquico e mais dificuldades nos processos de pensamento e discriminação da realidade, dados que apareceram na análise dos testes de Rorschach.

Esses resultados indicam que uma parte do grupo está mais em crise do que o outro, cujos conflitos estão mais inibidos. Não é possível dizer que um grupo esteja mais amadurecido que o outro. Talvez representem formas diferentes de lidar com a sexualidade nessa etapa do desenvolvimento.

Como afirma Josselson (1973) em seu estudo sobre a formação da identidade em moças universitárias, há algumas maneiras pelas quais as jovens formam sua identidade, algumas com crises e outras sem elas, estas últimas com escolhas e compromissos mais ligados à infância e aos pais. Seria interessante entrevistar as participantes deste estudo e aplicar novamente o Desenho da Figura Humana daqui a alguns anos para perceber sua evolução.

 

CONCLUSÃO

Observa-se como, aos 12 anos, esse grupo sente o impacto das transformações corporais e busca uma nova adaptação ao mundo e uma reorganização da própria identidade. Nesse momento de transição, revela-se, talvez, uma das fases mais difíceis do desenvolvimento feminino, onde o corpo em transformação traz a angústia de não se saber exatamente quem é, o espaço que se ocupa e o quanto se é amado e aceito pelos outros.

O discurso verbal do grupo, repleto de ambivalências, reflete os diversos aspectos da idade que vivem, com lutos, crises e profundas transformações no plano físico e psicológico.

Os desenhos devem ser entendidos, nesse contexto, assinalando os conflitos internos, mostrando um certo grau de desorganização psíquica, além de sinais de ansiedade e angústia.

A auto-imagem, neste momento, tem características mais negativas, fruto da dificuldade de apreensão dessa imagem corporal em transformação, mas também de um meio social que impõe padrões muito idealizados de beleza.

Sabe-se que as mudanças corporais trazem distorções na auto-imagem e que cada época tem seus padrões de beleza, mas talvez eles nunca tenham sido tão rígidos quanto agora, promovendo enorme distância entre o corpo idealizado e o corpo vivido, empobrecendo os sujeitos psiquicamente. Junto a isso, há a solidão e a dificuldade de compartilhar essas experiências com os outros.

É importante ressaltar que o grupo apresenta recursos importantes para lidar com essas transformações. É composto por jovens que possuem capacidade de introspecção, imaginação, criatividade, capacidade de elaboração do pensamento e recursos para expressar sua afetividade. Têm boas imagos paternas e a certeza de serem um grupo privilegiado, afetiva, cultural e economicamente. São recursos que podem conduzir a uma adaptação gradual às mudanças que sofrem e ao resgate de uma auto-imagem mais adequada, fruto de uma percepção mais realista de si mesmas e do mundo. No entanto, é necessário que todos aqueles que acompanham o desenvolvimento dessas jovens estejam atentos para as características dessa fase e dêem um suporte para que o desenvolvimento delas ocorra com menos angústia e sofrimento. É também função de todos lutar por uma sociedade mais inclusiva, onde o conceito de beleza seja mais amplo, não representado apenas por uma parcela mínima da população

 

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Recebido em 10/05/05
Revisto em 01/12/05
Aceito em 05/12/05

 

 

1 Este artigo é uma parte modificada do livro da priemira autora: “A identidade feminina no início da adolescência”(2005), publicado pela Casa do Psicólogo/Fapesp, e baseado na Dissertação de Mestrado: “A organização da identidade feminina no início da adolescência”, defendida no IPUSP sob orientação da Prof. Audrey S. L. de Souza. Endereços para correspondência: Audrey Setton Lopes de Souza - Rua Fradique Coutinho, 1945, São Paulo - SP. CEP: 05416-012, Fone: 3813 2131; E-mail: asetton@uol.com.br. Viviane Namur Campagna - Av Prof. Alfonso Bovero, 1057, cjto 117, São Paulo - SP. CEP: 05019-011, Fone: 3872 0611; E-mail: viviane@ajato.com.br

 

 

ANEXO I

APLICAÇÃO DO DESENHO DA FIGURA HUMANA

É dada ao sujeito uma folha de papel sulfite na posição vertical, lápis preto nº 2 e borracha, e as seguintes instruções: “Agora gostaria que você desenhasse uma pessoa inteira. Pode fazer como você quiser, só não pode ser desenho de palitinhos.” Às perguntas, é respondido “como quiser”. Nas omissões, pode-se insistir para que o sujeito termine o desenho, mas anotar-se-á o fato. É anotada sua forma de execução.

Após ser completado o desenho, este é numerado e é dada uma outra folha de papel sulfite, também na posição vertical, e as instruções: “Agora desenhe uma figura humana de outro sexo”; “um homem” (se o 1º desenho foi do sexo feminino); “uma mulher” (no caso contrário).

Após a execução dos dois desenhos, é feito um inquérito a respeito da figura que representa o próprio sexo.

Instruções do inquérito:

“Conte uma história sobre esta figura como se ela fosse o personagem de uma novela ou uma peça, respondendo às seguintes perguntas sobre ela, da melhor maneira que você puder:”

1. O que ela está fazendo?

2. Qual é a idade dela?

3. Ela é casada?

4. Tem filhos? Meninos ou meninas?

5. Que trabalho ela faz?

6. Em que ano está na escola?

7. O que ela quer ser?

8. Ela é inteligente?

9. Tem boa saúde?

10. É bonita?

11. Qual é a parte mais bonita do seu corpo?

12. Qual é a parte mais feia do seu corpo?

13. Ela é muito feliz?

14. O que a preocupa?

15. Quando ela se irrita?

16. Que sinais de nervosismo ela dá?

17. Quais são os seus três piores hábitos?

18. Quais são os seus três melhores hábitos?

19. Tem muitos amigos? Mais velhos ou mais novos?

20. O que as pessoas dizem dela?

21. Quanto ela gosta de sua família?

22. Quanto ela gosta da escola?

23. Ela sai muito com meninas?

24. Como ela se diverte?

25. Ela se casará? Com que idade?

26. Com que tipo de rapaz ela irá se casar?

27. Quais são seus três maiores desejos?

28. Quem ela lembra?

29. Você gostaria de ser como ela?

30. Ela gosta de sua aparência? Ela se perturba quando é observada?

31. Tem namorado?

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