RESENHA

Ética para meus pais

Ethic for my parents

Fraulein Vidigal de Paula

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

La Taille, Yves (2011). Ética para meus pais. São Paulo: Papirus, 272 p.

Já consagrado pesquisador e escritor na área da Psicologia e do desenvolvimento moral, o autor deste livro faz sua estréia muito bem-sucedida como escritor de ficção. Portanto, o leitor - habituado aos seus trabalhos ou não - não deve esperar encontrar um tratado da moral e dos bons costumes ou um manual de boas maneiras dos filhos para os pais. Porém, se o interesse é ler um bom livro e dar boas risadas, então recomendo. Engraçado em muitos momentos, as "lições" constrangedoras aos pais são deflagradas pelo humor irônico da adolescente Júlia e pela narrativa inocente de seu irmão e protagonista do livro, o menino Thomas. Quem já leu as estórias do "Petit Nicolas", sabe do que estou falando.

O livro é narrado por Thomas, um menino de 9 ou 10 anos, que relata situações cotidianas vividas na escola ou em sua família e ninguém é poupado - pais, professores, educadores, psicólogos, psicanalistas, avós e companhia. E quem sinaliza e desconstrói com humor inteligente o discurso adulto, muitas vezes inconsistente com suas ações, é sua irmã mais velha, a Júlia, uma adolescente de 16 anos. Dá para imaginar as mentes e faces em fúria de pais, avós e diretores de escola colocados em tal situação de desconforto. Há momentos sublimes como as emoções e desafios vividos por uma professora em início de carreira, a grande vitória não violenta de um menino, vítima de intimidação, sobre seus agressores habituais, ou situações bem pouco prováveis, mas hilárias, como a palestra de um parapsicólogo na inauguração do auditório de uma escola católica tradicional. Ou, às vezes, ficamos com aquela sensação de "como não pensei nisto antes" e, neste caso, claro que não vou ilustrar aqui, senão perde a graça da surpresa.

Há passagens que envolvem apenas as crianças, deflagrando sua inteligência e capacidade de pensar, se organizar, resolver problemas e conflitos interpessoais. Capacidade, boas intenções e inocência, essas que muitas vezes são subestimadas ou desacreditadas por nós adultos, pais e profissionais da educação. As crianças e jovens, apesar dos adultos, parecem ser a salvação da lavoura. Boa parte deles é inteligente e são eticamente consistentes mesmo na elaboração de seus mirabolantes planos para testar sua professora ou arrancar uma risada de uma pessoa muitíssimo séria. Claro que os "anjinhos" também "aprontam" no livro, mas não deixa de ser um voto de fé na meninada.

Boa parte das situações nas quais se desenrola a narrativa são muito típicas daquelas vividas por famílias de classe média brasileiras, e remetem a um pouco da história social econômica e psicológica dos anos 60 do século vinte para cá. Mas certamente têm muito de universal. Portanto, não se surpreenda se, de repente, der risadas de si mesmo, ou se flagrar reconhecendo alguém próximo representado em alguma das cenas.

Resumindo, Ética para meus pais é um livro de leitura leve e super agradável, recomendado para o público em geral. Para psicólogos, pais e educadores a obra pode ser tomada também como um preâmbulo à leitura dos outros livros mais acadêmicos do Prof. Yves. E para quem já está familiarizado com seu pensamento e produção científica sobre moral e ética, desenvolvimento psicológico, contemporaneidade e educação, poderá reconhecê-lo aqui neste livro. Sua inconformidade e senso crítico também, como por exemplo, a escravidão ao uso excessivo e muitas vezes desnecessário do celular. Confesso que gostaria mais de ler o livro em voz alta para vocês do que convidá-los à leitura com esta resenha. "Oi, e você, está vivo? Claro, claro".

Recebido em 28/06/11
Aceito em 30/06/11

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