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Interamerican Journal of Psychology
versão impressa ISSN 0034-9690
Interam. j. psychol. v.40 n.2 Porto Alegre ago. 2006
ARTÍCULOS
Experimentação de fumo em estudantes do ensino fundamental e médio de área urbana na região sul do Brasil
Tobacco experimentation in students from elementary and high school in urban residential area in south regions of Brazil
Adriano Pasqualotti1 ; Ana M. B. Migott; Elizabeth N. Maciel; Mirna M. N. Branco; Rejane M. A. de Carvalho; Tatiane da S. Dal Pizzol; Carolina T. Gehlen; Daiane A. Solda; Marina Gressler
Universidade de Passo Fundo, Brasil
RESUMO
O fumo é droga utilizada mundialmente e considerada pela Organização Mundial de Saúde (1985) como a principal causa de enfermidades evitáveis e incapacitantes. Estudo realizado com 5.057 alunos de escolas públicas e privadas que preencheram questionário auto-aplicável e anônimo. A prevalência da experimentação mostrou-se alta entre os escolares 36,2% (1827). A faixa etária de experimentação foi de 14 a 16 anos, perfazendo um total de 53,6% (936). Referiram já ter experimentado essa substância 1.732 alunos sendo 54,4% (943) estudantes do sexo feminino e 45,6% (789) do sexo masculino. O estudo demonstrou inicio precoce do comportamento para o tabagismo, especialmente quando as relações familiares estavam fragilizadas. Os resultados indicaram a necessidade de ações conjuntas com envolvimento da escola, família e sociedade, objetivando a prevenção da experimentação do fumo e conseqüentemente do uso e abuso. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo RS, Brasil.
Palavras-chave: Fumo, Estudantes do ensino médio, Estudantes do ensino fundamental.
ABSTRACT
The tobacco is a drug used globally and considered by the World Organization of Health (1985) as the main cause of avoidable illnesses and disabled. This study was accomplished with 5.057 students of public and private schools that filled out solemnity-applicable and anonymous questionnaire. The prevalence of the experimentation was shown elevated among the students 36,2% (1827). The students age group which more tried tobacco was from 14 to 16 years, completing a total of 53,6% (936). This substance has been tried among 1732 students being 54,4% (943) female students and 45,6% (789) male. The study demonstrated a precocious beginning of the behavior for the tobaccoism, especially when the family relationships were fragile. The pointed results indicated the need of united actions with involvement of the school, family and society, aiming at the prevention of the experimentation of the tobacco and consequently of its use and abuse. The study was approved by the Committee of Ethics of Passo Fundo University, Passo Fundo RS, Brazil.
Keywords: Tobacco smoking, High school students, Elementary school students.
O fumo é uma substância psicoativa lícita, amplamente utilizada em todo o mundo e é considerada pela OMS a principal causa de enfermidades evitáveis e incapacitantes. No século XXI estima-se que será a primeira causa de morte evitável no mundo (Malcon, 2003). Uma das maiores metas da OMS, nas questões que envolvem a área de saúde pública é, a busca da prevenção e do controle do ato tabágico.
Segundo Pinto, Satander, Satander, e Weitz (1994), pesquisas realizadas nos EUA e na América Latina mostram a iniciação para experimentação de fumo em idades muito precoces. Essa realidade é preocupante como mostra o estudo realizado em Porto Alegre, Brasil, onde o consumo de fumo por estudantes da rede escolar pública cresceu de 22% para 53% nos últimos 15 anos (Kessler et al., 2003).
No I Levantamento Domiciliar Sobre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil (Carlini, Galduróz, & Noto, 2002), que incluiu o Rio Grande do Sul (Porto Alegre, Canoas, Santa Maria e Viamão), os resultados mostraram que a experimentação de fumo se manteve em 44,1% e a dependência tabágica em 12,8% , conforme estudos realizados por esse mesmo órgão, nos anos de 1987, 1989, 1993 e 1997. No geral, a experimentação de fumo em Porto Alegre foi de 33,5% .
Estudos realizados EUA apontam que aproximadamente 64% dos estudantes que freqüentam a escola primária e secundária experimentam fumo (Pierce et al., 1991; US Departament of Health and Human Services, 1998). Em Buenos Aires, a experimentação entre estudantes ficou na razão de 20,2% (Bolzán & Peleteiro, 2003). Nesse sentindo, trabalhos que possam contribuir para implementação de políticas de promoção à saúde e de prevenção às doenças devem ser valorizados tanto em países desenvolvidos e em desenvolvimento para atingir a longevidade, priorizando a qualidade de vida, seja individual e/ou coletiva.
Para a América Latina, o problema das drogas constituise em um complexo e desafiador fator de barreira para o desenvolvimento, seja nos aspectos éticos, de saúde pública, na política, educacionais, entre outros. As crianças e os adolescentes estão mais susceptíveis ao contato com substâncias psicoativas, incluindo-se aí o fumo, por estarem passando por uma fase do ciclo vital em que a curiosidade, a imitação como forma de manifestação de independência, a vontade de sentir novas sensações, de vivenciar novas experiências e de auto-afirmar sua identidade, estão muito presentes (Tavares, Béria, & Lima, 2001). Esses são fatores que podem tornar este período de vida vulnerável à exposição a estas substâncias (Marques, Thomasetto, & Migott, 2002). Entretanto, é factual que a experimentação de fumo é um risco para a saúde do fumante, independentemente da faixa etária e que a longo prazo, seu uso e abuso poderá ser responsável por inúmeras doenças e perda de anos de vida.
Os efeitos negativos do ato tabágico são conhecidos e apresentam uma elevada faixa de mortalidade que se relaciona com ampla gama de enfermidades. Entre as de maior incidência na maioria da população jovem e adulta, podem ser citadas as infecções respiratórias, o comprometimento bucal em níveis variados, as neoplasias broncopulmonares, as enfermidades pulmonares obstrutivas crônicas, as cardiopatias isquêmicas, as enfermidades cérebrovasculares, entre outras (Micó, Moreno, Rocca, Rojas, & Ortega, 2000). Essas alterações na saúde podem ser decorrentes de diversos componentes constituintes do cigarro e sua fumaça, que somam mais de quatro mil substâncias nocivas ao organismo humano. De todas essas, a nicotina é um dos mais significativos elementos de causa de fumo-dependência dos usuários (Brasil, 2003).
Segundo Silber e Souza (1998) os adolescentes têm referido que experimentam fumo por pressão dos companheiros, uso por parte dos familiares, estresse, aborrecimento, rebelião, ansiedade, depressão, redução da auto-estima. Esses autores ainda referem que todos os adolescentes se encontram em situações de risco, sendo que os fatores de maior risco são a história familiar, o uso de substâncias psicoativas por parte dos pais e certas características individuais.
O presente estudo mostra a prevalência da experimentação de fumo em escolares da rede de ensino público e privado na cidade de Passo Fundo e fatores sócio-demográficos associados. Utilizou-se a definição da OMS que classifica o experimentador como sendo aquele que fez uso de qualquer droga pelo menos uma vez na vida - uso na vida (Galduróz, Noto, & Carlini, 1997). Estudos desta natureza são fundamentais para realizar diagnósticos em diferentes realidades e desta forma, embasar medidas de prevenção e proteção das crianças e adolescentes em relação à experimentação e conseqüente uso e abuso de fumo.
Método
O estudo foi realizado na cidade de Passo Fundo, Brasil, que conta com uma população urbana de aproximadamente 180 mil habitantes. Nesta pesquisa, realizada no período de março de 2001 a dezembro de 2002, utilizou-se um delineamento transversal. Participaram 5.057 estudantes, a partir de um universo de 44.784 alunos, com base no ano de 2001, do 5º (ensino fundamental) ao 11º ano (ensino médio) de estudo, de 67 escolas públicas e privadas existentes no município, sendo 26 da rede estadual, 31 da municipal e 10 da rede particular de ensino.
A prevalência elevada da experimentação de fumo era previamente esperada pelos pesquisadores, uma vez que o fumo é uma droga lícita aceita tanto nacional quanto internacionalmente, sem controle de venda. Vários estudos foram realizados em grandes centros no Brasil e países do exterior e observaram esta mesma realidade, porém, na cidade do estudo, carecia deste tipo de pesquisa e dados, até para confirmar esses índices.
A amostra randomizada foi calculada com um nível de significância de 5% e admitindo um erro de investigação de 3%. A amostragem foi aleatória, estratificada por série, sexo e escola. Utilizou-se questionário sobre o uso de drogas elaborado e validado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID (Galduroz et al., 1997). Inicialmente, este instrumento passou por um teste piloto para verificar as adequações necessárias à realidade do local do estudo.
De modo a atender os preceitos éticos relacionados com pesquisas que envolvem seres humanos, o projeto foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo. Os pais ou responsáveis pelos estudantes assinaram um termo de consentimento informado. Foram excluídos da amostra, os estudantes menores de 18 anos de idade que não receberam autorização dos pais ou responsáveis, e aqueles que não aceitaram voluntariamente participar do estudo.
O questionário, auto-aplicável e anônimo, foi preenchido coletivamente pelos próprios alunos em sala de aula, sem a presença dos professores da escola. Esse procedimento foi realizado em período escolar letivo e os instrumentos recolhidos no mesmo dia pelos pesquisadores, em urnas, para garantir o sigilo e o anonimato dos participantes. O instrumento continha 41 questões fechadas e semi-abertas, uma aberta de preenchimento voluntário e uma de controle com dados fictícios que se respondida indicava a anulação do instrumento.
As variáveis estudadas foram sexo, idade, uso de cigarro, grau de escolaridade dos pais ou responsáveis, defasagem escolar, relacionamento entre os pais e relacionamento dos pais com os filhos, percepção da autoridade paterna e materna, tipo e localização da escola. Para o uso de fumo foram investigadas as seguintes categorias, de acordo com a classificação da OMS: a) uso na vida: pelo menos uma vez; b) uso no ano: quando utiliza pelo menos uma vez nos doze meses antecedentes a pesquisa; c) uso no mês: quando usa pelo menos uma vez nos trinta dias antecedentes a pesquisa; d) uso freqüente: quando usa seis ou mais vezes nos trinta dias que antecederam a pesquisa; e) uso pesado: quando usa vinte ou mais vezes nos trinta dias que antecederam a pesquisa. Para avaliar o relacionamento entre os pais e dos pais com os filhos foi utilizada uma escala de valores como ótimo, bom, regular, ruim, péssimo e não tem contato. A percepção da autoridade paterna e materna foi avaliada através da escala de valores como muito autoritário(a), um pouco autoritário(a), moderado(a), liberal e muito liberal, constante na metodologia do CEBRID (Galduroz et al., 1997).
Para analisar associações entre as variáveis categóricas mutuamente excludentes utilizou-se o qui-quadrado ou o teste exato de Fischer, para um nível de significância de 5% . Para a estruturação do banco de dados utilizou-se o aplicativo Epiinfo v.6.04 e para as análises o programa estatístico SPSS v.11.0 for Windows.
Resultados
Do total de 5.057 participantes, foram analisados 4.980 questionários perfazendo um total de 99% dos instrumentos. Dos 77 excluídos, 38 deve-se a idade dos estudantes estar acima de 23 anos, 26 pelos sujeitos não terem respondido as questões referentes ao uso de fumo e 13 tiveram respostas afirmativas na questão sobre o uso de drogas fictícias.
A prevalência da experimentação mostrou-se alta entre os escolares 36,2% (1.827), com idade de início variando entre cinco e 22 anos (M=12,96; DP=2,21). No que se refere ao consumo diário (número de cigarros fumados por dia), a quantidade de cigarros consumida foi maior no sexo masculino (M=8,36; IC=[7,43; 9,37]) e nas escolas particulares (M=8,38; IC=[7,24; 8,26]).
A Tabela 1 mostra a distribuição dos alunos conforme sexo, faixa etária e defasagem escolar que experimentaram fumo. Foram estudados 49,2% (2.333) alunos do sexo masculino e 50,8% (2.408) do sexo feminino. Referiram já ter experimentado fumo 1.732 alunos, sendo 54,4% (943) do sexo feminino e 45,6% (789) do sexo masculino. A faixa etária dos alunos que mais experimentou fumo foi de 14 a 16 anos, perfazendo um total de 53,6% (936). Na faixa etária mais precoce, de 11 a 13 anos, a experimentação ocorreu com 19,4% (338) dos alunos. De um total de 4.602 alunos, 2.502 apresentaram defasagem escolar de no mínimo um ano. Dos que apresentaram defasagem, 44,4% (747) experimentaram fumo e daqueles que não tiveram defasagem, 55,6% (934) referiram ter experimentado. Para analisar a relação de dependência entre sexo, faixa etária e defasagem escolar com experimentação de fumo, utilizou-se o qui-quadrado. Em todos os cruzamentos realizados ocorreu um p<0,000, indicando que há relação entre as variáveis estudadas.
A Tabela 2 mostra a distribuição dos alunos que experimentaram fumo segundo tipo e localização da escola. A maioria dos alunos que participou do estudo pertencia à escola pública, 76,9% (3.667) e 23,1% (1.102) estudavam em escolas particulares. Das escolas da rede pública, 80,6% (1.407) alunos referiram ter experimentado fumo alguma vez na vida enquanto que 19,4% (338) dos estudantes da rede privada de ensino experimentaram essa substância. Dos 3.953 alunos que estudavam em escolas localizadas no centro ou nos bairros, 1.497 referiram ter experimentado fumo. Destes, 35,5% (532) pertenciam a escolas localizadas no centro da cidade e 64,5% (965) estudavam em escolas localizadas nos bairros. Para analisar a relação de dependência entre tipo e localização da escola com experimentação de fumo utilizou-se o qui-quadrado. Em todos os cruzamentos realizados ocorreu um p=0,001, indicando que há relação entre as variáveis estudadas.
A Tabela 3 mostra a distribuição dos alunos que experimentaram fumo conforme o relacionamento com o pai e com a mãe, considerando as categorias ótimo ou péssimo. Responderam a questão relacionada a variável relacionamento com o pai, 2.459 alunos. Observou-se que 97,2% (2.390) referiram ter um relacionamento com o pai considerado ótimo, sendo que 72,7% (1.738) não experimentaram fumo. Informaram ter um relacionamento considerado péssimo com o pai, 69 alunos, sendo que 66,6% (46) referiram ter experimentado. Quanto a variável relacionamento com a mãe, 3.231 alunos responderam essa questão. Referiram ter um ótimo relacionamento, 98,9% (3197) e desses 69,2% (2.213) responderam não ter experimentado e 30,7% (984) deram resposta afirmativa para a experimentação. Informaram ter um relacionamento considerado péssimo com a mãe, 34 alunos, sendo que 28 experimentaram fumo e seis estudantes referiram não ter experimentado. Para analisar a relação de dependência entre o relacionamento com o pai ou com a mãe com experimentação de fumo utilizou-se o quiquadrado. Em todos os cruzamentos realizados ocorreu um p<0,000, indicando que há relação entre as variáveis estudadas.
A Tabela 4 mostra a distribuição dos alunos que experimentaram fumo de acordo com as variáveis, nível de escolaridade dos pais ou responsáveis, autoridade paterna, autoridade materna e relacionamento entre pais ou responsáveis. Em relação ao nível de escolaridade dos pais ou responsáveis, 3.585 alunos responderam essa questão. Desses, 59,1% (2.120) referiram que os pais tinham o ensino fundamental, 22,2% (797) ensino superior, 15,4% (552) ensino médio e 3,2% (116) nunca estudaram. Do total dos alunos que responderam afirmativamente à experimentação do fumo, 54,1% (656) dos pais tinham o ensino médio e superior. O estudo mostrou que dos 1.203 alunos que responderam a variável autoridade paterna, 92,4% (1.112) referiram que o pai era autoritário e 7,6% (91) viam o pai como liberal. No que se refere a variável autoridade materna, 1.881 estudantes responderam a questão, sendo que 89,3% (1.055) desses alunos viam a mãe como autoritária e 10,7% (126) como liberal. Quando a mãe era vista como autoritária, 68,1% (719) referiram não ter experimentado fumo, enquanto que 31,8% (336) informaram ter experimentado. Referindo-se ao relacionamento entre pais ou responsáveis, 1.819 estudantes responderam a questão, sendo que 92,5% (1.683) referiram o relacionamento como ótimo e 7,5% (136), como ruim. Nessa variável, 70,9% (1.194) estudantes que consideraram o relacionamento como ótimo, referiram não ter experimentado fumo. Quando o relacionamento era considerado ruim, 53% (72) alunos referiram ter experimentado e 47% (64) não experimentaram. Utilizou-se o qui-quadrado para analisar a relação de dependência entre o nível de escolaridade dos pais ou dos responsáveis, autoridade paterna, autoridade materna e relacionamento entre pais ou entre responsáveis com experimentação de fumo. Em todos os cruzamentos realizados ocorreu um p<0,000, indicando que há relação entre as variáveis estudadas, exceto a que se refere à caracterização da percepção do aluno em relação à autoridade paterna.
Discussão
A prevalência global do tabagismo nos escolares passofundenses foi de 36,2%, maior que a observada por Horta, Calheiros, Pinheiro, Tomasi, e Amaral (2001) em estudo realizado em Pelotas, Brasil, que mostra uma prevalência entre os adolescentes de 11,1%. Nesse mesmo estudo, os autores compararam os resultados com os trabalhos realizados por Muza, Bettiol, Muccillo, e Barbieri (1997) em Ribeirão Preto, Brasil, que apontou uma prevalência de 15,8%. Da mesma forma, a prevalência de experimentação de fumo em escolares da cidade de Salvador, Brasil, foi apontado por Neto e Cruz (2003) como sendo de 9,6%. No Brasil, de acordo com dados obtidos por Carlini et al. (2002), em levantamento domiciliar sobre uso de drogas psicotrópicas no Brasil, a prevalência do tabagismo na faixa etária de 12 a 17 anos foi de 15,7%.
Os índices encontrados nesse estudo (36%) revelaram uma experimentação de fumo muito acima de outros estudos epidemiológicos do mesmo tipo (Bolzán & Peleteiro, 2003; Carlini et al., 2002; Horta et al., 2001; Malcon, 2003). Essa prevalência chamou atenção dos autores, tendo em vista que Passo Fundo não é uma cidade produtora e industrializadora de fumo. Porém, pela sua localização geográfica torna-se um corredor de passagem para a entrada de fumo e outras drogas, advindas de regiões fumageras e advindas de contrabando. Essa realidade pode estar influenciando a experimentação elevada e precoce, particularmente de fumo.
Este estudo mostrou o inicio precoce do comportamento para o tabagismo, com idade de início variando entre cinco e 22 anos (M=12,96; DP=2,21) e sendo mais precoce nas escolas da periferia (M=12,25; IC=[11,98; 12,55]). Esses resultados estão de acordo com os estudos de Malcon, Menezes e Chatkin (2003), que referem que a maioria dos adolescentes (55%), na América do Sul, começou a fumar entre 13 e 15 anos, e 22,5% entre sete e 12 anos. Neto e Cruz (2003), também corroboram com esses resultados quando mostram em seus estudos, que a média de idade da experimentação do fumo entre os adolescentes, com idade entre seis anos e 19 anos, foi de 13,8 com um desviopadrão de 2,0 anos. Em estudos realizados por Bolzán e Peleteiro (2003) mostram que a média de idade da experiência com o fumo nesta população foi de 12 anos.
A prevalência da experimentação do fumo em relação ao sexo foi mais elevada no feminino contrapondo os resultados dos estudos de Neto e Cruz (2003), embora as pesquisas de Horta et al. (2001) demonstraram não ter diferença na prevalência da experimentação do fumo de acordo com o gênero. Talvez esses dados possam estar desvelando uma nova tendência para experimentação em relação ao sexo. Nesse sentido, caberiam outros estudos para verificar os resultados encontrados nesta pesquisa.
Na amostra estudada, a quantidade de cigarros consumidos por dia foi mais elevada no sexo masculino e nas escolas da rede particular de ensino, com resultados semelhantes aos estudos de Horta et al. (2001), contrapondo os estudos de Bolzán e Peleteiro (2003). Por outro lado, constatou-se que a idade mais precoce para o comportamento tabágico ocorreu nas escolas públicas. Nesse estudo, observou-se que a idade de inicio para o ato tabágico ocorreu mais precocemente quando os jovens não apresentavam defasagem escolar.
A prevalência manteve-se elevada para a idade de inicio precoce ao ato tabágico quando as estruturas familiares mostravam um relacionamento ruim entres os pais ou quando a forma de educar os filhos foi considerada liberal. O meio social e familiar é um fator tencionador para o uso de fumo, visto que, entre as principais motivações encontradas na literatura, para o jovem começar a fumar, estão à vontade de se afirmar como adulto, sua rebeldia e a rejeição dos valores e regras sociais. Nessa perspectiva, a família pode influenciar o uso de substâncias psicoativas (Marques, Thomasetto, & Migott, 2002).
Levando-se em consideração a vulnerabilidade e susceptibilidade dos jovens às drogas, ações conjuntas que envolveriam a família, a escola e a sociedade, devem ser implementadas com o objetivo de prevenir o início do ato tabágico, bem como orientar e auxiliar o abandono do mesmo. Nesse âmbito, medidas podem ser realizadas como a promoção de maior diálogo entre os adolescentes e os pais, o planejamento e implementação de programas escolares que promovam a autoestima e a valorização da vida e uma maior e melhor orientação e auxílio por parte dos profissionais da área da saúde e da educação.
Referências
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Received 08/09/2005
Accepted 25/02/2006
1 Endereço: Universidade de Passo Fundo. Instituto de Ciências Biológicas. GROESP - Grupo de Estudos sobre Substâncias Psicoativas. Campus I - Km 171 - BR 285, Bairro São José, Caixa Postal 611, 99001-970, Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: pasqualotti@upf.br.
Adriano Pasqualotti. Professor do Instituto de Ciências Exatas e Geociências da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo RS, Brasil. Pesquisador do GROESP Grupo de Estudos sobre Substâncias Psicoativas.
Ana M. B. Migott, Rejane M. A. de Carvalho, & Tatiane da S. Dal Pizzol. Professoras do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo/RS, Brasil. Pesquisadoras do GROESP Grupo de Estudos sobre Substâncias Psicoativas.
Elizabeth N. Maciel & Mirna M. N. Branco. Professoras do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo RS, Brasil. Pesquisador do GROESP Grupo de Estudos sobre Substâncias Psicoativas.
Carolina T. Gehlen & Marina Gressler.. Acadêmicas do curso de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo RS, Brasil. Pesquisadoras do GROESP Grupo de Estudos sobre Substâncias Psicoativas.
Daiane A. Solda. Acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo RS, Brasil. Pesquisador do GROESP Grupo de Estudos sobre Substâncias Psicoativas.