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Estudos de Psicanálise
versão impressa ISSN 0100-3437
Estud. psicanal. no.48 Belo Horizonte jul./dez. 2017
PAINEL TEMÁTICO - SEXUALIDADE, GÊNERO E IDENTIDADE
Psicanálise, sexo e gênero1
Psychoanalysis, sex and gender
Paulo Roberto Ceccarelli
I Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
II Universidade Federal de Minas Gerais
III Universidade Federal do Pará
IV Círculo Psicanalítico de Minas Gerais
RESUMO
Segundo um autor, para se retomar, na atualidade, a dimensão da ruptura freudiana é necessário fazer um retorno a Freud em Freud. Isto é, uma releitura do texto freudiano para evitar atribuir a Freud coisas que ele não disse. A partir daí, e apoiado sobretudo nas teorias de gênero e a teoria Queer, procurar compreender as novas possibilidades de subjetivação e de construções identitárias, quando as referências do feminino passaram a ser apresentadas a partir de outros parâmetros. Avaliar também as mudanças nas formas discursivas do masculino e do feminino que nos obrigam a reavaliar certos pressupostos psicanalíticos tais como as construções identitárias, o binômio fálico-castrado a chamada “escolha sexual”, abrindo novas possibilidades de diversidades e de singularidades.
Palavras-chave: Psicanálise, Sexo, Gênero, Mudanças simbólicas.
ABSTRACT
According to one author, in order to go back to the dimension of the Freudian rupture it is necessary to make a return to Freud in Freud. That is, a re-reading of Freudian text to avoid attributing to Freud things that he did not say. From then on and based mainly on theories of gender and the Queer Theory, we try to understand the new possibilities of subjectivation, and constructions of identity, when the references of the feminine began to be presented from other parameters. We also evaluate the changes in the masculine and feminine discursive forms that force us to reevaluating certain psychoanalytic assumptions such as identity constructions, the phallic-castrated binomial called “sexual choice,” opening up new possibilities for diversity and singularities.
Keywords: Psychoanalysis, Sex, Gender, Symbolic changes.
Há trabalho suficiente
para se fazer nos próximos cem anos –
nos quais nossa civilização terá de aprender
a conviver com as reivindicações
de nossa sexualidade.
FREUD, [1898] 1976, p. 305.
Introdução
A proposta deste congresso – Assim caminha a psicanálise: indagações do século XXI – apresentou-se como uma oportunidade para refletir sobre um aspecto da psicanálise que há muito venho observando.
Nos inúmeros eventos de psicanálise de que tenho participado nos últimos anos, chama-me a atenção um certo ‘retrocesso intelectual’, o que fez com que alguns psicanalistas tivessem se colocado como guardiões de uma ordem social supostamente imutável, outorgando-se o poder de deliberar sobre o normal e o patológico, em detrimento da posição revolucionária, e libertadora, de normas culturais opressivas, sobretudo no que diz respeito à moral sexual, perpetrada por Freud.
Para debater minha hipótese, basta um breve retorno a Freud, não no sentido de reler textos freudianos e, nessa ‘releitura’ atribuir a Freud coisas que ele não disse (CECCARELLI, 2007), mas, antes, de retomar os pontos da ruptura freudiana que mudaram radicalmente o modo de conceber o humano e ver a quantas anda essa ruptura na atualidade.
Para a sexologia do final do século XIX e início do XX, a reprodução era o objetivo exclusivo da sexualidade humana. No célebre Psicopatia sexual, de Von Krafft-Ebing, lemos logo nas primeiras linhas: “[...] a perenidade da raça humana é garantida por um poderoso instinto natural (Naturtrieb), que exige imperiosamente ser satisfeito” (VON KRAFFT-EBING, [1895] 1990, p. 5). Para o autor, a sexualidade visava a procriação, e toda manifestação que escapasse a esse fim era considerada perversão.
Os psiquiatras e os sexólogos do século XIX construíram um “herbário de prazeres” (FOUCAULT, 1985a, p. 63), que incluía desde o acanhado admirador de sapatos e de peças íntimas femininas até os portadores do “sentimento contrário”: a homossexualidade. As práticas sexuais que escapavam aos ditames primeiros – a reprodução – foram minuciosamente repertoriadas e etiquetadas, dando origem a uma ampla variedade de desvios: perversão (1882, CHARCOT e MAGNA), narcisismo (1888, HAVELLOCK-ELLIS), autoerotismo (1899, HAVELLOCK-ELLIS), sadismo e masoquismo (1890, KRAFFT-EBING), entre outros.
Os ‘efeitos nocivos’ da sexualidade eram amplamente discutidos e classificados, embora em uma perspectiva higienista e repressiva. Em nome dos bons costumes, da moral e da saúde, e não mais da religião, uma variante da ‘caça às bruxas’ foi se construindo, o que levou à criação de dispositivos para regular e controlar a sexualidade, além de curar suas manifestações ‘desviantes’: as que não escapavam aos critérios estabelecidos pelo discurso do poder e que, consequentemente, ameaçavam a ordem vigente. (É impressionante, e triste, constatar como esses fatos vêm se repetindo na atualidade).
A partir do momento em que a sexualidade passou a ser entendida como uma função, suas perturbações passaram a ser observadas e qualificadas, mesmo na ausência de uma causa orgânica específica ou uma lesão neurológica. Trata-se do chamado “estilo psiquiátrico de raciocínio” (VON HAUTE, 2017, p. 4), que tem como eixo central a noção de personalidade, apoiado em explicações psicológicas.
Cabe ainda lembrar que essas ‘perversões’ foram literalmente criadas por aqueles sexólogos. Evidentemente, as atividades sexuais que não serviam à reprodução sempre existiram e, segundo o momento sócio-histórico e a cultura em questão, eram consideradas pecado, pouca vergonha, atentado ao pudor, sodomia e outras tantas nomenclaturas que continuam crescendo (os DSMs). Ainda hoje, alguns países punem com pena de morte tais desvios.
O novo é que essas atividades passaram a definir tipos específicos de indivíduos marcados por uma subjetividade na qual a sexualidade se transformou em um elemento distintivo, uma possibilidade de individuação (FOUCAULT, 1985a).
As contribuições de Freud
A revolução que Freud provocou vem não do tipo de material clínico observado que, como citamos, fora exaustivamente classificado por seus predecessores, mas do novo caminho que ele toma: Freud parte não da função supostamente ‘normal’ da sexualidade (a procriação), mas de seus desvios.
Segundo Ernest Jones (1979), a publicação em 1905 dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade fez de Freud uma figura quase universalmente impopular. Ele foi tratado com imoral e obsceno, recebeu insultos e injúrias, chegando mesmo a não ser cumprimentando na rua. Em pequeno ensaio de pouco mais de 40 páginas, Freud subverte os esquemas explicativos tradicionais ao afirmar que as perversões cuidadosamente catalogadas como aberrações humanas assombram o espírito de todos os homens – inclusive daqueles que as catalogaram – podendo ser observadas desde os primeiros anos da infância: “a criança é um perverso polimorfo”.
A concepção de uma “pulsão natural” (Naturtrieb) é abandonada, e o debate se centra nos caminhos pulsionais que levam à escolha de determinado objeto em detrimento de outros. O impulso sexual (Sexualtrieb) no ser humano é composto por inúmeros impulsos parciais (Partialtrieben), os quais servem à obtenção de inúmeras formas de prazer em diferentes partes do corpo, para além dos genitais (FREUD, [1908] 1976).
Posto que a pulsão não tem objeto fixo e muito menos um programa biológico, toda atividade sexual testemunha um percurso pulsional particular, traçada pela singularidade da história de cada um, o que impossibilita a tentativa de criação de uma “norma sexual”. Nesse sentido, uma suposta primazia das zonas genitais é uma ficção, e é uma grande injustiça o fato de a cultura “exigir de todos uma idêntica conduta sexual” (FREUD, [1908a] 1976, p. 197).
Enfim, Freud rompe com o “estilo psiquiátrico de raciocínio”, ao sustentar que na disposição às perversões encontramos o humano e o original, isto é, o núcleo mais profundo do sujeito:
[...] há sem dúvida algo inato na base das perversões, mas esse algo é inato em todos os seres humanos (FREUD, [1905] 1976, p. 174).
As perversões “[...] são blocos de construção da sexualidade humana de uma forma isolada e ampliada” (VON HAUTE, 2017, p. 5).
A normalidade como “fábula poética”
Não é por acaso que Freud ([1905] 1976) inicia os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade na contramão dos sexólogos da época que, vimos, entendiam que a sexualidade “normal” era a reprodutiva. Freud ([1905] 1976) parte das “aberrações sexuais”, para fazer o que poderíamos chamar de desconstrução, no sentindo de Derrida, das diferentes perversões previamente definidas. Ele inicia esse texto mostrando à moral, à religião, à biologia (os sexólogos) e à opinião popular que se enganam em relação a uma suposta “natureza” da sexualidade humana.
Acreditar que a sexualidade deriva de uma pulsão natural (Naturtrieb) que estaria ausente na infância e só se manifesta na puberdade por uma atração natural de um sexo pelo outro visando a reprodução é uma “fábula poética” (FREUD, [1905] 1976, p. 136): a visão dos sexólogos torna-se uma quimera.
Entender a sexualidade dessa forma não traduz apenas um erro simples, mas
[...] um equívoco de graves consequências, pois é o principal culpado de nossa ignorância de hoje sobre as condições fundamentais da vida sexual (FREUD, [1905] 1976, p. 177).
Freud se situa à frente de seu tempo, posicionando-se de forma bem mais radical e revolucionária que muitos analistas contemporâneos: as perversões não podem ser entendidas como uma identidade separada, pois a sexualidade não é uma função natural que só se dá a conhecer pelos seus desvios,
[...] torna-se impossível classificar um grupo de pessoas como “perversas”, o que, de um ponto de vista psicológico, seria fazer uma distinção fundamental entre um grupo que escapa à “perversão” e outro que não o faz (VON HAUTE, 2017, p. 5).
Infelizmente, todo movimento ou corrente de pensamento que, em um primeiro momento, trouxe novas perspectivas de vida e/ou novas leituras do mundo foi, em um segundo momento, incorporado à ordem vigente e, não raro, transformado em sistemas normativos. em completa oposição à proposta original.
Com a psicanálise, as coisas não foram diferentes, a começar pelo próprio Freud: a primeira edição dos Três ensaios não contém alguns conceitos e teorias desenvolvimentistas introduzidas nas edições posteriores com as quais estamos familiarizados (VON HAUTE, 2017).
E é justamente essa dimensão primeira da psicanálise que reverteu inexoravelmente os esquemas explicativos tradicionais que ditavam os parâmetros da normalidade que, parece, vem se distanciando cada vez mais das primeiras posições freudianas.
Apenas dois exemplos, aos quais poderíamos acrescentar muitos outros. O primeiro diz respeito à chamada “escolha sexual”: para Freud a determinação das escolhas sexuais é bastante complexa, pois responde a dinâmicas inconscientes, que envolvem vários fatores, tais como o caráter triangular da situação edipiana, a bissexualidade constitucional de cada indivíduo e a ambivalência inerente às identificações (FREUD, [1923] 1976).
Consequentemente, a atração tanto heterossexual quanto homossexual necessita de explicação, pois não se trata de um “fato evidente em si mesmo, baseado em uma atração afinal de natureza química” (FREUD, [1905] 1976, p. 146).
O que parece interessar a Freud são os caminhos pulsionais responsáveis pelas escolhas de objeto:
Não compete à psicanálise solucionar o problema do homossexualismo. Ela deve contentar-se com revelar os mecanismos psíquicos que culminaram na determinação da escolha de objeto, e remontar os caminhos que levam deles até as disposições pulsionais (FREUD, 1920, p. 211).
Contudo, ainda na época de Freud, alguns psicanalistas insistiam que a heteronormatividade era o único horizonte possível. A falta de consenso entre os analistas chegou a provocar polêmica entre a Sociedade Psicanalítica de Viena e a de Berlim. A de Berlin, dirigida por Abraham, considerava que os homossexuais eram incapazes de exercer a profissão de analista, pois suas inversões eram incuráveis. Já a de Viena, apoiada em Freud, tinha uma opinião totalmente contrária: em 1921, Jones, então presidente da IPA, recusa a admissão de um analista declaradamente homossexual à International Psychoanalytical Association (IPA).
A resposta a Jones é assinada por Freud e Otto Rank:
Sua pergunta, estimado Ernest, sobre a possibilidade de filiação dos homossexuais à Sociedade, foi avaliada por nós e não concordamos com você. Com efeito, não podemos excluir estas pessoas sem outras razões suficientes […] em tais casos, a decisão dependerá de uma minuciosa análise de outras qualidades do candidato (LEWIS, 1988, p. 33).
Na atualidade, o debate continua entre os que veem as homossexualidades como algo a ser tratado (a cura gay?) e aqueles que a entendem como uma posição libidinal ao mesmo título que a heterossexualidade. Impressionam-nos sobremaneira duas passagens de Lacan, já citadas em um texto anterior (CECCARELLI, 2012).
Se a teoria analítica assimila ao Édipo uma função normativa, lembremos que nossa experiência nos ensina que não basta que ela leve o sujeito a uma escolha objetal, mas é necessário ainda que esta escolha de objeto seja heterossexual (LACAN, [1956-1957] 1994, p. 201).
Ou ainda: “[...] se é verdade que a doutrina analítica nos indica [a homossexualidade] como o suporte do laço social da fraternidade entre os homens” (LACAN, [1960-1961] 1991, p. 42), ela não deve ser confundida com a homossexualidade do tempo de Platão que, como na atualidade, continua sendo uma perversão:
Que não me venham dizer, sob o pretexto que se tratava de uma perversão recebida, aprovada e mesmo festejada, que aquilo não era uma perversão. A homossexualidade não era nada a mais do que ela realmente é: uma perversão (LACAN, [1960-1961] 1991, p. 43).
Outro aspecto que merece um debate muito mais amplo se refere à clínica das perversões e à analisabilidade do sujeito perverso (CECCARELLI, 2011). Contentar-me-ei neste ponto a uma citação de Freud que indica que o perverso é tão analisável quanto o neurótico:
Isto [o recalque] não se aplica apenas as tendências “negativas” para a perversão que aparecem nas neuroses, mas igualmente às perversões propriamente ditas chamadas “positivas”. Assim, estas últimas devem originar-se não apenas de uma fixação de tendências infantis, mas também de uma regressão àquelas tendências como resultado do bloqueio de outros canais da corrente sexual. É por este motivo que as perversões positivas são acessíveis à terapia psicanalítica (FREUD, [1905] 1976, p. 239, nota).
Outros pontos que poderiam ainda ser discutidos dizem respeito ao falocentrismo, à sexualidade feminina e à sexualidade masculina (CECCARELLI, 2013).
Tem me impressionado, em alguns eventos de que tenho participado, o quanto certos arranjos pulsionais, que, sem dúvida, em um primeiro momento causam espanto, são imediatamente diagnosticados, talvez como defesa para não se entrar em contato com conteúdos Ics, de forma quase idêntica à que se fazia com os primeiros pacientes que Freud atendeu.
Alguns profissionais continuam vendo nos sujeitos trans manifestações de psicose, baseados nas fórmulas de sexuação discutidas por Lacan há mais de 40 anos. Não se trata, evidentemente, de negar as contribuições de Lacan para definir o complexo terreno da sexuação.
A questão é
[...] que, no vazio do indizível, ha´ um potencial infinito de possibilidades. Na tentativa de dar conta, Lacan escolheu esta. O que se trata aqui, então, e´ produzir reflexões acerca do lugar de onde partem os pensamentos a respeito da construção dos sujeitos, ampliando os caminhos possíveis, sem que se caia necessariamente na dicotomizac¸a~o (CATÃO, PRISCILA DE LIMA).
Sexo e gênero
Estes e outros conceitos centrais da psicanálise têm sido duramente questionados pelas novas configurações sociais. Têm sido repensadas as questões chamadas “de gênero”, que por muito tempo foram tratadas de como se fossem imutáveis, pois faziam parte de uma ordem natural. Não há um só evento em que esse tema não é abordado.
Entretanto, se essa questão não for bem considerada e tratada com seriedade, e sobretudo sem que os psicanalistas se sintam ameaçados com o retorno de moções pulsionais recalcadas e reprimidas, corremos o risco de provocar um equívoco de consequências não menos graves que os denunciados por Freud nos Três ensaios. E se muitos psicanalistas têm fechado os olhos sobre esse ponto, é hora de abri-los, pois o desejo inconsciente segue seu caminho.
Como na época de Freud em relação à orientação sexual, o consenso geral continua rígido em estreita consonância com a moral sexual: sexo, gênero, desejo e orientação sexual continuam a ser entendidos como características ‘naturais’ dos indivíduos. Do ponto de vista da biologia, o sexo é definido pelos genitais: macho/fêmea; as representações e os papéis sociais que se espera de um homem e de uma mulher ditam o gênero; o desejo deveria ocorrer entre sexos opostos; quanto à ‘orientação sexual’, a heterossexual é a norma em consonância com o sexo e o gênero da pessoa, em vista da preservação da espécie.
Tais posicionamentos, e este é o grande debate atual, naturalizavam as construções históricas que os sustentavam, o que garantia a sua função ideológica através do discurso hegemônico dominante que dita tanto as sexualidades lícitas e as ilícitas, quanto as relações entre homens e mulheres e seu lugar no tecido social (FOUCAULT, 1984, 1985a, 1985b).
Mais recentemente, a discussão mudou de foco, fazendo com que as questões ligadas ao sexual, ao gênero, ao desejo e à orientação sexual tenham recebido novas leituras, o que fez surgir inúmeras possibilidades de subjetivação. Vários são os fatores que, ao longo da história, contribuíram para os reposicionamentos a que assistimos hoje: os movimentos feministas, a entrada da mulher no mercado de trabalho, o surgimento da pílula anticoncepcional (distinção entre sexualidade e reprodução), a crise da família burguesa nuclear (monogâmica e heterossexual), as políticas de visibilidade dos movimentos LBGT, a despatologização das identidades trans, tudo isso provocou uma crise nas referências simbólicas que utilizamos para ler o mundo (CECCARELLI, 2016), levando-nos a repensar os arranjos de Eros.2
Essas novas dinâmicas pulsionais e as formas de conjugabilidade daí advindas repercutem nos movimentos inconscientes responsáveis pela excitação erótica. Tenho recebido no consultório modalidades de prazer que só se tornaram possíveis devido aos rearranjos nos papéis sexuais e sociais de gênero, ou seja, através de uma dissociação sexo/gênero, e os avanços da medicina. Por exemplo, homens que se relacionam com homens trans, os quais mantêm alguma referência a seu sexo anatômico de origem; homens que se relacionam com mulheres trans. Ou ainda mulheres que se relacionam com homens trans ou mulheres trans.
Estamos assistindo a uma reavaliação dos discursos seculares relativos aos atributos sociais de sexo e de gênero graças aos estudos de gênero, às teorias desconstrucionistas críticas e à teoria queer (BERTINI, 2009; BUTLER, 1993, 2003, 2004, 2009; DE SOUSA FILHO, 2017; FRAISSE, 1996; LAQUEUR, 1992).
Devemos sobretudo a Judith Butler, filósofa norte-americana, um ousado e vanguardista trabalho sobre o tema: Butler historiciza não apenas o gênero mostrando seu caráter performativo, mas também o corpo e o sexo, a fim de dissolver a dicotomia sexo vs gênero.
Em Problemas de gênero - feminismo e subversão de identidade, sua obra de referência, Butler (2003) critica a ideia segundo a qual o sexo é natural, e o gênero é construído.
A pergunta passou a ser: Em que momento se dá a construção de gênero? Sobre o que se alicerça essa construção?
Por exemplo, a autora retoma a emblemática afirmação de Simone de Beauvoir – “A gente não nasce mulher, torna-se mulher” – para dizer que “não há nada em sua explicação [de Beauvoir] que garanta que o ‘ser’ que se torna mulher seja necessariamente fêmea” (BUTLER, 2003, p. 27).
Com a entrada da biologia no campo do social, a autora sustenta o quanto seria ilusório acreditar na existência de uma identidade de gênero primeira por trás das inúmeras expressões de gênero: tal “identidade” é performativamente constituída, através da repetição de atos, gestos, signos e outras séries de elementos que, por sua vez, reforçam a construção dos corpos masculinos e femininos, tal como os conhecemos.
Para Butler não existem “[...] relações de coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo” (BUTLER, 2003, p. 38).
Gênero e psicanálise
O consenso é que não existiria em Freud uma “teoria de gênero”. Entretanto, uma leitura mais atenta dos textos freudianos nos revela outro cenário. No texto de 1908 Sobre as teorias sexuais infantis, Freud ([1908b] 1976) nos fala de uma forma de classificação, que atualmente chamaríamos de “segundo o gênero”, anterior à percepção da diferença anatômica (CECCARELLI, 2010).
Nesse texto, somos convidados a nos despojarmos de nossa “existência corpórea”, isto é, de nos livrarmos das amarras da anatomia, e como “seres puramente pensantes” nos imaginássemos chegando à Terra: a primeira coisa que chamaria nossa atenção seria a existência de dois seres. Porém, e este é um ponto importante, a distinção que faríamos não levaria em conta a anatomia, isto é, a diferença sexual.
Ao que tudo indica, para Freud existiria uma classificação segundo o gênero, que se daria antes da percepção da anatomia. Nesse sentido, o gênero viria primeiro, embora seja o sexo que o determine: é a partir da percepção anatômica que o gênero é atribuído ao recém-nascido. Vemos que, para Freud, o sexo é natural: a anatomia é o destino.3
E logo nas primeiras páginas do primeiro dos Três ensaios (Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie) Freud fala sobre Der populären Theorie des Geschlechtstriebes (“a teoria popular sobre pulsão sexual” (de gênero) FREUD, [1905] 1976).
E quando no célebre texto sobre o narcisismo Freud (1914) propõe estudar o tema através de três caminhos, o terceiro é Das Liebeslebens der Geschlechter “vida amorosa entre gêneros” (FREUD, [1914] 2004, p. 103), enquanto na edição standard lê-se “a vida erótica dos sexos” (FREUD, [1914a] 1976, p. 98).
Em Lacan ([1964] 1973), encontramos uma passagem no Seminário 11 que, sem dúvida, nos remete a questões de gênero. Sabemos que as bases que sustentam as identificações constitutivas do Eu e as futuras escolhas de objeto são vicissitudes das relações do recém-nascido com o Outro.
Lacan escreve:
[...] no psiquismo não há nada pelo que o sujeito possa situar-se como ser de macho ou ser de fêmea [...] aquilo que se deve fazer, como homem ou mulher, o ser humano terá sempre que aprender, peça por peça, do Outro (LACAN, [1964] 1973, p. 228-229).
As teorias de gênero trouxeram desconfortos e incômodos para o arcabouço teórico da psicanálise. Se o sexo é tão historicizável quanto o gênero (BUTLER, 2003), isto é, responde às posições ideológicas e de poder, como, então, repensar o masculino, e o feminino que, para a psicanálise, são calcados no biológico? As teorias de gênero reformularam o enunciado “torna-se mulher”: “o que o sujeito pode se tornar, sendo (também) mulher”? (KEHL, 1998, p. 5).
Da mesma forma, dizer “fálico” vs “castrado”, “presença” vs “ausência” denuncia um discurso de valor que, de antemão, anula a diferença pura, para valorizar um sexo (o que possui, o que não é castrado) em detrimento do outro (o que não possui, o castrado).
Ora, a existência de uma diferença anatômica não está em questão. Entretanto, o discurso que surge a partir daí para falar dessa diferença ou usá-la como sustentação de teorias, terá sempre uma dimensão política.
Para Bertini (2009), o sistema hegemônico da diferença entre os sexos nada mais faz do que apoiar a desigualdade entre os sexos através de um poderoso dispositivo simbólico. Muitas outras questões requerem uma reflexão mais detida: ao célebre “o que quer uma mulher?”, devemos acrescentar “o que quer um homem?”, pois a partir do momento em que o sexo passa a ser historicizado, faz-se necessário repensar os “destinos” do sexo em contraponto ao texto freudiano de 1925 Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. Ainda nessa perspectiva, as fórmulas de sexuação propostas por Lacan seriam pensadas com ‘uma teoria’ sobre a diferença, mas não como um ‘modo’ universal de subjetivação.4
O que se depreende de tudo isso é que o gênero se revela um operador importante, um potente auxiliar para pensarmos com novos parâmetros e novos caminhos pulsionais, e a reavaliar as relações entre corpo, sexo, construções identitárias e discurso do poder.
Na clínica, temos que rever nossas posições teóricas. Sujeitos transgêneros, transexuais, sujeitos não binários, e outras tantas nomenclaturas que surgem a cada dia se fazem cada vez mais presentes, levando-nos a pensar nas novas formas de sociabilidade daí advindas.
Até bem pouco tempo, tais sujeitos eram classificados como portadores de um distúrbio, de uma disforia – de identidade sexual, de gênero. Entretanto, nossas posições devem ser revistas a partir dos avanços teóricos: se, como vimos, o sexo não é natural, e o gênero é performativo, o que haveria de “patológico” em um sujeito que se diz sentir homem, mas cuja performance reflete o sistema “feminino”?
É por isso que, não raro, um transexual pode, após a cirurgia que lhe atribui caracteres anatômicos femininos, manter relações afetivo-sexuais com mulheres. Tudo isso tem levado a uma revisão dos “critérios de diagnósticos” em geral, além de questionar sobre os parâmetros de normalidade que sustentam nossas classificações, assim como a pertinência à noção de estrutura.5
Considerações finais
Para terminar, é importante dizer que não acreditamos que as novas leituras das relações entre sexo, gênero, desejo e orientação sexual constituam, de fato, novos paradigmas para se pensar as relações do sujeito com o pulsional, com a dimensão narcísica, com a alteridade, com a falta e com o Outro.
Se, para a psicanálise, as expressões do sexual estão atreladas aos processos identificatórios e as escolhas de objeto, cujo enredo é a dinâmica edípica protagonizada pelas vicissitudes pulsionais, a sexualidade de cada sujeito é sempre uma construção singular.
Cada manifestação da sexualidade é uma criação particular e única de Eros, devendo ser entendida como uma solução no sentido matemático do termo: uma equação que comporta diferentes variantes – corpo, amor, desejo, gozo – frente às quais, tal como em um sistema vetorial de forças, uma resultante, uma solução, será encontrada.
A “solução sexual” que cada um de nós encontra traduz nossa tentativa de solucionar os conflitos – reais ou imaginários – presentes desde o início da vida, para escapar ao sofrimento psíquico: a particularidade de cada “solução sexual” responde ao equilíbrio singular da dinâmica pulsional do sujeito.
O termo “neossexualidades” foi proposto por Joyce McDougall (1997) para pensar em soluções encontradas por alguns sujeitos frente a movimentos pulsionais complexos e traumáticos no início da vida.
Entretanto, apoiada no pressuposto freudiano segundo o qual toda sexualidade é traumática, McDougall (1999, p. 25) se pergunta: “Finalmente, não se poderia propor, então, que a totalidade da sexualidade humana consistiria basicamente de neossexualidades?”.
Quanto conseguimos ouvir os novos arranjos pulsionais sem teorizá-los com “desvios” em relação aos arranjos “tradicionais” e, mais importante ainda, sem que nos sintamos ameaçados pelo retorno de moções pulsionais recalcadas, esses arranjos afetivos passam a ser entendidos como uma vicissitude pulsional como outra qualquer: não aquela que responde a normas socialmente estabelecidas e historicamente variáveis, mas aquela que, em sintonia com o mundo interno do sujeito, reapropria e reinventa a polimorfia da sexualidade infantil em uma relação de objeto.
Para que a psicanálise, que em um primeiro momento foi libertadora ao denunciar a existência de outra cena que determina nossas escolhas objetais não se transforme em mais uma prática normativa, é necessário que os psicanalistas façam constantes incursões em seus conceitos de base para confrontá-los com os movimentos sócio-históricos. Há que levar em conta as mudanças sociais, sob pena de ficarmos arraigados a teses não mais sustentáveis na contemporaneidade e vermos a psicanálise perder sua credibilidade social.
Referências
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Endereço para correspondência
E-mail: paulorcbh@me.com
Recebido em: 11/12/2017
Aprovado em: 17/12/2017
SOBRE O AUTOR
Paulo Roberto Ceccarelli
Psicólogo.
Psicanalista.
Doutor em psicopatologia fundamental e psicanálise pela Universidade de Paris 7 - Diderot.
Pós-doutor pela Universidade de Paris 7.
Coordenador do Instituto Mineiro de Sexualidade (IMSEX <www.imsex.com.br>).
Diretor científico do Centro de Atenção à Saúde Mental (CESAME <www.cesamebh.com.br>).
Membro da Société de Psychanalyse Freudienne - Paris, França.
Membro da Associação Universitária de Pesquisa em psicopatologia fundamental.
Pesquisador do CNPq.
Professor Adjunto IV da PUC Minas.
Professor e orientador de pesquisas do mestrado de Promoção de Saúde e Prevenção da Violência/MP, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Professor e orientador de pesquisas na pós-graduação em psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Sócio do Circulo Psicanalítico de Minas Gerais (CPMG).
Sócio fundador do Círculo Psicanalítico do Pará (CPPA).
1 Trabalho apresentado no XXII Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise, XXVI Jornada do Círculo Psicanalítico da Bahia: Assim caminha a psicanálise: indagações do século XXI . Salvador, 18 nov. 2017.
2Posições conservadoras, que contribuem para o debate, ainda existem: em julho de 2016 a Associação Americana de Pediatria publicou um documento no qual se posiciona radicalmente contra o que chama de ideologia de gênero. A Associação considera um absurdo endossar a discordância de gênero em relação ao sexo biológico. (Conf. Associação Americana de Pediatras fulmina ideologia de gênero: é abuso infantil! Disponível em: https://centrodafamiliacj.wordpress.com/2016/07/13/associacao-americana-de-pediatras-fulmina-ideologia-de-genero-e-abuso-infantil).
3 Considerações interessantes e ao mesmo tempo críticas sobre esse ponto foram feitas por Jean Laplanche. (Conf. LAPLANCHE, J. El género, el sexo, lo sexual. Alter n. 2: El género en la teoría sexual , Madrid, septiembre, 2006. Disponível em: https://revistaalter.com/revista/el-genero-el-sexo-lo-sexual-2/937).
4 Michel Tort (2000) faz observações muito interessantes e pertinentes sobre este ponto.
5 Philippe Van Haute apresenta duras críticas à noção lacaniana de estrutura perversa. Para ele tal abordagem reintroduz a ideia de identidade diferencial desconstruída por Freud. Ao fazê-lo, seus aderentes arriscam cair em todo tipo de preconceitos morais e sociais que são subsequentemente apresentados como leis que estruturam a sexualidade [...] Desta maneira preconceitos sociais e morais tendem a ser imunizados da crítica e, no processo, eles adquirem um estatuto ideológico (Van Haute , 2017, p. 3).