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Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437versão On-line ISSN 2175-3482

Estud. psicanal.  no.54 Belo Horizonte jul./dez. 2020

 

PSICANÁLISE: TEORIA E CLÍNICA

 

Relacionamentos amorosos como experiências de ser e de não ser. Uma leitura psicanalítica da função no self do relacionamento amoroso e da repetição

 

Loving relationships as experiences of being and not being. A psychoanalytic reading of the function in the self of the loving relationship and repetition

 

 

Isabel Mesquita

I Universidade de Évora
II Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A autora pretende demonstrar como os relacionamentos amorosos podem servir funções de estabilidade, regulação e manutenção de um sentimento de coesão do Self, seja mais no nível da estabilidade e da coesão (linha de introjetiva) como referira Blatt, visando impedir a angústia de aniquilação ou, por outro, lado possibilitar, em estados mais desenvolvidos do Self (linha anaclitica) (BLATT, S. J.; BLASS, R. B.,1992), uma visão mais segura de si (autoestima e sentimento de eficácia) impedindo a angústia de perda do objeto em ambos os casos, possibilitando o sentimento de ser. A estabilidade da relação amorosa e a satisfação com o seu desenvolvimento estarão diretamente ligadas à possibilidade de autonomização em relação aos objetos internos, à transcendência do self e ao seu desenvolvimento na relação, interligadas a uma maior autonomização face aos objetos internos e a uma possibilidade de autorregulação e regulação do meio. Pretende-se demonstrar como em determinadas situações a psicoterapia de casal não pode avançar para o trabalho da relação a dois e para o trabalho da intersubjetividade sem que o sentimento de Self esteja firmado em cada um dos elementos do casal.

Palavras-chave: Self, Sentimento de eficácia, Retraumatização, Sentimento de ser e de não ser, Repetição.


ABSTRACT

The author aims to demonstrate how love relationships can serve stability functions, adjustment and maintenance of the Self cohesion, either at the level of stability and cohesion as referred by Blatt (introjective), to prevent the anguish of annihilation or otherwise allow, in another developed Self states (anaclitic) (BLATT, S. J., e BLASS, R. B.,1992), a safer view of themselves (Self-esteem and sense of efficacy) preventing the loss anxiety, in both cases allowing the sense of being. The stability and satisfaction with a love relationship and his development is directly linked to the possibility of autonomy to internal objects, the transcendence of the Self and his development allong the relationship is linked to the greater autonomy related to the internal objects and the possibility of Self regulations and environment regulation. It is intended to demonstrate how in couple psychotherapy we cannot work in the couple relation, in intersubjectivity without the establishment of a sense of cohesive Self of each other.

Keywords: Self, Sense of efficacy, Retraumatization, Sense of being and not being, Repetition.


 

Introdução

A relação amorosa visa o encontro com um outro com o qual se possa prosseguir no desenvolvimento – sendo este uma motivação básica do ser humano (ROGERS, 1951; PERLS, 1973; GREENBERG; RICE; ELLIOTT, 1993). A relação amorosa favorece o engrandecimento da visão do self porque enriquece a experiência, permite a flexibilização do sistema emocional pela possibilidade de integração de afetos que até aí não tinham encontrado uma configuração relacional de expressividade, facilitando, desse modo, o romper de padrões relacionais instaurados desde as primeiras relações.

No entanto, as relações amorosas são muito afetadas pelo modo como cada sujeito vai integrando as experiências afetivas e relacionais (LEONE, 2008), pelos organizadores da experiência inconscientes (STOLOROW; ATWOOD, 1992, ATWOOD; STOLOROW, 2014, STOLOROW; ATWOOD; BRANDSHAFT, 1994) e pela coesão e pelo sentimento de continuidade do self.

Neste artigo, partindo da ideia de Rimgstrom (2014) de que há uma tendência para reencenar o passado de modo a manter um sentimento de organização do self, pretende-se clarificar como essa tendência fica a dever-se a representações mais fragilizadas e desarmoniosas do self que estão ligadas a relações de objeto que impedem o desenvolver da experiência e o ganho com a intersubjetividade.

A partir da combinação de conceitos principais da teoria das relações de objeto como seja a noção de relação de objeto englobando um estado do self um objeto e o afeto (KERNBERG, 1976) e conceitos da perspetiva relacional sobre a matriz relacional e o fenómeno de ligação (bond phenomena), pretende-se entender o modo como as dimensões repetitivas da experiência (STOLOROW; BRANDSHAFT; ATWOOD, 1987) se manifestam no nível do relacionamento amoroso de forma a manter um sentimento mais coeso e estável do self.

Nessas situações considera-se que a representação do self está associada a uma relação de objeto que não possibilitou a simbolização e a integração de certos afetos que se mantêm à distância da experiencia relacional, enclausurando partes do self que ficam alienadas e inibidas de se desenvolver, impossibilitando que a relação amorosa se revele uma experiência transformadora e desenvolutiva.

Consideramos que o self está orientado para o desenvolvimento e para a constante atualização (PERLS, 1973; MASLOW, 1954; ROGERS, 1951) e pretende-se demonstrar como a não autonomização face às relações de objeto, às quais estão associadas representações do self frágeis e desvalidas, podem encriptar o desenvolvimento de visões mais saudáveis do self conduzindo ao estabelecimento de relacionamentos amorosos que perpetuam essas ligações a relações de objeto originárias na primeiras experiências relacionais e mantêm uma visão do self já conhecida mas impedida de evoluir, evitando, assim, a experiência de não ser.

 

A vida em relação

Winnicott (1965, 1971a) já havia referido que o indivíduo é regido não pelo princípio do prazer, mas pela necessidade do sentimento de continuidade do seu self, em que o processo maturacional se desenvolve em relação com o meio facilitador dando progressivamente lugar à contiguidade do self, no sentido em que a necessidade de contacto e proximidade se torna cada vez mais relevante com o desenvolvimento do espaço potencial.

O autor aludira ao facto de nascermos com uma tendência inata para o desenvolvimento ou, como refere Bromberg (2012) para nos desenvolvermos e não somente para sobreviver, com a pulsão – processo maturacional que pode ser condicionado se o ambiente não for facilitador (WINNICOTT, 1965; GREENBERG; MITCHELL, 1983; SUMMERS, 1994) e se o poder criativo e transformador de cada um não bloquear.

Rogers (1951) e Maslow (1968), por seu lado, haviam referido uma tendência inata para a constante atualização do self, no sentido em que o caminho do desenvolvimento consiste em avançar, criar novos objetivos e procurar o que se deseja, criando sempre novos significados, mas sempre tentando manter um grau de estruturação suficiente no sentido da optimal struturalization referido por Atwood e Stolorow (2014).

Contudo, essa tarefa de amadurecimento, estruturação e a experiência desenvolutiva não se apresenta como fácil ou automática, exige alguma facilitação do meio e do sujeito, no sentido em que importa, como refere (GREENBERG; RICE; ELLIOTT, 1993), a sua motivação para se desenvolver.

Assim, Waddington (1957 apud BOWLBY, 1981) refere que a personalidade humana vai-se desenvolvendo ao longo de uma série de vias, sendo que à nascença existe um manancial de vias em que as escolhidas dependem da interação com o meio, no entanto,, ao longo das diversas interações estabelecidas no decurso da vida é possível ir alargando as escolhas e experimentando novas potencialidades (ATWOOD; STOLOROW, 2014; SUMMERS, 1999a, 2013).

Partindo da evidência de que o cérebro constrói as suas estruturas através de interações com os outros (COZOLINO, 2002, 2006), é a partir dessa relação que se formam as estruturas interativas precoces, os princípios organizadores da experiência (STOLOROW; ATWOOD, 1992; ATWOOD; STOLOROW, 2014; STOLOROW; ATWOOD; BRANDSHAFT, 1994) e o desenvolvimento do conhecimento relacional implícito (STERN, 1998; CODERCH, 2010), RIG (STERN, 1985), o que permite predizer a sua ação. As primeiras ligações – bond – no sentido de Pichón Rivière (1985) estão carregadas de significados e gestões afetivas que se tornam mediadores importantes das relações futuras e da constante construção do self.

Consideramos que, tal como já havia referido Kernberg (1976, 1984), a estrutura de base da criança é um estado do self ligado afetivamente a uma representação do objeto. Assim, segundo o autor, a estrutura psicológica é formada por unidades das relações self-afeto-objeto, e qualquer ameaça a essa estrutura constitui-se como uma ameaça para o self sendo geradora de ansiedade (seja de que ordem for). Essas relações de objeto formam-se para que seja possível ir organizando a experiência tornando-a previsível, aportando um sentimento de segurança interna e confiança no meio. Contudo, essas unidades estão sujeitas a mudanças e ressignificações ao longo do processo evolutivo. É no campo relacional que se vai estruturando a possibilidade de conhecimento e desenvolvimento.

Inicialmente, é partir da nova perspetiva revelada na reação do cuidador aos estados afetivos da criança que é possível a ela ir criando novas estratégias reguladoras, desenvolvendo-se um sentimento de eficácia/agência que se revela tão importante para o desenvolvimento do sentimento de segurança do self (STERN, 1985, 2004; DEMOS, 1989, 1992). Todo o significado atribuído à experiência é coconstruído, criado, composto (MITCHELL, 1988). É a partir das interações entre o temperamento da criança, o seu idioma (BOLLAS, 1989), o seu sistema motivacional (LICHTENBERG, 1989) e a prioridade de necessidades em conjugação com a resposta materna – com o seu temperamento, sistema motivacional e de necessidades – que se vão organizando as relações de objeto que originam os esquemas perceptivo-afectivo-cognitivos a partir dos quais se apreende a experiência de vida posterior.

Designamos relações de objeto similarmente à descrição de Miller e Dorpat (1996, 1998) de esquemas organizadores que são originados a partir da regulação mútua mãe-bebé não sendo, no entanto, reproduções passivas das relações (MITCHELL, 1988), mas sim modos como a criança constrói as relações e o que extrai delas de acordo com as suas necessidades adaptativas e defensivas, no sentido do uso do objeto Winnicott (1971b).

Essas relações constituem-se como um núcleo central do self, estruturam a experiência de vida e são permeáveis à mudança, transformando-se ao longo da vida, umas vezes de forma mais eficiente que outras. Estão na origem dos esquemas conceptuais que dizem respeito à análise que cada um faz de si, dos outros e das relações e ao modo como se comporta. Se quisermos, estes últimos correspondem aos aspetos dessas relações de objeto tornados conscientes.

Greenberg, Rice e Elliott (1993) referiram-se ao facto de a experiência emocional ser um processo multicomplexo que inclui mudanças corporais, significados e tendências para a ação. Assim, pensamento e sentimento encontram-se num processo dialético que conduz a uma síntese, integrando conhecimento e ação num sentimento unificado de self e situação.

Salientando a importância da ação, também Stern (1985), Beebe e Lachmann (1992, 2002) e (BENJAMIN, 1995) destacam o sentimento de eficácia resultante do sentimento de ter efeito sobre o meio relacional resultando no desenvolvimento do self. Assim, o sentimento de auto e heterorregulação será o centro da competência de um self relacional (ARON, 1996).

Destarte, tendo como ponto de referência as experiências relacionais precoces que conduziram à formação de estruturas de relação de objeto internas, os indivíduos vão elaborando soluções relacionais para as experiências vividas ao longo do desenvolvimento.

Contudo, quando não é possível integrar as experiências negativas e quando, no início, não foi possível ir estabelecendo um contacto progressivo com o principio de realidade (o que auxilia no manejo de afetos desprazerosos) surge a necessidade da manutenção de defesas mais omnipotentes de forma a poder lidar com a realidade que se apresenta precocemente, numa altura em que o self não tem integração suficiente para se poder confrontar com essa, ficando assim prejudicadas as fases de integração e de personalização (WINNICOTT, 1945), e o amadurecimento. Nesse sentido fica prejudicado o sentimento de ter efeito sobre o meio, ficando a representação do self mais fragilizada.

Então, as relações patológicas internalizadas obstruem o self, pressionando-o em diferentes direções, mas impedindo seu desenvolvimento saudável. Em nossa opinião, a modificação dessa estrutura de relação de objeto implicará sempre uma mudança na representação do self e das relações com os outros reais. É nesse sentido que consideramos que existem muitas resistências à mudança no padrão relacional e à autonomia em relação a essas estruturas de relação de objeto, porque essa alteração implica mudanças na organização estabelecida no self a partir dessas relações.

Essas mudanças podem conduzir a um sentimento de não ser – no sentido da perda do sentimento de continuidade do self (BROMBERG, 2012), uma ameaça ao sentimento de estabilidade do self e ao já conhecido. Claro está que a ameaça é tanto maior consoante a maior ou menor fragilidade que o self apresenta.

Quando as experiências relacionais precoces conduziram a sentimentos de abandono ou medo derivado de injúrias graves, o vínculo é sentido como algo perigoso e a evitar, de tal modo que todos os recursos psíquicos e biológicos estão acionados de forma a alertar face à iminência do perigo de revivência da situação lesiva e geradora de dor mental. Maiores esforços são exigidos no alcance do sentimento de segurança e coesão do self.

Acrescenta-se o comprovativo biológico de que a amígdala compara os acontecimentos atuais com o que está armazenado e face a semelhanças num elemento, reage como se o acontecimento fosse igual ao do passado, agindo antecipadamente à confirmação dos factos (SCHORE, 2003). Nesse sentido que estamos a descrever, estamos face á formação de estruturas patológicas (ATWOO; STOLOROW, 2014).

Por outro lado, quando nas primeiras experiências interativas a criança sentiu a necessidade de evitar que determinados afetos se manifestassem para poder manter a relação com o cuidador, necessária à sua sobrevivência, as defesas vão no sentido do evitamento da retraumatização (BRANCHAFT; DOCTORS; SORTER, 2010) ou, como refere Bromberg (2003), de evitamento do retorno do trauma.

Nesses casos, existe um self que está frágil ou debilitado, porque não lhe foi possível ir integrando certas experiências afetivas e consolidando o sentimento de eficácia e efeito sobre o meio, como forma de poder manter o meio relacional.

Nessas condições, as defesas são no sentido do restabelecimento de uma visão mais afirmada e fortalecida do self, sendo que a representação debilitada do self remete para o receio da perda do amor do objeto (COIMBRA DE MATOS, 2001, 2002; SUMMERS, 2015).

Desse modo, há sempre partes do self que não podem entrar em relação e estão protegidas, mas não se desenvolvem porque não são detentoras de uma forma de narrativa comunicável. São estados do self que estão como que sequestrados, pois é uma experiência impedida de existir, o que Summers designa de self enterrado (1999a, 2013).

Assim, existem potencialidades afetivas que não encontraram uma configuração relacional de expressividade porque não foi possível aceder à simbolização ou porque foram afastados de modo a preservar a relação.

No nível amoroso, escolhem-se relacionamentos por contrasseleção, elege-se um parceiro(a) contrário à imagem daquele progenitor com o qual se teve uma relação negativa ou mais conflituosa. Isso quando a maioria dos aspetos conflituais são conscientes. Contudo, essa escolha poderá ter um efeito duplo, uma vez que, nesse caso, muitas vezes apenas se atende às características do novo objeto que o distinguem do anterior, sem atender à totalidade da sua personalidade.

Em nossa opinião, trata-se de uma escolha aparentemente segura e protetora, mas que muitas vezes resulta num vazio, pois é uma escolha pela restrição, não em direção a um objeto verdadeiramente novo que possibilite uma relação nova e criativa, que conduza ao desenvolvimento do Eu, mas sim a escolha de um semiobjeto, escolhido em função do contrário e não em função das suas características como um todo e desejado com a sua própria individualidade e subjetividade.

Nesses casos, a relação parece apenas ter uma função corretora das falhas sentidas nas relações com os pais da infância, o que enfraquece o amor e o condiciona na sua função revitalizadora e desenvolvimental do self e do outro (MESQUITA, 2013).

O que defendemos é que, quanto menor autonomização face a essas estruturas de relação de objeto interno, mais comprometida fica a possibilidade da experiência emocional. Quanto menor a autonomia relativa às relações de objeto patológicas, mais fragilizada é a visão do self e, como tal, maior será a resistência à mudança e à aprendizagem com a experiência, na medida em que a mudança face à relação de objeto implicará uma alteração do sentimento de estabilidade e continuidade do self, vivido como uma experiência do não ser, possibilitando o ressurgir da angústia de desintegração ou angústia de perda do amor do objeto.

 

A relação amorosa como forma da manifestação do ser e do não ser

Consideramos que o relacionamento amoroso surge como uma nova possibilidade de profunda transformação, na medida em que se insere num terreno de intimidade fértil para o desenvolvimento da vida emocional e da fantasia, mas existem relações amorosas que possibilitam a expansão do self e o desenvolvimento das suas potencialidades.

Nesse sentido, o relacionamento amoroso teria como finalidade essencial a facilitação do desenvolvimento do mundo relacional de cada elemento do par relacional. Assim, a criatividade no amor tem a ver com a possibilidade de romper com padrões que estavam instituídos e gerar novas formas de ser e de se relacionar, emergentes nessa nova relação de intimidade.

Contudo, só é possível ir em direção ao outro quando a ligação não é sentida como fusão, quando não ameaça o sentimento de estar separado e a integridade de cada elemento, o que só é possível quando há um delineamento seguro do self. Caso contrário, entra-se num dilema claustroagarofóbico (MOLLON, 2006), oscilando entre receios de fusão e de isolamento (REY, 1991; BALFOUR, 2006), com receios de abandono, quando existe ameaça de separação e angústias de engolfamento face à proximidade mediando a distância face ao objeto, nem muito íntimo, nem ausente, de forma a possibilitar uma ilusão de coesão e estabilidade do self. Assim, a qualidade da intersubjetividade na relação amorosa estará sempre dependente do grau de coesão e sentimento de estabilidade do self de cada elemento da relação.

O desenvolvimento da subjetividade está dependente da estabilidade e da coesão da representação do self assim como a intersubjetividade está dependente do grau de desenvolvimento da subjetividade. Não se pode ir em direção ao outro enquanto sujeito se no próprio não existe um sentimento de estabilidade emocional que o defina enquanto sujeito.

Essa relação de intimidade implica que os elementos se coloquem como observadores participantes – que se auto-observem, observem o outro e que observem a relação. É essa terceira dimensão que resulta desse encontro que se constitui como um espaço de criação e de possibilidade de evolução e de criação de um terceiro elemento – a relação.

Holmes (2006) afirma que o bom funcionamento nos casais depende da capacidade que revelam para olhar e refletir sobre a sua relação como um terceiro, como uma entidade em si mesma, separada dos dois indivíduos que a constituem. Designamos de metaposição (MESQUITA, 2013) essa competência para olhar para dentro da relação, independentemente de cada um e ao mesmo tempo envolvendo cada elemento que nela participa.

Morgan (2006) designa de casal criativo um estado mental em que é possível que cada um se coloque numa terceira posição, de modo a se poder auto-observar na relação de casal, poder pensar os próprios sentimentos, bem como os do parceiro.

Colman (2005) referira que, nesse sentido, a relação seria como um continente, como o resultado criativo da união de casal. Em resumo, esse casal criativo é um espaço psíquico em que é possível estar como separado e independente numa relação de profunda intimidade.

Na mesma linha de pensamento, Rusczynski (2006) refere-se ao triângulo marital representando os parceiros e a própria relação como uma entidade própria.

Claro está que essa relação de intimidade se constitui como um terreno fértil para a fantasia e para as projeções conduzindo muitas vezes a distorções das percepções acerca do self e do outro, que estão relacionadas com os modelos relacionais internos, com a maior ou menor autonomia face às relações de objeto internos e cuja saúde está dependente da integridade e da estabilidade do self de cada elemento.

O que defendemos é que a análise do relacionamento amoroso e do modo como é vivido o amor nos informa sobre a estabilidade e a representação do self e a função que o outro exerce no desenvolvimento ou na estagnação, na medida em que o outro cumpre sempre uma função na vida mental, seja ela mais desenvolvimental, seja mais de interrupção e estagnação. Existem relações que impedem a expansão, estreitam o self e mantêm o indivíduo na repetição.

Defendemos que tais relações têm, no entanto, a finalidade de possibilitar uma continuidade, estabilidade e valor do self, na medida em que a fragilidade desse determina que as mudanças sejam vividas como indutoras da experiência do não ser (SUMMERS, 2013, 2015). Nesse sentido, essas relações impedem o ressurgir de angústias de desorganização ou de perda do amor do objeto.

Claro fica que as vivências amorosas ao longo da vida são muitas vezes mediadas, por um lado, por medos que são da ordem da desconfiança face ao outro, o que está diretamente relacionado com o desconhecimento e o fraco manejo das próprias emoções, com o sentimento de ineficácia do self; ligado ao bloqueio da experiência emocional e subjetiva, traduzindo-se em angústias que são avassaladoras. Por outro lado, há relações amorosas que se inscrevem em receios e dúvidas sobre o self, que não tem uma representação enquanto amável e desejado, na medida em que há desconfiança nas próprias capacidades com um frágil sentimento de eficácia sobre o meio relacional.

A relação de objeto gera experiências que se traduzem em modelos de esquemas interativos que vão modelar as experiências subsequentes. E é assim que surge a estagnação – repete-se para manter a representação do self, numa ilusão de segurança que mantém unidos self e objeto, mas numa lógica redutora da visão do próprio e do outro, e a repetição surge como uma forma de dar significado ao momento presente.

A autonomia face à relação de objeto e à possibilidade de ir cada vez mais em direção ao self autêntico (experiência autêntica do self de Miller (1979) e ao outro enquanto real, sujeito com a sua subjetividade, depende da possibilidade de se ter vivido duas experiências relacionais fundamentais ao desenvolvimento humano – o estabelecimento de uma relação de intimidade (que se relaciona com o sentimento de segurança referido por Greenberg, 1991) e – o desenvolvimento da capacidade de se impor (no sentido da não subjugação e da valorização/afirmação do seu self) no seio de um relacionamento íntimo, se quisermos, no sentido do desenvolvimento da consciência de ter efeito no meio (STERN, 1985; BEEBE; LACHMANN, 1992, 2002; GREENBERG, 1991; SUMMERS, 2013a, 2015).

Já Blatt e Bass (1992, 1996) haviam salientado a existência de duas necessidades no ser humano – a de estar em relação e a de definir o self. Uns indivíduos estariam mais implicados numa das tarefas, e outros, noutra. Em nossa opinião estas estão diretamente relacionadas com o referido anteriormente sobre a possibilidade de se ter uma relação de intimidade e mutualidade com um outro significativo e, ao mesmo tempo, a possibilidade de se impor numa relação.

Nesse sentido os indivíduos desenvolvem-se a partir de experiências de relação e de experiências de separação (BLATT; BASS, 1992). Consideramos que o desenvolvimento saudável implica um equilíbrio entre essas duas linhas de desenvolvimento.

Como referem Blatt (1991) e Campos e Mesquita (2014), a estabilidade, a coesão e o desenvolvimento do self facilitam o estabelecimento de relações mais maduras e desenvolvidas as quais, consequentemente, impulsionam ao desenvolvimento do self, à sua estabilidade e sua definição. É assim que se processa o desenvolvimento, por mudanças no self, em função das experiências relacionais, e mudanças relacionais a partir de mudanças no self.

Saliente-se que Kohut (1971) também havia referido duas linhas essenciais do desenvolvimento do Self – a vivência do sentimento de grandiosidade que estava mais relacionado com a visão de si, com o delineamento da experiência subjetiva do self e, por outro lado, a necessidade de idealização remetendo para a necessidade de relação, e do delineamento do self a partir da experiência de relação com o outro significativo.

Até mesmo Freud ([1930] 1961, p. 142) parece ter tido sempre em conta que o desenvolvimento do individuo iria sempre em duas linhas: uma mais egoísta, que desejava a felicidade do sujeito, e outra, mais altruísta, que tem necessidade de se relacionar com os outros.

Nessa linha de pensamento, defendemos que os relacionamentos amorosos serão condicionados por duas situações – estados do self. Assim, se o self está mais desestruturado, a experiência subjetiva está mais condicionada e, como tal, existe mais rigidez do sistema afetivo-emocional, toda a experiência relacional está condicionada, e os indivíduos estão menos disponíveis para a relação com um outro real, na medida em que toda a experiência está direcionada para o evitamento da desintegração de um self que não se apresenta com coesão e estabilidade suficientes.

O outro é necessário para uma pseudo-organização do self. O objeto amoroso desempenha uma função que é mais do que a de colorir a representação do self, é a de possibilitar a sua coesão. O objeto tem aqui uma função organizadora de partes do self que não se desenvolveram e não entram em relação. Assim, se estabelece uma pseudorrelação, em que o outro apenas está no lugar da sua funcionalidade.

Por outro lado, quando a visão do self é insegura, frágil e debilitada, a angústia predominante é a de perda do amor do objeto (COIMBRA DE MATOS, 2001) determinando que o indivíduo se coloque na relação sem poder experimentar e afirmar partes do seu self e limita-se a exprimir o que julga poder contribuir para a manutenção da ligação ao outro.

Nessas condições, vive-se pela metade, de um e de outro; em todo o caso a experiência do self está condicionada, mantendo-se como potencialidade – self enterrado (SUMMERS, 2013) – mas em todo o caso, estão assegurados o sentimento de continuidade de self e o sentimento de ser.

É a dependência estéril, em que o sujeito não manifesta o desejo porque se coloca à mercê do outro para evitar a rejeição e impede-se de se colocar na relação enquanto ele próprio submete-se ao desejo do outro, apenas recebe o que o outro quer dar e não exige o que sente que necessita, pois receia a perda do afeto. São ávidas presas, que se deixam encarcerar em relações que ilusoriamente lhe trazem um benefício à estabilidade do self, mas que resultam num sentimento de dar mais do que recebem – economia depressiva (COIMBRA DE MATOS, 2001) e como tal são insatisfatórias.

Nos casos que acabamos de descrever, nas situações em que existe uma dependência maior relativamente às relações de objeto estabelecidas desde cedo, em que a representação do self está mais condicionada seja pela fragilidade, seja pela debilidade, toda a intersubjetividade está condicionada, o outro, enquanto elemento de relação, é mais um objeto que um sujeito com subjetividade própria, continua a ser um objeto do self no sentido em que serve uma função ao self, que é completar algo que não foi realizado pela estrutura psíquica, mas não se trata de um sujeito com o seu self e a sua mente própria.

 

A relação amorosa como forma da manifestação do ser e do não ser - II

A possibilidade de uma relação amorosa ser vivida com o sentimento de satisfação e plenitude está estritamente ligada ao delineamento e ao sentimento de estabilidade do self e a consequente abertura ao outro real – sujeitos com subjetividade – com a decorrente possibilidade de uso das potencialidades do self de cada elemento que estavam até então impedidas de se manifestar.

Uma das questões fundamentais relativas ao conflito humano parece centrar-se entre a possibilidade assumir o seu desejo e fazer uso do outro (no sentido winnicottiano) ou, por outro lado, de trair-se a si próprio na adaptação aos desejos dos outros (SUMMERS, 2015). Esses outros são outros reais e outros com presença interna (MITCHELL, 1988).

É aqui que se iniciam muitos dos principais conflitos. A tarefa desenvolvimental parece constituir-se como uma possibilidade de se ir criando e recriando novas formas de ser e de se relacionar. Se alguns significados foram criados nas relações da infância, novos significados serão criados a partir daí, sempre em espiral. Novas formas de ser originam novas formas de se relacionar, e essas novas formas de ser (SUMMERS, 2013 a, 2015), o processo será contínuo, criativo e não de marasmo.

No entanto, como se sabe, parece haver na espécie humana uma certa tendência para o já conhecido. De acordo com Bromberg (1995), a psique possui uma tendência conservadora que alude a um sentimento de continuidade do self e à manutenção da ligação às estruturas de relação de objeto. E uma vez que a visão acerca do self está sempre ligada às relações de objeto, é seguro afirmar que, por vezes, as mudanças são vividas como ameaças a essa continuidade do self, por vezes com angústias de aniquilação e até mesmo ameaça de perda do self (SUMMERS, 2015) e noutros estados de desenvolvimento do self, como ameaça de perda do amor do objeto sentido como indispensável.

Também Atwood e Stolorow (2014) se referem ao facto da manutenção de certos padrões de funcionamento exercerem a função de organização da experiência, em que são materializadas certas configurações específicas do self e do outro, mas por vezes somente para manter a organização psicológica, no sentido de evitar a desestruturação ou sustentando o sentimento de continuidade ou coesão do self na iminência da fragmentação.

A dimensão repetitiva da experiência (STOLOROW; ATWOOD; BRANDCHAFT, 1987), em nossa opinião, resulta da ligação a estruturas de relação de objeto que se cristalizaram. Essa ligação continua a ser a principal mediadora das relações e impede que se experiencie relações como verdadeiramente novas, porque às primeiras está ligado um sentimento de self (MITCHELL, 1988; SUMMERS, 2015) visando um sentimento de continuidade do mesmo. Assim recorre-se à acomodação patológica (BRANDCHAFT, 2010), o que impede a atualização do self e a sua evolução.

Nesse sentido, o estabelecimento de uma relação amorosa tanto pode ir no sentido da expansão e transcendência do self, isto é, de possibilitar ir além do padrão que ficou instituído com as primeiras relações, quanto pode servir como uma resistência ao desenvolvimento, uma forma de ficar no mesmo, uma perpetuação da fragilidade do self, mas possibilitando a manutenção da experiência do self afastada da ameaça de desintegração ou da revelação da sua fragilidade, no fundo, evitando a experiencia de não ser.

Muitas vezes, apesar da dor que causam, os relacionamentos patológicos são tenazes e difíceis de se modificar porque têm a função de manter a ligação ao já conhecido internamente, motivados pela familiaridade.

A questão é que muitas vezes o envolvimento amoroso implica uma nova relação que determina que se abandonem as estruturas de relações de objeto subjacentes em favor de novas formas de ser e de se relacionar. E a fragilidade do self e as angústias de aniquilação impedem que se estabeleçam essas novas relações de modo a perpetuar uma modalidade de funcionamento que confere sentimento de si, facilitando a continuidade coesão.

Existem sempre aspetos e potencialidades relacionais de cada um que, por circunstâncias do desenvolvimento e do meio, não se puderam revelar, e na vida relacional amorosa será possível aceder a esses estados afetivos não revelados de forma a progredir o desenvolvimento.

A relação amorosa deveria abrir espaço para a possibilidade de se vir a ser o que nunca se foi em termos afetivos e relacionais. Claro está que isso depende da flexibilidade do aparelho mental e das defesas de cada elemento da relação. A possibilidade de integrar novos modos de funcionar dependerá do potencial criativo de cada um para conseguir ir mais além de si e do que foi criado até esse encontro.

Talvez o que é designado de espaço romântico (WILKINSON; GABBARD, 1995), apontamos como relação de conjugação em que há um conluio de fantasias, desejos e concretizações conjuntas, mas que não estagnam, que mantêm a vivacidade na relação e que não se deixam contaminar com conflitos pessoais. Idêntica é a noção de espaço psíquico, de Britton apud Balfour (2006), que descreve a integração de duas realidades psíquicas diferentes na relação de casal.

Por seu lado, Ruszczynski (2005, 2006) designa terceira área, aquela que diz respeito à criada pela relação de interação entre os elementos do casal, caracterizada pelo constante interjogo entre o intrapsíquico e o interpessoal.

 

Conclusão

Consideramos que um encontro amoroso corresponde a uma possibilidade de relação com um outro, com a sua subjetividade e que esse encontro aportará transformações mútuas.

No entanto, a relação amorosa aflora todo um conjunto de aspetos que estão relacionados com as estruturas de relação de objeto que, ao serem mais ou menos rígidas e mais ou menos patológicas, assim contaminarão ou favorecerão o processo maturativo do self no sentido da transcendência, ou seja, da descoberta do que ainda não se foi e não se viveu.

Porém, a escolha de novos sujeitos de relação e de sujeitos de relação suficientemente bons tem a ver com o facto de poderem implicar uma autonomia face às estruturas de relação de objeto, às quais está também ligada uma representação do self. Nesse sentido, a nova relação com um novo parceiro(a) pode implicar a perda desse sentimento de continuidade do self, como se o indivíduo não se pudesse posicionar nessa nova solução, porque não sabe como. E a suposta ameaça de rotura nas relações com o anterior e com os objetos até então conhecidos traz à tona o desconhecimento de si e das novas relações, o que é gerador de insegurança e angústia, além de motivar muita resistência.

Assim, uma maior autonomia em relação a essas estruturas determina uma flexibilização do aparelho mental, que possibilita um alargamento da experiência e uma possibilidade de experimentação de novas formas de ser e de se relacionar. Implica que a maior autonomização devido à consciencialização, à mentalização e à possibilidade de ir experimentando novas formas de ser e de se relacionar está diretamente relacionada com a saúde mental.

Claro está que a consciencialização e a possibilidade de mentalização estão diretamente relacionadas com a possibilidade de elaboração e integração na vida emocional do sabido não pensado Coderch (2006) semelhante ao unthought Known de Bollas (1983) ou unformulated experience Stern (1997), ou seja, a simbolização da experiência interna, o que permitirá novas formas de ser e de se relacionar.

 

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Endereço para correspondência
E-mail: mesqui@uevora.pt

Recebido em: 12/10/2020
Aprovado em: 20/11/2020

 

 

SOBRE A AUTORA

Isabel Maria Marques Mesquita
Psicanalista, com formação em psicanálise pela Sociedade Portuguesa de Psicanálise (SPP).
Membro titular da Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica (AP), onde leciona seminários sobre os relacionamentos amorosos e a vulnerabilidade narcísica.
Psicóloga clínica licenciada pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.
Especialista em psicologia clínica, em psicoterapia e intervenção comunitária pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP).
Mestre em psicologia clínica e psicopatologia pelo ISPA.
Doutora em psicologia clínica pela Universidade de Évora.
Docente na Universidade de Évora com nomeação definitiva.
Professora no Departamento de Psicologia da Universidade de Évora, responsável pela unidade curricular de Psicoterapias Dinâmicas do Adulto e Modelos Dinâmicos e Humanistas do Mestrado e Licenciatura em Psicologia.

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