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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.34 no.52 São Paulo ago. 2011

 

CARTA-CONVITE

 

 

Prezados colegas e colaboradores

É com prazer e muita vontade de desenvolver seu trabalho que uma nova equipe editorial assume, a partir do número 52, a gestão da revista ide pelo período de dois anos.

Sem alterar suas características no que diz respeito ao projeto gráfico e a seus objetivos – notadamente, o de promover o debate e a reflexão sobre os temas comuns à psicanálise e a cultura -, faremos o esforço para aumentar a circulação de ide dentro e fora das Sociedades Brasileiras de Psicanálise e, especialmente, estimular a participação de colegas da SBPSP.

Freud, em Psicologia das massas e análise do Eu (1921/1991), adota uma concepção ampliada do amor, por meio da qual chega a seu conceito central de "pulsão", e que pode ser tomada como ponto de partida para este número da ide:

O núcleo chamado por nós amor é formado naturalmente pelo que comumente chamamos amor e que cantam os poetas, o amor entre os sexos com a finalidade da união sexuada. Mas não separamos disso o que, por outro lado, participa do nome de amor, por um lado, o amor-próprio, por outro lado, o amor pelos pais e pelo filho, a amizade e o amor pelos homens em geral, assim como a devoção a objetos concretos e a ideias abstratas. Nossa justificativa reside em que a investigação psicanalítica nos ensinou que todas essas tendências são a expressão das mesmas moções pulsionais que, entre os sexos, levam à união sexuada e que em outras circunstâncias são certamente afastadas desse objetivo sexual ou impedidas de atingi-lo, embora conservem boa parte de sua essência original, o que permite reconhecer sua identidade (sacrifício de si mesmo, tendência à aproximação)1.

Outro aspecto de nosso convite à reflexão parte das observações do sociólogo Zygmunt Bauman2 acerca das novas formas de amores, nas quais os laços permanecem muito frouxos ou quase inexistentes. Em seu livro Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos (2004), Bauman fala de um homem sem vínculos, mas que se conecta com os outros. Eis o paradoxo: como pensar uma conexão com o outro sem vínculo? Como isso pode incidir na prática analítica e que aprendizado podemos tirar daí para a psicanálise contemporânea?

No livro de Dominique Simonnet3 A mais bela história do amor (2003), que apresenta entrevistas com grandes historiadores, especialistas das diferentes épocas da história, é impressionante como fica evidente que a evolução política, social e econômica vai determinando a constante repressão da mulher, do prazer em geral, e mais ainda do prazer sexual feminino.

Hoje, em pleno século XXI, após a revolução sexual e dos costumes iniciada nos anos 1960, com amplo acesso à informação (internet), como ficam as relações de amor? Há pesquisadores que apontam para um futuro dos relacionamentos sexuais no qual não haveria mais pares e a bissexualidade seria muito mais praticada. O que podemos falar sobre todas essas mudanças?

Por outro lado, há uma longa e complexa discussão sobre o que é o amor e seu papel para o homem e para a mulher, assim como para a sociedade como um todo. Um dos eixos centrais, em torno do qual grandes pensadores se situam e, entre eles, Freud, é a concepção que vem principalmente de O banquete de Platão. Texto fundamental no que tange às ideias sobre o amor, que marcou mais de dois milênios da história da civilização ocidental, O banquete apresenta a versão de Eros como filho de Pênia (a Pobreza) e Poros (o Expediente). Freud adota explicitamente as ideias de Platão e Lacan discute longamente esse texto em seu seminário sobre a transferência.

No entanto, em versões mais arcaicas do mito de Eros, ele aparece como filho direto de Afrodite. Ora, é muito diferente ser filho de Pênia, a Pobreza, que de Afrodite, a deusa do amor.

Caros colegas, eis aí o nosso tema – Amores –, que leva a muitos e diversos caminhos e continua a ser um grande mistério para o homem!

Para o presente número da ide decidimos solicitar artigos mais curtos e de leitura mais fluente, sem perder a profundidade, é claro. Nesse sentido, informamos que o número total de caracteres por artigo diminuiu para 30 mil caracteres com espaços! Também limitaremos o número e o tamanho das notas de rodapé.

 

 

José Martins Canelas Neto
editor

Corpo editorial
Alberto Martins (artista plástico e poeta)
Angela Maria Moraes Harary (membro filiado da SBPSP)
Debora Serebrenick Seibel (membro filiado da SBPSP)
Dora Tognolli (membro filiado da SBPSP)
Francisca Vergueiro (membro filiado da SBPSP)
Hang-Ly Homem de Ikegami Rochel (membro associado da SBPSP)
Lourdes Tisuca Yamane (membro associado da SBPSP)
Patrícia Cabianca Gazire (membro filiado da SBPSP)

 

 

1 Freud, S. (1991). Psychologie des masses et analyse du Moi. In S. Freud, Oeuvres complètes (Vol. XVI, cap. 4, p. 29). Paris: PUF. (Trabalho original publicado em 1921). (Tradução minha).
2 Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar.
3 Simonnet, D. (2003). A mais bela história do amor – do primeiro casamento na Pré-História à revolução sexual no século XXI. Rio de Janeiro: Difel.