Meus cumprimentos à Carla Madeira por sua importante obra, com uma sensibilidade que estrutura uma sintonia fina com o leitor para despertar emoções de toda ordem, antigas e novas lembranças, impressões sensoriais, súbitos insights, enfim, uma gama infindável de afetos profundos alcançando o psiquismo do leitor.
O triz nos espreita. Talvez procurasse antecipar a morte, agradando a vida.
Logo nas primeiras páginas de Tudo é rio forma-se um trinômio que segue uníssono, vibrando em harmonia, até o final: personagem-autor-leitor.
O convite é para que eles se lancem em uma travessia no rio da vida, que se apossem de suas humanidades, que se encontrem com o que há de mais essencial na profundezas do seu ser e, junto com movimento constante das águas, corram com fluidez e se movimentem em suas eternas buscas.
Os rios que eu encontro vão seguindo comigo (João Cabral de Melo Neto).
Assim acontece com o livro Tudo é rio. Vamos abraçando vários rios e afluentes que chegam e a ele se juntam, uns mais silenciosos, outros caudalosos e barulhentos, seguindo sem parar rumo ao mar, rumo ao desfecho das últimas palavras das suas últimas páginas. O rio que nos conduz, que nos leva em caminhos desconhecidos, o rio que acalma com sua música e descansa esfriando os pés inchados do caminhante exausto, mas persistente na busca de si mesmo.
Barry Stevens, escritora e Gestalt-terapeuta, também metaforiza o rio assinalando sua autonomia em continuar sempre seguindo seu caminho. Não podemos apressá-lo nem empurrá-lo… corre sozinho, porém, abraçando outros rios. Seu destino é o mar, é seguir em frente, “o rio que não sabe recuar” (Stevens, 1978).
Começando a nadar ou a navegar em suas letras, logo nas primeiras páginas, as águas não são tranquilas. Parece que já preveem uma turbulência à frente.
As palavras cruas encharcadas de lama que Lucy professava já de início fizeram tremer nossas águas-chão.
O texto de Carla destaca sua habilidade no uso rico das figuras de linguagem: metáforas e analogias, catacreses e sinestesias, sagacidade aqui definida pelo dicionário como uma perspicácia, uma “agudeza de espírito” essa que foi e continua sendo legitimada pelo estouro de aquisições dos seus livros, pela ampla aceitação de seu estilo de escrita que surpreende, impacta, apaixona e assombra. Carla brinca com as palavras, falando sério. Inverte seu sentido mantendo a essência.
Silêncio carrancudo. Usa palavras de senso comum que ganham novos status semânticos, criando imagens na cabeça do leitor. Derramou o caldo grosso da inveja. Carla faz poesia. Muitas vezes faz rir, um humor inteligente, esperto, nas entrelinhas.
Os homens adoeciam de uma curiosidade científica por ela, vulgarmente conhecida como tara.
Penso que jamais o chat GPT escreveria tal texto recheado de humanidades.
A sutileza dos nomes próprios, contando ao leitor muito da sua identidade. Assim a autora nos apresenta os personagens:
Brando: o tio expressa suavidade?
Venâncio: nome que significa aquele que caça.
Sofria a insuportável saudade de ter um pai que nunca teve.
Tem suas mãos marcadas pelos erros dos martelos e serrotes
Olhos profundos de abismo por dentro, atravessou o deserto de ser sozinho. Do lado dela, gostou de ser ele.
Dalva: da alva, da aurora (Aurora, nome da mãe de Dalva), o amanhecer, a estrela
D’Alva. A estrela que amanhece.
Deitar com Venâncio, acordou lugares desconhecidos.
Quando engravidou olhava mais para o espelho do que para os olhos do marido.
Dalva desacordou, precisava morrer um pouco.
Queria doer nele, a dor que sentia.
Talvez procurasse antecipar a morte, agradando a vida.
Lucy: significa a iluminada.
Uma beleza disputada a tapa.
Atira palavras cruas, encharcadas de lama.
Tem o cheiro do assanhamento. Beleza indecente.
Sabia ganhar dinheiro, mantendo os homens na fila, disponíveis, na alegria e na tristeza…
Um jeito baixo e arrogante de provocar todo mundo.
O que o personagem é, o direciona ao que ele faz
Apoiada nessa premissa, Carla oferece ao leitor a informação de que está pronta para abrir seu baú de ideias e pronta para navegar nos seus rios de imaginações, lembranças e associações, sem antever a história, deixando-se levar pelas águas do seu rio particular.
Li a história contada como se fosse um sonho e me permito agora sonhar o seu sonho e convidar quem nos ouve (ou nos lê) a fazer o mesmo. Essa é uma das inúmeras preciosidades da sua produção. Produzir sonhos, novos nascimentos de novas figuras oníricas e também concretas, parece até que passamos junto com a autora por vários partos, águas morninhas, incubadoras de ideias, partos nos rios do seu mundo imaginativo no qual as crias que nascem vêm de uma gestação literária de 14 anos (após o trauma vivido pelos personagens Dalva e Venâncio logo no capítulo 3, dando sequência a um capítulo de uma palavra só: dor, o capítulo 5) e vão crescendo e se desenvolvendo conforme o enredo se desenrola. Percebe-se que sua imaginação acompanha e se alimenta desse porvir que tem o sentido de um tempo no futuro do pretérito.
Esse método “carlaliano” dá força à escrita e dá potência imagética à narrativa, de onde se apreende o estilo de construção dos personagens que foram se edificando à medida em que a história se desenvolve.
No cruzamento entre literatura, arte e psicanálise, em encantador diálogo, a autora se espalha no espaço de liberdade criado, e tece uma rede de escutas e sentidos, sem deixar o leitor sozinho, construindo para ele andaimes de sustentação nos momentos mais angustiados, entremeando os diferentes tempos da história a cada capítulo intercalado.
A literatura e a psicanálise narram sonhos, ali onde os sentidos encontram seu lugar de busca, naquele lugar onde a carne encontra o osso, tanto nas imagens que surgem quanto nos embriões das palavras, narrativas sobre o mundo favorecendo que o indivíduo e/ou o leitor construa por si o sentido que lhe é próprio.
Nós, leigos, sempre sentimos uma intensa curiosidade … em saber de que fontes esse estranho ser, o escritor criativo, retira seu material e como consegue nos impressionar com o mesmo, e nos despertar emoções as quais talvez nem nos julgássemos capazes. Nosso interesse intensifica-se ainda mais pelo fato de que, ao ser interrogado, o escritor não nos oferece uma explicação, ou pelo menos nenhuma satisfatória. (Freud, 1908/1976b, p. 149)
Nas palavras de Elaine Foguel, da Associação Psicanalítica de Porto Alegre:
“Segundo Assoun, muito além de ser um exemplo ilustrativo, a referência literária revela “um momento de verdade do inconsciente…” (1996, p. 101). Freud toma a ficção ao pé da letra: a inquietante estranheza pode ser produzida, mas apenas por alguns poucos, os escritores criativos, esta minoria de contemplados com o dom da poesia, em verso e prosa. Como fazem? Como podem provocar efeitos de afetos sobre o leitor? Como conseguem testemunhar o saber inconsciente? Como transmudam as fantasias inconscientes em texto poético? De que forma fazem com que pensamentos inconscientes nutram a obra e engendrem uma criação da ficção artística? (2014)
Entre nós, Fernanda Sofio trabalhou esse tema em sua tese de doutorado que culminou no livro Literacura: psicanálise como forma literária (2015).
o psicanalista deve entrar no círculo de representações emocionais de seu analisando, como quem entra em cena numa peça teatral que não é de sua autoria e cujos diálogos ainda desconhece. Na busca de decifrar o enredo, ele dá voz às personagens, experimenta contracenar de variadas formas com o paciente, sempre testando os limites do campo… (Herrmann, citado por Frayze-Pereira, 2015, p. 15)
Ainda Foguel:
Que um sonho possa desencadear loucuras mais ou menos duradouras é, provavelmente, tão antigo quanto a existência do primeiro sonho da primeira criatura. Porém, que um escritor criativo possa se antecipar à medicina, à psicologia, à psiquiatria, e acima de tudo à psicanálise, para descrever o detalhe desta formação do inconsciente, constitui para Freud uma evidência que o ligou à literatura como uma fonte fiel sobre o humano, e uma espécie de prova de que há, no inconsciente, um saber que se antecipa à construção formal da ciência, inclusive da psicanálise. (2014)
Mas antes de navegar por esses rios literários das vidas, temos uma outra nascente que antecede às dos seus personagens que é o seu início de vida, o nascimento da autora. Localizar a origem dessa nascente que explode águas extremamente poderosas, que fertilizam tudo o que se acha nas margens, desviando das pedras mais à tona ou usando-as como chão firme das travessias ousadas, verdadeiras passarelas, um rio vivo com cardumes que insistem em correr na correnteza ou contra ela, colorindo seu leito, mesmo nos lugares onde as águas se avolumam e se precipitam em súbitas quedas.
E para chegar aonde começa a história desse rio me inspirei numa entrevista que Carla concedeu a um canal na mídia no qual ela revela ao entrevistador que o nome dos seus pais está no meio disso tudo e a isso tudo pertencem.
Carla Madeira, a filha da Irlanda e do Ulisses. Nomes que por si dizem tudo. Foi como percebi a Carla, escritora, autora, apossada, protegida pelo seu casal parental interno.
Minhas associações com base em uma pequena e despretensiosa pesquisa:
Irlanda, a mãe - Irlanda, país de um povo conhecido por ser caridoso e altruísta e ao mesmo tempo guerreiros buscando liberdade.
Nem a polícia, nem a população usam armas, e a curiosidade de que não existem cobras na Irlanda em função das condições climáticas.
Com influências celtas e nórdicas vindas dos vikings, a cultura irlandesa tem um folclore cheio de seres mitológicos. Fadas, duendes e magos fazem parte dela.
Carla, detentora de um poder de escrita que faz dela a fada mágica com seu lápis raro nos teletransporta voando pelos rios de sonhos até as vidas dos seus personagens. Faz a mágica da suspensão temporária das nossas vidas no real para vivermos num outro plano, como Ulisses hipnotizado pela ninfa Calypso, num encantamento gerado pelos amores, ódios, vinganças, ciúmes, loucuras e incertezas.
Carla não julga os personagens, deixa-os livres quer seja nas suas escolhas, quer nos seus destinos, quer na saúde ou na insanidade deles, respeitando seus modos de estar no mundo.
Não é juiz nem polícia, não dá veredictos nem penaliza, não acusa e nem protege, apenas narra livre de armas ou amarras, simples e altamente desenvolvida, como o povo irlandês, um dos países mais desenvolvidos do mundo.
Surge no perdão do ato imperdoável, o abrandamento do ódio (entrevista com um preso que contou à autora que seu livro o levou a parar de sentir ódio), mas será que o perdoado para de sentir culpa? O silêncio de Dalva, a indiferença diária anula a existência - o pior dos castigos - a morte em vida que cancela o ser no mundo. Um silêncio cheio de barulhos de uma dor infinita, de um coração quebrado, de um vínculo partido, de um capítulo em branco generosamente nos ofertando uma pausa.
Dalva desacordou, precisava morrer um pouco e morremos com ela no vácuo sem palavras das duas páginas e meia do capítulo V.
O pai: Ulisses ou Odisseu - A Odisseia narra a história de Ulisses, que depois de passar 10 anos na Guerra de Troia, leva mais 17 anos para voltar para casa, passando por muitas aventuras e por um percurso muito atribulado na volta para casa, a ilha de Ítaca.
Carla levou 14 anos e 8 meses (várias gestações) para construir esse fe(i)to, voltar para sua casa interna na qual a poiesis e emoções permaneciam congeladas encontraram uma morada que as contivesse. Desse modo digere o trauma e enfrenta o absurdo da cena “ultraviolenta” (usando o termo de Stanley Kubrick no filme Laranja mecânica) do surto agressivo de Venâncio, para seguir e tornar-se praticamente uma heroína nacional da literatura, autora do segundo livro mais vendido do país, assim como Ulisses precisou amargar 17 anos de tensões e conflitos até se re-apossar de suas raízes, se re-unir e re-tomar seu lugar de rei!
Conflitos como quando ele chega à ilha da ninfa Calypso, onde fica preso por muito tempo em razão de não ceder aos encantos e promessas que uma região cheia de mulheres sereias devoradoras sedutoras lançavam aos homens e marinheiros, podendo Lucy ocupar esse lugar no mito de Homero.
Os homens punham cera nos ouvidos para se proteger dos cantos mortíferos, até a hora que a cera cai.
Homero, o autor da epopeia, destaca a astúcia e a inteligência de Ulisses para se livrar dos feitiços e dos aprisionamentos e seguir viagem de volta à ilha de Ítaca, para os braços da fiel e apaixonada esposa Penélope.
Dessa união, da suave Irlanda e do brilhante Ulisses, surge Carla, cujo nome está entrelaçado com significados de “mulher guerreira” o termo germânico karl.
Lutando pela liberdade na escrita e pela fluência da vida!
Carla mostrou, com a astúcia que libertou Ulisses, que seu rio ultrapassa os obstáculos e segue, soberano, seu destino.
Quem segura essas águas morre afogado e arrebentado por dentro! Naquele momento em que o opaco ganhou transparência, deixou ver o que tinha sido.
Em 1922, James Joyce publicou o livro Ulisses, que se tornou um clássico da literatura mundial. A trama se passa em 1904 e retrata conflitos de identidade, religião e nação vivenciados pela Irlanda nos anos que precederam a Primeira Guerra.
As páginas em Tudo é rio parecem molhadas de emoções intensas, as letras flutuam, os sonhos do leitor ora boiam ora mergulham nas profundezas das dores, sempre anteriores, lá no lugar onde a carne encontra o osso. Ou seja, nas origens do que está colado.
O rio das águas que correm sem parar metaforizam as águas incontidas das lágrimas dos choros dos personagens, do leitor, da autora, líquidos do corpo que alagam os casais em sua sexualidade, águas das enxurradas da chuva forte, o indomável em nós.
Carla avisa, alerta, tenta prevenir, pois não subjulga nem subestima a força das pulsões, a força dos desejos, a força da loucura. O líquido que escapa, o simbolismo forte da narrativa: nas salivas, nos suores, nas secreções da sexualidade, na baba do furioso Venâncio encharcado pelo ciúme, tomado pelo ódio e pela loucura desenfreada de uma paixão que arrebata e mata.
O corpo do transbordamento atesta o furor dos afetos, o ato tresloucado rasgando qualquer possibilidade de sonho, de continência da impulsividade mórbida que provoca a cena de alta violência do início do livro, que não só impacta, como também paralisa e pede uma pausa.
Carla Madeira também trabalha o absurdo, imbricado com a displicência, com a onipotência narcísica, com os restos edipianos, com as faltas básicas arcaicas, as telescopagens3, os resíduos traumáticos expressos na vida e na dinâmica dos diferentes personagens.
Sei que a autora admira o biólogo e epistemólogo chileno Humberto Maturana e tem se ocupado com estudos de suas ideias que com certeza estão subliminarmente espalhadas ao redor de sua obra, Tudo é rio (2014), A natureza da mordida (2018), Véspera (2021) e Tempo aberto (2022) Oito décadas em Oito contos de grandes autores brasileiros em coautorias, em que Carla é autora de um deles.
Assim nos ensina Mauro Antonio Moreira do Instituto de Física da ufrgs:
Maturana e Varela (segundo Rosas e Sebastián, 2001, p. 59) propõem que o traço característico dos seres vivos é que, em sentido material, produzem a si mesmos de maneira constante e a isso chamam de organização autopoiética.
Para Maturana, existe uma congruência estrutural mínima entre o ser vivo e o meio, da qual depende a existência do primeiro. Nessa congruência, uma perturbação do meio não contém em si mesma uma especificação de seus efeitos sobre o ser vivo. É este, em sua estrutura, que determina sua própria mudança frente a tal perturbação.
Para eles, os seres vivos são máquinas autopoiéticas, ou seja, máquinas que continuamente especificam e produzem sua própria organização através da produção de seus próprios componentes, sob condições de contínua perturbação e compensação dessas perturbações. (Moreira, 2004, p. 599)
Assim, pode-se considerar que seres vivos são sistemas determinados estruturalmente que interagem com o meio e entre si. As interações são fundamentais no sentido de manutenção da organização e da autopreservação diante de perturbações inerentes a existência.
Aqui está a resposta para o perdão de Dalva dirigido ao imperdoável Venâncio.
O sistema de autopoiesis? Talvez! Que faz com que Dalva se reorganize baseada nas interações com o meio, a intervenção de Francisca, o amor de Aurora que trouxe seu filho de volta e Venâncio, que, do lado dela, gostou de ser ele.
Perder um amor é escurecer por dentro, uma memória do corpo que o entardecer evoca quando tinge o céu de vermelho.
Graças à figurabilidade da palavra-nome a linguagem pode ser fecundada no seu interior.
Boileau, pensador francês contemporâneo, nos ensina que a fala associativa investe o traço da palavra ouvida, pois contém o afeto e se encontra provida das virtudes da metáfora. “Estamos sempre sozinhos ao pronunciar uma palavra, mas podemos ser dois a ouvi-la” (Danon-Boileau, 2007, p. 34).
Palavras finais4
Freud (1915/1974b) nos ensina que a palavra é uma apresentação complexa constituída de intrincados processos associativos que incluem elementos de origem visual, táctil, sonoro e sinestésico e só adquire seu significado quando se liga a representações de objetos.
A palavra interpretativa instaura a conexão e repara o hífen que liga a psique ao soma e, ao mesmo tempo, retira a separação do corpo-oral.
Fertiliza e abre frentes para novas descobertas e concilia a pulsão e o imaginário dando substância a criação da linguagem.
No lugar da memória do acontecimento disruptivo, há um buraco. Entretanto, nas bordas do buraco, podem, contudo, ficar as “representações-limites” que são o traço do processo motor que permitiu a descarga da excitação causada pelo trauma. (Danon-Boileau, 2007, p. 49)
Representações-limites que aqui poderiam coincidir com as imagens acústicas das palavras, a gradual aquisição de sentido a partir das lembranças das palavras ouvidas, as sensações convocadas por elas, estimuladas também pelos ensaios escritos que vão se transformando em falas associativas e finalmente nos afetos…
Entre meus pedaços de sono, encontro meu sonho, que é a minha escrita e nesse momento, a minha mão é o alpendre do meu coração. Daí escrevo e… durmo. (Palavras vindas da clínica).
Ainda sobre o perdão:
Tudo compreender não é tudo perdoar. A psicanálise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que pode ser eliminado. A tolerância para o mal não é de maneira alguma o corolário do conhecimento. (Freud, 1926/2010)