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Tempo psicanalitico

versão impressa ISSN 0101-4838versão On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.51 no.2 Rio de Janeiro jul./dez. 2019

 

EDITORIAL

 

 

A Tempo Psicanalítico chega ao v. 51, n. 2, trazendo artigos dos mais variados temas dentro da psicanálise. No atual contexto político, vale a pena lembrar o compromisso assumido pela psicanálise com o acolhimento do campo que Freud nomeou, em 1930, de "mal-estar na cultura". Mais do que apenas o título de uma das mais importantes obras de Freud, a ideia de que o mal-estar não é eliminável, e mesmo a de que ele contribua para a construção daquilo que de mais relevante e interessante existe na cultura, continua sendo, a nosso ver, fundamental.

De fato, acolher o negativo, em suas mais variadas manifestações, e compreender seus impactos na subjetividade, é parte do que fundamenta o campo psicanalítico: não o semblante fálico e narcísico do sucesso, seja este presente na fantasia neurótica ou no ideal da cultura, mas a afirmação da precariedade do ser, aquilo que Lacan, em suas obras, chama, parodiando Heidegger, de des-ser. Desta forma, a psicanálise engaja-se em uma ética relacionada à desarticulação dos semblantes, à valorização do desamparo e da precariedade como condições constituintes da vida. O sujeito na clínica vê-se confrontado com seus limites e ideais e, muitas vezes, com a relação entre ambos: a fantasia de onipotência contribui para o sentimento de impotência; a ausência de limites esconde a presença, por toda parte, da frustração; e o lugar ficcional do indivíduo fálico, todo, sem falhas, torna a cultura dependente de novas formas de autoridade. Não se trata, é claro, de lamentar o presente, mas de desarticular as fantasias de bem estar vinculadas pelo que Lacan chama de discurso capitalista, este que, pretendendo obrigar o sujeito à felicidade, produz, por toda parte, frustração.

Neste sentido, acolhemos os novos artigos da presente edição, sabendo que a matéria prima da psicanálise é, justamente, o não saber: não saber assumido, e não recusado. Não saber que é condição de qualquer pesquisa, calcado na ideia, talvez paradoxal, de que é na possibilidade do sujeito de se auto-limitar que reside a aposta pela sua liberdade: que o limite não venha de Outro - Deus, pai, ídolo - mas seja auto-imposto, assumido.

 

Equipe Editorial

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