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Reverso

versão impressa ISSN 0102-7395

Reverso vol.37 no.69 Belo Horizonte jun. 2015

 

DISCURSO

 

Discurso de despedida da gestão do triênio 2011/2014

 

O ditado popular, com sua sabedoria intrínseca, nos propõe uma questão metafórica: com quantos paus se faz uma canoa para que ela possa navegar bem?

Essa questão dá margem a outra leitura, que hoje, aqui, nos interessa de perto: quantos psicanalistas são necessários para se formar e fazer funcionar uma instituição psicanalítica?

A resposta a essa pergunta já nos foi dada por Lacan, quando ele fala, no ato de fundação da sua sociedade (em 21 de junho de 1964), que o importante não é tanto o número, mas sim a presença de trabalhadores decididos, para levar adiante a causa da psicanálise.

Num mundo como o nosso, no qual é flagrante a perda dos projetos coletivos, o que acaba por esvaziar os espaços públicos, em uma consequente crise de valores e falta de sentido, manter um projeto institucional em que a participação de todos e de cada um é importante, resulta, muitas vezes, numa tarefa difícil. Ainda mais quando o proveito que se pode obter de tal tarefa não é mensurável em números, mas sim numa satisfação interna, que nasce do labor criativo e idealista.

Pois é dessa satisfação interior que quero falar hoje, a satisfação de poder contribuir com uma causa, com o avanço de um conhecimento que contribui para o outro.

Para a psicanálise isso se chama transferência de trabalho, ou seja, o desejo de fazer funcionar algo em que acreditamos.

Foi com esse objetivo que aceitei participar, mais uma vez, como presidente do CPMG, para fazer com que o seu projeto de transmitir e divulgar a psicanálise se fortaleça cada vez mais.

Para minha satisfação, muitos me acompanharam nessa caminhada. Tive a sorte de ter ao meu lado um grupo de trabalhadores decididos que fizeram sua parte com empenho e entusiasmo.

Nesse triênio foram feitas aquisições materiais que favoreceram o CPMG, dotando sua sede de maior conforto e de implementos que favoreceram seu espaço, em vários níveis. Nossa transmissão da psicanálise mereceu muitos cuidados, e trabalhamos para que fosse cada dia melhor.

A formação permanente também foi alvo de nosso empenho, sempre procurando um aprimoramento de nossos sócios efetivos. Nossos cinquenta anos foram comemorados com a maior alegria, por parte de todos nós.

No entanto, mais importante que tudo isso foram nossas aquisições imateriais, trazidas pelo entrosamento e a amizade que podem existir entre aqueles que trabalham por um ideal comum. Esse é um valor inestimável.

Agradeço a todas as diretorias desse triênio, que colaboraram nesse projeto, e a cada uma em particular. Posso dizer, com certeza, que cada um realmente deu o melhor de si no desempenho de sua função.

Maria Carolina Bellico Fonseca, na Vice-Presidência, contribuiu com seu grande entusiasmo e arrojo para que tivéssemos eventos de qualidade tanto científica quanto afetivamente, nas aulas inaugurais, nas comemorações dos cinquenta anos e na condução alegre e descontraída do Dedo de Prosa. Em todos esses eventos deixou impressa sua marca.

A diretora da Secretaria Marisa de Lima Rodrigues nos brindou com o auxílio luxuoso de sua grande experiência na área, o que muito nos ajudou em todos os momentos.

Os diretores Administrativo-Financeiros José Ribeiro de Moura e depois José Sebastião Menezes Fernandes acrescentaram sua experiência e apoio a nossas decisões nesse âmbito específico.

Maria Mazzarello Cotta Ribeiro deu tudo de si na organização e no funcionamento da Diretoria Científica, estando atenta a todos os seus departamentos, elaborando os regimentos da Clínica de Psicanálise e da Diretoria Científica, com a precisão de detalhamentos que só ela sabe fazer.

Guiomar Antonieta Lage foi incansável na realização de suas tarefas, dando à nova Diretoria de Comunicação e Divulgação criada pelo estatuto mais recente, um entusiasmo pouco comum. Funcionou como um elo entre as diversas diretorias, sendo responsável também pela humanização e embelezamento de nosso espaço físico, tanto assim que ainda se torna imprescindível à nova gestão.

As comissões da Diretoria Científica também merecem destaque. Maria Auxiliadora Toledo Garcia Freire, nossa “pequena notável”, foi de grande tenacidade e eficiência na condução das jornadas, que tiveram grande participação e proveito.

Aos que trabalharam na montagem e na evolução das jornadas nosso reconhecimento: Carlos de Brito e Mello e Priscila de Lima Catão (candidatos em formação), Elga Rosalva Silva, Paulo Roberto Ceccarelli (que contribuiu expressivamente com os convites a psicanalistas nacionais e estrangeiros para nossos eventos), Rosa Maria Gouveia Abras, Túlcia Vasconcelos Barros Poggiali (que nos proporcionou o empréstimo do espaço do Hospital Mater Dei) e Yvonne Louise Coulaud Coelho da Rocha Muzzi.

Eliana Monteiro de Moura Vergara trabalhou com afinco e generosidade nos cursos permanentes, usando seu lastro de experiência na área que ela ajudou a fundar.

Maria Helena Ricardo Libório Barbosa Mello emprestou um brilho especial aos Seminários Livres, tanto que também repete a função na nova diretoria.

Breno Ferreira Pena e Túlcia Vasconcelos Barros Poggiali se empenharam na Clínica de Psicanálise, levando seu entusiasmo aos candidatos em formação. Eliane Mussel da Silva contribuiu com seu saber para as entrevistas a pacientes do Hospital Galba Velloso.

A comissão da revista Reverso, através de sua coordenadora Juliana Marques Caldeira Borges, que hoje me substitui, fez um belo trabalho, editando dois números por ano, o que significa um grande esforço de organização. Parabéns aos seus integrantes: Ana Boczar, Carlos Antonio Andrade Mello, Olímpia Helena Costa Couto, a próxima coordenadora, e Paulo Roberto Ceccarelli.

Alberto Henrique Soares de Azeredo Coutinho e Elga Rosalva Silva contribuíram com seu trabalho para a nossa Biblioteca “Júlio Valadares Roquete”.

Agradeço a Ana Cristina Teixeira da Costa Salles, delegada junto ao CBP, e aos componentes do conselho fiscal: Enilda Vega de Melo Campos, Maria Angela Assis Dayrell, Messias Eustáquio Chaves e aos suplentes José Sebastião Menezes Fernandes, Leila Marquez Lopes de Oliveira, Yvonne Louise Coulaud Coelho da Rocha Muzzi, e depois Délia Rodrigues Frazão e Maria Heloisa Noronha Barros.

Maria de Lourdes Elias Pinheiro foi nossa empenhada representante junto ao Movimento Mineiro de Articulação das sociedades psicanalíticas.

Agradeço ainda a Arlindo Carlos Pimenta e Vanessa Campos Santoro que representaram o CPMG em jornadas e eventos de outras instituições, como nossos embaixadores científicos.

À nossa funcionária Marta Aparecida Almeida e Almeida, nova bibliotecária, desejamos longa vida no cargo e à Edna Malacco de Resende, nossa fiel companheira de vinte e cinco anos de trabalho e dedicação ao CPMG, arquivo vivo de nossa trajetória, agradecemos por sua fidelidade e eficiência nas diversas tarefas que desempenha.

Muito obrigada aos sócios efetivos, alunos e candidatos em formação, que responderam ao nosso convite de participação em nossas atividades.

Sem dúvida, quando há uma coalizão de objetivos, e esses foram bem claros, de manter e aprimorar o CPMG, a tarefa fica mais leve e significativa.

É com muita alegria que recebemos os companheiros da gestão 2014/2017. Temos que dar os parabéns, especialmente a Juliana Marques Caldeira Borges, pela coragem de aceitar o desafio de trabalhar por uma causa. Acredito que esse grupo formado é de trabalhadores decididos, pois conhecemos o valor de cada um de seus componentes. A todos vocês, desejamos um ótimo desempenho em seus cargos, sabendo já que essa missão que hoje iniciam vai lhes mostrar, como diz o poeta Caetano Veloso, “a dor e a delícia” de ser o que são. Certamente, assim como nós que hoje deixamos os cargos, vocês sairão transformados dessa experiência.

Para terminar, quero lembrar-nos de Freud, no seu texto O mal-estar na civilização, em que ele fala da constante luta das pulsões de vida e de destruição. Enquanto Eros trabalha pela coesão e manutenção da vida, as pulsões destrutivas semeiam a disrupção e a discórdia. Para conviver bem em qualquer grupo, temos de contornar o inevitável mal-estar que surge do antagonismo entre o desejo individual e as restrições impostas pela vida no coletivo. Como analistas, mais do que quaisquer outros, temos que reconhecer nossa condição de seres de falta e aceitar a inevitável castração para seguirmos adiante.

E isso significa deixar uma posição de acomodação e inércia e escolher algo que nos desafia e que possa conduzir a um bem-estar comum, tanto quanto possível.

A posição que ocupamos à frente de uma sociedade de pares é sempre uma posição de serviço, e, assim, deve haver um rodízio, para que todos possam participar, tanto recebendo benefícios quanto trabalhando nas diferentes funções da comunidade como um todo.

Esperamos que, depois de vocês venham outros e depois mais outros, para que possamos nos manter vivos, enquanto uma instituição de psicanálise.

Permitam-me concluir com Guimarães Rosa, quando fala no Grande Sertão: Veredas:

Só se pode viver perto do outro,
e conhecer outra pessoa,
sem perigo de ódio,
se a gente tem amor.
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

Eliana Rodrigues Pereira Mendes
Presidente do triênio 2011/2014

 

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