Agradeço a presença de todos, me faz muito feliz. Agradeço aos colegas que aceitaram compor este Grupo de Trabalho intitulado por mim de De volta para o futuro, para estarmos à frente desta Instituição que, ao longo de sua própria história, nos acolheu. Assumimos hoje o seu legado. Uma instituição robusta e respeitada em seus 60 anos!
Agradeço aos meus colegas da turma de 1986 do Instituto de Psicanálise do Círculo Psicanalítico, pelos muitos anos de convivência e de boas parcerias de trabalho e afetivas. Iniciamos nossa formação em psicanálise após um processo seletivo, com a participação de cerca de 80 candidatos. A Diretoria de então resolveu aprovar 24 candidatos, dividindo em duas turmas de 12. Em junho de 1991, em uma única assembleia geral, foram votadas e aprovadas 13 pessoas com a formação já concluída, como sócios do CPMG. São eles: André Faria D’Azevedo Carneiro, Carlos Antônio Andrade Mello, José Sebastião Menezes Fernandes, Léa Meilman, Maria Cristina Resende Penna, Maria de Lourdes Guimarães de Almeida Barros, Marília Brandão Lemos de Morais Kallas, Marisa Decat Moura, Sônia Cury da Silva, Suzanne Beaudette Drummond, Tatiana de Tscherbakowski de Guimarães Mourão e Túlcia Vasconcelos Barros Poggiali e eu. Como podem ver, restamos no quadro societário nós 5, todos da turma 2 do Instituto de Formação: Túlcia Vasconcelos Barros Poggiali, Suzanne Beaudette Drummond, Carlos Antônio Andrade Mello, Marília Brandão Lemos de Morais Kallas e eu.
Nascia em 1963 o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda - Seção Minas Gerais, tendo como fundador o Professor Malomar Lund Edelweiss, padre e diretor da Universidade Católica de Pelotas (RS), que se transferiu para Belo Horizonte, para responder de alguma forma à demanda de um grupo de psiquiatras mineiros que buscavam uma formação em psicanálise. São nossos pais Elba Duque de Moura, Djalma Teixeira Oliveira, Jarbas Moacir Portela, Antônio Franco Ribeiro da Silva e Eunice Rangel. Em 1970 nova nominação: Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.
O Professor Malomar, analisante de Igor Caruso e analista de nossos pais – os didatas. Pai, do pai, do pai. Como reconstruir nossa história? Que pista seguimos? Abrindo o álbum de retratos – a família do CPMG, reconstituindo os retalhos, fragmentos de biografias, atas, textos? Abrimos nosso próprio arquivo ou abandonamos a ideia de uma história coerente, de fio a pavio, deixando-nos trabalhar pelo que nos trabalha?
É na trança de fios que o saber inconsciente trabalha em nós e, em forma de nós, no sentido de amarrar ou construir cada sujeito. Como num tear, pensamentos, linguagem e relações sociais são trançados juntos. “Somos desde antes de nosso nascimento e para além de nossa morte presos na cadeia simbólica, na qual se fundou a linhagem antes que aí se bordasse a história” (Lacan, 1978, p. 199).1
Trança da vida, trança de cada um do Grupo de Trabalho que hoje nos enlaça, nos permitindo assumir a vida com plenitude, aqui e agora, assumir o fabuloso legado que nos deixaram e sem nenhuma fantasia futura de redenção.
Estamos advertidos. Freud,2 na Conferência XXXIV: Explicações, aplicações e orientações, de 1933, nos diz:
Não se deve esperar ouvir a boa notícia que a luta contra a psicanálise terminou ou que ela deixou de ser usada por verdadeiros falsários. A conversação gira em torno de psicanálise, e os senhores ouvirão as mais diferentes pessoas emitindo sua opinião a respeito dela, na sua maioria em tom de inabalável certeza. Muito frequentemente, o julgamento é desdenhoso, ou, amiúde, difamatório, ou, no mínimo, jocoso.
Freud combateu o bom combate, lidando com as críticas e a indiferença do meio médico de sua época, com julgamentos sobre a psicanálise. Lutou durante toda a vida. Teceu um nó, bordando ou tramando um sonho.
Não somos incautos. O que é para nós combater o bom combate? É carregar a chama do descobrimento que nos tocou fundo – a psicanálise.
Como seres transitórios, passageiros de uma curta viagem, deixá-la como dádiva aos novos, jovens, em todo o onipotente fulgor da sua ilusão de eternidade.
Mas como fazê-lo, como transmitir o que nos encantou? Tal como nós, os modelos institucionais são transitórios, adaptados ao seu tempo, sendo os anteriores, ciclotimicamente destruídos pelas novas gerações, na sua eterna luta edipiana, furiosa e poderosa que, parafraseando Caetano Veloso, ergue e destrói coisas belas.
Têm a nós como modelo e desafio, nós na ânsia de perpetuarmo-nos e a pérola do saber psicanalítico. Porque sabemos o que eles não sabem, que tal saber revolucionou não só a nós como a nossa maneira de ver o mundo, mas ao próprio mundo, ousando desmascarar Deus, as religiões e o pretenso saber em suas várias formas de apresentação.
Deu-nos, entretanto, a nossa dose de melancolia, ao nos propiciar ver a vida humana, suas ilusões, desejos e pequenez, pesado fardo a carregar em nosso fazer.
Para carregar a peste, cada um trama seu sonho, borda a sua história. Presente, passado e futuro se enlaçam, numa torção moebiana produzindo a possibilidade de desejar. Sonhar para tramar novas narrativas, sonhar para despertar o desejo, desejar para deixar marcas singulares. “O desejo utiliza uma ocasião do presente para projetar, nos moldes do passado, um quadro do futuro”, diz Freud em Escritores criativos e devaneios.3
Na trança da vida, cada um trama o seu sonho. Sonho, transmitir no modelo mais adequado aos tempos atuais a preciosidade que Freud nos doou. Para tanto, conto com todos. Obrigada!












