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Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.33 no.3 Rio de Janeiro set./dez. 2021
EDITORIAL
A revista Psicologia Clínica apresenta seu número 33.3, com o título "O fazer da psicologia no Brasil a partir de uma perspectiva psicanalítica: Clínica, pesquisas e políticas públicas". O fascículo inclui nove artigos, em duas seções, uma temática e outra livre. Com o mesmo título deste número da revista, a seção temática é composta de sete trabalhos, enquanto a seção livre tem dois.
A organização desta edição da revista, como de praxe, se inicia com a seção temática, seguida pela seção livre. A composição da seção temática levou em conta a predominância de temas ligados à teoria psicanalítica. Os trabalhos, com uma mesma raiz teórica (dentro da pluralidade do campo) apresentam olhares sobre contextos específicos da atuação e do papel terapêutico, como a área hospitalar, a educação, a clínica, a pesquisa e a discussão teórica.
O primeiro dos trabalhos sobre o fazer da psicologia sob uma perspectiva psicanalítica é focado no conceito de mutualidade da relação entre pais (ou cuidadores) e seu bebê, especificamente num contexto de hospitalização devido à prematuridade. O artigo, com o título de Experiência de mutualidade na unidade de terapia intensiva neonatal, versa sobre tema delicado e relevante, abordado principalmente segundo o olhar da teoria de Winnicott pelas autoras Raissa Hahn Saikoski (Instituto de Terapias Integradas de Porto Alegre, ITIPOA), Fabiana Faria Giguer (Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, FADERGS) e Milena da Rosa Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS).
O segundo trabalho envolve um olhar sobre o adoecimento psicológico ligado ao trabalho (o burnout) entre docentes da rede pública. O artigo é intitulado Burnout na educação: Precarização e suas repercussões na saúde do professor da rede pública, de autoria de Milânia Gomez (Universidade Veiga de Almeida, UVA) e Perla Klautau (Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, IP/UFRJ).
As transformações do mal-estar e o lugar da psicanálise após a era da técnica é o terceiro trabalho do fascículo e da seção temática. O trabalho foi produzido por Cleyton Sidney de Andrade e Inácio Antonio Silva de Mariz (ambos da Universidade Federal de Alagoas, UFAL) e envolve uma discussão teórica sobre a teoria psicanalítica e seu papel durante as transformações científicas e sociais que a sociedade experimentou desde o surgimento da teoria.
O quarto trabalho apresentado neste número é uma pesquisa empírica sobre a clínica psicanalítica em casos de fibromialgia. Chamado de Fibromialgia: Impasses da demanda para a clínica psicanalítica, o trabalho usa métodos da análise de conteúdo para discutir aspectos do tratamento psicoterápico envolvendo portadores dessa condição de saúde. Este trabalho foi produzido pelos autores Tiago Humberto Rodrigues Rocha (Universidade Federal do Triângulo Mineiro, UFTM) e Ludmila Madeira Jesus (Universidade Federal de Uberlândia, UFU).
Ainda na temática da psicanálise e para, além de utilizá-la em contextos, discutir sua transformação, foi possível contar com trabalhos dedicados ao desenvolvimento de pesquisas na área. O quinto trabalho, com o título Delineamento de pesquisa no campo psicanalítico: Uma proposição sintética, de Érico Bruno Viana Campos (Universidade Estatual Paulista, UNESP) é um dos exemplos dessa abordagem. No artigo, o autor sugere de forma embasada que pesquisas científicas considerem estudar a teoria, mas sempre levando em conta aspectos de validade externa, ligando-a a outros saberes. O artigo ressalta a necessidade e a importância de pesquisas na área atentarem também para estudos empíricos, mas sem abandonar discussões teóricas e metodológicas. Ou seja, vemos nesta edição o uso da teoria, porém aliado à preocupação em mantê-la atualizada e ciente das inovações científicas e sociais.
Avançando na perspectiva de utilizar o saber psicanalítico, atualizá-lo e constantemente testá-lo e adaptá-lo para que se torne mais adequado, o sexto artigo deste número é um trabalho teórico justamente sobre a experimentação para a formulação teórica na clínica. É um trabalho produzido por Carlos Augusto Peixoto Junior (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio) sobre Sándor Ferenczi e os conflitos do uso da experimentação para a construção de sua teoria dentro da psicanálise, que recebeu o título de Experimentation and prudence in Sándor Ferenczi's clinic, publicado em inglês na revista.
Fechando a seção temática, apresentamos um artigo de revisão de literatura que buscou relacionar conceitos da psicanálise e a ideia de utopia. Este trabalho, realizado pelos autores Thales Fonseca e Fuad Kyrillos Neto (ambos da Universidade Federal de São João del-Rei, UFSJ) leva o título Psicanálise e utopia: Diálogos sobre abordagens divergentes.
Na seção livre, temos dois artigos. O primeiro é uma revisão sistemática de trabalhos sobre o atendimento psicológico por meio de Libras a pessoas com deficiência auditiva. O estudo foi realizado por Jesaías Leite Ferreira Junior, Henrique Jorge Simões Bezerra e Edneia de Oliveira Alves (todos filiados à Universidade Federal da Paraíba, UFPB) e recebeu o título de Atendimento psicológico à pessoa surda por meio da Libras no Brasil: Uma revisão de literatura.
O último trabalho, que fecha a seção livre e este fascículo, tem o título Habilidades terapêuticas interpessoais: A retomada de Carl Rogers na prática da psicologia baseada em evidências. O artigo é de autoria de Lucia Marques Stenzel (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, UFCSPA) e investiga elementos, comuns a diferentes abordagens terapêuticas, que têm embasamento e proposição teórica na teoria de Carl Rogers. Em particular, ao apontar como os aspectos interpessoais são destacados como elemento chave nos mais diferentes processos terapêuticos, a autora apresenta tais evidências e pressupostos humanistas anteriormente defendidos por Carl Rogers como aspectos condicionais para o processo terapêutico.
Com o conjunto de trabalhos apresentados, a edição 33.3 de Psicologia Clínica fecha as publicações de 2021. Em especial, reforçamos os agradecimentos e os parabéns aos autores que se dedicam para produzir conhecimento na área e subsidiam conteúdo para nossa revista. Também fica o registro e os agradecimentos aos autores que submeteram artigos mas não os tiveram publicados na revista. O interesse e prestígio do periódico passa também por seus leitores e pelos autores interessados em publicar. Finalmente, um registro especial, em nome do conselho editorial, a todos os pareceristas que dedicaram seu tempo e atenção para contribuir com nossa revista.
Breno Sanvicente-Vieira