SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.39 número71A escrita do analista: investigação, teoria e clínica índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. v.39 n.71 São Paulo dez. 2006

 

REFLEXÕES SOBRE O TEMA

 

Psicanálise e ciências sociais: tecendo novos caminhos de pesquisa

 

Psychoanalysis and social sciences: interlacing new paths in research

 

Psicoanálisis y ciencias sociales: abriendo nuevos caminos de investigación

 

 

Amnéris Maroni*

Profa. Dra. no Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Dou um testemunho sobre novos caminhos de pesquisa nas Ciências Sociais que levam em conta a subjetividade: meus primeiros contatos, a descoberta das potencialidades até o exercício desses caminhos com os meus alunos na pós-graduação. Valho-me de vários elementos inscritos no método psicanalítico: uma redefinição da noção de sujeito e objeto; a inscrição de um tempo-certo na pesquisa, o tempo kairótico; a presença do terceiro analítico ou terceiro parceiro na pesquisa qualitativa. Destaco as aprendizagens com esses novos caminhos de pesquisa: 1) a transformação do próprio aparelho de pensar do pesquisador: do pensamento penetrante, legislativo, egóico para o pensamento-acolhimento, meditativo; 2) uma outra concepção de realidade, onde o subjetivo e o objetivo estão misturados, muito embora não se confundam, o chamado "espaço intermediário".

Palavras-chave: Terceiro analítico, Tempo kairótico, Pensamento legislativo, Pensamento meditativo, Espaço intermediário.


ABSTRACT

This is a testimony about new paths of research in Social Sciences which take into account human subjectivity: my first contacts, the discovery of its richness and the actual instrumentation and practice of such paths with my post-graduation students in Social Sciences. My approach takes into account various elements present in the psychoanalythical method: a redefinition of the subject and object notion, the inscription of the concept of the "right-time" in research, the kairotic time; the presence of the "analytical third¨, or the "third partner" in"qualitative research. I give special importance"to the learning elements that such paths of research open up: 1) the transformation of the very thinking frame of the researcher: from penetrating, legislative, egoic thought to welcoming, meditative thought; 2) a different way of conceiving"reality whereby the subjective and the objective intermingle whithout entagling one another, that is the so-called "intermediate space".

Keywords: Analytical third, or third partner, Kairotic time, Legislative thought, Meditative thought, Intermediate space.


RESUMEN

Presento un testimonio sobre nuevos caminos de investigación en las ciencias sociales que toman en cuenta la subjetividad: mis primeros contactos y el descubrimiento de las potencialidades hasta el exercicio de esos caminos con mis alumnos en la post-graduación. Válgome de varios elementos inscritos en el método psicoanalítico: una redefinición de la noción de sujeto y objeto; la inscripción de una duración apropiada en la investigación, el tiempo kairótico; la presencia del tercer analítico o tercer par en la investigación cualitativa. Destaco los aprendizajes con esos nuevos caminos de investigación: 1) la transformación del proprio aparato de pensar del investigador: del pensamiento penetrante, legislativo, egoico para el pensamiento-recogimiento, meditativo; 2) una otra concepción de realidad, donde lo subjetivo y lo objetivo están mezclados, pero no se confunden, el llamado "espacio intermedio".

Palabras clave: Tercer analítico, Tiempo kairótico, Pensamiento legislativo, Pensamiento meditativo, Espacio intermedio.


 

 

A resposta é a desgraça da pergunta.

Maurice Blanchot

Descobri a importância da subjetividade na pesquisa numa sessão de psicanálise. Depois de relatar para o meu analista a minha pesquisa de mestrado, dei-me conta de que meus afetos, meus principais vínculos afetivos, estavam ali travestidos. Nas entrevistas feitas, as palavras eram dos outros, dos meus entrevistados, na época operários, mas as perguntas-guias, que traziam à tona as suas (deles) narrativas, foram tecidas a partir dos meus afetos primários, das minhas inquietações inconscientes, dos meus traumas não reconhecidos e não nomeados. Minha surpresa foi imensa quando me dei conta de que as alianças políticas que via lá fora eram na verdade parte da minha subjetividade; o que defendia que florescesse lá fora não era senão o que estava esmagado e não encontrava caminhos na minha alma (Maroni, 1983). O mundo interno — o da subjetividade — e o da realidade externa (social e política) cruzavam-se o tempo todo. Como isso era possível no país de Descartes? Na concepção cartesiana o enlace entre esses dois mundos não é possível. Essa foi a minha primeira lição antimoderna. Seguiram-se outras, muitas outras, um número sem fim de descobertas que me ensinaram certas falácias da modernidade e da objetividade científica. Faço a seguir um testemunho do meu espanto ao constatar "como me narrava ao fazer ciência" e os vários desdobramentos metodológicos dessa descoberta.

Nesse dia, como disse, um novo mundo desvelou-se para mim. O mundo da neutralidade científica, da separação entre sujeito e objeto na pesquisa científica, do chamado rigor metodológico, caiu por terra. Compreendi, então, que não fazemos senão narrar nossos afetos, nossos traumas, nossos vínculos primários — muito embora não estejamos conscientes disso! A objetividade possível de ser conquistada — e ela deve ser conquistada — é aquela que reconhece a subjetividade como momento primeiro da pesquisa científica.

Naquela sessão de análise dei-me conta de que existia uma realidade que até então jamais nomeara: a "realidade psíquica", que, para meu espanto, era dinâmica e atuava. Minha ingenuidade, meu desconhecimento dessa realidade psíquica, lhe permitiu uma atuação ilimitada, inconsciente e intensa! Essa realidade psíquica recém-descoberta e a "realidade exterior" estavam — também para o meu espanto! — de alguma maneira relacionadas. Percebi um vínculo entre essas duas realidades; sujeito e objeto de uma estranha maneira se pertenciam, havia entre eles uma "morada conjunta".

 

Pergunta-sem-resposta e lugar vazio

Junto a essa constatação — refiro-me à "morada conjunta" —, formulei uma pergunta que, devo reconhecer, enraizava-se numa crise existencial que vivenciava, muito mais ampla do que a crise científica. Não vale a pena para os que agora me lêem narrar a crise existencial que então atravessava; antes, é mais interessante voltarmos à pergunta formulada.

A pergunta era muito simples; a resposta, porém, não era fácil. A pergunta que fiz foi desde sempre cantada por todos os poetas. Os poetas fazem perguntas enigmáticas - ao contrário dos cientistas, que só formulam perguntas passíveis de respostas. Eis uma diferença importante. A pergunta que fiz tinha a peculiaridade de não ter respostas. É exatamente uma pergunta não passível de resposta que precisamos formular um dia na vida para torná-la inquietante. Pois foi assim que se deu: depois da pergunta minha vida transfigurou-se. Perguntei então: "Existimos. A que será que se destina?".

Não há respostas para essa pergunta. Melhor: há infinitas respostas para essa pergunta-sem-resposta. É exatamente por isso que é uma pergunta-originária e não ôntica — para me valer da compreensão heideggeriana.

Essa pergunta originária, quero dizer, sem resposta, tem o mesmo estatuto teórico da "experiência benjaminiana" (Benjamin, 1994)1. Ocorreu-me essa associação porque W. Benjamin afirma que o desejo é da ordem da experiência. E o que é o desejo? O desejo, sabemos desde Platão, é o que nos falta (Platão, 1983). Não desejamos o que temos; desejamos o que nos falta. O desejo tem a ver com a perda — a perda do objeto primário. Só desejamos porque um dia perdemos (Kehl, 1990). O desejo tem então a ver com a memória inconsciente, com a memória involuntária, para ser fiel a Benjamin e a Proust. Podemos perguntar pelo desejo, nosso desejo, e, todavia, ele sempre nos escapa, pois de alguma maneira relaciona-se com o "fundo do fim": uma espécie de inconsciente coletivo ou alma do mundo. Nesse escape, constante escape, acumulamos aprendizagens e fazemos travessias. O desejo tanto em Platão quanto em Freud é ascensional, implica sublimação e aponta para a simbolização. Em termos psicanalíticos diríamos que o desejo pode ser elaborado. Assim também a experiência. Tudo que dissemos do desejo é também da experiência, e por isso W. Benjamin os equipara.

E nós equiparamos a pergunta originária com a experiência benjaminiana. A pergunta originária, ela também, implica falta, memória involuntária, constante travestimento, o acúmulo-aprendizagem, a ligação com a alma do mundo, a elaboração-simbolização, grandes travessias.

A "pergunta-originária" é experiência: experiência de vida, experiência na vida. Exatamente por ser pergunta-sem-resposta, a pergunta-originária é lugar vazio. Eis o lugar-na-alma, na psique, na mente — como preferirem —, que nos permite movimento: fazer experiências, fazer pesquisas.

 

O "lugar-juiz" e o "lugar vazio"

E. Kant levou, como se sabe, a razão para um tribunal: o tribunal da razão, a Crítica da razão pura (Kant, 1997). Nesse tribunal, criou uma metáfora, a metáfora da modernidade — refiro-me ao juiz e às testemunhas. O juiz (o sujeito do conhecimento) indaga as testemunhas (o objeto do conhecimento). Como em um tribunal, as testemunhas só podem responder ao que o juiz perguntar. Vamos então reter que o sujeito do conhecimento é o juiz que formula perguntas absolutamente respondíveis, e que as testemunhas (os objetos do conhecimento) devem a elas se ater e só a elas! O "lugar-juiz" — na alma, psique, mente — do sujeito moderno é muito diferente do "lugar vazio" da pergunta originária, da pergunta sem resposta.

Voltando então ao meu testemunho, fiz, sem querer, sem imaginar quais seriam as conseqüências, uma pergunta — popular, poética, mas sem resposta. É curioso pensar que, uma vez feita a pergunta, a pergunta nos tem. Ou seja, não podemos mais nos livrar dela; sofremos, a partir daí, uma espécie de seqüestro pela pergunta-sem-resposta, pelo lugar vazio da alma.

Com a pergunta-sem-resposta que me ocorreu e que transformei em pesquisa científica fiz a minha tese de doutorado, escrevi três livros (Maroni, 1998, 2002, 2005) e dezenas de artigos. Minha pergunta-sem-resposta ("Existimos. A que será que se destina?") interroga a origem e o fim da existência; interroga quem sou eu — em mim — e quem é o outro fora de mim. Minha pergunta-sem-resposta quer saber dos mistérios, e então pude inquiri-los em toda parte. Primeiro perguntei para Carl Gustav Jung sobre os mistérios da existência e, particularmente, sobre os mistérios que me interessavam: o da origem e do fim, o eu e o outro. Ele, Jung, também parecia interessado, ao longo de sua vida e obra, em dar-lhes um lugar, em simbolizá-los, em fazer o movimento de circumambulation em torno do que não se mostra, quero dizer, do que não se mostra totalmente, mas dá indícios de si. O mistério não seria mistério se se mostrasse todo; também não seria se se escondesse todo. O mistério é mistério porque se encobre, mas também se mostra quando quer, e por isso a posição do pesquisador — cuja pergunta-sem-resposta indaga o mistério — tem que ser passiva, mas concentrada e atenta naquilo que se esconde. A seguir e sempre insatisfeita com as respostas que encontrava, fiz as mesmas perguntas para W. R. Bion e, depois, para D. Winnicott. E sigo perguntando e obtendo respostas. E assim, ao que parece, continuarei. Fazer perguntas-sem-respostas é o meu destino.

Quero, porém, contar para o leitor que cá e lá, durante esse anos, fui descobrindo companheiros de viagem, quero dizer, fui fazendo pontes com autores, filósofos e psicanalistas que me autorizaram a continuar pensando que obra e personalidade, seja a do filósofo seja a do psicanalista, não se separam. Essa, como se sabe, é a lição que F. Nietzsche e C.G. Jung nos legaram, pois ambos se recusaram a fazer essa separação. Nietzsche leu os filósofos gregos buscando extrair de cada sistema filosófico o "fragmento de personalidade": a única realidade eternamente irrefutável (Nietzsche, 1987). Ao lê-los assim, concluiu que a maior parte do pensamento consciente, e até mesmo o pensamento filosófico, deve ser incluída entre as atividades instintivas. O próprio Nietzsche e sua filosofia não escapam disso, pois "toda grande filosofia" é a "confissão pessoal de seu autor", e Nietzsche não se vê como exceção; antes considera que pela primeira vez, através da sua obra filosófica, a autoconfissão explicita-se sem que isto se dê de forma involuntária e despercebida, mas consciente e voluntária (Turcke, 1992). Também Jung não separa a obra e a pessoa do psicólogo. Para ele, toda a psicologia tem o caráter de uma confissão subjetiva2. Para Jung, não é possível encontrar a verdade sobre a psique; o que melhor se consegue nessa área são "expressões verdadeiras": confissões e apresentações detalhadas do que se observa subjetivamente. Múltiplas são as "expressões verdadeiras" nas searas da psicologia porque múltiplas são as subjetividades. É a partir desse pressuposto — da confissão subjetiva — que tanto para Nietzsche quanto para Jung é possível a objetividade. A objetividade não é senão uma extensão da subjetividade (Thiele, 1990). Ignorar esse pressuposto, para Jung, significa ingenuidade teórica, pois a subjetividade não deixa de atuar porque, em parte, é inconsciente e, o que é pior, atua buscando universalizar-se. Da mesma forma que para Nietzsche, também para Jung não há que se confundir essa proposição com o relativismo que faz do "meramente subjetivo" uma sabedoria, desqualificando-se a si mesmo.

A pergunta-sem-resposta veio acompanhada de exigências metodológicas inusitadas. Explico-me: uma vez constelado o lugar vazio na alma, o método exigido — lembremo-nos que ódos em grego é caminho — é peculiar; essa peculiaridade só pode ser redescoberta se tivermos presente que o caminho (o método) não pode ser aquele de Descartes, pois este é a própria expressão do sujeito do conhecimento moderno, que, ao debruçar-se sobre o objeto do conhecimento, controla, através do método, seus (do pesquisador) processos volitivos e cognitivos. Prefiro pensar o método de um ponto de vista mais original e arcaico. Uma das brilhantes exposições do caminho é o Fedro de Platão (Platão, 1973). Lá o caminho implica diálogo, o exercício mesmo da dialética; o caminho envolve o selo do divino, e, não por outra razão, Sócrates, antes de iniciar o diálogo3, faz uma reverência ao deus interno, ao seu daimon, e compromete-se com a verdade, falando então verdadeiramente. Sem este selo divino a fala4 pode só parecer verdadeira, pura retórica. É também notável que o caminho no Fedro não é linear, mas tortuoso, pois os participantes do diálogo param, contornam, descansam, retomam. São três os elementos (o diálogo, a reverência ao divino, a não-linearidade) que compunham o método arcaico, o caminho, e que nos distanciam muito da concepção moderna de método. É o caminho arcaico que privilegiaremos. Também, para nós, o diálogo é importante: com o outro-entrevistado, o outro-livro, o outro-idéias, o outro-teoria, o outro-pesquisador, o outro-orientando, todos os outros; também, para nós, o selo do divino é fundamental, quero dizer, o compromisso com a subjetividade, com a psique-do-pesquisador; só com esse compromisso vivo a verdade torna-se exigência imperiosa; também, para nós, o linear não é valorizado — antes, valorizamos os contornos, os imprevistos do caminho, os improvisos, os insights, valorizamos o perder-se, única maneira de encontrar-se em um outro patamar. Mas há mais. No caminho inscrito na pergunta-sem-resposta a falta que lhe é constitutiva mobiliza a ação, mobiliza a escuta. Caçador à espreita da caça e então muita, mas muita ação, só que "ação parada", pois, como ficará claro no próximo item, é "o mundo-que-chega" e não o "pesquisador-que-vai".

 

Afinidades eletivas, o momento certo e o terceiro parceiro

Talvez o primeiro item dessa metodologia seja o das afinidades eletivasgoethianas, pois vamos, no transcorrer da pesquisa, percebendo um sem-número de afinidades eletivas absolutamente não previstas, vale dizer, as analogias inesperadas começam a ser tecidas: um livro aparece, um professor dá uma aula, assiste-se a uma palestra. O mundo parece cantar uma única canção: a nossa canção, a canção referente à nossa pergunta. É assim que funciona quando constelamos uma pergunta originária; o lugar vazio da alma mobiliza e aguça uma escuta peculiar, e o que é mais incrível: o mundo todo responde!

O segundo elemento do método é a aprendizagem do "momento certo", do "momento oportuno" — do kairós. De novo, essa aprendizagem nos ajuda muito a compreender o valor da "busca parada", de uma "ação que não procura, só acha". Quando experienciamos, no transcorrer da pesquisa, o momento certo, reconhecemos nele uma tal generosidade, uma tal abundância, tamanha doação de sentido que, a partir de então, nos educamos nessa direção, na direção da aprendizagem do tempo, do tempo certo, do kairós: um tempo humano, inscrito na esfera humana.

Ora, é exatamente porque esse tempo (o tempo kairótico) nos pertence — pertence à esfera humana — que sua percepção, sua aprendizagem, nos remete a um outro tempo, um tempo originário: o Aión. Diferentemente de khrónos, o tempo quantitativo, de controle, devorador, sempre igual, a serviço da morte, Aión é o tempo qualitativo, tempo revelação, tempo próprio, tempo da entrada do novo no mundo, um tempo a serviço da vida. O Aión, o tempo-certo, qualitativo, está, estranhamente, ligado à pergunta-sem-resposta, à pergunta originária. No tempo-certo a pergunta emergiu como pergunta, e as respostas possíveis e múltiplas também acontecerão no momento certo. A sagacidade humana é dar-se conta disso: kairós na "busca parada".

Outro elemento do método que gostaria de comentar é o terceiro analítico. O terceiro parceiro, como Jung gostava de nomeá-lo (Jung, 1954, p. 188), é descoberta da psicologia profunda e da psicanálise (Ogden, 1996). Montamos um terceiro parceiro no diálogo com os nossos entrevistados em uma pesquisa, no diálogo com um autor e com o livro durante uma leitura. O terceiro analítico é um campo comum entre duas (ou mais) subjetividades; pode ser destrutivo, mas pode ser também infinitamente criativo. Com esse campo comum constelado — que não se confunde com os conceitos de transferência, contratransferência, identificação projetiva, projeção — podemos e fazemos ilações não previstas, lembramos o esquecido, elementos inconscientes fazem-se conscientes, temos uma infinidade de insights. Isso se dá todas as vezes que montamos um campo criativo. Quero ilustrar a criatividade do terceiro parceiro contando como este artigo nasceu. Tenho um grupo-oficina de produção de textos; dele participam a professora Ecleide Furlanetto, a psicóloga Eda Canepa e eu. Somos três professoras-orientadoras-na-área-psi e temos já bastante tempo-pesquisa. Semanalmente, há anos, trocamos experiências, espantos e conhecimentos; não raro fazemos perguntas — e, nesse grupo, é perigoso, mas muito perigoso mesmo, fazer perguntas, pois uma vez feita uma pergunta, uma pergunta-que-amamos, invariavelmente seremos atropeladas por imensa criatividade, que nos obrigará a produzir algo escrito em torno da questão. Uma das perguntas que surgiram no grupo — pergunta proposta por Ecleide Furlanetto — foi a respeito do método autobiográfico, e, então, imediatamente os fios se teceram em torno do problema, nascendo este artigo. Seria, desta forma, imperdoável que não nomeasse e narrasse o berço deste escrito, pois ele nasceu e fertilizou-se no grupo. É exatamente assim que funciona o terceiro parceiro quando o campo é criativo e é por essa razão que agora no grupo temos uma nova pergunta: o que significa hoje a autoria? Qual o valor da autoria num mundo em que pensamentos estão em busca de pensadores — como diz W. R. Bion — e as perguntas-respostas emergem, indiscutivelmente, dos campos criativos, dos terceiros parceiros?

Quanto mais somos conscientes desses campos interativos, mais doadores se tornam e, com isso, a pesquisa passa a ser um campo aberto de aventura. Aliás, esse último aspecto é bem interessante e merece um rápido comentário. Quem faz pesquisa contando com esses campos vive o espanto e pode construir — exatamente como estou fazendo neste momento — uma etnografia da alma, pois esse diálogo do indivíduo com o mundo-invisível encanta e não raro ouvimos depoimentos de espanto e êxtase: "Como encontrei esta pessoa para me dar esse depoimento?"; "Este livro parece ter vindo de encomenda"; "Aquela conferência foi um divisor de águas, pois o professor respondeu a uma questão que me angustiava há anos". É assim que caminhamos: de surpresa em surpresa!

Mobilizados pela nossa pergunta-sem-resposta, pela nossa pergunta-originária, conquistamos uma escrita poética, pois nos arriscamos cada vez mais no metafórico e cultivamos cada vez mais a beleza. A escrita deixa de ser dura, científica, conceitual; essa escrita cultivada no meio científico torna a feiúra sinônimo de cientificidade! É incrível como ciência e beleza se dissociaram na ciência moderna. Mobilizados pelo afeto, vinculamo-nos e isso é inevitável. Vínculo, é bom lembrar, é Eros, é amor. Ao estabelecermos vínculos afetivos com a própria pesquisa, com o orientador, com os colegas, com os entrevistados, com os livros que amamos, só podemos produzir, como bem disse Gauthier (2004), confetos (conceitos-com-afeto) e uma escrita poética livre, espontânea e brincalhona. Brincar aqui não é senão metaforizar, simbolizar, poetar. Escrita inspirada, porque inspirados estamos pelo kairós, pelo "tempo certo", recebendo infinitas doações de sentido.

 

Pensamento-acolhimento e espaço intermediário

O que resulta dessa aprendizagem?

Quero destacar três grandes aprendizagens, elas mesmas transformações do mental, transformações do aparelho de pensar — como diria W. R. Bion (1994).

A mobilização e o aguçamento da escuta nos levam para o pensamento-acolhimento, para o acolhimento dos pensamentos que estão em busca de pensadores(Bion, 1994, p. 185). Esse acolhimento implica uma certa passividade, o wu wei: a ação sem ação, como diria Jung (2001). Esse acolhimento pode intensificar-se muito, e a pesquisa, ao mobilizar a escuta, abre-nos para esse pensamento que tem muito de meditativo. Essa transformação do aparelho de pensar faz da colheita uma aventura do pensamento.

O pensamento-penetrante, egóico, moderno, legislativo, ativo, que equaciona o mundo como causa e efeito de maneira mecânica e que se debruça sobre o objeto para inquirilo, qual um juiz frente a testemunhas, perde completamente a relevância se tivermos presentes as proposições acima. O pensamento-penetrante e legislativo está montado a partir de duas realidades (interna e externa) estanques e separadas — para Descartes, trata-se de duas substâncias. Arrogante, o pensamento penetrante exige das testemunhas respostas às suas perguntas, e, como são testemunhas em um tribunal, não lhes é dada a possibilidade da fala espontânea; a elas não cabe queixar-se, reivindicar, acusar. Esmagados pela autoridade do juiz no tribunal, os objetos silenciaram, e nós, sujeitos do conhecimento, ficamos surdos a qualquer pergunta que fuja da legislação instituída e aceita, ficamos surdos a qualquer resposta espontânea. Obviamente, várias escolas de pensamento se revoltaram contra o tribunal da razão e o sujeito legislativo: a fenomenologia, a psicanálise, o existencialismo, etc. A pesquisa na universidade, todavia, continua sendo feita de forma tradicional; o fazer ciência dessa maneira é inquestionável, uma espécie de natureza, segunda natureza.

Poder-se-ia perguntar: e o pensamento-acolhimento conhece? Faz ciência? Parece-me que sim; é, porém, um outro conhecer, uma outra ciência que está em gestação. Esse conhecer não se presta — como o conhecimento moderno — ao controle e ao poder; antes, é preciso, exatamente, abrir mão do controle egóico e do poder da ordem para colher. Colheita é entrega. Escuta é respeito.

Resulta dessa aprendizagem outra concepção de realidade. Essa é, talvez, a questão de maior relevância, pois a realidade não pode ser vista ingenuamente como o exterior, ou o que está dado. A realidade, nós sabemos — e definitivamente a modernidade nos provou isso —, é produzida. O sujeito legislador e a razão legislativa produziram a realidade moderna. Ou seja, vemo-nos e agimos a partir de um determinado quadro mental. Acostumamo-nos — nós modernos — a arrogantemente ver a realidade como externa, pronta para se deixar moldar, silenciada e não reivindicante, lá fora, separada de nós. E a realidade interior como pensamento. Ora, os novos caminhos propostos redefinem essas concepções de realidade: o sujeito deixa de ser sujeito consciente, egóico, unitário. Muitas são as teorias hoje que desconstroem definitivamente essa proposição. Fiquemos com a psicanálise. A consciência está longe de ser o fundamento do sujeito, já que ela é — juntamente com o eu — derivada do inconsciente. Vale dizer, o mundo das pulsões psíquicas, do desejo, dos afetos é o que explica a nossa ação e, como insisti ao longo desse artigo, os nossos pensamentos. Juntamente com o sujeito-consciente moderno cai por terra o sujeito-representação. A idéia de representação é constitutiva da modernidade, pois podemos representar aquilo — a realidade — que está fora e é radicalmente diferente de nós. Colher o que brota da escuta e transformar talvez apareçam, hoje, como proposições mais pertinentes para esse sujeito-desejante, sujeito-afeto.

Uma vez que a pergunta-originária emerge, deixam de ter sentido essas duas realidades separadas, pois o subjetivo e o objetivo estão, desde o primeiro momento, ligados. A pergunta-sem-resposta e a metodologia que lhe é afim farão um casamento entre o subjetivo e o objetivo, porque o objetivo — o real, a natureza —, nesse método, fala, emite sinais, dialoga com o sujeito-pergunta. As afinidades eletivas que se estabelecem entre o externo e o interno, as sincronicidades — vistas como a própria fala da potência divina Aión — vão, de novo, animando e encantando a natureza e o real. Ao final — não há final! —, subjetivo e objetivo estão misturados, embora não se confundam. Sabemos, doravante, que o mundo, o real e a natureza são, eles mesmos, tingidos pela nossa subjetividade. Nessa etnografia da alma, vemo-la constituída de objetos internos, e, então, subjetivo e objetivo, de novo, misturados. Ao final — não há final! —, subjetivo e objetivo transformam-se no "espaço intermediário", no "terceiro reino" — tanto em Jung quanto em Winnicott. Para Jung, é o "espaço intermediário" a mãe de todas as possibilidades culturais, o espaço da criatividade; é do espaço intermediário, reino da fantasia criativa, que nasce o símbolo (Jung, 1964, p. 18). Esse espaço intermediário é, para Winnicott, o brincar (Winnicott, 1975). É exatamente porque subjetivo e objetivo, doravante, não se separam que o brincar — a brincadeira — é constitutivo.

E então ainda uma questão neste testemunho: as respostas parciais, múltiplas, que chegaram para a pergunta-originária, a pergunta-sem-resposta, ajudaram-me a reorganizar o meu mundo afetivo-anímico-mental. Fiz muitas, muitas travessias internas, muitas passagens "buscando parada" pelas respostas que só obliquamente me foram oferecidas como dádivas. E acredito que essa é uma das possibilidades desses novos caminhos, pois, para a pergunta emergir, o mundo interno (psíquico) foi desestabilizado, desorganizado; e as travessias feitas, as passagens em busca de respostas oblíquas que se oferecem, tendem a reorganizar o mundo psíquico, mobilizando novas perguntas.

A minha pergunta-sem-resposta levou-me para a psicologia analítica e para a psicanálise, desalojando-me completamente, já que antes da pergunta tinha outra profissão: professora de ciência política e socióloga. Devo à pergunta-originária a minha produção científica; ela não só me fez produzir muito como me transformou inteiramente, transformou o meu pensamento, transformou o meu aparelho de pensar: de preenchido e preenchedor para acolhedor. No lugar do falo, o útero: colo receptivo, transformando o desconhecido no conhecido.

Como orientadora na pós-graduação passei a usar esse novo método. Com ele, o aluno, a interioridade do aluno, vem em primeiro lugar — e não a minha "linha de pesquisa", catalogada e classificada por códigos nas Instituições Financiadoras. Quem vem em primeiro lugar são as "tramas afetivas", as "redes de sentido" — ou de não-sentido — das vidas mal ou bem vividas dos meus orientandos. Vou rapidamente narrar algumas das pesquisas, entre muitas outras, já realizadas e com muito sucesso.

Uma aluna da pós-graduação, filha de japoneses, procurou-me querendo estudar o movimento Shindo Renmei ou Liga do Caminho dos Súditos — uma organização nipônica que surgiu durante o período da Segunda Guerra Mundial, na colônia japonesa no Brasil. Com o fim da guerra, acirrou-se, na colônia, a oposição entre os que defendiam a vitória japonesa ("vitoristas") e aqueles que reconheciam o triunfo norte-americano ("derrotistas"). Os membros da Shindo Renmei eram "vitoristas" e ameaçavam e assassinavam os "derrotistas". Pedi a Marcela Miwa que desse para este artigo um pequeno depoimento sobre a pesquisa:

Quando li, pela primeira vez, um livro sobre o movimento Shindo Renmei fui invadida por um desconforto que me assustou a princípio. Meu espanto não foi acompanhado de argumentações ou refutações teóricas consistentes; meu incômodo estava para além das abordagens teóricas! O que isto significava? Passei a "ruminar" e percebi que algo ali, no movimento Shindo Renmei, tinha a ver comigo, algo que não identificava; não identificava, mas fui atrás! Num primeiro momento a angústia e o incômodo foram meus guias e agiram como cães farejadores. Aos poucos fui percebendo que essa angústia e indignação, esse desconforto, antecediam a pesquisa; estavam ali dormindo e eclodiram com as obras que lia sobre o movimento, culminando com a minha decisão de pesquisá-lo. Constatei, com a ajuda da minha orientadora, o sentido da minha pesquisa: estava dando passagem a um "eu" que desconhecia, isto é, estava trazendo à tona, à consciência, uma parte da minha personalidade até então dissociada e abafada: o meu "eu" nipônico. O que significa ser japonês? Compreendi então as dificuldades que permearam minha vida até então em relação à minha identidade: o que significava ser brasileira? O que significava ser japonesa? Esse trauma vivido, mas até então não reconhecido, veio finalmente à tona e tornou-se guia para que eu pudesse compreender a dor das gerações que me antecederam: os imigrantes japoneses no Brasil nos anos 40. Minha pesquisa foi avançando e, ao mesmo tempo, as feridas da minha alma foram sendo reconhecidas e cicatrizadas. Hoje, sinto leveza e alegria não somente por ter terminado uma tarefa, um trabalho acadêmico, mas por me sentir forte e livre para trilhar outros caminhos em mundos ("eus") desconhecidos.

O que significa ser japonês? Japonês migrante derrotado em terras estrangeiras? Essa questão, que de alguma forma também era a sua pergunta, teve a força de uma pergunta-originária, e a guiou na sua "busca parada", mas muito ativa (Miwa, 2006).

Uma outra pesquisadora, colombiana, "voluntariamente" desterrada juntamente com a sua família, é também minha orientanda. Seus pais e irmãos foram para os Estados Unidos e ela, em um primeiro momento, permaneceu na Colômbia e, de um dia para outro, já não tinha família, sendo responsável por si mesma. Veio depois para o Brasil e inscreveu-se no mestrado em Ciência Política da UNICAMP, em Campinas. Suas perguntas giravam em torno de um problema — que não chegava a se constituir como tal —: o da "cidadania do sentimento". Explicou-me logo de início a diferença entre os desterrados — ela e sua família —, os refugiados — que pedem asilo em outros países — e os "desplazados" — termo que ganhou na Colômbia um valor simbólico: são os camponeses que a partir das zonas rurais se vêem afetados pelo conflito armado entre os cartéis do narcotráfico, os paramilitares e o exército. Obrigados a deslocarem-se, os desplazados vivem em situação precária e errante. Joana Corrales — fazia questão de frisar — não era uma desplazada, tampouco era refugiada; era desterrada e, todavia, queria narrar a situação dos desplazados e dos refugiados. Afirmava também que, em função de suas perdas (a família, o namorado, os amigos, a cachorra, a gata), concebia a cidadania como uma construção íntima, porque era a partir de si, do que sentia, que se construía nela o "ser cidadão". Dizia-me também que seus interesses públicos e políticos derivavam principalmente de suas formas subjetivas, de seus estados de ânimo, de sua dor frente à guerra e à violência, de seus amores, de suas perdas! Começamos o trabalho de pesquisa sem nenhuma clareza de sua busca, de seu problema de pesquisa. Trabalhamos no absoluto avesso do que recomendam os "bons modos acadêmicos" e as instituições financiadoras de pesquisa. Contamos com uma espécie de "cronograma subjetivo de surpresas" — o tempo kairótico e a incrível capacidade que esse "tempo certo" tem de nos conectar com o mundo dos acontecimentos externos. Convidava-a a falar, a chorar quando preciso, a sentir raiva se necessário. Traumatizada pela sua situação e pela situação da sua família, Joana queria, sem saber, falar dos afetos — traumáticos — que nela não paravam de gritar e pedir passagem. Quando me dei conta disso, a "cidadania pelo sentimento" foi ganhando contornos e o "estado dos refugiados colombianos" no Brasil tornou-se foco de suas preocupações: como vivem ou sobrevivem eles? Quem são? Onde estão? Como vivem com suas traumáticas lembranças, seus afetos, suas mortes, seus lutos? Como vivemos todos nós o passado de miséria e de sangue que é nossa herança? Sua pergunta-sem-resposta veio à tona e a pesquisa então pôde desenvolver-se (Corrales, 2006). Também Joana Corrales escreveu, para o presente artigo, um pequeno depoimento:

Foi assim que as fronteiras entre o subjetivo e o objetivo tornaram-se cada vez menos difusas, as distâncias cada vez se tornaram menores dentro de mim, e a distância com os meus colegas do mestrado que vêem o mundo de maneira objetiva cada vez maior; porém, apesar disso, ou melhor, graças a isso, minha investigação toma cada vez mais uma forma própria — a minha —, pois é a minha marca, a minha voz, que está impressa no meu fazer acadêmico. Entendo agora que sou refugiada, que minha família é refugiada; entendo agora que não é a condição legal que nos torna refugiados ou desplazados, mas é algo que vai além, algo interno. É essa condição interna, afetiva, que me solidariza com os refugiados, com os desplazados. É o que há em mim de refugiada, de desplazada, que busco neles e me permite o contato com eles. São eles, os refugiados e desplazados, e suas histórias um pedaço da minha própria vida, da minha vida como colombiana, como cientista política, como mulher, como tudo o que sou.

A validação desse caminho na pesquisa de Ciências Sociais se deu, ainda, quando acompanhei uma dissertação de mestrado em que a orientanda Maria Paula Bueno Perrone, da Faculdade de Psicologia da USP, exercia-se também como analista junguiana. A pesquisa iniciou-se com o método da história de vida proveniente da sociologia e, todavia, a fala dos entrevistados (dois velhos paulistanos) sofreu uma escuta que só as psicologias profundas permitem, uma escuta em dois níveis: consciente e inconsciente. É como se o pesquisador-analista ouvisse uma coisa e escutasse outra, pois está treinado para isso e já não pode estar no mundo senão desta maneira. Na relação entre narrador e ouvinte — mas também entre professor e aluno, entre orientador e orientando — forma-se um campo interativo, produto da relação das duas subjetividades presentes: o terceiro analítico, como é chamado na psicanálise, ou terceiro parceiro, pela psicologia analítica. Esse novo lugar, a partir do qual a palavra emerge — do entrevistador e dos entrevistados —, pressupõe a emergência de conhecimentos específicos, tão específicos que perguntávamos então: será que um outro campo interativo não suscitaria contornos diferentes, coloridos outros nas histórias de vida narradas? Possivelmente sim, pois cada campo interativo é capaz de fazer emergir falas particulares, lembranças esquecidas e jamais ditas, novos insights, atribuição de sentido ao sem-sentido. Emerge daí, como se estivéssemos fazendo arte e não ciência, uma obra única e, então, somos capazes de multiplicar sentidos, produzir sentidos e mais sentidos. É essa, aliás, a riqueza que a metodologia ancorada na(s) psicanálise(s) oferece às ciências sociais.

As entrevistas foram feitas abertas a partir de uma única pergunta: "Conte-me a sua história", pelos caminhos que os entrevistados escolheram, narrando o que lhes viesse à cabeça, selecionando fatos a partir da sua (deles) memória involuntária, que, também, foram interpretados a partir da atenção flutuante. O quadro mental de Paula Perrone lhe permitiu também acolher seletivamente a fala de seus entrevistados. Ela "escutou-os junguianamente" e, assim, os complexos se fizeram ouvir, os tipos psicológicos se insinuaram; no lugar do um (do eu dos entrevistados), brotaram muitos: muitos complexos, sentimentos, afetos, imagens. Encarnada a dissertação, agora livro (Existências fascinadas), transformou e transforma a todos: os entrevistados que escutados narraram para o outro suas vidas, a pesquisadora que os interpretou, o leitor que tocado também se pergunta sobre sua existência fascinada (Maroni, 2003).

O envolvimento dos meus alunos com as suas pesquisas — de fato, com suas perguntas sem respostas — é incomparavelmente maior do que quando não uso o método. Esse envolvimento transforma-se no prazer de escrever belamente, no prazer da autoria, na imensa alegria de ter uma pergunta própria e na confiança dos caminhos (método) que então se abrem; esses caminhos selados pela emoção têm a marca da verdade.

 

Referências

Benjamin, W. (1994). Charles Baudelaire: Um lírico no auge do capitalismo. (3ª ed.). São Paulo: Brasiliense.        [ Links ]

Bion, W.R. (1994). Uma teoria sobre o pensar. In W. R. Bion, Estudos psicanalíticos revisados. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1967. Título original: Second thoughts.)        [ Links ]

Corrales, J. (2006). Refugiados colombianos no Brasil: Uma interpretação de suas travessias internas. Dissertação de mestrado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp, Campinas, SP.        [ Links ]

Gauthier, J. Z. (2004) A questão da metáfora, da referência e do sentido em pesquisas qualitativas: o aporte da sociopoética. Revista Brasileira de Educação, 25, 127-142.        [ Links ]

Jung, C. G. (1954). The practice of psychotherapy. In G. Adler et al. (Eds.), The collected works (R. F. C. Hull, trad., Vol. 16). Princenton, New Jersey: Princenton University.        [ Links ]

Jung, C. G. (1964). Civilization in transition. In G. Adler et al. (Eds.), The collected works (R. F. C. Hull, trad., Vol. 10). Princenton, New Jersey: Princenton University.        [ Links ]

Jung, C. G. (1966). Freud and psychoanalysis. In G. Adler et al. (Eds.), The collected works (R. F. C. Hull, trad., Vol. 4). Princenton, New Jersey: Princenton University.        [ Links ]

Jung, C.G. (2001). O segredo da flor de ouro: Um livro de vida chinês. Petrópolis, RJ: Vozes.        [ Links ]

Kant, E. (1997). Prefácio da primeira edição (1781); Prefácio da segunda edição (1787). In E. Kant, A crítica da razão pura. (4ª ed.) Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.        [ Links ]

Kehl, M. R. (1990). O desejo da realidade. In M. R. Kehl, O desejo. São Paulo: Companhia das Letras.        [ Links ]

Maroni, A. (1983) A estratégia da recusa: Análise das greves de maio de 78. São Paulo: Brasiliense.        [ Links ]

Maroni, A. (1998). Individuação e coletividade. São Paulo: Moderna.         [ Links ]

Maroni, A. (2002). Figuras da imaginação: Buscando compreender a psique. São Paulo: Summus.        [ Links ]

Maroni, A. (2003). Buscando novos caminhos. In M. P. Perrone, Existências fascinadas: História de vida e individuação. São Paulo: Annablume; Fapesp.        [ Links ]

Maroni, A. (2005). Jung: O poeta da alma. (2ª. ed.). São Paulo: Summus.         [ Links ]

Miwa, M. (2006). Narciso no império dos crisântemos: Interpretando o movimento Shindo Renmei. Dissertação de mestrado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp, Campinas, SP.        [ Links ]

Nietzsche, F. (1987). Prefácio. In F. Nietzsche, A filosofia na idade trágica dos gregos. Lisboa: Ed. 70.        [ Links ]

Ogden, T. (1996). Os sujeitos da psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo.        [ Links ]

Platão (1973). Górgias, O Banquete, Fedro. Lisboa; São Paulo: Ed. Verbo.        [ Links ]

Platão (1983) Banquete. In Platão, Diálogos (pp. 1-53). São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores).        [ Links ]

Thiele, L. P. (1990) Friedrich Nietzsche and the politics of the soul: A study of heroic individualism. Princeton; New Jersey: Princeton University Press.        [ Links ]

Turcke, C. (1992). Prólogo. In C. Turcke, Nietzsche e a mania de razão. Petrópolis, RJ: Vozes.        [ Links ]

Winnicott, D. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Amnéris Maroni
R. Benjamim Egas, 66/6 — Pinheiros
05418-040 São Paulo, SP
Fone: 3088-6511
E-mail: amneris@plugnet.com.br

Recebido em: 15/08/06
Aceito em: 29/11/06

 

 

* Profa. Dra. no Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP. Doutora em Antropologia - PUC/SP.
1 No livro referido, o autor enfatiza a diferença entre experiência e vivência.
2 Para saber mais sobre a relação entre psicologia e confissão subjetiva, ver especialmente o artigo "A divergência entre Freud e Jung" (Jung, 1966).
3 Refiro-me ao segundo discurso de Sócrates.
4 Refiro-me ao primeiro discurso de Sócrates.

Creative Commons License