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Jornal de Psicanálise
versão impressa ISSN 0103-5835
J. psicanal. v.41 n.75 São Paulo dez. 2008
REFLEXÕES SOBRE O TEMA
Transferências: estudo dos períodos de término e pós-término
Transference: study of the periods of termination and after-termination of psychoanalysis
Transferencia: estudio de los periodos del termino y pos-termino
Yeda Alcide Saigh*
Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
RESUMO
Estudo sobre questões da transferência no período do término da relação analítica e sobre o destino da transferência no pós-término, com considerações sobre o analista imerso numa complexa rede de significações, tanto do término, ainda em situação de análise, como no pós-término, além do espaço-tempo estritamente analítico. Durante a construção do término, impõe-se a separação do analista, mesmo que resultem resíduos transferenciais, que serão ou elaborados pelo próprio analisando, através de sua auto-análise, ou por ele deslocados para um outro analista. No pós-término, embora o acompanhamento pós-analítico seja um modo de desintoxicar a transferência, cabe ao analista não permitir que o acompanhamento ‘contamine’ a necessária elaboração do luto.
Palavras-chave: Psicanálise, Transferência, Término, Pós-término.
ABSTRACT
Study on issues of transfer during the periods of termination and after-termination of psychoanalysis and on the destination of the transfer in the after-termination, with considerations on the analyst immersed in a complex network of meanings, both during termination, still in situation of analysis, as in the after-termination, after the closure of the strictly analytical space-time. During the construction of the termination, there is a necessary separation from the analyst, even if there are remnants resulting from transference which will be elaborated by the patient him/herself, through his/her self-analysis, or the patient will carry the remnants forward to another analyst. In the after-termination, although the after-termination follow-up is a way to ‘clean up’ the transference, the analyst is supposed to prevent the necessary elaboration of mourning from being ‘contaminate’ by the follow-up.
Keywords: Psychoanalysis, Transfer, Termination, After-termination.
RESUMEN
Estudio sobre el tema de la transferencia en el período de la terminación de la relación analítica y sobre el en la fase post-analítica, con consideraciones sobre el analista inmerso en una compleja red de significaciones, tanto en la época de la terminación, cuando aún se está en proceso de análisis, como en el post-análisis, además del espacio tiempo estrictamente analítico. Durante la construcción de la terminación, se impone la separación del analista, aunque resulten restos transferenciales que, o serán elaborados por el propio analizado mediante su autoanálisis, o él los pasará a otro analista. En el post-análisis, aunque el seguimiento sea un modo de desintoxicar la transferencia, le corresponde al analista no permitir que el seguimiento ‘contamine’ la necesaria elaboración del duelo.
Palabras clave: Psicoanálisis, Transferencia, Terminación, Post-análisis.
Em meu mestrado (Saigh, 2002), estudei as dificuldades do término da relação psicanalítica e a situação complexa que antecede, nas análises, o fim dos contatos entre analista e analisando. Em meu doutoramento (Saigh, 2006), estudei o pós-término. Tanto num como no outro estudo, várias vezes tangenciei questões que me parecem relevantes para os objetivos deste encontro, que visa a discutir a questão do “...analista imerso numa complexa rede de significações para além do seu espaço estritamente profissional, assim como nos efeitos inconscientes de sua presença e realidade psíquica na sessão analítica”, como se lê no convite para esta reunião.1
Alinho, então, a seguir, algumas reflexões que, espero, contribuam para que todos aprofundemos esta discussão, considerando, mais atentamente, o problema da dissolução da neurose de transferência; um pouco, ainda no término e, mais, no pós-término.
Em meu trabalho de mestrado, havia enfatizado que a dissolução da neurose de transferência constituía um dos critérios para se pôr fim a uma análise. No início de um processo analítico, é esperado que o paciente faça transferência com o analista, positiva e negativa. O paciente projeta no analista todos os seus conflitos, sofrimentos, expectativas; idealiza-o, por ele se apaixona, dele sente ódio, o despreza enfim, transfere para o analista toda uma gama de sentimentos. Só assim o paciente pode se ver e se conhecer melhor. O analista vira pai, mãe, marido, ocupa todas as posições familiares daquele paciente, além de desempenhar funções psíquicas que o paciente precisa delegar ao analista. Isso é o que chamamos de neurose de transferência.
Uma das primeiras questões que despertou a atenção dos analistas idealistas foi saber se, de fato, na prática real, se alcança, em algum momento, algo que se poderia considerar uma completa resolução da neurose de transferência. Se, de fato, a neurose de transferência efetivamente se desenvolveu, é com relutância e pesar que o paciente abandona seu objeto amado: o analista, que ele antes carregara com tanta emoção. Só na fase terminal da relação psicanalítica, quando a realidade da separação do analista se impõe, as fantasias mais profundamente reprimidas, características da onipotência infantil do paciente, conseguem chegar à transferência, pelos bem conhecidos sintomas de regressão. A volta desses sintomas representa uma tentativa de preservar tais fantasias infantis onipotentes. Cria-se um campo propício por excelência para se elaborar esse aspecto da neurose de transferência, relativo a mais antiga fase do desenvolvimento libidinal ansiedade de separação.
Farrell (1974) cita trabalhos de Anna Freud e Stone, datados de 1954, que identificariam os seguintes fatores como impeditivos de uma resolução satisfatória da neurose de transferência:
...o excessivo narcisismo que leva a uma incapacidade para elaborar e resolver a neurose de transferência; a freqüência de reações de pânico ante a ameaça de separações do analista em personalidades “limítrofes”; a dificuldade para estabelecer uma adequada neurose de transferência em pacientes com insuficiente amor ao objeto, causada por falhas básicas no desenvolvimento emocional precoce (Farrell, 1974, p. 318).
O término da análise, ao mesmo tempo em que desencadeia vivências de ansiedade, medo e depressão, promove também alívio, alegria e anseio por novas experiências, para as quais agora estão disponíveis o dinheiro, o tempo e a disposição psíquica. Este é um fator que favorece a superação dos aspectos traumáticos da separação e colabora para a dissolução da neurose de transferência.
Goldberg e Marcus (1985) mencionam um comentário de Hans Sachs (1942), contemporâneo de Freud, segundo o qual, por mais completa que possa ser, a análise faz pouco mais que arranhar a superfície de um continente. Acredito que esse continente continuará a ser arranhado, mesmo depois de terminada a análise. Na minha experiência, de um processo analítico sempre resultam resíduos transferenciais, que ou serão elaborados pelo próprio analisando, através de sua auto-análise, ou serão por ele deslocados para um outro analista, caso o analisando inicie uma outra experiência de análise. Creio também que a decisão de pôr término à análise, tomada de comum acordo pelos dois integrantes da dupla, estimula inevitavelmente uma intensificação das manifestações da chamada neurose de transferência.
Embora antes de pôr fim a uma análise o analista deva considerar a capacidade do analisando para elaborar os resíduos transferenciais, de modo que a neurose de transferência resulte dissolvida, todos sabemos que grande parte dessa dissolução acaba de se efetivar durante o período do pós-término.
Em todos os autores que consultei, e na minha própria experiência pessoal, observei que a dissolução completa da neurose de transferência não é jamais alcançada. Segundo Balkoura (1974), em seu trabalho The fate of the transference neurosis after analysis scientific proceedings, citando Pfeffer, existem aspectos de realidade do analista, assim como do analista de transferência, que não podem ser considerados neurose de transferência. A respeito disso, Pfeffer (1963), em seu artigo The Meaning of the analyst after analysis A contribution to the theory of therapeutic results, nos dá a seguinte contribuição:
Depois da análise, o paciente retém uma importante e complicada representação intrapsíquica do analista. Essa representação do analista é conectada não apenas com resíduos transferenciais, mas também, de um modo muito importante, com a porção resolvida da neurose de transferência. Essa idéia, contudo, pareceu então importante não apenas por conta dos fenômenos discutidos, mas também em relação à questão da natureza do tratamento analítico. Neste relatório, é principalmente considerada a idéia do pós-analítico e a da representação intrapsíquica do analista (Pfeffer, 1963, pp. 230-231).
Esta idéia nos parece indicar que apenas uma porção da neurose de transferência resulta dissolvida e enfatiza a importância da realização de estudos de acompanhamento do período pós-término.
Uma das conclusões a que Kantrowitz, Katz e Paolitto (1990) chegam em seu artigo Follow-up psychoanalysis five to ten years after termination: I. Stability of change é que um resultado analítico bem-sucedido pode ser definido como o estabelecimento e a resolução parcial da neurose de transferência com o concomitante benefício terapêutico.
Conway (1999), em seu artigo When all is said… A phenomenological enquiry into post termination experience, chama a atenção para o fato de que o próprio Freud mudou sua posição entre 1916 e 1937. No trabalho de 1916, afirmava de forma otimista que ao final de uma análise bem-sucedida a transferência estava permanentemente resolvida. Mas, em ensaio posterior, de 1937, Análise terminável e interminável (Freud, 1937/1975), relativizou tal afirmação: a resolução da transferência e a eficácia da análise ainda estão claramente associadas, porém a resolução da transferência já não é mais o parâmetro de uma “cura” completa.
A mesma autora cita Etchegoyen (1987) que, em seu livro sobre técnica analítica, parece ao mesmo tempo apoiar e refutar a possibilidade de resolver completamente a transferência durante a análise. Ele escreve que a transferência para o analista é resolvida durante a análise, embora o destino do analista na mente do paciente (não é, então, o destino da transferência?) precisa de algum tempo pós-analítico para ser definido, de tal modo que o destino de um bom analista [na mente do paciente] seria um luto nostálgico, a ausência do analista, que a longo prazo se transformaria numa recordação.
Concordo com Guiard (1979) que, em seu artigo Aportes al conocimiento del proceso post-analitico, na minha opinião um dos melhores que li, diz:
…ao finalizar o mesmo processo, ambos são diferentes do que eram no começo, e não apenas pelo que se tenha passado ali, entre os dois, mas também porque o tempo terá passado (...) Pode-se considerar o pós-análise como a convalescença das neuroses de transferência (…) Para o analisado, o central e nuclear do processo pós-analítico é terminar de aceitar que só tem a si mesmo, e continuar a busca pelo autoconhecimento, durante uma luta demorada que avança para o futuro, num espaço próprio, que já é diferente do espaço do analista. O analista deve permanecer no ‘seu’ lugar no mundo, exercendo sua função com outros, enquanto o analisado tem de assumi-la, reflexivamente, uma vez alcançada a autonomia (Guiard, 1979, p. 195).
Vários autores escreveram e se preocuparam com a transferência durante o pós-término, assunto que parece ser dos que mais chama a atenção dos psicanalistas, como questão ainda tão instigante, hoje, como nos dias de Freud, para todos os especialistas.
O problema, de fato, já está exposto em Freud, pelo menos quanto aos seus limites essenciais e intransponíveis, desde o brilhante Análise terminável e interminável, de 1937: “Os pacientes não podem, eles próprios, trazer todos os seus conflitos para a transferência, nem tampouco está o analista capacitado a invocar todos os possíveis conflitos instintuais deles, a partir da situação transferencial” (Freud, 1937/1975, p. 265).
Hal Hurn, em 1973, um dos autores contemporâneos, que reflete sobre o destino da transferência após o término, diz:
…o que resta da transferência e da neurose de transferência, depois da análise, mesmo que seja a análise mais idealmente bem-sucedida? Que aspectos do(a) analista, suas interpretações e tudo mais que acontece numa análise continuam, depois, a ser representados psiquicamente? Qual é a natureza e a função desses remanescentes, nos ganhos analíticos e terapêuticos? Será que os conflitos internalizados da transferência e suas resoluções tornam-se elementos centrais nas mudanças estruturais a que visamos? Mais particularmente, será que a representação psíquica do analista e as interpretações continuarão para sempre a desempenhar um papel vital na manutenção dessas resoluções? (Hurn, 1973, p. 181).
No mesmo texto, em que acompanha em vários autores as modificações pelas quais passou o conceito, Hurn incorpora também outras lições de Freud, trazidas por Buxbaum. Para essa autora, Freud em várias ocasiões chamou a atenção para um aspecto da relação entre paciente e analista, que se manifesta freqüentemente depois do término, e que teria permitido que se estabelecessem relações de amizade.
Em The technique of terminating analysis, de 1950, Buxbaum explicitamente considera que o contato social pós-analítico entre paciente e analista poderia, realmente, promover a resolução mais completa da transferência neurótica.
Quanto à “transferência negativa”, ela pode persistir na forma de uma aversão, “de nunca mais ver o analista novamente”. E também pode persistir a transferência da idealização, que às vezes respinga do analista para a psicanálise. Essas idealizações muitas vezes ocultam formações reativas, que irrompem e operam destrutivamente contra a análise.
Tenho observado que pessoas que tiveram uma primeira experiência malsucedida de análise, ainda que de pouca duração, desenvolvem uma espécie de transferência de tal modo negativa que estendem tal transferência do analista para a psicanálise como um todo. O depoimento de vários pacientes a esse respeito revela um tal desalento que é como se ficasse para sempre comprometida a possibilidade de qualquer outra experiência vir a ser tentada no futuro. Para Martin Bergmann, em 1988:
Os dois conceitos, neurose de transferência e a resolução da transferência, continuam a ser conceitos complementares. Se os psicanalistas podem encorajar uma neurose de transferência, mas são impotentes para resolver a transferência que eles mesmos criaram, eles podem bem estar na posição do aprendiz de feiticeiro, que pode desencadear um processo que é incapaz de levar a termo (Bergmann, 1988, p. 146).
Creio que esse fator criar ou estimular o incremento da neurose de transferência pode variar, dependendo do maior ou menor grau de onipotência ou de narcisismo do analista. Analistas que têm estas questões insatisfatoriamente elaboradas, na minha observação, têm mais dificuldade de se tornarem mais humanos ante aos seus analisandos.
Analisandos que têm um sentido de identidade precariamente desenvolvido podem precisar, num primeiro momento, de uma referência ou um modelo identificatório, que encontram no analista. Caberá ao analista suportar esse período, contendo sua angústia e desconforto em frente a tal situação, para poder com isso favorecer que pouco a pouco o analisando se diferencie e se discrimine, vivendo seu processo de individuação. Ocorreu-me a esse propósito um episódio que vivi na minha clínica.
Um dia, ao descer para chamar uma analisanda, deparei-me com uma espécie de duplo meu. Ela havia cortado o cabelo exatamente como eu e vestia uma roupa muito semelhante ao tipo de roupa que costumo usar quando trabalho. De início assustei-me, mas essa observação me levou a ficar mais atenta para o que estava em jogo naquela necessidade de me ‘copiar’. Nas sessões seguintes, observei que a mesma necessidade manifestava-se também na forma de se expressar verbalmente.
Nos institutos de psicanálise, algum tempo atrás, podia-se quase adivinhar com quem determinado candidato analisava-se pela maneira como se comportava, falava, expunha suas idéias e seu trabalho clínico. Evidentemente, analistas que possuam uma personalidade muito carismática podem favorecer o surgimento de “duplos”. Cabe a tais analistas, na vigência da análise, favorecer a elaboração da neurose de transferência, o que não garante, de qualquer forma, que restos transferenciais não venham sobrar.
Ainda sobre a imagem intrapsíquica do psicanalista depois do término da análise, Bergmann nos diz que todo fim de análise é um corte radical, não importando o tempo que dure a fase do término. O paciente tem de se conformar em não ter mais aquele analista e ser capaz de transformar aquela relação num “relacionamento intrapsíquico”.
O autor também indaga até que ponto o analista que assume características parentais na transferência de um paciente, cujos objetos primários fracassaram no desempenho de suas funções, pode propiciar àquele paciente a evolução de uma situação regredida e de dependência infantil para uma situação de autonomia e de relacionamentos simétricos mais satisfatórios. Bergmann chama a atenção para o fato de que este analista tende a se tornar o primeiro objeto confiável com que tal paciente pode contar.
Do meu ponto de vista, cabe ao analista permitir-se assumir tal posição numa determinada fase do processo e encorajar o paciente em seus primeiros passos rumo à autonomia. Quanto à questão da resolução da análise de transferência, Bergmann dá uma contribuição original: “O que temos de ter em vista não é resolver a neurose de transferência, mas garantir que ela forme uma estrutura interior produtiva na vida do ex-analisando”.
Em 1991, Pellanda assinalou que,
...em mais de vinte anos de prática clínica de psicanálise, chama a minha atenção o fato de que certas pessoas parecem não mais necessitar de auxílio, enquanto outras retornam freqüentemente a tratamento. Parece que estas dependem da presença factual do analista para sustentar suas maturidades (p. 1).
Este último grupo de pacientes referido por Pellanda são aqueles que reuni, na minha tese de doutoramento (no prelo), no terceiro modelo de pós-término. Minha experiência clínica neste aspecto coincide com a de Pellanda.
Para Pfeffer, em outro artigo interessante, mais recente, de 1993, também sobre o destino da transferência depois de concluída a análise e, mais diretamente, sobre o destino do analista como objeto, as conclusões a que se pode chegar, a partir da observação, são que:
…depois da análise, a experiência da análise, incluindo a neurose de transferência e a resolução dela, continua a ser mentalmente representada e lembrada, e é repetida no estudo de acompanhamento, assim como na vida. As lembranças dessas experiências analíticas são organizadas em torno da pessoa do analista e desempenham papel importante no processo de lidar com as situações da vida de modos menos neuróticos e mais adaptativos (Pfeffer, 1993, p. 324).
Nos estudos de acompanhamento, realizados com profissionais que tiveram formação analítica, o autor verificou que seus respectivos analistas didatas continuavam representados psiquicamente como objetos de projeção de pessoas significativas do passado desses ex-pacientes. Pfeffer também observou que a representação do analista didata tendia a ser projetada no analista responsável pelos estudos de acompanhamento.
De importante também, nessa reflexão, é que, embora a compulsão à repetição não seja eliminada, o autor observa diferenças importantes no que é repetido:
A pessoa neurótica repete os conflitos do passado, enquanto o paciente satisfatoriamente analisado, em novas situações que exigem domínio, repete brevemente e com fraca intensidade os conflitos do passado, mas agora organizados em torno do analista. Além disso, como se demonstra pela rápida recuperação do paciente no estudo do acompanhamento, o paciente satisfatoriamente analisado repete na vida as soluções dos mesmos conflitos, também organizados em torno do analista. Por essas vias, depois da análise, o analista é, simultaneamente, em parte um novo objeto e em parte um objeto antigo (Pfeffer, 1993, p. 336).
A ressalva que eu faria a esses estudos seria a seguinte: como discriminar entre pessoas satisfatoriamente analisadas e pessoas neuróticas? Talvez esteja implícita nesse tipo de estudo uma idéia de cura da qual não partilho e que implica algum limite muito bem demarcado entre o que é normal e o que é patológico. O que me motivou a desenvolver uma pesquisa de caráter eminentemente qualitativo (que desenvolvi em meu doutoramento sobre o pós-término) foi o fato de que numa pesquisa quantitativa não se atenta para as peculiaridades de cada indivíduo integrante do grupo X ou do grupo Y. Penso que a psicanálise debruça-se e cada vez mais deve se debruçar sobre a investigação do que é próprio e específico de cada indivíduo singularmente concebido.
Pode-se propor, então, que o acompanhamento pós-analítico seja considerado como um modo de desintoxicar a transferência. Mas esses ganhos têm um preço. O acompanhamento pós-analítico pode veicular uma mensagem implícita para o analisando de que o analista continuará a ‘atendê-lo’ depois de o trabalho estar completo; com isto, podem surgir dúvidas, no paciente, seja sobre a nova situação ‘sem analista’, seja sobre a psicanálise, ou sobre ambos. Além disso, a privacidade e a chance de o paciente elaborar sozinho o luto também podem sofrer alguma interferência. A principal desvantagem é a possibilidade de atuação da transferência e da contratransferência. A estrutura da técnica psicanalítica, como hoje a conhecemos, está projetada para minimizar essa atuação, e nós usamos a interpretação como veículo primário para o ganho terapêutico.
Referências
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Endereço para correspondência
Yeda Alcide Saigh
R. Alemanha, 659
01448-010 São Paulo, SP
Tel.: (11) 3083-5795
E-mail: ysaigh@uol.com.br
Recebido em: 13/11/2008
Aceito em: 09/12/2008
* Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Doutora em Psicologia Clínica pela USP. Psicanalista. Membro efetivo da SBPSP.
1 Trabalho apresentado no Congresso “Pessoa e Presença do Analista”, realizado pela Fepal, em Santiago, Chile, em setembro de 2008.