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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.46 no.85 São Paulo jun. 2013

 

HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

 

Uma história brasileira1

 

A brazilian story

 

Una historia brasileña

 

 

Maria Ângela Gomes Moretzsohn

Membro filiado do Instituto de Psicanálise "Durval Marcondes" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP. Coordenadora da Divisão de Documentação e Pesquisa da História da Psicanálise da SBPSP

 

 


RESUMO

Este relato biográfico sobre Virgínia Leone Bicudo inclui dados sobre sua vida pouco conhecidos até agora, resultados parciais da pesquisa que vem sendo realizada em seu rico acervo, mantido na Divisão de Documentação e Pesquisa da História da Psicanálise da SBPSP. Partindo de um levantamento das raízes familiares, procura acompanhar os passos de Virgínia em sua formação como socióloga e, depois, como psicanalista, e seu importante e longo trabalho nessa área. A narrativa sempre contextualizada de seu trajeto permite que se conheça um pouco mais sobre a implantação e o desenvolvimento da psicanálise no Brasil. Seguir a amplitude do voo de Virgínia Bicudo foi inspirador para a escolha do verso de Drummond que abre esta seção.

Palavras-chave: psicanálise, sociologia e preconceito racial, Virgínia Bicudo, Durval Marcondes, Donald Pierson


ABSTRACT

This biographical account concerning Virgínia Leone Bicudo includes information about her life that hasn't been well known until now, and partial results of the research that is being carried out in her rich collection, which is kept by the Division of Documentation and Research on the History of Psychoanalysis of SBPSP. Starting with a detailed study of her family roots, it tries to follow Virgínia's steps in her education as a sociologist and, later on, as a psychoanalyst, and her important and extensive work in this area. The narrative of her pathway, which is always contextualized, provides a better understanding of how Psychoanalysis was introduced and developed in Brazil. Following up on the scope of Virgínia Bicudo's journey was inspirational to choose Drummond's verse.

Keywords: psychoanalysis, sociology and racial prejudice, Virgínia Bicudo, Durval Marcondes, Donald Pierson


RESUMEN

Este relato biográfico sobre Virginia Leone Bicudo incluye datos sobre su vida poco conocidos hasta el momento. Refleja un resultado parcial del trabajo de investigación que se está realizando en su rico acervo, que se mantiene en la División de Documentación e Investigación de la Historia del Psicoanálisis de la SBPSP. A partir del análisis de sus raíces familiares, intenta acompañar los pasos de Virginia en su formación como socióloga y después como psicoanalista, así como su importante y extenso trabajo en esta área. La narrativa siempre contextualizada de su trayecto permite que se conozca un poco más sobre la implantación y el desarrollo del psicoanálisis en Brasil. La amplitud de vuelo de Virginia Bicudo inspiró la elección del verso de Drummond que abre esta sección.

Palabras clave: psicoanálisis, sociología y prejuicio racial, Virginia Bicudo, Durval Marcondes, Donald Pierson


 

 

 

A moldura deste retrato
em vão prende suas personagens.
Estão aí voluntariamente,
saberiam - se preciso - voar.
(Carlos Drummond de Andrade, Retrato de Família)

Proclamação da República, esgotamento do modelo colonial, crise do sistema escravista, abolição, substituição da mão de obra escrava pela do imigrante. É dentro desse cenário fim de século, em intensa transformação, que, em dezembro de 1897, aporta em Santos o navio Equità, de bandeira italiana. Os passageiros são, a maioria, aqueles que, naquele momento pressionados por uma vida difícil no país de origem, irão buscar trabalho nas fazendas de café do interior paulista. Entre eles encontra-se o casal Pietro Paolo Leone e Agrippina Palermo Leone com três de seus quatro filhos pequenos, vindos de Catânia, Sicília. Como vários de seus conterrâneos, se estabelecem na região de Campinas, levando na memória a imagem do corpo da filha caçula, que não resistiu à dura travessia, sendo atirado ao mar. A família vive na fazenda Mato Dentro do Jaguari, de propriedade de Bento Augusto de Almeida Bicudo, onde trabalha nas lavouras de café.

 

 

Alguns anos mais tarde, a filha mais velha, Giovanna Leone, já moça, serve como ama na casa-grande, onde conhece Teófilo Júlio, filho de uma escrava, Virgínia Júlio, e de pai não conhecido. Teófilo era um "empregado de dentro", como se dizia daqueles cujas atividades se desenrolavam no interior da casa dos patrões; havia crescido ali, sem a presença da mãe que desaparecera. O fazendeiro Bento Bicudo, homem esclarecido, com ambições políticas, membro do Partido Republicano Paulista, um dos fundadores de O Estado de S. Paulo, senador do Congresso Legislativo Estadual, cedo percebera a inteligência aguda daquela criança e a encaminhara para os estudos, nos quais ela chegara a concluir os exames preparatórios. Giovanna casa-se com Teófilo.

O casal, ela com o nome já abrasileirado para D. Joaninha, vem viver em São Paulo, inicialmente na rua Aurora, em Santa Ifigênia e, poucos anos depois, na casa número 14 da Vila Economizadora, na Luz2. Em determinado momento, Teófilo passara a usar o nome Bicudo. Uma das razões possíveis para isso pode ter sido o costume existente no período pós-abolição, no qual os ex-escravos e seus descendentes, em geral na falta de um sobrenome próprio, adotavam o de seus senhores. Teófilo torna-se "carteiro de 2ª classe", nomeado pela Administração dos Correios, e tenta complementar o salário modesto dando aulas particulares à noite, em sua casa. Aos poucos sobe de cargo, chegando a chefe de seção em seu trabalho. Os filhos já são seis e a segunda deles, nascida na Vila Economizadora, em 21 de novembro de 1910, foi chamada Virgínia.

 

 

Assim como o pai, Virgínia cedo demonstra vivo interesse pelo estudo e, após concluir os cursos primário e médio na Escola Normal do Brás, frequenta, na Escola Normal da Capital, depois Escola Caetano de Campos, o curso de magistério, um dos poucos caminhos possíveis, naquela época, para as moças que precisavam viver do próprio trabalho. Logo que se forma, em 1930, junta-se ao grande contingente de mulheres que faz carreira no ensino público como professora primária, tendo sido nomeada "substituta efetiva" no Grupo Escolar do Carandiru. A carreira incluirá a passagem por vários órgãos municipais e estaduais, sempre na área de educação.

Já desde o final da década de 1920, um homem moderno, muito à frente de seu tempo, o médico sanitarista Geraldo Horácio de Paula Souza é o diretor da Escola de Higiene e Saúde Pública do Estado do Instituto de Higiene de São Paulo. Estimulado pela visão mais ampla do trabalho feminino, que traz de seu período de estudos na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, funda, na instituição que dirige, o Curso de Educadores Sanitários. Este curso tem como objetivo ministrar conhecimentos teóricos e práticos de higiene aos professores, em uma visão essencialmente preventiva, a ser difundida em Centros de Saúde e escolas, efetivamente, um maior espaço para as mulheres dentro da sociedade paulista. Virgínia, sensível a essa oportunidade, consegue um comissionamento no Instituto de Higiene, o que lhe permite fazer sua formação na área e, já em 1932, graduar-se como educadora. Então ocorre um encontro fundamental em sua vida: conhece Lígia Amaral, sua parceira em uma aventura que, nesse momento, não sabe ainda que viveria, aquela da psicanálise. Na metade desse ano, as futuras educadoras sanitárias têm um batismo de fogo: explode em São Paulo a Revolução Constitucionalista, à qual prestarão serviços, ligados especialmente à Cruzada Pró-Infância3.

 

 

É Lígia quem nos conta:

Ajudamos na Revolução de 1932 porque naquele tempo éramos educadoras sanitárias, aquelas professoras primárias que puderam continuar os estudos no Instituto de Higiene. Veio a revolução e nós trabalhamos nela, pudemos ajudar, conversar com as mães, distribuir alimento... (Depoimento à DDPHP/SBPSP, junho de 2001, Fundo Virgínia Leone Bicudo)

Em 1933, Virgínia já está comissionada junto à Seção de Higiene Mental Escolar do Serviço de Saúde Escolar do Departamento de Educação, cargo que manterá até 1938, quando será nomeada educadora sanitária do mesmo serviço. Mas uma inquietação permanente, uma busca de alguma coisa a mais, que a acompanhou vida afora, vai levá-la em outra direção. É ela mesma quem relata, muitos anos mais tarde, em depoimento ao Projeto Memória:

Eu tinha sofrimento, tinha dor, e queria saber o que causava tanto sofrimento. Eu colocava que eram condições exteriores. Então pensei que, estudando Sociologia, iria me esclarecer...

 

 

A Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, Instituição Complementar da USP, fundada em 1933, com sua proposta de estudar a realidade brasileira e seu processo de modernização, foi um poderoso atrativo para a jovem neta de escravos e imigrantes, nascida em um país que, como ela, transitava, em um misto de avanços e retrocessos, do velho para o novo. Em 1936, quando fazia apenas dois anos que a mulher brasileira havia conquistado o direito de voto, Virgínia é aluna matriculada no primeiro ano da segunda turma da escola. Lá se encontrava Durval Marcondes, já médico, mas como homem de interesses amplos, também fisgado pela novidade da sociologia, na curiosa posição de aluno do curso e professor da cadeira de Psicanálise e Higiene Mental.

 

 

Em sua foto de formatura, de 1938, aos vinte e oito anos, Virgínia é a única mulher entre sete homens, tão pequena que mal chega à altura dos ombros dos colegas. Com o passar dos anos, seu trabalho como cientista social foi ficando obscurecido, pouco conhecido. A psicanalista acabou deixando na sombra a socióloga que, na realidade, foi bastante ativa e produtiva. Aprofundou sua formação em um curso para a obtenção de grau de mestre na escola onde se graduara e onde já era então professora assistente de Psicanálise e Higiene Mental. Sua dissertação de conclusão do curso, em 1945, publicada pela revista Sociologia, é resultado de uma pesquisa que tem por título Atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo. A temática escolhida provavelmente revela a influência de seu professor e orientador Donald Pierson4, nesse momento diretor do Departamento de Sociologia e Antropologia da Escola. Pierson, sociólogo americano, foi autor de importantes pesquisas realizadas no Brasil, na área de Sociologia Urbana, notadamente referentes às relações raciais. Personalidade forte e carismática, influenciou toda uma geração de sociólogos e antropólogos. Em carta de 19445, ele é o orientador cuidadoso que endereça recomendações minuciosas a Virgínia Bicudo, quando ela está escrevendo a dissertação de mestrado. Em outra carta, a ela endereçada em 1965, Pierson, já de volta aos Estados Unidos, noticia que prepara o relançamento de seu primeiro livro, Negroes in Brazil: a study of race contact at Bahia. Nesse momento, Virgínia já se alçou à condição de colega confiável, a quem ele pede, com simplicidade, o comentário crítico:

Venho, por meio desta, Virgínia, pedir a sua gentil colaboração, transmitindo a mim qualquer comentário adverso (criticism) sobre este livro, ou seja o do meu estudo de relações raciais na Bahia, que, por acaso, tenha ouvido, ou tenha lido, e que acha não tem chegado à minha atenção. Será um grande favor (o qual reconhecerei, com prazer), desde que me ajudará a pensar mais sobre o estudo em apreço e, caso ache necessário, modificar certas generalizações anteriores, ou indicar onde há mal-entendidos sobre o que escrevi ou tentei fazer, ou onde, na minha opinião, necessitamos de mais pesquisas. Não deve ter medo de me magoar. Como sabe, sou estudioso mais interessado na verdade do que em elogios. Para esta razão, os seus próprios comentários serão muito bem recebidos. Peço-lhe a fineza de me escrever logo, contudo, desde que há certa pressa nisso. Ficar-lhe-ei grato, igualmente, se puder me indicar se está corretamente citada ou não, aqui, a sua tese de mestre: "Estudo de atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo". (Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP)

 

 

Em 1955, a Editora Anhembi publica o livro Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo, com prefácio de Paulo Duarte, que o define como "um ensaio sociológico sobre as origens, as manifestações e os efeitos sociais do preconceito de cor"6. Trata-se dos resultados de uma grande pesquisa patrocinada pela unesco, em parceria com a editora, dirigida por Roger Bastide7, com a colaboração de Florestan Fernandes8. Virgínia participa dela com uma pesquisa sobre as atitudes dos alunos dos grupos escolares da capital em relação com a cor de seus colegas. O índice da obra9, onde fica claro o alto nível dos participantes, é um bom indicador do conceito desfrutado por ela entre seus pares, naquele momento.

O fato de a questão racial ser tão predominante no trabalho sociológico de Virgínia sugere que, além do interesse intelectual despertado pelo tema nos cientistas sociais de sua geração, além da influência do celebrado pesquisador americano sobre a jovem aluna, poderia haver outro determinante extremamente poderoso dessa escolha: a sua experiência pessoal com o preconceito de cor. Virgínia Bicudo voltará a abordá-la em momentos diferentes de sua vida, a ela sempre se referindo como uma grande experiência na esfera da dor. Como em uma carta de outubro de 1975, dirigida a Francesca Bion, quando já era uma psicanalista de importância reconhecida:

 

 

Brasília, 12 de outubro de 1975

Querida Francesca,

Muito obrigada, realmente, por sua carta datada de 29 de setembro, bem como por seu convite. Não respondi antes porque estendi por mais alguns dias meu sonho de visitar vocês em Los Angeles e usufruir da companhia sua e de Wilfred. Refleti muito, e neste momento não posso ficar longe de meu trabalho por mais de uma semana. Há um outro problema na minha cabeça, um problema que, estou certa, você não poderia imaginar.

Refiro-me ao preconceito racial dos americanos - eu poderia estar em risco, antes de chegar à sua casa!

Gostaria de poder correr do México para Los Angeles! Mais uma vez, muito obrigada.

O amor de

Virgínia

Ou na entrevista a Ana Verônica Mautner e Luiz Meyer, de outubro de 1998:

- Eu fui criada fechada em casa, quando eu saí foi para ir à escola e foi quando pela primeira vez, na escola, a criançada começou: negrinha, negrinha. Quando eu estava dentro de casa eu nunca tinha ouvido. Então eu levei um susto. Saí de casa para a rua e a criançada que era colega de escola, tal, só batia palmas com: negrinha, negrinha, negrinha. Eu me fechava em casa, voltava para dentro, um susto né?

- Ter nota boa... ser ótima aluna e ter nota boa é uma proteção para o negativo: negrinha é negativo, nota boa é positivo. Ser negrinha com nota boa... (Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP)

E ainda, em entrevista à Folha de S. Paulo:

O que me levou para a psicanálise foi o sofrimento que eu queria aliviar... Desde criança eu sentia preconceito de cor e procurei o curso de sociologia para me proteger do preconceito.

Ao transitar da dor do preconceito para a investigação das próprias origens, a autora da primeira dissertação brasileira de mestrado sobre a questão racial, poderia, talvez, dizer com o poeta Drummond:

Portanto, é possível distribuir minha solidão, torná-la meio de conhecimento,

Portanto, solidão é palavra de amor.

Não é mais um crime, um vício, o desencanto das coisas.

(Carlos Drummond de Andrade, América)

Mas Virgínia havia encontrado também um outro meio de conhecimento: a psicanálise. Durval Marcondes, incansável lutador por sua implantação no país, reunira em torno dele um pequeno grupo de interessados, do qual ela participa. Em 1936, conseguem trazer para São Paulo Adelheid Koch, psicanalista alemã, credenciada pela IPA como a didata que poderá iniciar aqui uma real formação analítica. E Virgínia conta orgulhosa:

Eu fui a primeira pessoa a deitar no divã da Dra. Koch. E ela, com seu chapéu preto de abas largas, era muito elegante, uma jovem e linda mulher.

 

 

A partir daí, desenvolverá paralelamente, por alguns anos, as carreiras de socióloga e psicanalista até que a última prepondere. Integra então, ao lado de Durval Marcondes, Adelheid Koch, Flávio Dias, Darcy Mendonça Uchoa e Frank Philips, o Grupo Psicanalítico de São Paulo, embrião da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, à qual permanecerá ligada pelo resto da sua vida. E na noite de 5 de junho de 1944, às 21h30, esse grupo estará reunido no número 42 da rua Siqueira Campos, casa de Durval, para ouvir a leitura de uma carta de Ernst Jones, então presidente da Associação Internacional de Psicanálise. Trata-se da comunicação do reconhecimento oficial do grupo por parte daquela associação. Ali mesmo é eleita uma diretoria que tem Durval Marcondes na presidência, Adelheid Koch na comissão de ensino, Frank Philips como secretário e Virgínia Bicudo como tesoureira.

A partir desse momento, Virgínia participará ativamente da vida societária, muitas vezes em cargos de direção, como secretária, tesoureira, professora, supervisora, analista didata, professora e diretora do Instituto Durval Marcondes em várias gestões. Em 1945, chega ao grupo sua antiga colega do Instituto de Higiene, Lígia Alcântara do Amaral. Mais alta, clara, aristocrática, descendente de fazendeiros do café, Lígia e Virgínia em muitos aspectos são figuras contrastantes, como se pode ver nos relatos que fazem de um episódio ocorrido no Congresso de Saúde Mental de 1954. Durval, Virgínia e Lígia estão presentes, bem como um compacto grupo de representantes do establishment psiquiátrico que faz forte oposição à psicanálise. Durante os debates, ambas se veem duramente atacadas, acusadas de exercício ilegal da Medicina, charlatanismo; são ameaçadas de prisão. Virgínia contará mais tarde:

Professores da cadeira de psiquiatria da USP estavam contra a psicanálise. Os psiquiatras ficaram contra Durval Marcondes, porque ele formava psicanalistas.

A psiquiatria oficial não aceitava a psicanálise. Os psiquiatras me chamavam de charlatã, achavam que só médico poderia exercer a psicanálise, foi horrível, vocês podem imaginar o que foi? Eu quis morrer... (Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP)

E dirá Lígia:

Bem, quando eu cheguei em casa meu marido quis saber como havia sido o congresso e eu lhe respondi que tinha ficado sabendo que eu era uma charlatã. (Depoimento de Lígia Amaral à DDPHP, junho de 2001. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP)

Mas essas mulheres, em sua diversidade e semelhança, praticamente da mesma idade, formarão uma dupla coesa de construtoras da psicanálise no Brasil, e que permanecerá assim até o fim de suas vidas.

 

 

Já em 1944, após cinco anos de análise didática, Virgínia inicia sua intensa atividade clínica, que dura em torno de 56 anos, em uma sala na rua Araújo, no centro de São Paulo (Entrevista [sem data] de Virgínia Bicudo. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP). Muda o consultório de local algumas vezes, mas aos poucos passa a trabalhar em sua própria casa. Em seus últimos trinta anos de vida, só atende em sua residência, no belo prédio projetado por Rino Levi10 na avenida Nove de Julho. A partir de 1955, torna-se analista didata e supervisora, função na qual marcará profundamente pelo menos duas gerações de profissionais.

Desde a década de 1920, a luta acadêmica pelo fortalecimento das instituições científicas brasileiras vinha levando a um crescimento do interesse pela divulgação das atividades destas nos meios de comunicação. Aos poucos, a psicanálise também vai ocupando seu lugar aí. O próprio Durval havia tomado conhecimento das ideias de Freud pelo artigo "Do delírio em geral", do neurologista Franco da Rocha, publicado em O Estado de S. Paulo, em 1919.

Virgínia, extrovertida, bem falante, expressando-se com clareza e com paixão, tinha todos os recursos para se tornar uma comunicadora eficiente das ideias nas quais acreditava. Ainda aluna da Escola Livre de Sociologia, realiza uma pesquisa sobre a opinião pública, através da análise de jornais do Rio e de São Paulo, na cadeira de Psicologia Social (Trabalho datilografado, 1939. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP). À medida que os estudos e a experiência clínica consolidam seus conhecimentos, a psicanalista desenvolve a preocupação de esclarecer os pais e os educadores em geral sobre as necessidades emocionais da criança, sobre como se processa a aquisição dos padrões de comportamento e de como a criança associal e amoral desenvolve a consciência moral e se socializa (Entrevista [sem data] de Virgínia Bicudo. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP).

Para isso, lança mão de um veículo moderno, o rádio, que, já desde a década de 1930, com a invenção da válvula, se tornara uma presença cada vez mais poderosa dentro da casa brasileira. Com o apoio de José Nabantino Ramos11, naquela época dono da Rádio Excelsior, Virgínia organiza uma série de programas que tratam de temas como inconsciente, agressividade, inveja, ciúmes, culpa, fantasia, amor, ódio, isso tudo através da forma de rádio-teatro, próxima das radionovelas, folhetins tão populares na época quanto as novelas de televisão hoje. O programa Nosso Mundo Mental habilmente lança mão desse recurso e, claro, também com ótimos resultados. No ano seguinte, a autora passa a publicá-lo como textos na Folha da Manhã, e em 1955 o transforma em um livro com o mesmo título. Como uma eficiente publicitária, traquejada em marketing, num período de apenas cinco anos, faz a divulgação científica da psicanálise, explorando em um só produto os três mais poderosos veículos de comunicação da época. Recorre frequentemente, também, aos seus bons recursos de expressão oral, em inúmeros cursos, palestras e entrevistas. Chama a atenção a grande quantidade de matérias e textos de Virgínia Bicudo e sobre ela, em vários periódicos, mostrando-a como fonte permanente da imprensa. Mesmo em seu período londrino, Virgínia continua como colaboradora da Folha da Manhã, o que lhe permite um reforço no orçamento, conforme mostra sua correspondência com Nabantino Ramos. Em Londres, realiza ainda algumas palestras irradiadas para o Brasil pelas emissoras de ondas curtas da B.B.C., no programa No Mundo das Ciências, uma delas sobre entrevista que fez com John Bowlby, na época Diretor do Departamento de Crianças da Tavistock Clinic. Mais de uma vez conversa com repórteres brasileiros em nossa embaixada.

 

 

Em uma dessas entrevistas, aponta como um dos motivos de sua ida para a Inglaterra um certo esgotamento, uma certa saturação com o trabalho que realizava naquele momento, no Brasil (Entrevista [sem data] de Virgínia Bicudo. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP). Havia também pesado nessa decisão, segundo narrou mais tarde, o impacto que sofrera com a acusação de charlatanismo, tão pesada para ela e tão facilmente descartada pela amiga Lígia. E, muito possivelmente, o velho desejo de alguma coisa a mais que a movia desde sempre. Em Londres estavam a British Society, a Tavistock Clinic, Melanie Klein com suas ideias surpreendentes, e ainda Ernest Jones, Eliott Jaques, Clifford Scott, Michael Balint, Donald Winnicott, Money-Kyrle, Hanna Segal, Emilio Rodrigué, Anna Freud, Rosenfeld, Betty Joseph, Wilfred Bion. Poderia haver um lugar melhor para se estar? Logo, em 1954, escreve a Winnicott, apresentando-se como analista didata, analisada pela Dra. Adelheid Koch e por Frank Philips; consulta-o sobre a possibilidade de aprimorar sua formação nos cursos da Sociedade britânica por "seis ou doze meses, dependo de minhas condições econômicas" (Rascunho de carta de Virgínia Bicudo para Winnicott, 1954. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP).

Também inicia contatos com Paula Heimann no Institute of Psycho-Analysis e com Esther Bick, na Tavistock, em busca de possibilidades de inserção nos cursos (Rascunho de carta de Virgínia Bicudo para Paula Heimann, 1957. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP). Com seu inglês deficiente, seu pouco dinheiro vindo de uma licença com vencimentos do cargo público, obtida com Jânio Quadros (Rascunho de carta de Virgínia Bicudo para Jânio Quadros, 1957. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP), Virgínia, após um elegante jantar de despedida oferecido pelos amigos em São Paulo, finalmente, em 4 de setembro de 1955, refaz, agora de avião, e em direção contrária, o caminho de seus avós italianos.

 

 

Ainda no Brasil, Virgínia lutara por uma bolsa de estudos que lhe permitisse viver com maior tranquilidade na Inglaterra, uma vez que seu salário de funcionária pública apenas permitiria a sobrevivência em um nível muito básico. É verdade que, no primeiro ano de sua permanência em Londres, pôde contar também com os pequenos vencimentos de seu cargo como professora da Escola de Sociologia e Política, cancelados no fim de 1956. Em 1954, tentara as bolsas do Britsh Council, onde foi vista com simpatia, mas também muito sênior para o programa de jovens pesquisadores dessa instituição. Podem oferecer-lhe certa assistência durante a viagem, mas nenhum dinheiro (Carta do Britsh Council para Virgínia Bicudo, 1955). A tentativa de obter uma das bolsas patrocinadas pelo governo do estado de São Paulo também fracassa. Resta então contar com o apoio financeiro que recebe das instituições inglesas, na forma de uma redução substancial na cobrança das taxas e honorários e com algum outro recurso que eventualmente surgisse. Como, por exemplo, o de dois mil dólares, recebidos da Associação Brasileira de Assistência, através do embaixador do Brasil em Londres, Assis Chateaubriand, a serem divididos entre Virgínia e outros dois estudantes brasileiros que cursavam o Instituto de Psicanálise de Londres (Rascunho de carta de Virgínia Bicudo para Assis Chateaubriand, agradecendo o recurso recebido, sem data). E também poder suportar a expectativa, no final de cada ano, em relação aos pedidos de renovação de sua licença com vencimentos que, felizmente, acabam sempre sendo concedidos (Rascunho de carta de Virgínia Bicudo ao governador do estado de São Paulo, 1957).

Em Londres,Virgínia encontra ainda ecos do grupo de Bloomsbury, que no primeiro terço do século reunia os nomes da vanguarda das artes inglesas. Lá estavam Morgan Forster, Roger Fry, Maynard Keynes, Lytton Strachey, Clive Bell, Leonard e Virginia Woolf, Adrian Stephen, Dora Carrington, James e Alix Strachey, alguns desses com vínculos estreitos com o movimento psicanalítico. Lytton, que enviara a Freud seu livro Eminent Victorians, recebeu dele uma elogiosa carta de agradecimento; Alix, antiga paciente de Karl Abraham, convivera intimamente com Melanie Klein em Berlim. Ela e seu marido, também analisandos de Freud, serão os tradutores e editores da obra dele para o inglês, a Standard Edition. Leonard e Virginia Woolf eram os proprietários da Hogarth Press, que, em parceria com o Institute of Psycho-Analysis, já havia publicado trabalhos de Freud, Abraham, Ferenczi, Klein, Jones, e vinha publicando a Standard. Virginia Woolf nos deixou em seu Diário um retrato magnífico de Melanie Klein:

uma mulher com personalidade e força... -, não uma astúcia... uma sutileza submersa; algo que age ocultamente. Uma tração, uma torcedura, como uma ressaca: ameaçadora. Uma mulher de cabelos grisalhos, expansiva, com grandes olhos brilhantes e imaginativos. (Woolf, 1985)

A história da cultura deixa claro que de vez em quando surge, em algum lugar do planeta, uma concentração extraordinária de talentos simultâneos. Algo assim ocorria na sociedade britânica da época, um caldo de cultura fértil para o desenvolvimento dos principais pensadores da psicanálise de então. Quando Virgínia Bicudo chega, o clima predominante ali ainda era marcado pela repercussão das grandes controvérsias dos anos 1940. O período londrino de Virgínia coincidirá com os últimos anos de vida de uma Melanie Klein ainda vigorosa, que organiza seu trust, rompe com Paula Heimann, publica Inveja e gratidão e vê a ascensão da bright star de Wilfred Bion, seu paciente. Serão também os anos em que ela verá Donald Winnicott dirigir a instituição, Ernest Jones publicar o último volume de sua biografia de Freud, e morrer pouco depois.

Logo após sua instalação na cidade em setembro de 1955, a psicanalista brasileira já está matriculada no London Institute of Psycho-Analysis e na Tavistock Clinic (Comprovante em nome de Virgínia Bicudo, 1955. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP). Wilfred Bion, um dos diretores do instituto, a recebe calorosamente por meio de uma carta em que se diz "very glad to see you at the seminars as you suggest" (Carta de Wilfred Bion a Virgínia Bicudo, 1955. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP). Foi esse o início de uma longa aproximação que chegou a uma grande amizade, revelada na correspondência mantida até a morte de Bion. Como boa comunicadora que era, Virgínia conseguiu articular as visitas dele a São Paulo e a Brasília, onde foi conferencista e supervisor, tornando-se uma das grandes influências formatadoras da SBPSP. Retoma, em Londres, sua análise com Frank Philips, que lhe garante o recurso da interlocução na língua portuguesa, precioso naquele primeiro tempo de inglês claudicante, e torna-se supervisionanda de Herbert Rosenfeld, de quem também é aluna. Anos depois, Philips afirmará ter sido Virgínia Bicudo a responsável pelo regresso dele ao Brasil.

 

 

Melanie Klein foi, na vida de Virgínia, uma fonte de aprendizagem e formação. Em 1958, escreve a segunda a Durval:

Estou seguindo um seminário particular de Mrs. Klein e cada vez mais admiro a personalidade dela; é simpática e profundamente honesta, inteligente e realmente interessada na psicanálise. Ela tem outro livro no prelo! O fato é que o sucesso de Mrs. Klein tem feito mal a muitos analistas menos dotados do que ela... (Carta de Virgínia Bicudo para Durval Marcondes, 1958. Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/SBPSP)

Nos anos londrinos, houve mesmo uma aproximação mais informal, social, entre elas. Mais de uma vez sentaram-se juntas para o chá, a neta brasileira de uma escrava e a judia austríaca, ambas mulheres traquejadas em exclusão. E houve até um aniversário comemorado com lovely roses:

 

 

Em 1956, Melanie Klein convida Virgínia para um chá britânico, e em 1958 agradece:

Cara Srta. Bicudo,

muito obrigada por seus gentis votos e pelas adoráveis rosas que me mandou. Foi realmente muito gentil lembrar-se do meu aniversário, e espero ter logo a oportunidade de agradecer-lhe pessoalmente tanto pelo presente como pelo amoroso pensamento que lhe está por detrás.

Sinceramente,
Melanie Klein

Em 1960, Virgínia Bicudo está de volta ao Brasil. O retorno não foi decidido com facilidade, pois havia a possibilidade de continuar na Inglaterra. Mas o exílio permanente, a vida de expatriada, não era sua vocação. Já em 23 de março está presente em uma reunião clínica coordenada pela Dra. Koch, então presidente da Sociedade, apresentando o trabalho "Inveja e fetichismo" (Ata da SBPSP do período de 15 de abril de 1957 a 21 de novembro de 1965, p. 9. Fundo DDPHP/SBPSP).

Os próximos dez anos serão de intensa atividade no consultório, agora como didata, na instituição, onde participará de todas as diretorias até 1973, na maior parte do tempo como diretora do instituto, e como autora de inúmeros trabalhos. Entre 1967 e 1970 será a diretora editorial da Revista Brasileira de Psicanálise, colaborando ainda no Jornal de Psicanálise como redatora. Presença constante em congressos, jornadas, seminários, também se envolverá com o movimento psicanalítico da América Latina, tornando-se correspondente assídua de vários colegas da região.

A aventura da construção da nova capital, que estava nos sonhos de Varnhagen desde 1877, e que, nos anos 1960, era noticiada pela imprensa londrina, aos poucos, vai fazendo parte também dos sonhos de Virgínia. Depois de dez anos de intensa atividade em São Paulo, aquela conhecida inquietação se apossa de Virgínia que viaja, como que repetindo estes versos de Drummond em Destino: Brasília:

Vou no rumo de Brasília,

não é aqui meu lugar

A liberdade, no exílio,

já começa a definhar...

Adeus, fumaça, adeus, fila

adeus, carro matador...

Virgínia em Brasília com sua mãe, e recebendo em casa Frank Philips (ao fundo) e Wilfred Bion.

 

 

E, em 1970, ela lá está para lecionar na UnB e iniciar a análise dos candidatos locais. Durante os próximos doze anos Virgínia se dividirá entre São Paulo e Brasília, logo tendo a companhia de outros psicanalistas paulistas. Desse trabalho surgirá a Sede-Brasília do Instituto de Psicanálise da SBPSP, embrião da Sociedade de Psicanálise de Brasília. Foi durante esse período que Wilfred Bion realizou suas temporadas no Brasil, visitando São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, cidades em que deixou sua marca indelével. E Virgínia, que, ainda em meio ao fog, o apresentara aos trópicos, foi sua anfitriã incansável aqui. Aliás, tanto o apartamento paulista como a casa candanga da psicanalista sempre estiveram abertos aos amigos que chegavam para um café, um almoço, uma cama ou inúmeras palavras. Dona Joaninha, sempre fugindo do frio paulista, passava longas temporadas com a filha em Brasília. E foi bem no planalto central que essa siciliana, mãe de uma grande família brasileira, morreu em 1982.

Apesar de estar de volta à sua vida paulistana desde o início dos anos 1980, Virgínia continua mantendo parte de seu trabalho em Brasília, do qual só se despede em 1993, na carta em que se diz na hora da aposentadoria, após vinte e cinco anos de viagens seguidas. Assim se expressa:

 

 

Despeço-me feliz e agradecida, vendo-os emancipados para o desempenho de trabalho que alcança limites além do espaço geográfico.

Virgínia morre em 2003, três anos após se afastar do trabalho clínico. Em sua mesa, uma última palavra para os que ficam ou, mesmo, para os que ainda vão chegar:

 

 

À minha Família: Mãe e Irmãs e Irmão

solicito fazer cumprir meu desejo de ser incinerada em lugar de ser enterrada.

Este desejo está baseado em meu medo de pensar sobre o corpo sem vida.

O corpo sem vida retorna ao mundo inorgânico e em lugar de tomar espaço em cemitério é mais inteligente que seja transformado em um punhado de cinzas atirado à terra.

Sejamos razoáveis. Estaremos sempre juntos! Somos da natureza.

São Paulo, 22 de dezembro 1983

Virginia Bicudo

 

Referências

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Recebido em: 10/10/2013
Aceito em: 15/10/2013

 

 

Maria Ângela Gomes Moretzsohn. Rua Itacolomi, 601/75, Consolação. 01239-020 São Paulo, SP. Tel: 11 3151-4203, documenta@SBPSP.org.br
1 Os arquivos pessoais, dizem os estudiosos, escondem a fragmentada autobiografia daqueles que os formaram. O trajeto dessas vidas reverbera nos documentos que, paralelamente, alimentam o trabalho nas biografias tecidas pelos pesquisadores. No Fundo Virgínia Leone Bicudo, na Divisão de Documentação e Pesquisa da História da Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (DDPHP-SBPSP), documentos de várias fontes - correspondências, convites, fotografias, manuscritos, assim como entrevistas, notícias, reportagens e artigos -, ao mesmo tempo que nos restituem aspectos de uma vida notável, guardam informações importantes para a história da psicanálise no Brasil. Equipe de pesquisadores da DDPHP-SBPSP: Maria Helena Teperman e Sonia Knopf.
2 Vila Economizadora: conjunto residencial operário da cidade de São Paulo, exemplar tombado, representativo do primeiro ciclo industrial e documento arquitetônico ligado à imigração italiana em São Paulo - CONDEPHAAT - Resolução SC 36/80, de 27 de setembro de 1980, publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, DOE.
3 Cruzada Pró-Infância: entidade fundada em 1930, em São Paulo, por Pérola Byington e Maria Antonieta de Castro, voltada para assistência educacional, sanitária e médica de mães e crianças.
4 Donald Pierson (1900-1995), sociólogo americano, doutorado pela Universidade de Chicago, professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo até 1959. Representante da chamada Escola Sociológica de Chicago no Brasil, interessou-se especialmente pelas relações raciais afrobrasileiras.
5 Carta de Donald Pierson a Virgínia Bicudo (1944). Fundo Virgínia Leone Bicudo, DDPHP/ SBPSP.
6 Paulo A. J. Duarte (1899-1984). Historiador, poeta, arqueólogo, memorialista, jornalista e professor universitário, um dos fundadores da Universidade de São Paulo, da qual foi professor.
7 Roger Bastide (1898-1974), participante da missão francesa que veio ao Brasil na época da fundação da Universidade de São Paulo. Bastide chegou à capital paulista em 1938, para substituir Claude Lévi-Strauss na cátedra de Sociologia I, no Departamento de Ciências Sociais da USP. Sua enorme contribuição para as áreas de Sociologia, Antropologia, Psicologia Social prolonga-se até as áreas da Psicanálise, da Psiquiatria, da Filosofia, da Literatura e das Artes. Retornou à França em 1984, onde passou a lecionar na Universidade de Paris.
8 Florestan Fernandes (1920-1995). Sociólogo, professor, político, graduado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Iniciou a carreira docente como assistente do prof. Fernando de Azevedo; mestre pela Escola Livre de Sociologia e Política e doutor pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, substituiu interinamente Roger Bastide na cadeira de Sociologia até 1964, quando se tornou efetivo. Aposentado compulsoriamente pela ditadura militar em 1969, foi professor visitante na Universidade de Columbia, professor titular na Universidade de Toronto e professor visitante na Universidade de Yale. Retornou ao Brasil em 1978, tornando-se professor na puc de São Paulo, retomando, mais tarde, sua cátedra na Faculdade de Filosofia da USP.
9 Nela há Aniela Meyer Ginsberg (1902-1986). Psicóloga e professora que atuou ao lado de Mira y Lopez no Instituto de Seleção e Orientação Profissional - isop, da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro. Posteriormente, transferiu-se para o Instituto de Psicologia da Universidade Católica de São Paulo, onde participou da implantação do programa de pós-graduação, tendo orientado inúmeros alunos em mestrado e doutorado. E também Oracy Nogueira (1917-1996). Sociólogo, graduado e professor na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, aluno de Donald Pierson, com doutorado pela Universidade de Chicago, professor da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP, colaborador de Darcy Ribeiro no Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação.
10 Rino Levi (1901-1965). Arquiteto e urbanista formado pela Escola Superior de Arquitetura de Roma, professor da fau/USP, autor de projetos de residências, prédios comerciais, complexos hospitalares. Um dos participantes na criação do Instituto de Arquitetos do Brasil e do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
11 José Nabantino Ramos (1945-1962). Advogado, professor de direito da USP e do Mackenzie, jornalista; um dos proprietários da empresa Folha da Manhã, figura marcante do jornalismo paulista, foi um grande divulgador e apoiador da psicanálise, amigo pessoal de Durval Marcondes e Virgínia Bicudo.