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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.56 no.105 São Paulo jul./dez. 2023  Epub 26-Ago-2024

https://doi.org/10.5935/0103-5835.v56n105.12 

Artigo

Quando o silêncio é traumático: O não dito e o desmentido no âmbito familiar1

Cuando el silencio es traumático: el no-dicho y la negación en el contexto familiar

When silence is traumatic: the unsaid and denial on family context

Quand les silences sont traumatiques : le non-dit et le musellement dans le context familial

Vanessa Chreim2 

Adriana Gradin2 

Andréa Acioly Maia Firmo2 

Arianne Angelelli2 

Bruno Gueldini2 

Celina Diaféria2 

Katia Piroli3 

Milton Jeronimides2 

2Pós-graduandos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membros do Laboratório Interinstitucional de Estudos da Intersubjetividade e Psicanálise Contemporânea (LIPSIC). São Paulo

3Membro filiado do Instituto “Durval Marcondes” da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). São Paulo


Resumo

No presente artigo, busca-se refletir sobre as repercussões traumáticas do silêncio no grupo familiar em razão de não ditos, recusas e desmentidos, que produzem o silenciamento das dores vividas por seus membros. Para analisar a temática, o filme É apenas o fim do mundo foi adotado para ilustrar importantes conceitos psicanalíticos, tais como o uso de defesas maníacas para acobertar perdas, o conceito de fúria narcísica de Heinz Kohut (1984) e a noção de desmentido de Sándor Ferenczi (1933/2011). Abordamse diferentes aspectos de dinâmicas familiares potencialmente traumáticas que nos permitem pensar sobre os desafios com que deparamos na clínica psicanalítica.

Palavras-chave: família; trauma; silêncio; desmentido

Resumen

En este artículo buscamos reflexionar sobre las repercusiones traumáticas del silencio en el grupo familiar, en razón de los no-dichos, desmentidas y negaciones, que producen el silenciamiento del dolor experimentado por sus miembros. Para analizar el tema, se adopta la película Es sólo el fin del mundo para ilustrar conceptos psicoanalíticos importantes, como el uso de defensas maníacas para encubrir pérdidas, el concepto de rabia narcisista de Heinz Kohut (1984) y la noción de negación de Sándor Ferenczi (1933/2011). Este trabajo aborda diferentes aspectos de dinámicas familiares potencialmente traumáticas que nos permiten pensar sobre los desafíos con que nos deparamos en la clínica psicoanalítica.

Palabras clave: familia; trauma; silencio; negación

Abstract

In this article, we seek to reflect on the traumatic repercussions of silence on the family group due to the unsaid, the disavowals and denials, producing the silencing of the pain experienced by its members. To analyze the theme, the film It’s only the end of the world is adopted to illustrate important psychoanalytic concepts, such as the use of manic defenses to cover up losses, Heinz Kohut’s concept of narcissistic rage (1984) and the notion of denial by Sándor Ferenczi (1933/2011). Different aspects of potential traumatic family dynamics are explored to help us think about the challenges that we face on psychoanalytic practice.

Keywords: family; trauma; silence; denial

Résumé

Dans cet article, nous cherchons à réfléchir sur les répercussions traumatiques du silence dans le groupe familial, dérive de non-dits, les dénis et les négations, qui produisent le musellement de la douleur ressentie par ses membres. Afin d’analyser le thème, le film Juste la fin du monde est adoptée pour illustrer des concepts psychanalytiques importants, tels que l’utilisation de défenses maniaques pour dissimuler les pertes, le concept de rage narcissique de Heinz Kohut (1984) et la notion du déni par Sándor Ferenczi (1933/2011). Différents aspects de la dynamique familiale potentiellement traumatisante sont abordés, nous permettant de réfléchir aux défis auxquels nous sommes confrontés dans la clinique psychanalytique.

Mots-clés famille; trauma; silence; musellement

Introdução

Não é preciso ser um psicanalista para constatar que as dinâmicas familiares foram intensamente abaladas pela adoção de discursos polarizados no âmbito político, cultural e social dos últimos anos. Quase todos os brasileiros perceberam que os acalorados conflitos das redes sociais chegaram à mesa do almoço de domingo, tomado por cenas de intolerância e agressividade que levaram ao rompimento de relações. Sabemos, contudo, que há também formas de violência familiar que podem ser muito silenciosas, mantendo o vínculo entre os membros, mas ao custo de uma violação de suas subjetividades, seja por conservarem laços simbióticos e fusionais, seja por enclausurarem os sujeitos na solidão. Nesse sentido, há dinâmicas familiares que podem tornar-se traumatogênicas, perpetuando um circuito destrutivo em que há pouca escuta do sofrimento do outro, muita dificuldade de elaboração dos conflitos e pouca flexibilidade para a reconfiguração dos laços entre os membros.

Silenciamentos e não ditos podem ser tão destrutivos quanto palavras ferinas, gritos, ofensas e até agressões físicas. São formas veladas de manifestações da agressividade que se perpetuam por meio de recusas4 e desmentidos, em que a dinâmica familiar torna-se adoecedora e excludente, embora haja esforços (conscientes e inconscientes) de todos os membros para não desfazer a ilusão de união. Na clínica, escutamos o sofrimento de pacientes que se inserem na família a partir de um lugar de “não ser”, onde parecem ouvir o seguinte discurso: “estamos muito felizes de tê-lo conosco, mas, por favor, deixe sua singularidade fora da mesa”. Apesar de reconhecerem o quanto se sentem agredidos, nem sempre conseguem se impor, tirar a mordaça que os silencia ou se separar da família.

O filme É apenas o fim do mundo (Dolan, 2016) inspirou-nos a refletir sobre formas de violação da subjetividade no âmbito de dinâmicas familiares em que a violência se repete, mas não é admitida. Por um lado, o filme evoca situações-limite de ruptura e adoecimento psíquico; por outro, ele nos convida a pensar que o familiar traz sempre o incômodo do infamiliar, essa inquietante estranheza em relação ao outro que funda a nossa identidade, mas que pode se tornar alienante. Assim, utilizaremos o filme como disparador destas reflexões que nos remetem a diversas situações clínicas com as quais deparamos em nossos consultórios, envolvendo, até mesmo, os traumas transgeracionais e sua transmissão psíquica.

1. O fantasma de um não dito: a partida e o retorno de Louis

Ao assistir ao filme É apenas o fim do mundo (2016), o espectador vai sendo conduzido a uma espiral de agressividade e destrutividade, marcada por explosões verbais que se desenrolam em cenas densas, relações complexas, silêncios atormentadores, brigas e revelações. Vaiado ao final de sua primeira exibição no Festival de Cannes em 2016, o filme apresenta o potencial de despertar um sentimento inquietante e perturbador, como no conceito freudiano de Unheimliche (Freud, 1919/2010). As obras de arte sempre têm esse potencial de trazer à tona aspectos cindidos e memórias traumáticas daquele que é impactado por elas e, assim, podem ser catalisadoras de elaborações emocionais, mas também podem ser rejeitadas como forma de defesa do psiquismo, que não dá conta de processar esses elementos. Por isso, do espectador é exigido o esforço de metabolizar os conteúdos indigestos que emergem de uma família permeada por segredos, não ditos e um forte fundo melancólico.

O filme inicia-se num avião. Louis (Gaspar Ulliel), um jovem dramaturgo, retorna para a casa da mãe após doze anos: quer contar à família que vai morrer, mas no final parte sem dizer a que veio. Angústias e expectativas atravessam toda a família, que se prepara para recebê-lo num almoço de domingo: sua mãe, Martine (Nathalie Baye), seu irmão mais velho, Antoine (Vincent Cassel), sua irmã caçula, Suzanne (Léa Seydoux), e sua cunhada, Catherine (Marion Cotillard). Ao chegar, o clima logo fica tenso: a cunhada tenta conversar com Louis, enquanto seu marido lhe dispara críticas hostis que dificultam a tentativa de aproximação. Suzanne está ávida pelo encontro com o irmão, mas é censurada constantemente por Antoine.

Ao longo do dia, Louis tem a oportunidade de estar a sós com cada um dos presentes, e as feridas voltam a sangrar. Como enuncia a música de abertura, “Home is where it hurts” (Dalmais, 2008), trata-se de um lar sem espaço de sustentação e mediação para encontros e diferenciações. Lá não se conversa, parte-se ao ato: Antoine dispara ofensas e gritos; Suzanne se anestesia com o uso de drogas, quando não está berrando com sua mãe, Martine, que tenta ruidosamente mudar o foco das atenções toda vez que os conflitos aparecem. Louis viaja à casa da família, mas não consegue dizer uma palavra sobre si aos outros. Constrangida, a cunhada tenta conversar, mas percebe que há assuntos interditados naquela casa.

Por sua vez, Martine tenta criar uma atmosfera de festa. Desde o início a vemos se preparando para receber Louis, preocupada com o esmalte de unha que não seca a tempo, assim como o verniz que ela tentará pôr por cima de todas as tensões do dia, para não aparecerem as rachaduras e os desafetos. Apesar de todo o seu esforço para maquiar as relações, contudo, ela não consegue manter o cenário amistoso que tentou construir. Fica clara a ambivalência da qual todos da família se defendem: um ódio tácito de Louis por ter partido, acompanhado de um amor pelo irmão que agora retorna. Por que Louis sumiu por doze anos e somente agora resolveu voltar? É a mãe quem dá voz à regra da casa que aprisiona a todos em uma rede de incompreensão: não tragam à tona as dores do passado. A premissa é o silenciamento de todos os desafetos, a qual culmina na montagem de uma cena falsa de boa convivência.

No entanto, inevitavelmente, cada conversa reaviva o passado indigesto. Assim como o relógio cuco na parede da casa, vemos a compulsão à repetição (Freud, 1920/2010) determinando a dinâmica familiar, em que a agressividade se liga a um fundo melancólico que não pode ser transformado, a diversos lutos que não puderam ser processados. E Louis segue silencioso, surpreendendo-se com o que escuta, mas sem esboçar empatia, interesse ou mesmo qualquer gesto reparatório. Ao fim do almoço, Louis decide não contar sobre a sua morte, mas anuncia que chegou a hora de ir embora, o que funciona como uma faísca que incendeia a fúria de Antoine. Ele levanta e o põe para fora, exclamando: “ele disse que precisa partir!”. Nesse momento, Antoine quase dá um soco em Louis, mas se contém e desmonta, caindo no choro.

É preciso destacar que o pai de Antoine, Louis e Suzanne não aparece no filme, mas sua presença-ausência se faz sentir na dinâmica familiar, como o fantasma de um não dito. Não sabemos se ele morreu ou se os abandonou, mas ele é recordado pelos célebres passeios de domingo, ritual que foi interrompido pelo nascimento de Suzanne.

2. O peso das perdas

A figura da matriarca da família nos permitirá uma compreensão sobre os mecanismos de defesa ante o trauma, que afastam o sujeito de sua realidade psíquica ferida por meio de cisões e do silenciamento das dores. Assim como muitas mães, Martine parece supor que sua função consiste em prover uma experiência feliz e agradável de encontro a todos, sem deixar que surjam conflitos. Com isso, sustenta e incentiva o silenciamento de todos os sentimentos de tristeza e rancor. Trata-se de uma mordaça violenta que perpassa as relações familiares, ainda que de forma sutil e inconsciente: não se pode expressar o ressentimento de anos, e todos devem fazer parecer que nada aconteceu. Assim, o silenciamento do evento traumático e das dores dele decorrentes prejudica sua elaboração, mas não impede que esses conteúdos manifestem-se de outras formas.

Martine prepara a refeição com muito cuidado, veste-se pensando em agradar Louis, faz as comidas de que ele gosta, e com gestos teatrais faz de tudo para interromper os diálogos que ameaçam inflamar-se. Sua tática é causar muito barulho de festa para silenciar as vozes do passado que nunca puderam falar sobre o que houve, e, dessa forma, recobre tudo com um tom de falsidade.

Assim, observa-se uma dinâmica em que todos devem ficar de olhos e boca fechados em relação às feridas - estratégia à qual muitos tentam recorrer atualmente para retomar o convívio familiar. No entanto, como psicanalistas, sabemos que, quando o passado não é enfrentado, ele se presentifica em diversas formas de mal-estar. A idealização da família unida costuma produzir cenários assim, nos quais todos estão juntos, mas a distância afetiva é enorme. Uma conexão emocional real envolve uma aceitação da alteridade de cada um, o que requer o luto das expectativas e projeções malogradas. Então, é preciso admitir a dor, a raiva e toda a ambivalência envolvida nas relações.

Para que as feridas cicatrizem, precisam ser reconhecidas; porém, Martine busca desalojar o mal-estar varrendo-o para debaixo do tapete, em vez de digeri-lo. Tal atitude nos remete ao funcionamento da defesa maníaca, um extravio do processo de luto - como propõe Klein - em que há uma recusa da realidade psíquica de um mundo interno cheio de objetos destruídos e irreparáveis. Martine, no entanto, resiste a admitir que a retomada do vínculo dos irmãos esbarra em alguns limites, e, ao mesmo tempo, não dá chance de que algo novo possa ser criado, pois faz de conta que nada mudou.

O movimento maníaco de reparação onipotente baseia-se na ilusão de que é possível ressuscitar objetos internos que já estão mortos, ao mesmo tempo em que se busca avidamente por vida nos objetos externos. Trata-se de uma defesa pseudovitalizante (Figueiredo, 2018) em que o sujeito artificialmente se convence de que não se sente moribundo. A defesa, nesse caso, opera de modo similar à alucinação, em que o psiquismo é entorpecido com estímulos excessivos que calam as angústias depressivas. Tal funcionamento de Martine explicita-se na cena emblemática da recordação dos domingos em família: quando a narrativa chega ao momento de interrupção desse ritual, a cozinha é tomada por uma certa melancolia, e a mãe, em uma atuação maníaca, aumenta o som do rádio e insiste para que Suzanne dance com ela.

Com Antoine e Suzanne, a mãe desmente o peso da ausência de Louis toda vez que eles falam do tema. É apenas num momento tête-à-tête com Louis que ela consegue ser mais explícita e sincera com ele, e fala de sua mágoa de forma crua e agressiva, deixando de lado a máscara que usava na frente dos outros. Ela conta como todos se sentiram feridos por Louis, mas diz tudo com tal brutalidade, que nos remete às palavras de Bion (1959/1967): “Verdade sem amor é crueldade”. É assim que as coisas são ditas nessa família, e em muitas outras.

Martine diz a Louis: “Você acha que não te amamos, que não te entendemos. Você está certo, não te entendo, mas te amo. Ninguém tirará isso de mim”. E, com ironia, acrescenta: “escreva isso para uma das suas peças”. Mas será que é possível amar alguém sem compreendê-lo ao nível de suas necessidades e afetos? Essa questão nos remete às famílias em que um dos membros só consegue participar do encontro se deixar o seu desejo “no armário” - não apenas as questões referentes à sexualidade, mas também as suas opiniões, interesses e paixões. Como pode alguém se sentir amado por um outro que não o conhece de verdade? Ou não o quer conhecer?

No caso da relação entre Martine e Louis, a mágoa e a decepção parecem ser de mão dupla, mas o ressentimento do filho manifesta-se no silêncio: ele não reage às acusações da mãe nem se emociona. Como psicanalistas, sabemos que a indiferença é uma forma terrível de destrutividade, de modo que o silêncio de Louis por doze anos tem igualmente um efeito traumático sobre sua família, com o qual sua mãe o confronta falando de como cada um foi impactado por sua partida. Mas também o retorno de Louis é potencialmente traumático: sem contexto, explicação ou sentido, traz de volta o mal-estar que Martine tenta abafar.

Mas é preciso reconhecer que essas estratégias defensivas são a forma com que Martine pôde suportar suas dores, que desconhecemos, mas entre as quais figuram o afastamento radical de um filho, a perda de um marido e o peso de ter cuidado da família quando era jovem. O silenciamento das dores do passado, contudo, contribui para que toda a família viva uma temporalidade cíclica em que o fim da visita de Louis remete à sua partida há doze anos, como um momento traumático que está sempre prestes a se repetir. O fracasso do almoço familiar, no entanto, não muda a convicção da mãe, a qual acredita que jogar perfume disfarça o mau cheiro das feridas necrosadas. Por fim, diz a Louis: “na próxima vez estaremos prontos para você”.

3. Gritos que dão voz à dor silenciada

É comum que um dos membros da família torne-se o depositário do mal-estar entre eles, e que, por isso, seja acusado de ser o perturbador da ordem, como é o caso de Antoine. Não raro, essa atitude familiar tem o efeito de um desmentido, quando lhe dizem que ele está descontrolado sem motivo, e que tudo o que ele diz e pensa não é real, e sim uma dramatização. Como explica Ferenczi (1933/2011), o desmentido é o ato que deslegitima o relato de uma vítima de violência, e é o que torna o trauma patogênico, pois faz com que o sujeito deixe de confiar em suas próprias percepções. Essa é uma forma terrível de violação da subjetividade, pois gera na vítima a dúvida em relação à sua própria realidade psíquica, a veracidade de seus sentimentos e pensamentos, podendo produzir a sensação de enlouquecimento. Quando essas “ovelhas negras” chegam a nossos consultórios, a escuta do psicanalista dá voz à dor silenciada do paciente, e frequentemente compreendemos que ele causa incômodo à sua família por denunciar as verdades inconvenientes das quais ninguém quer saber.

Antoine é um personagem que se destaca no filme por sua agressividade, pela violência de suas palavras ferinas dirigidas sobretudo a sua esposa e a sua irmã, ridicularizando seus esforços de se aproximarem de Louis, que é recebido como o filho pródigo. Mas, por trás desses “espinhos” e ataques, podemos perceber que se trata de um sujeito muito sensível, para quem o contato com os outros pode despertar um “vulcão em erupção”. Enquanto Louis defende-se das turbulências emocionais pelo retraimento, Antoine parece funcionar segundo o lema de que “a melhor defesa é o ataque”. Apesar de estar extremamente ferido, ele faz de tudo para tentar tirar a mordaça e trazer à tona o mal-estar que a mãe insiste em abafar, resistindo ao silenciamento, ainda que seja sempre acusado de perturbar a convivência de todos. Seus gritos, todavia, comprometem o conteúdo do que suas palavras expressam: o dito é falado tão alto, que ninguém, nem ele mesmo, consegue ouvir.

O conceito de fúria narcísica concebido por Heinz Kohut (1984) possibilita-nos uma reflexão interessante sobre Antoine, ao explorar a relação entre o narcisismo e a agressividade. Quando há graves perturbações do equilíbrio narcísico, aparecem em cena os dolorosos afetos da vergonha e do constrangimento, que derivam do sentimento de inferioridade ou amor-próprio ferido. A fúria narcísica, segundo Kohut (1984, p. 99), é uma reação; é um recurso análogo ao protótipo defensivo de luta-e-fuga de alguns organismos biológicos ao serem atacados: “o indivíduo narcisicamente vulnerável responde à ferida narcísica real (ou antecipada), seja com a retirada tímida (fuga), seja com a fúria narcísica (luta)”. Louis se retrai, Antoine se enfurece.

Kohut (1984) propõe que a interação da criança com o seu ambiente primário influencia a coesão do seu self e a “formação de estruturas psíquicas idealizadas” (p. 82). Ele destaca que as “vicissitudes da formação inicial do self” estão ligadas à sensação de vulnerabilidade do sujeito, à construção de sua segurança narcísica na vida adulta, gerando impactos diretos sobre a sua “autoestima, a necessidade de louvor, a fusão a figuras idealizadas e outras formas de amparo narcísico” (Kohut, 1984, p. 87).

No caso de Antoine, vemos como a partida de Louis abalou seu narcisismo, pois foi vivida como abandono: na infância, os irmãos tinham uma relação muito íntima e carinhosa, mas o mais novo foi para o mundo e não olhou para trás. Antoine parece muito magoado com ele, talvez tenha sentido que Louis não o considerou importante o suficiente para que voltasse a visitá-lo, nem mesmo na ocasião de seu casamento. Assim, no dia do almoço, o suposto interesse de Louis em saber dos filhos dele gera seu primeiro rompante de agressividade, denunciando que esse gesto não compensa a dor dos doze anos de ausência.

Há também uma questão nebulosa em relação ao nome dos irmãos: o nome do pai deles foi dado a Louis, e não ao primogênito. Por sua vez, Antoine também não quis dar o próprio nome ao seu filho, porque acreditava que traria azar, e chamou seu filho de Louis. Sabemos que o nome de cada um dos membros de uma família tem um peso muito grande, envolve uma série de projeções e conteúdos inconscientes de seus pais, avós e demais antepassados, assim como expectativas para o futuro. Aqui deparamos com o não dito, ou com elementos que como espectadores não conhecemos: quem foi Louis, o pai dessa família? Quem foi o Antoine que inspirou o nome do primogênito?

Ligado a essas hipóteses das feridas narcísicas de Antoine, há um novo aspecto: Martine esperava que, na ausência do marido, Louis assumisse a responsabilidade como figura parental substituta. Aos olhos dela, ser o homem da casa não é uma questão de idade (Antoine é o mais velho), mas “o status, o salário, a sorte, a beleza, os dons, a coragem, e as outras coisas que nos conferem maior ou menor valor aos olhos dos outros”. Louis foi aquele que teve sorte, e por isso deveria pagar o preço de sustentar emocionalmente a família, como Martine teve que fazer quando era mais jovem. Assim, Antoine e Suzanne permaneceram fiéis à mãe, sempre ao seu lado, amarrados por uma dívida que Louis não quis assumir. Mas o primogênito parece ter a sensação de que foi ultrapassado pelo irmão, ficando à sombra, num lugar de vergonha e resignação de quem não foi muito longe. Antoine está sempre prestes a explodir ou ser ironicamente mordaz, mas podemos perceber, para além disso, a imensa dor que ele carrega, uma ferida narcísica que se faz ouvir em diversos momentos do filme. Quando os familiares se queixam de seu comportamento, ele ironiza “Antoine, mau, estragou o dia”, denunciando que invariavelmente ele é considerado culpado pelas mazelas familiares.

Com sua fúria, Antoine expõe o quanto a imagem de família feliz almoçando em um dia de domingo não apaga a dor do rompimento. Kohut compreende que os pacientes caracterizados pela fúria narcísica têm uma necessidade incessante de reparar a afronta do passado, de desfazer a ofensa sofrida a qualquer custo, de forma compulsiva. Antoine parece clamar por alguma forma de reconhecimento de que foi lesado e de que ocupa o lugar de bode expiatório para que os outros não olhem para si mesmos. Por isso, incessantemente, ele aponta os defeitos de todos e está sempre pronto para ridicularizar o outro, revidando na mesma moeda da humilhação, que caracteriza as feridas narcísicas.

Podemos compreender que os ataques de Antoine são uma reatividade a qualquer sensação de repetição, de novas ameaças ao narcisismo e da revivência da relação traumática. Por isso, o mero olhar de Louis para o relógio na hora da sobremesa já deixa Antoine sobressaltado, e ele se enfurece diante da iminência dessa nova separação. É ele quem, enfim, resolve levar o irmão embora e abreviar a angústia da partida. Assim, expulsa Louis de casa antes que ele os abandone. Por vezes, quando o sujeito não se sente escutado e legitimado em seu sofrimento, o desespero o faz gritar e se afastar de todos aqueles que possam novamente feri-lo. Paradoxalmente, também promove o silenciamento dos outros por meio de seus rompantes de agressividade.

4. O impacto dos não ditos

No contexto dos mitos familiares, dos segredos e dos não ditos, parece ter havido uma ruptura na história da família com o nascimento de Suzanne. Segundo a narrativa familiar, os passeios de domingo eram momentos muito afetivos, até que ela nasceu e fez com que não “valesse mais a pena”. Nada é explicado para o espectador, ficamos apenas com interrogações sobre esse luto, que deixa uma sombra melancólica sobre Suzanne, sombra de algo perdido do qual só temos notícia pelo mal-estar gerado.

O conceito de histórias recobridoras de Inglez-Mazzarela (2021) nos ajuda a pensar sobre a nostalgia dos domingos, cuja lembrança faz referência tanto a Suzanne quanto a seu pai. Segundo a autora, são histórias que encerram um discurso fixo que não permite reinterpretações. Inglez-Mazzarela propõe que a recusa é o mecanismo de defesa que está em jogo, e não o recalque: as histórias recobridoras têm a função de esconder o não dito, ocultar o impensável, e silenciar as interrogações para que não se entre em contato com o fundo traumático, que as histórias tentam esconder. Elas não geram abertura para a criação de novos sentidos: são mitos que não podem ser historicizados, pois sobre eles não se fazem perguntas e não se oferecem diferentes respostas. Ninguém da família sabe dizer o que houve, só se sabe narrar o acontecido sempre com as mesmas palavras, blindando as memórias para que não despertem seu potencial afetivo traumático quando postas em contexto. Desse modo, o vivido não se converte em uma experiência emocional passível de elaboração. Assim, no filme, os famosos domingos são narrados de forma idílica, preservando o momento idealizado, para não se pensar sobre a mudança dos tempos e da dinâmica familiar. Nessa aura nostálgica, o brilho fica concentrado nessa lembrança, não deixando outras associações e memórias surgirem.

E é atravessada por essa história cheia de não ditos que Suzanne ocupa seu lugar na família. Ela parece tomada por uma nuvem de elementos não pensados, que ela percebe e sente - mas a eles não consegue dar sentido -, e que podem intoxicar o psiquismo. É assim na sua relação com Louis: ela parece ter se relacionado apenas com a sombra do irmão, como o fantasma de alguém muito importante, mas que ela só podia conhecer por meio de uma narrativa familiar viciada e de reportagens de jornal, as quais ela colecionava. Quando o encontra, Suzanne diz ter sentido muita falta dele, percebendo o rastro dolorido de sua partida na vida de todos, mas não tinha conhecido o Louis que foi embora, muito menos o irmão que retornava.

Além disso, parece ser constantemente tratada como alguém cuja opinião não interessa muito, sendo frequentemente desacreditada e desqualificada. Em alguns momentos, tem rompantes de agressividade, em que não consegue conter ou dizer o que sente ou expressar o que pensa, mas não há disponibilidade da família para escutar suas dores e compreendê-la. Tudo o que dela vem parece ser insignificante para os outros, restando-lhe um lugar de pouco investimento narcísico.

Suzanne parece estar sendo desautorizada pela dinâmica familiar: o efeito traumático é o mesmo do desmentido, em que a realidade psíquica do sujeito é deslegitimada pelo discurso do outro, como mencionamos acima. Por vezes, o sujeito também silencia seus próprios sentimentos e pensamentos, questionando seu senso de realidade e duvidando de sua própria capacidade de interpretar aquilo que vive. Assim, sua dor psíquica não é acolhida pelos outros, e, por vezes, nem por si mesmo, de modo que não encontra eco para a elaboração de tudo o que percebe e sente. Suzanne nos parece muito atordoada, e, sem encontrar continência, acaba explodindo com o excesso de tensão e confusão.

Podemos compreender que o uso de drogas pode ter sido uma forma que Suzanne encontrou para se acalmar e se desconectar de todo esse caldo afetivo, como uma forma de anestesia, de defesa contra a dor da solidão traumática, do desamparo e dos excessos que a atravessavam. Com base no referencial winnicottiano, podemos pensar nas adicções como uma forma de defesa contra a angústia de separação apoiada na recusa,5 como um extravio dos fenômenos transicionais (Winnicott, 1951/1975). O objeto transicional só pode ser construído com base em um objeto interno confiável e acolhedor, em que é possível tolerar a separação do objeto real porque há a esperança de um reencontro, ainda que seja simbolicamente. Já o jogo de presença e ausência entre Suzanne e sua mãe remete a uma dinâmica sofrida de abandono e de invasão, em que a presença remete ao inevitável desencontro, e a ausência traz a sombra de uma experiência mortífera de desamparo. Além disso, seu psiquismo é povoado por fantasmas - seu pai e seu irmão - que se fazem presentes pela ausência. Segundo Winnicott, a adicção opera como o objeto fetiche: está sempre disponível, não decepciona, mas é uma forma de não admitir a separação e a dor das perdas que permeiam os relacionamentos.

Outra forma de tentar lidar com a separação é a agressividade: nessa dinâmica fusional entre Suzanne e Martine, há um vínculo simbiótico do qual a filha tenta se libertar, podendo ter a sensação de se diferenciar da mãe ao atacá-la. Mas, como sabemos, o ódio é uma das formas mais fortes de manter-se ligado ao objeto, e nesses rompantes Suzanne se cola e se mistura com a mãe, revelando sua dificuldade de discriminar quem é ela sem sua mãe. Essa dinâmica destrutiva fusional é muito presente em nossos consultórios, quando atendemos pessoas que criticam e atacam suas famílias, mas não conseguem separar-se delas, parecem ser sugadas de volta numa areia movediça. Alguns, assim como Suzanne, não conseguem sustentar essa posição subjetiva menos dependente, e de forma inconsciente se defendem da quebra dessa simbiose, que oferece o senso de proteção e pertencimento, mas às custas de submeter-se a um cativeiro psíquico.

5. A violência do silêncio e do abandono

A escolha do título do filme É apenas o fim do mundo nos convida a pensar que a família é o nosso primeiro mundo e que o sofrimento produzido no âmbito desses relacionamentos pode ser sentido como o colapso do senso de segurança e confiança. Por outro lado, quando é possível fazer uma saída exogâmica, descobre-se que há vários mundos que se podem habitar, num movimento de passagem de dentro para fora, de ida e de retorno. No caso de Louis, algo se tornou insuportável na convivência familiar, que o fez partir sem olhar para trás; coisas tão desconhecidas como a dinâmica inconsciente do que foi dito e do que não foi dito. Mas doze anos depois, e com a morte anunciada, seus objetos internos o convocam de volta.

À primeira vista, poderíamos pensar que entendemos por que Louis se foi e não quis voltar por tanto tempo, pois, ao assistir ao filme, sentimos o mal-estar da dinâmica familiar. Não é possível pensar, contudo, sobre a relação entre todos os personagens sem considerar que Louis é também um protagonista da cena familiar, e tanto a sua presença como a sua ausência têm grande impacto nos demais. Ele tinha dores que o fizeram partir, mas também deixou dores naqueles que abandonou.

Em seu retorno, Louis tinha esperança de poder ver a casa antiga de sua infância e como ela havia envelhecido, o que teria se passado com suas memórias. Podemos pensar tratar-se de um interesse pelo passado, talvez uma busca por reintegrar um pedaço de si de que se separara por todo esse tempo, mas sua proposta é mal recebida por Antoine. É como se Louis quisesse saber da casa em ruínas, mas não do que aconteceu com as pessoas que lá moravam. Esse aspecto parece escapar-lhe, e ele tem dificuldade de acolher as vulnerabilidades e sentimentos de seus familiares: como uma tartaruga que coloca a cabeça para fora do casco quando é seguro, ele vai conversando com os familiares, mas logo se assusta com a reação dos outros e com as decepções que vive nesses vínculos, e, então, o retraimento e o desligamento aparecem como formas de proteger-se da dor do contato com o outro. Assim como Louis, muitos pacientes tentam se reaproximar de suas famílias, mas não é fácil digerir o reencontro, até mesmo14 quando é permeado pelos bons momentos, que despertam uma grande ambivalência.

Mas a expectativa de Louis de um recomeço vai minguando: algo desses vínculos já se perdeu e não é mais recuperável, e ele começa a pensar que talvez eles não chorem ao saber que ele está morrendo. É só agora que ele percebe que a família o perdeu, e ele perdeu a família, por ter se mantido em silêncio nesses doze anos. Como nos relembra Winnicott, a perda do contato emocional é muito mais importante do que a distância real. Ou, no caso de Louis, talvez tenha sido a distância emocional que o fez partir.

Escondido debaixo desse manto de proteção, Louis não se abre para o contato emocional, protegendo-se da ameaça de violação. Há uma dor da qual ele não pode falar. Assim como o passarinho que entrou na casa nos últimos momentos do filme, e morre se debatendo contra a janela, Louis enfrenta o duro luto dos vínculos familiares e parece novamente convencido de que ficar seria morrer aprisionado numa teia de incompreensão, e a única forma de respirar é partir para o mundo. Por fim, perde a esperança de uma comunicação emocional com os familiares, e desiste de fazer a revelação acerca de sua morte, e parte sem dizer a que veio.

6. Últimas considerações

Ao longo deste artigo vimos o quanto, associado à recusa e ao desmentido, o fantasma de um não dito pode impactar uma dinâmica familiar, contribuindo para conservar modos de funcionamento enclausurantes e solitários. A transmissão psíquica inconsciente do trauma pode atravessar as dinâmicas familiares justamente por terem sido silenciadas as histórias e narrativas sobre as experiências emocionais do passado: o silêncio pode ser ensurdecedor, e não deixa de intoxicar os vínculos. Assim, forma-se um circuito de compulsão à repetição retraumatizante, que perpetua formas violentas de se relacionar. Há diversas formas sutis de silenciamento, pactos inconscientes, que atravessam uma família e podem aprisionar o sujeito em seu mundo interno adoecido, perturbando seus processos de elaboração emocional das experiências vividas e dificultando a capacidade de pensar, representar, simbolizar e sonhar.

Diante desse quadro, podemos nos perguntar sobre o lugar do analista, que, vindo de fora, pode por vezes se encontrar em posição de trazer outros elementos para absorver os não ditos e as percepções do que se passa entre a família. Mas isso não é uma tarefa fácil, sobretudo na medida em que reconhecemos que o analista também é convidado, via transferência, a compactuar com a rigidez das organizações familiares. Mas se ele consegue ocupar esse lugar de alteridade e estranhamento, bem como sustentar um lugar de estrangeiro, há chance de romper com a cristalização dos laços e a compulsão à repetição, dando abertura para que algo novo apareça.

Sabemos que o mal-estar é inevitável, mas é possível ocorrerem transformações no campo dos relacionamentos, em que a compreensão e a comunicação podem fortalecer laços de confiança e criatividade, ambos fundamentais para seguirmos em frente ao encontrarmos tempestades. A aposta é que, em um processo de análise, algo possa ser resgatado quando o sujeito recupera a possibilidade de ouvir sua parte ferida e silenciada, posicionando-se diante do que é possível esperar de sua família, ainda que escolha afastar-se.

Assim, quer a família tenha sido um ambiente suficientemente bom ou não, há uma travessia que se põe para todos no processo singular de subjetivação, como bem descrito por Márquez (1986/2019, p. 205): “se deixou levar por sua convicção de que os seres humanos não nascem para sempre no dia em que suas mães os dão à luz, e sim que a vida os obriga outra vez e muitas vezes a se parirem a si mesmos”.

4 Usamos o termo “recusa” para traduzir o conceito freudiano de Verleugnung, que já foi traduzido em outros lugares como “negação”. Refere-se à não admissão da realidade psíquica.

5 Nos textos de Winnicott, o termo que ele usa é “negação”, mas o sentido é o mesmo de Verleugnung.

Referências

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Recebido: 14 de Agosto de 2023; Aceito: 16 de Outubro de 2023

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Este artigo deriva de uma produção coletiva de 2022, no âmbito da disciplina do prof. dr. Luis Claudio Figueiredo, no curso de pós-graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Agradecemos à capes pelo financiamento de nossas pesquisas, assim como à Berenice Brandão e ao Lucas Grossi pela colaboração no trabalho original.

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