ESTANTE DE LIVROS

 

Da Constelação Familiar aos Relacionamentos que Curam

 

Marino S. (2018). Da Constelação Familiar aos Relacionamentos que Curam. Curitiba: Appris Editora.

 

 

Adriana Scoz da Cunha Lima^I

^I Instituto Noos, São Paulo/SP, Brasil.

 

 

---

 

 

Sueli Marino é doutoranda em Psicologia Social (PUC-SP); mestre em Psicologia Clínica (PUC-SP); especialista em terapia de casal e família, com formação em Práticas Colaborativas pelo Programa Internacional da Houston Galveston Institute (EUA) e Taos Institute (México); possui formação em Práticas Narrativas pela Interfaci (São Paulo). Atua na área clínica desde 1988, com famílias, casais e atendimento individual; é facilitadora de grupos de intervisão clínica (supervisão); facilitadora e criadora do workshop “Relacionamentos que Curam” (tema desta resenha) desde 2004.

Escrever a resenha deste livro causa-me muita satisfação, por um lado, porque ele é escrito por uma colega com vasta e rica formação em Constelação Familiar; por outro, porque participei de uma palestra sobre o tema deste livro: Da Constelação Familiar aos Relacionamentos que Curam. Saí da palestra com uma sensação de alívio por ter encontrado uma resposta coerente e consistente para um tema importante e contemporâneo, para o qual eu não encontrara resposta satisfatória.

A Constelação Familiar é uma das técnicas de trabalho com características que podem contribuir para o processo de conhecimento do indivíduo. Atualmente, entretanto, essa técnica tem sido aplicada indiscriminadamente em vários contextos e lugares, muitas vezes, por pessoas sem a formação competente. O mais grave é a divulgação da Constelação Familiar como algo milagroso.

Esse livro, por abordar a técnica Constelação Familiar de maneira consistente e cuidadosa, constitui, nos tempos atuais, leitura obrigatória para terapeutas, advogados e profissionais que trabalham com casais e famílias e querem conhecer essa técnica. Ela foi desenvolvida pelo autor Bert Hellinger, cujos principais conceitos se evidenciam no início do livro, bem como sua admiração por essa técnica.

Sueli Marino, autora do livro, apresenta um workshop realizado na Casa de Yasmin, uma ONG em Santo Amaro, São Paulo, e finaliza, com primor, o processo de construção teórica e prática de um belo trabalho interventivo que desenvolveu nomeado “Relacionamentos que Curam”.

Utilizando as palavras da autora, a Constelação Familiar baseia-se em uma ciência pronta. O autor dessa técnica vincula sua prática a uma abordagem sistêmica fenomenológica, cujas bases se expressam como: alma familiar e movimento do espírito. Para ele, essas expressões permitem o contato com um campo sábio, que carrega em si a sabedoria do espírito. Para o trabalho da Constelação Familiar, os problemas familiares são emaranhados que o terapeuta tenta identificar, buscando nos antepassados possíveis interferências na ordem do amor. As correções ocorrem com a dramatização dos participantes que atuam de acordo com a alma familiar do participante.

Nota-se, no entanto, que o paradigma comum que sustenta a técnica da Constelação Familiar conduz a uma visão predeterminada de família, modelo da família tradicional burguesa engessada e toda transformação social das famílias contemporâneas é desconsiderada. Outro fator importante a considerar nessa técnica é o terapeuta como expert. Ele escolhe o problema a ser trabalhado, aquilo que deve ser corrigido, age de maneira diretiva e maneja o drama representado pelo grupo de participantes. Ele busca, ainda, a solução que acredita ser a melhor para a pessoa seguir seu destino, uma vez que o poder de escolha do participante não existe.

Já a prática dos Relacionamentos que Curam se diferencia da técnica das Constelações Familiares. Sua sólida base sistêmica, apoiada no paradigma da pós-modernidade ao considerar a complexidade dos fenômenos humanos, abandona o pensamento linear de causa e efeito da Constelação Familiar.

Outro fator importante é que, na técnica da Constelação Familiar, a subjetividade do terapeuta não é considerada. Nos Relacionamentos que Curam, na intersubjetividade terapeuta-clientes são construídos os significados que permitem a reconstrução da história carregada de problemas, trazida pelas pessoas. Segundo desse paradigma, é possível iniciar um processo de mudança que não se pode prever quando e como termina, nem é possível ter a certeza de que o problema sairá resolvido a partir do encontro, mas se sabe que a experiência vivida no grupo fará diferença na vida dos participantes e também do protagonista.

Na prática dos Relacionamentos que Curam, certos cuidados são tomados no sentido de elaborar dialogicamente a construção do problema a ser trabalhado e garantir uma adequação à história de vida trazida pelas pessoas:

• Entrevista individual preliminar para, juntamente com o terapeuta, definir o foco do trabalho.

• Coleta das impressões do grupo em relação à vivência realizada, após a sessão grupal.

• Encontro individual com o protagonista da técnica, após alguns dias, no intuito de compreender que sentido o trabalho teve para ele.

É interessante observar que, nos cuidados descritos na construção em conjunto, há uma abordagem que procura buscar sentido por meio do diálogo, como uma postura terapêutica colaborativa, empática e de respeito ao outro, diferente da postura de expert do constelador nas Constelações Familiares.

Ao finalizar esta resenha, é importante ressaltar que não se trata de colocar em confronto de qualidade uma técnica ou outra. Houve apenas a intenção de ressaltar as características principais de cada uma para facilitar as escolhas profissionais. Também, após as considerações já tecidas, tornar mais sólida a recomendação e a leitura deste livro, como um exemplar de trabalho teórico/prático a todos aqueles que têm o compromisso e a responsabilidade de atuar com famílias e relações familiares.

 

 

^I Adriana Scoz da Cunha Lima: Psicopedagoga, Terapeuta de Casal e Família, Mediadora de Conflitos na Família, Coordenadora do Núcleo de Mediação do Instituto Noos, Gestora do Instituto Noos. E-mail: adrianaclima67@gmail.com