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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.56 no.1 São Paulo  2022  Epub 26-Ago-2024

https://doi.org/10.5935/0486-641x.v56n1.10 

Artigo

Genitalidade, amor e crueldade1: Fetichismo em Freud e hoje

Genitalidad, amor y crueldad: fetichismo en Freud y hoy

Genitality, love, and cruelty: fetishism in Freud and today

Génitalité, amour et cruauté : la notion de fétichisme chez Freud et aujourd’hui

Antonio de Almeida Neves Neto2 

Mestrando. Membro do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise. Psicanalista em formação

2Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (ip-usp). Universidade de São Paulo (Latesfip-usp). Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae


Resumo

O autor busca retomar a noção de fetichismo desenvolvida por Freud nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, de 1905, e no texto “Fetichismo”, de 1927, a fim de pensar a sua adequação clínica e cultural na contemporaneidade. A centralidade dos genitais na obtenção de prazer sexual desempenha um papel fundamental na definição de uma sexualidade não perversa no início da teorização de Freud. Esse aspecto da teoria, com forte carga moralista, parece perder importância na evolução de sua obra. Com o texto de 1927, a centralidade do diagnóstico de fetichismo passa a girar em torno da relação do sujeito com a lei e do reconhecimento da alteridade. Tendo a dessubjetivação do outro como um de seus principais sintomas, amor e crueldade tornam-se noções centrais para pensar o fetichismo. O trabalho sobre essa questão dará à noção de fetichismo uma função clinicamente mais relevante e culturalmente menos moralista.

Palavras-chave fetichismo; Freud; sexualidade; genitalidade

Resumen

Pretende retomar la noción del fetichismo desarrollada por Freud en los Tres ensayos sobre la teoría de la sexualidad de 1905 y en el texto “Fetichismo” de 1927 con el fin de pensar su adecuación clínica y cultural en la contemporaneidad. La centralidad de los genitales en la obtención del placer sexual juega un papel fundamental en la definición de una sexualidad no perversa al comienzo de la teorización de Freud. Este aspecto con una fuerte carga moralista de la teoría parece perder su importancia en el desarrollo de la obra. Con el texto de 1927, la centralidad del diagnóstico del fetichismo comienza a girar en torno a la relación del sujeto con la Ley y el reconocimiento de la alteridad. Teniendo la desubjetivación del otro como uno de sus principales síntomas, el amor y la crueldad se convierten en nociones centrales para pensar en el fetichismo. El trabajo sobre este tema dará a la noción del fetichismo una función clínicamente más relevante y culturalmente menos moralista.

Palabras clave fetichismo; Freud; sexualidad; genitalidad

Abstract

The purpose of this text is to review the notion of fetishism, developed by Freud in his texts Three Essays on the Theory of Sexuality (1905) and “Fetishism” (1927), to ponder upon its clinical and cultural relevance in contemporaneity. The centrality of genitals in the sexual intercourse plays a fundamental role in the definition of a non-perverse sexuality at the beginning of Freud’s work. This claim, that brings a strongly moralistic burden for his theory, seems to lose its importance throughout his work. In the text “Fetishism”, the conflict between subject and Law and the recognition of otherness gains a major importance in the definition of this diagnosis. Having the unrecognition of otherness as one of its main symptoms, love and cruelty come to be central when thinking about fetishism. Work on this matter will make the concept of fetishism clinically more relevant and culturally less moralistic.

Keywords Fetishism; Freud; sexuality; genitality

Résumé

On propose de revenir à la notion de fétichisme développée par Freud dans les Trois essais sur la théorie sexuelle de 1905 et dans le texte « Fétichisme » de 1927 afin de réfléchir à son adéquation clinique et culturelle à l’époque actuelle. La place centrale des organes génitaux dans l’obtention du plaisir sexuel joue un rôle fondamental dans la définition d’une sexualité non perverse au début de la théorisation de Freud. Cet aspect ayant un fort contenu moralisateur de la théorie, semble perdre de son importance dans le développement de l’œuvre. En fonction du texte de 1927, la place centrale du diagnostic du fétichisme commence à tourner autour de la relation du sujet avec la Loi et de la reconnaissance de l’altérité. Ayant pour principal symptôme la désubjectivation de l’autre, l’amour et la cruauté deviennent des notions centrales pour penser le fétichisme. Le travail sur cette question donnera à la notion de fétichisme une fonction plus pertinente cliniquement et moins moralisatrice culturellement.

Mots-clés fétichisme; Freud; sexualité; génitalité

Introdução

É sempre com espanto que lemos e relemos o “Projeto...” e a correspondência com Fliess. Tudo já está lá, quase somos obrigados a exclamar. Sim, de certa maneira, quase tudo está lá. Mas serão necessários mais de 40 anos para Freud colocar tudo no seu devido lugar, repensar e retificar pacientemente suas ideias.

LUIZ ROBERTO MONZANI

O texto da epígrafe é o último parágrafo da tese de Luiz Roberto Monzani, Freud: o movimento de um pensamento (2014). Nela o autor se dedica a estudar algumas das rupturas que a tradição de comentários ao texto freudiano consagrou: a mudança da primeira para a segunda tópica do aparelho psíquico, da primeira para a segunda teoria pulsional, da teoria da sedução para a da fantasia, e do Freud neurologista para o Freud psicanalista.

Ao longo de sua argumentação, Monzani defende que essas mudanças não podem ser vistas exatamente como rupturas, pois o que foi aparentemente abandonado costuma ser retomado de um novo ângulo em outro momento da obra (como no caso da teoria da sedução) e o que surge como novo por vezes já estava latente no próprio texto, sendo a aparição de novos conceitos muitas vezes apenas a delimitação e a nomeação de um conjunto de ideias que já se faziam presentes (Monzani sustenta que esse seria o caso da pulsão de morte). Essa interpretação da obra freudiana dá sentido à estranha sensação apontada na epígrafe. Quando lemos os primeiros escritos de Freud, temos como que um déjà-vu: “Sim, já vi isso antes, mas nos textos do final da obra”.

Isso não quer dizer que nesse movimento de reconstrução do pensamento alguns elementos não sejam deixados para trás, por Freud e pelos pós-freudianos. Nesse caso, também podemos recuperar temáticas e conceitos que foram escanteados no desenvolvimento da psicanálise. O trabalho sobre eles pode trazer contribuições teóricas e clínicas. Parece-me ser esse o caso das considerações de Laplanche (1985) sobre o conceito de apoio nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, a fim de refletir sobre a relação no humano entre o biológico e o cultural, o natural e o histórico. Outro caso é o de Van Haute e Geyskens (2016), assim como o de Van Haute e Westering (2021), para quem o desenvolvimento da teoria sobre o complexo de Édipo soterrou elementos da teoria freudiana que seriam importantes na contemporaneidade, tanto para formular uma teoria psicopatológica menos normativa (a patoanálise que os autores defendem e veem nos primeiros escritos de Freud) como para formular uma teoria da sexualidade à altura das críticas feitas pelas teorias de gênero à psicanálise nos séculos 20 e 21.

É no âmbito dessas tensões de continuidade e ruptura, preservação e abandono, recuperação e releitura, que gostaria de revisitar a noção de fetichismo em Freud. Para isso, proponho retomar a forma como ela aparece tanto nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, de 1905, quanto no texto “Fetichismo”, de 1927. Começaremos recuperando brevemente alguns aspectos da sexologia oitocentista e a noção ali presente de perversão e fetichismo. Isso se faz necessário porque o pensamento de Freud sobre as perversões é debitário de muitas teses ali desenvolvidas, sendo algumas delas superadas, mas outras preservadas. Passaremos então à comparação das afirmações freudianas sobre o fetichismo nos Três ensaios e no texto homônimo de 1927, tendo sempre como pano de fundo o conceito de perversão em Freud. Essa comparação nos levará a uma tensão entre as ideias sobre o fetichismo apresentadas nos dois textos. Argumento que a forma como Freud elabora o conceito de fetichismo no texto de 1927 nos permite repensar a centralidade que ele dá ao prazer genital na configuração de uma sexualidade não perversa, fundamental nos Três ensaios. Através de alguns exemplos, veremos que há um fetichismo absolutamente genitalizado e que talvez a questão substancial desse diagnóstico não seja a marginalidade do genital no ato sexual e sua substituição por um objeto inadequado para a satisfação sexual, mas sim a dessubjetivação do parceiro sexual decorrente da idealização de um traço que se abstrai da integridade subjetiva dele. Nesse contexto, as noções de amor e crueldade passam a ser centrais para a compreensão do fetichismo.

Este trabalho não pretende ser apenas uma investigação historiográfica sobre a evolução do pensamento de Freud acerca da noção de fetichismo. Os avanços nos debates sobre sexualidade desde Freud nos permitem enxergar a forte conotação moralista de alguns aspectos das primeiras elaborações do autor sobre as perversões e o fetichismo. Dessa forma, analisar o que sobra do conceito para além da reprodução de conservadorismos é tarefa essencial para pensar a sua utilização na psicanálise hoje. Essa apuração fará com que o conceito de fetichismo acompanhe as mudanças culturais e sociais que ocorreram desde suas primeiras formulações e possibilitará pensar questões clinicamente mais relevantes ao nosso tempo.

Perversão e fetichismo no século 19

Comecemos pela perversão. Não é Freud quem inventa a palavra. Antes de aterrissar na psicanálise, ela percorre um longo caminho no século 19, que começa na medicina para designar a degradação de uma função orgânica. Depois, ela sai do domínio orgânico para falar da degeneração moral e da loucura. Só então ela passa a se referir aos desvios na vida sexual, sentido que a palavra preserva até hoje no senso comum (Ferraz, 2015).

Para entender a noção de perversão herdada do século 19 pela psicanálise, tomemos como exemplo a obra Psychopathia sexualis (1886/2011), de Krafft-Ebing. O recurso a essa obra ganha ainda mais razão se lembrarmos que Freud inicia os Três ensaios dizendo que as ideias ali expostas foram tomadas de estudos prévios realizados por diversos autores, entre eles Krafft-Ebing.

Psychopathia sexualis visava definir as variações sexuais e referi-las às suas causas e condições: “O objetivo deste tratado é uma descrição das manifestações patológicas da vida sexual e uma tentativa de referi-las às suas condições subjacentes” (p. 627). Sendo um tratado médico e jurídico, o esforço por descrever as manifestações patológicas da vida sexual e suas condições de surgimento não era somente terapêutico. A obra buscava também esclarecer os encaminhamentos jurídicos de casos que envolvessem desvios na sexualidade. Psiquiatria e direito estão aqui ambos referenciados a um princípio normativo: a primeira à noção de saúde, cujo desvio é a doença; o segundo à lei, cujo desvio é a infração.

No caso jurídico, o autor destaca os princípios reguladores que definem o legal e o ilegal nas questões sexuais: a castidade e a moral.

A lei de todas as nações civilizadas pune aqueles que cometem atos sexuais perversos. Visto que a preservação da castidade e da moral é uma das razões mais importantes para a existência do bem comum, o Estado não pode ser muito piedoso, como protetor da moral, na luta contra a sensualidade. (p. 378)

Já vemos aqui o termo perversão, o qual, ao ser mencionado como “atos sexuais perversos”, é compreendido como atos sexuais que transgridem os limites impostos pela castidade e a moral. Se nos voltamos, porém, para o capítulo em que Krafft-Ebing se propõe a discutir mais detidamente a perversão, nos deparamos com outra definição:

Havendo a oportunidade para a satisfação natural do instinto sexual [ou seja, sem estar em condições de privação e abstinência da atividade sexual], toda expressão dele que não corresponda ao propósito da natureza – ou seja, a reprodução – deve ser considerada perversa. (p. 136)

Existiriam duas concepções diferentes de perversão sexual, a primeira ligada à moral e à castidade (e aqui estaríamos no campo dos costumes, da cultura, da estética etc.), e a segunda, aos propósitos naturais da atividade sexual, ou seja, à reprodução? A díade resistiria não fosse a compreensão do autor de que a moralidade e a castidade fazem parte do instinto sexual natural. Para Krafft-Ebing, os atos sexuais perversos são fruto da coloração emocional perversa de ideias sexuais. No caso do perverso, ideias que naturalmente (fisiológica e psicologicamente, segundo o autor) deveriam ser acompanhadas pelo sentimento de repulsa ou aversão dão origem a sentimentos sexuais prazerosos. Essa associação anormal entre ideias naturalmente repulsivas e sentimentos sexuais prazerosos resultaria na emoção incontrolável e insensível que caracteriza o ato sexual perverso. Tal anormalidade é possível quando sentimentos de prazer e paixão se sobrepõem aos sentimentos de repulsa vinculados ao ato perverso ou quando, por algum motivo, as noções de moralidade, bom senso estético e legalidade simplesmente faltam ao sujeito. Nesse contexto, o desvio do curso natural da sexualidade humana se configura tanto como doença quanto como infração legal capaz de desestabilizar o bem comum e a vida em sociedade.

Aqui é importante lembrar que o “instinto sexual natural”, para Krafft-Ebing, corresponde à atividade sexual ligada à reprodução. Nesse sentido, o prazer genital entre pênis e vagina por penetração é a norma da sexualidade, sendo seus desvios sempre vistos como potencialmente perversos. Digo potencialmente porque, em certos casos (como no fetichismo), o autor reconhece que alguns comportamentos e inclinações perversas estão presentes também na vida sexual normal e saudável. O cabelo, determinada vestimenta e todos os atos sexuais que chamamos de preliminares podem ter, na vida sexual normal, um efeito excitatório. Entramos no campo das perversões somente quando esses atos e prazeres sexuais não genitais deixam de ser preliminares ao ato de reprodução. Dito de outra forma, quando esses prazeres deixam de ser coadjuvantes na vida sexual, se autonomizam e viram fins em si mesmos, estamos falando de perversão.

Essa divisão entre normal e patológico pode ser vista de forma especialmente clara na caracterização que o autor faz do fetichismo, o que nos leva ao objeto principal deste texto. Fetichista é aquele cujo interesse sexual por determinadas partes do corpo de outra pessoa, acessórios ou mesmo objetos inanimados ultrapassa o limite da normalidade que demarcamos no parágrafo anterior, isto é, o caráter preparatório, preliminar e coadjuvante que esses traços ou objetos devem ter na vida sexual. Exemplos clássicos são casacos de pele, cintas-ligas, determinados sapatos etc. Tanto para Krafft-Ebing quanto para Alfred Binet (outro importante teórico do fetichismo do final do século 19), o fetichista se caracterizaria por tomar esses objetos preparatórios, excitatórios e coadjuvantes ao coito3 como fins sexuais em si mesmos, transformando-os assim em objeto de fetiche (Binet, 2001, citado por Safatle, 2015; Krafft-Ebing, 1886/2011).

Fetichismo em Freud: os Três ensaios e o texto de 1927

Tendo visto em que consistia o fetichismo na psiquiatria do século 19, cabe agora entender como o termo é recuperado por Freud e aclimatado à psicanálise.4 A ideia aqui é ver como ele aparece nos Três ensaios e no texto “Fetichismo”. Há outros textos importantes sobre o fetichismo que poderiam ser abordados, mas a leitura desses dois servirá para trabalhar a questão que desejo desenvolver aqui, a saber: a centralidade (ou não) do prazer genital como forma normal e não perversa de gratificação sexual em Freud.

À primeira vista, Freud parte da definição de perversão convencionada pelos autores que o antecederam: “Considera-se como alvo sexual normal a união dos genitais no ato designado como coito, que leva à descarga da tensão sexual e à extinção temporária da pulsão sexual” (1905/1989, p. 140). Assim como Krafft-Ebing, Freud reconhece que atos sexuais que fogem dessa estereotipia podem estar presentes numa vida sexual saudável, mas desde que fiquem reservados ao espaço de preliminares e preparadores da consumação sexual no coito. Essa pontuação ganha ainda mais ênfase nas páginas seguintes, onde Freud retomará a universalidade da perversão para dizer que ela só se configura como patológica quando as satisfações sexuais perversas são acompanhadas das características de exclusividade e fixação, ou seja, quando essas satisfações não se apresentam “ao lado do alvo e do objeto sexuais normais5 ... mas antes suplanta[m] e substitu[em] o normal em todas as circunstâncias” (p. 145).

Em que pese o maior destaque de Freud à universalidade da perversão, até esse ponto ainda estamos muito próximos do que vimos em Krafft-Ebing. O que vai afastar Freud desse autor é sua teoria etiológica sobre as perversões e sua explicação para a universalidade delas. Aqui, a noção de sexualidade infantil tem um papel central.

No segundo dos Três ensaios vemos Freud desenvolver a ideia de que, na criança, a genitália ainda não se estabeleceu como forma privilegiada de satisfação sexual. Recorrendo a passagens canonizadas, a criança é “perversa polimorfa”, na medida em que “goza por todos os poros”. É só depois de um longo processo de educação e enquadramento em códigos morais bem determinados – e Freud é enfático ao reconhecer o peso da cultura nessa formatação – que a satisfação sexual anárquica da criança é matizada no genital. Freud elenca o asco, a vergonha, os ideais estéticos e a moral como agentes responsáveis por canalizar essas pulsões sexuais rumo à boa medida de sua satisfação, configurada na centralidade do prazer genital com alguma permissão de atos perversos como coadjuvantes, preliminares e preparatórios ao coito. Os afetos de asco e vergonha seriam formações reativas a desejos perversos que tiveram de ser recalcados no desenvolvimento da criança rumo à maturidade. A perversão é o negativo da neurose, visto que realiza o que a neurose reprime, dá vazão ao que o neurótico recalca. Uma prova clínica disso seria a aparição abundante de atos perversos nas fantasias dos neuróticos em análise, realizando em imaginação o que lhes foi proibido na realidade.

Tendo isso em mente, vejamos como Freud caracteriza o fetichismo no primeiro dos Três ensaios. Na edição de 1905 do texto não há nada de novo em relação a Krafft-Ebing na descrição do fetichismo. Trata-se, como vimos, da substituição do objeto sexual normal (uma pessoa do outro sexo) por algum objeto inadequado a prestar-se para o alvo sexual normal. Esse objeto outro pode ser tanto uma parte do corpo da pessoa quanto um objeto qualquer. Assim como Krafft-Ebing e Binet, Freud reconhece que certo grau de fetichismo está presente na vida amorosa normal e que o que o torna um quadro patológico é a substituição do alvo sexual normal pelo fetiche, que se destaca do resto da pessoa e ganha autonomia em relação a ela. O objeto deixa de ser um acessório da pessoa, e a pessoa passa a ser um acessório do objeto. Enquanto no corpo do texto vemos essa caracterização do fetichismo muito semelhante à dos autores que antecederam Freud na questão, as notas de rodapé acrescentadas em 1910, 1915 e 1920 apontam um desenvolvimento na teoria freudiana sobre o fetichismo, em especial no que diz respeito à sua etiologia. Esse desenvolvimento culmina no texto de 1927, “Fetichismo”. Sem delongas, vamos a ele.6

Nesse texto, Freud propõe que o fetichismo seria um desdobramento possível à descoberta pelo menino da ausência de pênis em sua mãe. Ainda na tenra infância, o menino, ao se deparar com a mãe nua, ativaria o mecanismo de defesa de recusa [Verleugnung] da realidade. Essa defesa seria ativada como resposta à angústia de castração: se minha mãe não tem pênis, isso significa que eu posso perdê-lo. Diante da ameaça de despedaçamento corporal despertada por essa fantasia, o fetichismo se desenvolveria na recusa dessa constatação. Tal recusa, porém, é complexa, pois não se configura como um total apagamento da cena vista. Ela não é escotomizada do aparelho psíquico, e o sujeito deve lançar mão de algum meio de soterrá-la continuamente. Esse meio é o fetiche, que aparece como substituto do pênis da mãe, sendo altamente investido pelo fetichista na sua função de garantir a recusa da castração. As peles (transfiguração fetichista dos pelos pubianos), os sapatos, os pés e as roupas íntimas seriam objetos privilegiados de fetiche, uma vez que são eles os últimos a serem avistados antes da genitália feminina, ou melhor, da ausência de pênis feminina. Freud retoma aqui a sua teoria das lembranças encobridoras, na qual a cena anterior ao evento traumático é sobreinvestida pelo sujeito.7 Freud se distancia aqui de Krafft-Ebing, que atribui a etiologia do fetichismo a uma congenitalidade imperfeita, em que fatores hereditários e constitucionais devem se somar a uma vivência que associe no sujeito o sentimento de desejo sexual experienciado na infância com o objeto de fetiche em questão.

Chegamos a um momento de virada na nossa jornada. Como anunciei no começo, creio que a leitura do texto “Fetichismo”, de 1927, pode nos ajudar a reconsiderar alguns posicionamentos sobre o quadro presente nos Três ensaios. Pensando Freud contra Freud através desses dois textos, gostaria de propor que no fetichismo a questão central não é, como dito em alguns momentos nos Três ensaios, a eleição de um objeto de fetiche impróprio para a satisfação sexual, que tomaria o lugar da genitália, locus natural de prazer sexual. Com o texto de 1927, vemos que a questão central é a recusa da castração e aqui é necessário nos determos um pouco.

Para Freud, o processo de entrada no laço social e interiorização das leis morais é absolutamente ligado ao processo de desenvolvimento sexual. Como vimos, há um longo caminho no desenvolvimento de uma criança, que parte de um anarquismo pulsional na infância e chega à canalização dessas pulsões pelos diques da civilização. Nesse processo a criança deve submeter sua inclinação natural à obtenção de prazer por vias que não entrem em conflito com as restrições que a inserem no mundo das regras, interditos e permissões. Importantes processos dessa entrada no laço social são, de um lado, a configuração dos limites do corpo próprio e a construção de um eu e, do outro, o reconhecimento da integridade subjetiva do outro. Esse reconhecimento se dá às custas do recalcamento das pulsões parciais, que, como o nome aponta, não levam em conta uma unidade subjetiva (identidade, eu, sujeito, como quiserem) do outro na busca pelo prazer. Nesse duro processo de pertença ao laço social, a castração desempenha um papel fundamental por fazer com que a criança abdique desses prazeres perversos polimorfos pela ameaça da perda da integridade corporal. Sendo o fetichismo uma recusa da castração, já podemos suspeitar que seus sintomas dizem respeito a problemas no reconhecimento da integridade subjetiva do outro.

Voltemos aos sintomas de exclusividade e fixação do fetichista em seu objeto de fetiche. Como vimos, o fetichista abstrai esse objeto de todo o resto do encontro sexual. Afirmamos antes que no fetichismo a pessoa é acessória em relação ao objeto. Dito de outro modo, a infelicidade do fetichista é que o sapato vem acompanhado de toda uma mulher. Ora, do lado do fetichista, o sofrimento vinculado a isso é o do estreitamento de possibilidades de obter prazer, sendo a falta de maleabilidade psíquica uma enorme restrição nas formas de se lançar no mundo. Entretanto, também há sofrimento do outro lado, ou seja, na pessoa com quem o fetichista se relaciona. Afinal, quais sintomas acometem a pessoa que é objeto de fetiche?

Dessubjetivação, amor e crueldade no fetichismo

Interessado pelo mundo psíquico daqueles que se relacionavam com fetichistas, o psiquiatra e psicanalista Robert Stoller fez uma entrevista com Olympia, stripper e modelo erótica. Vejamos o depoimento dela sobre a experiência de ser um objeto de fetiche:

Tento manter-me receptiva ao que eles [a plateia e os leitores de revistas masculinas] querem ver e manter-me tão arquetípica quanto possível, dizer um pouco sobre mim mesma em cada coisa que eu faço, de modo que cada pessoa da plateia veja o que quer. (1998, citado por Safatle, 2015, p. 54)

Ao falar sobre como se sentia, ela diz: “Sentia-me completamente destacada do meu corpo, sentia-me como uma entidade completamente separada dele. Ainda vejo o meu corpo como uma ferramenta, como algo a ser usado” (p. 55).

Aqui vemos em jogo uma importante dinâmica intersubjetiva. Ao atender a fantasia do fetichista, aquele ou aquela que se presta a isso é dessubjetivado. O fetichista anula a integridade subjetiva do parceiro sexual ao colocar o outro a serviço de uma cena sexual formada de antemão. Mais que isso, a condição do prazer nessa cena é um objeto ou traço que o parceiro deve somente carregar. Chegamos aqui a um ponto essencial para pensar as perversões e o fetichismo na contemporaneidade: mais que a centralidade do prazer genital, o que define o fetichismo é a impossibilidade de tomar o outro na sua integridade subjetiva.

Um bom exemplo em que essa conotação do fetichismo fica explícita é o uso do termo em discussões sobre a fetichização e a exotização do homem negro: com as expectativas culturalmente compartilhadas do homem negro como potente, viril, com grande apetite sexual e até mesmo selvagem, a pessoa e sua individualidade são subtraídas em favor desses caracteres genéricos, que, no caso da fetichização, se colocam como verdadeiro objeto de interesse sexual.8 Uma boa formalização conceitual desses mecanismos do fetichismo é dada por Safatle:

Pela idealização, Freud procura expor o processo através do qual o objeto é subtraído de toda determinação qualitativa capaz de servir de suporte de individuação e reduzido à condição de puro suporte de um traço genérico sobrevalorizado que ele deve necessariamente portar (uma peça de roupa que deve ser necessariamente usada, um atributo físico que deve ser necessariamente ressaltado), suporte de um atributo projetado pelo sujeito, material a ser conformado a uma imagem-modelo libidinalmente investida. Nesse sentido, o fetiche é o que resta quando um objeto é esvaziado de toda determinação individualizadora. Resta o gozo por uma imagem infinitamente reprodutível, impessoal, dessensibilizada. Sem essa idealização, não pode haver fetichismo, já que não há o processo psíquico pressuposto pela operação fetichista. (2015, p. 54)

É o tipo de relação captada por Brecht neste poema-historieta:

QUANDO O SR. K AMA UMA PESSOA

“O que faz você”, perguntaram ao senhor K, “quando ama uma pessoa?” “Eu faço um esboço dela”, disse o senhor K, “e cuido para que seja semelhante.” “O quê? O esboço?” “Não”, disse o senhor K, “a pessoa.” (2013, p. 36)

Em seu comentário sobre as perversões, Silvia Bleichmar (2015) articula essas questões com base no trabalho de Melanie Klein. Bleichmar diz que o que deveria caracterizar uma relação como genital ou não (e, no nosso universo de referências freudiano, a saída do âmbito da perversão polimorfa da infância e a chegada a certa maturidade psíquica) não é propriamente o primado do genital como forma de obter satisfação sexual, mas sim o reconhecimento do objeto de amor em sua totalidade, o que significa, em outras palavras, a possibilidade de articular o pulsional com o amoroso. A autora chega a afirmar que certas formas de prazer envolvendo os genitais seriam na verdade pseudogenitais, uma vez que a centralidade dos genitais na obtenção de prazer não seria de fato genital se não viesse acompanhada da matização das pulsões no sentimento de amor por alguém. É bom ressaltar que, na perspectiva adotada neste parágrafo, amor não é apaixonamento. Tampouco se trata das figuras que temos do amor romântico. Aqui ele é, pura e simplesmente, não tomar o outro apenas como meio de satisfação das fantasias, mas como alguém também dotado de desejos e fantasias. O amor foge à dimensão do uso do outro e fala sobre a dimensão do encontro com ele.

É nesse sentido que podemos falar de crueldade no fetichismo. Além do sentido mais habitual da palavra, relacionado ao prazer em fazer o mal, à impiedade, ao gosto de maltratar, atormentar, derramar sangue e causar dor – que, na gramática psicanalítica, costumamos referenciar ao sadismo –, a palavra crueldade também gravita em torno da insensibilidade e da indiferença severa em relação ao sofrimento causado ao outro (Instituto Antônio Houaiss, 2001). O fetichista, na busca pela realização de sua fantasia sexual enrijecida e caprichosa, reduz o outro a um meio para consumar sua cena. Os aspectos de exclusividade e fixação do prazer sexual descritos por Freud nas perversões vêm acompanhados dessa anulação da sensibilidade do outro, sendo a crueldade, no sentido exposto aqui, o par oposto da impossibilidade de articular a pulsionalidade à amorosidade, como vimos em Bleichmar.

Diante de toda essa concepção de fetichismo, devemos nos perguntar: onde nisso tudo a centralidade do genital para a obtenção de prazer sexual, que vimos em Freud, desempenha um papel importante para definir o fetichismo ou mesmo as perversões em geral? A meu ver, essa centralidade do genital não parece se sustentar para além das convenções sobre o sexo “natural”, com fins reprodutivos, herdado por Freud dos teóricos que o precederam. Consideremos alguns relatos de relações sexuais com centralidade do genital em que vemos a questão da dessubjetivação, a estereotipia da cena sexual imaginada pelo perverso e o sentimento de uso por parte daquele que é objeto de fetiche.

Naomi Wolf, importante feminista americana, diz que a humanidade convive há muito tempo com a pornografia. Na opinião da autora, porém, se antes a pintura de mulheres nuas era um substituto das mulheres reais e fazia referência a elas, hoje temos uma situação em que “mulheres nuas reais são apenas pornografia ruim” (2003, par. 6). Essa é uma maneira de dizer que o real do sexo é a pornografia, que precede o encontro sexual e exerce pressão para que ele se conforme aos seus imperativos. Na concretude da coisa, transa-se tentando imitar os filmes pornôs. Há grande semelhança entre esse complexo pornografia-sexo apontado por Naomi Wolfe o mecanismo do fetichismo que vimos anteriormente: o outro é tomado como meio para consumar a fantasia sexual fetichista. Como vemos em outro elegante trecho de Wolf, o laço (bond) aqui não é com a parceira, mas com a pornografia (Naomi Wolf on the dangers of porn addiction, 2013). O curioso é que a crítica a essa dessensibilização dos homens ocasionada pela pornografia e pela dessubjetivação de suas parceiras muitas vezes toma forma na crítica aos “homens-britadeira”: homens que na cama ficam demasiadamente centrados na penetração e a abstraem do resto do sexo e da parceira.

Ora, não seria esse um caso de fetichismo em que o objeto de fetiche destacado do resto da pessoa é justamente o genital? De fato, a centralidade do prazer genital para a definição de uma sexualidade não perversa em Freud não parece se justificar. Afinal de contas, o que deveria ser alvo de preocupação do psicanalista são dinâmicas psíquicas que põem o sujeito e seu entorno em sofrimento. Vimos que dinâmicas fetichistas podem ter consequências deletérias para a pessoa9 e aqueles que ela encontra pelo caminho. Mas não parece existir nada nesse sofrimento fetichista em que a não centralidade do prazer genital seja uma condição. Aliás, o último exemplo, sobre os homens-britadeira, visou justamente enfatizar que toda a dinâmica fetichista também pode estar presente em um prazer sexual absolutamente genitalizado.

Chegando ao fim deste texto, ressalto que o intuito aqui foi mostrar como esse aspecto da teoria freudiana sobre as perversões e o fetichismo parece muito mais resquício de um moralismo naturalista (se é que me permitem o termo) que acredita que a relação sexual legítima, saudável, natural e moralmente correta é aquela lastreada nos propósitos de reprodução da espécie. Seria mais alinhado ao espírito psicanalítico aceitar uma sexualidade menos restritiva, que pudesse explorar tipos de prazer e gozo para além dessa genitalidade compulsória, e um sexo que abra o sujeito a um erotismo que o descentre e o coloque em contato com o que lhe é outro e estranho.10 Em outras palavras, uma sexualidade disponível a prazeres polimorfos sem recair em perversão, podendo, na polimorfia, também amar o outro.

1Este texto é fruto da monografia apresentada em 2021 no seminário Sexualidade Infantil e Complexo de Édipo, do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Agradeço aos colegas de seminário, à professora Maria Silvia Borghese, a Flávio Ferraz, a Joana Furquim e a Clara Bresser pelas leituras e contribuições.

3É por coito que o autor se refere à penetração da vagina pelo pênis no sexo. Usarei o termo no mesmo sentido nas páginas seguintes.

4Vale notar que o conceito de fetichismo tem uma importante história pregressa à psiquiatria, sendo fundamental para a antropologia dos séculos 18 e 19. Para uma introdução a essa história, indico os textos de Safatle (2015) e Stallybrass (2016).

5É bom retomar a distinção conceitual utilizada por Freud: objeto sexual se refere àquilo ou àquele a que a pulsão sexual se direciona – homem, mulher, animais (no caso da zoofilia) e crianças (no caso da pedofilia) –, enquanto alvo diz respeito à forma como se obtém prazer sexual com esse objeto – ânus, boca, subjugação (no caso do sadismo) etc.

6Aqui não pude traçar com detalhes os caminhos do conceito de fetichismo, que vão dos Três ensaios até o texto homônimo de 1927. Para uma história mais minuciosa desse percurso, ver Safatle (2015). Para a trajetória do conceito de perversão em Freud e algumas importantes elaborações pós-freudianas do diagnóstico, ver Ferraz (2015).

7Freud restringe a etiologia do fetichismo a uma cena masculina, o que levaria à conclusão de que esse seria um quadro exclusivamente masculino. Porém, mecanismos em jogo no fetichismo, como a recusa da castração e a clivagem do eu, descritos nesse texto, são depois generalizados por Freud em “A divisão do ego no processo de defesa” (1940[1938]/1975). Ali, o autor diz que esses mecanismos são defesas possíveis a situações traumáticas diversas, sendo a visualização da genitália feminina apenas um modo entre outros de fazer eclodir tais defesas. Essa proposição teórica permitiria formalizar a constatação clínica de que as dinâmicas psíquicas típicas do fetichismo não se restringem ao gênero masculino.

8Vemos isso no belo depoimento de Caio César dos Santos no texto “Hipersexualização do corpo negro masculino” (2017). Lars von Trier (2005) também retratou o fetiche pelo homem negro de forma genial na relação entre os personagens Grace e Timothy no filme Manderlay.

9Falei pouco sobre o sofrimento do fetichista para além do gigantesco enrijecimento subjetivo e da restrição do horizonte das formas de obter prazer. Creio que existem alguns aspectos além desses que mereceriam maior atenção. Silvia Bleichmar (2015), por exemplo, defende que não só a pessoa com quem o fetichista se relaciona é dessubjetivada, mas também o próprio fetichista, uma vez que a ele é barrada a conciliação entre atração sexual e amor. Nesse sentido, seria interessante explorar os sintomas de usuários compulsivos de pornografia. Entre esses sintomas estão a perda da libido, a dificuldade de se conectar com as pessoas ao seu redor e a disfunção erétil. Essa investigação, porém, é digna de outro artigo.

10Como trabalhado em outro contexto por Pedro Ambra no texto “O fio, o cu e a língua” (2021).

Referências

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Recebido: 10 de Fevereiro de 2022; Aceito: 14 de Março de 2022

Antonio de Almeida Neves Neto anevesnt@gmail.com

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