Shall I compare thee to a summer’s day?1
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer’s lease hath all too short a date;
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm’d;
And every fair from fair sometimes declines,
By chance or nature’s changing course untrimm’d;
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow’st;
Nor shall death brag thou wander’st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow’st:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this and this gives life to thee.
WILLIAM SHAKESPEARE, “Soneto 18”
BOBO [dirigindo-se ao rei Lear]: Não devias ter envelhecido antes de ficares sábio.
WILLIAM SHAKESPEARE, Rei Lear
O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição. … O valor de toda essa beleza e perfeição é determinado somente por sua significação para nossa própria vida emocional, não precisa sobreviver a nós, independendo, portanto, da duração absoluta.
SIGMUND FREUD, “Sobre a transitoriedade”
O tempo urge, e a vida é uma só, dizia-me frequentemente o Dr. José Longman durante minha análise com ele, que durou 12 anos, até que um tumor no pulmão encerrou sua vida, ainda aos 72 anos de idade. Não havia tempo a perder. Cada instante passado nunca retornaria, e as oportunidades perdidas poderiam não mais se apresentar, uma vez passadas. Era necessário aproveitar cada momento, aquilo que ele apresentava e o que se poderia extrair dele, em vez de ficar à espera de um tempo em que a vida seria conforme às expectativas, para aí então se decidir a vivê-la. Não há ensaio para a vida. O fato é que fiquei privado de sua valiosíssima companhia muito antes do que gostaria. Entretanto, alertado quanto à escassez do recurso insubstituível, penso que fui capaz de aproveitar ao máximo o trabalho que fizemos juntos. Eu era muito jovem quando iniciei essa análise, mas a passagem do tempo e o envelhecer não foram desconsiderados como algo extremamente essencial.
Em situação correspondente ao soneto de Shakespeare, Frank Julian Philips,2 durante um seminário clínico em 1987, relatou uma história que disse ser verdadeira. Um garoto muito apegado à avó indagou-lhe aflito como seria quando ela não estivesse mais com ele, o que faria quando ela não estivesse mais viva, ao que a avó teria respondido: “Toda vez que você pensar em mim, eu vou estar viva!”.
Um fenômeno impactante é dar-nos conta de que somos transitórios e que nossa importância no mundo ou no cosmos é insignificante. Muitos podem fazer coisas mirabolantes ou desencadear guerras sanguinárias como modo de se tornarem “eternos” (uma síndrome de Aquiles?). Lembro-me de um meme que tem circulado pelas redes sociais, em que se apresenta uma foto da Via Láctea com a Terra e outra sem. Na verdade, é a mesma foto: não fazemos a menor diferença. Mas podemos ser importantes para nós mesmos no piscar de existência que nos é concedido? Outra analista dizia-me que o desejo de ser importante era desastroso. Penso que é fato, pois se pode tentar desenvolver um personagem “notável” que usurpa a vida daquele que o produz.
Reconheço que o tempo passou para mim quando menciono para algumas pessoas mais jovens, como se fossem referências óbvias, alguns nomes da cultura universal. Grandes estrelas de Hollywood de outrora tornaram-se nomes sem significância ou registro.
Sentimos uma angústia ao verificar que aqueles que foram nossos decanos e referências envelhecem e morrem.3 Na nossa profissão, é possível seguir trabalhando indefinidamente, pois é das poucas em que, com a maturidade, a experiência pode nos tornar mais argutos. A contrapartida, contudo, também pode ser real, visto que se pode perder a humildade e viver como se fosse iluminado, não tendo mais o que aprender. Há um tempo para parar?
Nos nossos pacientes, vemos amiúde a aflição de observarem que seu tempo vai diminuindo, mas não sabem se a maneira como vivem realmente atende às suas autênticas necessidades. Com muita frequência sequer sabem o que realmente querem, e temem que a vida se encerre sem que cheguem a saber.
Mulheres que alcançam a faixa dos 50 ficam aflitas com a perda do viço e apreensivas de que sem a juventude se tornem descartáveis. Não raramente o mesmo pode ocorrer com os homens. Surge o medo da perda da potência sexual e da libido, da limitação das capacidades físicas e mentais, da finitude. Problemas de saúde até então desconhecidos começam a aparecer. Muitos não se reconhecem ou não querem se reconhecer na imagem que observam refletida no espelho. Torna-se igualmente mais proeminente a angústia da perda de pessoas amadas e significativas, e também o temor da solidão e de um final de vida desamparado e senil.
Em contraponto, há figuras respeitáveis como Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg, Laura Cardoso, Ney Matogrosso, Ary Fontoura, Paul McCartney e Jane Fonda, que continuam extremamente produtivos e arrebatando plateias, a despeito da idade que têm. O que os mantém jovens?
Recentemente, ao ler uma biografia da grande Sarah Bernhardt, soube que quase até os 78 anos que viveu, volta e meia, encarnava papéis de jovens como Hamlet e Aiglon (como ficou conhecido o filho de Napoleão) da forma mais convincente possível, deixando a audiência estupefata.
Por outro lado, é possível observar adolescentes que parecem já estar velhos e senis.
O que é envelhecer? Como é o envelhecer de um paciente? Como ajudá-lo a lidar com a inexorabilidade do tempo? Como um analista lida com essa mesma questão no que lhe diz respeito?
Convidamos os colegas a se debruçar sobre esse tema, que nos pareceu tão importante, e a submeter seus artigos para o próximo número da RBP.
Os trabalhos deverão ser encaminhados para o email da revista – rbp@rbp.org.br – até a data-limite de 19/03/2024. As orientações para a submissão de artigos encontram-se em nossa página eletrônica: www.rbp.org.br.
Claudio Castelo Filho
Editor













