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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. v.14 n.2 Ribeirão Preto dez. 2006

 

ARTIGOS

 

Percepção do idoso em relação à InternetI

 

Old-Aged Perception about Internet

 

 

Silvana Marinaro Verona; Cristiane da Cunha; Gustavo Camps Pimenta; Marcelo de Almeida Buriti

Universidade São Judas Tadeu

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Com o aumento da expectativa de vida, o idoso passou a ser um sujeito mais ativo na sociedade, ansiando por projetos futuros e acompanhando as transformações tecnológicas. A Internet despertou também interesse nos idosos, que atualmente buscam aprender a fazer uso dessa ferramenta. A pesquisa objetivou descrever a opinião do idoso referente à Internet. Participaram da pesquisa 32 sujeitos com a média de 68,8 +/- 6,9 anos, sendo 65,6% do gênero feminino e 34,4% do masculino, que frequentam instituições na cidade de São Paulo. Os dados foram coletados por meio de um questionário com questões abertas e fechadas. Os resultados mostraram que 40% dos idosos consideram que a Internet favorece a comunicação, 25% ressaltam o conhecimento e 10% destacam a facilidade (X2o= 1,38, X2c= 3,84); quanto às dificuldades, 53,1% não apresentam dificuldades, 15,6% apresentam dificuldades no uso do computador e 9,4% relataram problemas de saúde que inviabilizam o uso do computador (X2o= 6,54, X2c=3,84). Concluiu-se que os idosos consideram a Internet uma ferramenta positiva. A pesquisa revelou que, apesar do idoso ter medo e resistência quanto ao uso do computador, existe o interesse em aprender a usar essa tecnologia.

Palavras-chave: Envelhecimento, Comportamento, Inclusão digital.


ABSTRACT

With the growth of life expectation rate in Brazil, old-aged people became more active in society, making new projects and being more up-to-date in all technology changes. The Internet also call the attention of old-aged people who want to be more up-to-date and have great interest in learning how to use it. The research has the purpose of describing old-aged people’s opinion about Internet. In this research there was the participation of 32 volunteers, between 68,8 +/- 6,9 years old, being 65,6% female and 34,4% male, who usually go to Cultural Public Institutions in São Paulo. All data were collected through a questionnaire, containing classified and non-classified questions. Results showed that 40% of old-aged people consider that Internet helps communication, 25% find it improves knowledge and 10% point out the facilities (X2o= 1,38, X2c= 3,84); about difficulties, 53,1% of them don’t have difficulties, 15,6% have some difficulty in using computers and 9,4% reported that health issues that are responsible for obstructing the use of this machine (X2o= 6,54 , X2c=3,84). In conclusion, old-aged people consider Internet a positive tool and this research revealed that, although they have resistance to use computers, there is a real interest in learning how to use this kind of technology.

Keywords: Old-aging, Social behavior, Digital inclusion.


 

 

O envelhecimento biológico é inerente à natureza humana. A passagem para a velhice não se resume apenas em transformações biológicas, mas também, em uma série de mudanças que variam conforme o desenvolvimento psicossocial de cada indivíduo. Elas implicam principalmente mudanças de valores que influenciam o emocional do idoso (Santos, 2005).

Segundo Barros (2004), as mudanças nas fases da vida são pontuadas como marcos importantes na trajetória de vida de cada um e a sociedade associa esses acontecimentos à ideia de crise. A crise da meia-idade seria, portanto, caracterizada não pelo acréscimo, mas pela perda de vários aspectos, entre eles a saúde, a capacidade de produzir, o vigor sexual e intelectual e a beleza. A autora afirma que as palavras “velhice”, “velho” e “velha” têm culturalmente um peso negativo bem considerável. São expressões estigmatizadas que hoje se contrapõem ao termo terceira idade.

Stuart e Hamilton (2002) enfatizam que os processos de envelhecimento social, biológico e psicológico não ocorrem independentemente um do outro. As mudanças no estado físico do corpo, e particularmente do cérebro, podem ter profundos efeitos sobre o funcionamento psicológico.

O idoso traz consigo todas as características mais importantes desse processo de amadurecimento. Assim, pessoas tristes e céticas têm maior probabilidade de encarar esse momento da vida com mais dificuldade, enquanto pessoas mais alegres e otimistas, com maior tranqüilidade.

Para Stuart-Hamilton (2002), devemos considerar que a sociedade espera que as pessoas se comportem de forma adequada à sua idade. Descobriu-se que as pessoas mais idosas são vítimas de seus próprios estereótipos sobre o envelhecimento, criados enquanto jovens; e que na terceira idade há a diminuição da sua auto-estima. O envelhecimento é popularmente caracterizado como um aumento na sabedoria à custa de um decréscimo nas faculdades mentais. Entretanto, a opinião popular não é necessariamente sinônima de fato científico. Infelizmente, a queixa familiar de muitas pessoas idosas de que sua memória “não é mais o que costumava ser”, em geral, é justificada. A memória diminui no idoso, e, embora algumas áreas continuem relativamente preservadas, a perspectiva é de declínio. Dessa forma, podemos observar que as habilidades de memória que não declinam fazem parte da inteligência sobre conhecimento de fatos e procedimentos. Costumam ocorrer problemas quando os sujeitos têm de processar informações novas e simultaneamente lidar com outras tarefas. Também ocorrem declínios na visão e na audição, afetando as habilidades linguísticas. O declínio na saúde física geralmente diminui o acesso ao “mundo lá de fora” e com isso, diminuem as oportunidades de conversar, de ir à biblioteca, entre outras coisas. Não sabemos se isso se deve às habilidades intelectuais em declínio ou à mudança de motivação. Além disso, para muitos idosos existe uma apreciável alteração na prática da leitura e de outras habilidades linguísticas.

Segundo Lima (2000), ainda prevalece na atualidade a visão do idoso como alguém inútil, isolado, em declínio biológico e mental, com problemas orgânicos e geralmente, dependente econômica e fisicamente de alguém.

Ferrari (1996) relata que uma das causas que prejudicam o cotidiano do idoso é a falta de preparação para esta fase da vida. Aliada geralmente à perda do status e à conseqüente desvalorização social, ela faz com que o direito à aposentadoria e ao uso do tempo livre se tornem, para muitos, não um benefício, mas um período indesejável, carregado de tédio, de marginalização e de preocupação econômica.

Constata-se que o idoso era acostumado a outro ritmo, o da produção, que ocupava a maior parte do seu tempo. Agora, liberto das obrigações profissionais e de outras ocupações, possui um tempo livre em que não sabe o que fazer, não sabe como utilizá-lo (Ferrari, 1996).

É necessário compreender suas limitações características a fim de identificar atividades desempenháveis e satisfatórias para os idosos e, assim, poder estipular meios de reinserção desses indivíduos nas relações sociais contemporâneas, marcadas pelas novas tecnologias (Garcia, 2001).

O perfil do idoso mudou muito nos últimos tempos. Tempos atrás, o idoso recolhia-se ao seu aposento e vivia o resto de sua vida dedicado aos netos e revivendo suas lembranças. Atualmente, os idosos apresentam maior vitalidade e anseiam por viver projetos futuros, por contribuir na produção e até mesmo, por intervir nas mudanças sociais e políticas (Kachar, 2002).

De acordo com Santos (2005), pode-se observar a evolução da sociedade através de seu processo histórico. A Revolução Industrial modificou a vida das pessoas com o uso da energia elétrica. Hoje as revoluções tecnológicas como, por exemplo, o uso do computador, estão alterando a relação das pessoas na sociedade.

A geração dos idosos de hoje tem apresentado dificuldades em entender a nova linguagem e em lidar com os avanços tecnológicos, até mesmo nas questões mais básicas, como o uso de eletrodomésticos, celulares e caixas eletrônicos. Todas essas mudanças podem tornar o idoso um elemento de exclusão social (Kachar, 2002).

Os conhecimentos da Internet são ligações para o novo século e, além de serem um caminho para combater a exclusão social que as pessoas idosas vivenciam, são um espaço de comunicação, de troca com pessoas de todo o mundo e de aprendizagem constante. Portanto, valorizar a experiência do idoso, através do uso de interação em ambientes de educação permanente na Web, e despertar seu interesse em assumir o papel de cidadão da sociedade, é fundamental para mensurar a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas (Pasqualotti, 2004).

Lima (2000) também defende a educação permanente para os idosos, de forma transformadora e socializadora, de maneira que se possa inseri-lo no contexto atual e torná-lo capaz de construir o seu conhecimento, de reelaborar os conhecimentos que recebe, de posicionar-se como um sujeito capaz de provocar mudanças e de compartilhar com o outro.

Castells (2004) destaca o conceito de “infoexclusão” sobre a desigualdade no acesso à Internet. Para os idosos, a dificuldade em ter acesso à Internet pode estar relacionada à sua situação financeira: muitas vezes sua renda é apenas a aposentadoria e, com isso, utilizar a banda larga, por exemplo, torna-se quase inviável; além disso, pode ter dificuldade em adquirir um computador.

Segundo Lima (2007), a educação é a via mais indicada para a inclusão social do idoso e que lhe permite romper paradigmas e construir sua própria identidade. A educação auxilia o idoso a construir a sua velhice em uma outra perspectiva, mais ativa e inserida na família e na sociedade.

Segundo Garcia (2001), geralmente as pessoas levam algum tempo para absorver em suas vidas novas tecnologias, incluindo-se aqui a tecnologia da Internet. O ser humano tem uma tendência natural em resistir às mudanças, teme a novidade e receia o desconhecido.

Com o aumento da população idosa, consequentemente aumenta o número de idosos sem o conhecimento das novas tecnologias, gerando a necessidade de cursos específicos para atender essa faixa da população. Porém, existem poucas pesquisas relativas à aprendizagem específica do idoso (Kachar, 2002).

Para Lima (2007), é necessário que o idoso seja estimulado ao aprendizado das novas tecnologias. A Internet é uma possibilidade de tirar o idoso de sua zona de conforto – lar, tevê, crochês, netos (que são atividades rotineiras) – e colocá-lo em um caminho de novas aprendizagens que possam melhorar sua qualidade de vida.

A informatização crescente da sociedade contemporânea requer que os idosos se apoderem desses conhecimentos. No mundo atual, quem detém informação, detém o poder de cidadão. “É direito do idoso, como cidadão, ter amplamente facilitado o seu acesso às novas tecnologias de informação” (Lima, 2007, p. 142). Essas novas tecnologias se referem aos caixas eletrônicos, celulares, computadores e, particularmente, à Internet.

Uma pesquisa realizada com idosos chineses revelou que uma forma bastante eficiente para que idosos aprendam a usar o computador consiste em que eles sejam instruídos por pessoas com idade semelhante. (Xie, 2007).

Christ (2002) afirma que a rotina dos idosos tem mudado continuamente com o advento das novas tecnologias, principalmente com a Internet, que os tem atraído cada vez mais. Segundo o Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, a Internet tornou-se mais uma forma de lazer, capaz de ampliar os relacionamentos, além de aumentar a auto-estima e permitir que o idoso esteja mais atualizado e ativo.

Shapira e Barak (2007) concluíram, a partir de um estudo com um grupo de idosos israelenses, que o aprendizado do uso de computadores e da Internet na velhice traz uma melhoria significativa em aspectos como depressão, solidão e autocontrole, indicando, assim, que o uso da internet contribui para o bem-estar e para a sensação de capacitação nas interações interpessoais, auxilia no funcionamento cognitivo e contribui para a experiência de controle e de independência.

Por outro lado, a variedade encontrada na Internet pode trazer conflitos e dificuldades para seus usuários. Um desafio da Internet é o excesso de informação. Nicolaci-da-Costa (1998) destaca que isso se deve à facilidade e à liberdade que existe para divulgar e acessar idéias. Esse ponto é delicado, pois o usuário pode encontrar dificuldades em detectar a veracidade das informações.

A Rede apresenta diversas ferramentas que permitem o estabelecimento das chamadas “relações virtuais”. O chat é uma das ferramentas mais utilizadas e já existem diversas salas voltadas para pessoas acima de 60 anos – o que pode ser um indício de que realmente os idosos já incorporaram a Internet às suas vidas.

Goldman (2002) realizou um estudo numa sala de bate-papo para pessoas de 50 anos. Ele percebeu que, para o idoso, esses encontros têm forte dimensão social. A autora destacou que há predominância de mulheres, nessas salas, geralmente aposentadas, que os temas tratados nas conversas são, na maioria das vezes, o cotidiano e que existe também a busca de parceiros, o que acontece geralmente na opção “reservado”, existente nesses chats.

O e-mail ou correio eletrônico é outra possibilidade de comunicação, segundo Nicolaci-da-Costa (1998), e consiste em mensagens carregadas eletronicamente de computador para computador. Para os idosos, é um instrumento interessante, pois eles podem comunicar-se, por exemplo, com familiares distantes numa frequência muito maior, devido à rapidez na transmissão das mensagens.

Dickenson e Hill (2007), em estudo sobre padrões de comunicação em idosos escoceses, encontraram o telefone como método preferido, pela facilidade do uso. Para idosos que usam com frequência o computador, o e-mail é o meio de comunicação mais utilizado, permitindo uma aproximação maior com amigos e familiares, principalmente os mais jovens.

Kachar (2002) relata um estudo sobre o idoso e a relação de aprendizagem com o computador, que pretendeu identificar as necessidades de aprendizagem das pessoas acima de 55 anos e ajudá-las a superar seus medos e resistências diante das novas tecnologias. A pesquisa destaca que os idosos apresentam dificuldades específicas, mas que podem ser superadas com estratégias adequadas de aprendizagem, tais como seguir passo a passo as instruções, sala com poucos alunos e uso de intervalos, sempre respeitando o ritmo de cada um.

Santos (2005) ressalta que a linguagem é a forma como conseguimos interagir com os semelhantes. Por isso a importância do idoso também se apropriar dessa nova linguagem tecnológica. O contato do idoso com a Internet possibilita que ele se torne mais integrado à sociedade, na medida em que se apropria dos códigos de linguagem do mundo moderno.

Segundo Kachar (2002), a Internet pode beneficiar esse grupo etário melhorando as condições de interação social e estimulando suas atividades mentais. Ela traz também mudanças significativas para suas vidas, como, por exemplo, prover de informações e serviços externos a sua residência – diante da dificuldade que podem ter para se deslocar de suas casas.

Santos (2005) relata que os idosos têm motivação para o uso da Internet com os propósitos de se ocupar, de conhecer novas pessoas e estabelecer novos vínculos pessoais. Porém, inicialmente, demonstram baixa autoestima, muitas vezes pela inabilidade com as novas tecnologias, e que, no decorrer da prática, se sentem satisfeitos, chegando a comparar seu desempenho com o de filhos e netos.

Apesar das dificuldades, a aprendizagem do uso da Internet para os idosos pode ter vários ganhos. Ela favorece a inserção social e a expansão do círculo social, em virtude das possibilidades de comunicação que a Rede oferece (Oliveira, 2006).

Na percepção de que a tecnologia tem hoje influência significativa na psique humana, considera-se esse tema bastante relevante para estudo. A pesquisa sobre o idoso e o uso da Internet levantou novos questionamentos a serem investigados, como a inclusão digital do idoso e seu medo de aderir às tecnologias e às relações virtuais.

 

Objetivo

A pesquisa teve como objetivo geral avaliar a relação entre o idoso e a Internet, buscando sua opinião sobre o tema. Verificaram-se quais ferramentas o idoso utiliza para se comunicar e quais as dificuldades encontradas por ele no uso e na aprendizagem dessa tecnologia que podem limitar a sua utilização.

 

Método

Fizeram parte da pesquisa 32 idosos com a média de 68,8 +/- 6,9 anos, sendo 65,6% do gênero feminino e 34,4% do masculino. Quanto ao estado civil: 50% são casados; 21,9%, viúvos; 15,6%, divorciados; e 12,5%, solteiros. Todos eles frequentam instituições na cidade de São Paulo que possuem atividades direcionadas para essa faixa etária.

O instrumento usado para a coleta de dados foi um questionário elaborado pelos autores, contendo cinco questões abertas e nove questões fechadas, que foram utilizadas para levantar dados sobre o perfil dos participantes – as preferências dos idosos com relação à Internet, se utilizam essa ferramenta para se comunicar com outras pessoas – e levantar possíveis variáveis que impedem ou dificultam o uso da Internet.

A pesquisa foi realizada em três instituições na cidade de São Paulo. Duas delas possuem atividades esportivas, artísticas, culturais e de informática para todas as idades e também são dirigidas para os idosos; e a terceira, é uma instituição religiosa que possui um grupo de terceira idade que realiza atividades físicas, artísticas e educacionais. O questionário foi aplicado pelos autores da pesquisa mediante a autorização das instituições e assinatura pelos participantes do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob o número de parecer 017/2005.

 

Resultados e Discussão

Foi feita a análise dos dados categorizando-se as respostas fornecidas pelos participantes. Os dados apresentados na pesquisa foram organizados por meio de tabelas e gráficos e analisados usando-se o teste de Qui-quadrado (X2) para comparação das categorias.

A Tabela 1 refere-se a duas questões do questionário sobre as dificuldades encontradas no uso da Internet. O teste de Qui-quadrado (X2) indicou que existem diferenças estatisticamente significantes quanto às dificuldades no uso da Internet, X2o= 6,54 (X2c=3,84, n. sig.=0,05 e ngl=1).

 

Tabela 1. Frequência e porcentagem de dificuldades no uso da Internet segundo a opinião de idosos.

 

As dificuldades relatadas confirmam o que alguns autores discutem. Castells (2004) afirma que a dificuldade em usar a Internet pode estar intimamente ligada à situação financeira. O idoso, em grande parte, tem como renda apenas a aposentadoria, tornando difícil, por exemplo, a aquisição do serviço de banda larga. Foram relatados também problemas de saúde, em sua maioria, problemas de visão. É possível que esses problemas de visão possam estar relacionados com o uso prolongado do computador. Kachar (2002) e Garcia (2001) destacam o medo e a resistência do idoso diante das novas tecnologias – o que pode ser percebido nas perguntas do questionário relativas às dificuldades no uso da Internet. Alguns entrevistados que responderam achar difícil não tinham qualquer conhecimento ou contato com o computador, sugerindo que a grande maioria não tem uma idéia adequada do que seja o computador e do que ele pode oferecer. Essas dificuldades podem advir, ainda, da falta de estímulo para os idosos quanto ao aprendizado das novas tecnologias. Lima (2007) ressalta que a educação é a via mais indicada para a inclusão social do idoso.

A Tabela 2 refere-se a uma questão do questionário direcionada aos idosos que usam a Internet. Do total de participantes, 33,9% não responderam – correspondendo, principalmente, àqueles que não usam a Internet; dos idosos que a utilizam, levantou-se: 13,5% usam para pesquisa; 11,9%, para diversão; 10,2%, para notícias; 8,5%, para informações sobre o governo; 6,8%, para serviços em geral; 5,1%, para compras; 5,1%, para esportes; 3,4%, chat; e 1,6%, para educação. Pelo teste de Qui-quadrado, obteve-se o X2o= 16,39 (X2c= 9,48, n. sig.=0,05 e ngl=4). Logo, verificou-se que há diferenças estatisticamente significantes quanto às páginas que os idosos costumam visitar.

 

Tabela 2. Frequência e porcentagem de páginas da Internet que os idosos costumam acessar.

 

Essa diversidade pode estar relacionada ao fato de 87,5% dos idosos entrevistados estarem aposentados, o que lhes permite um tempo maior para se dedicarem às atividades de seu interesse. Porém, Ferrari (2006) diz que a maioria dos idosos ainda não se prepara adequadamente para essa nova fase, não sabendo administrar esse maior tempo livre. Kachar (2002) destaca que o uso da Internet pode melhorar a qualidade de vida do idoso, na medida em que oferece informações e serviços externos a sua residência – diante da dificuldade que os idosos podem ter para se deslocar. Lima (2007) conclui que a Internet é uma possibilidade de tirar o idoso de sua zona de conforto.

A Figura 1 apresenta as ferramentas que os usuários idosos utilizam para se comunicar na Internet: 48,8% não responderam, pois em sua maioria não usam a Internet; 25,6% usam e-mail; 11,6% usam MSN/ICQ; 9,3%, Orkut; e 4,7% usam chat. O teste de Qui-quadrado obtido, X2o= 10,59 (X2c= 5,99, n. sig.=0,05 e ngl=2), permitiu concluir que há uma variedade estatisticamente significante na escolha das ferramentas usadas para se comunicar.

 

Figura 1. Porcentagens das respostas sobre as ferramentas que utilizam para comunicação na Internet, segundo os idosos.

 

Os dados da pesquisa indicaram o e-mail como a ferramenta mais utilizada pelos idosos para a comunicação. Segundo Nicolaci-da-Costa (1998), o e-mail facilita a comunicação, rompe distâncias e, devido à rapidez na transmissão das mensagens, possibilita ao idoso comunicar-se com parentes distantes. Dickenson e Hill (2007) observaram que, entre os idosos que usam com frequência o computador, o e-mail aparece como a forma de comunicação mais utilizada, pois permite uma aproximação maior com amigos e familiares, principalmente os mais jovens. Pode-se presumir que o e-mail, entre as demais ferramentas, é a mais simples de ser utilizada, enquanto outras requerem um conhecimento maior do uso do computador.

A Tabela 3 refere-se a duas questões do instrumento que revela se os usuários já fizeram amizades na Internet e sobre a possibilidade de existir amizade na Rede. Realizou-se o teste de Qui-quadrado (X2o= 6,76, sendo X2c= 3,84, n. sig.=0,05 e ngl=1) e verificou-se que a opinião do idoso a respeito da amizade na Internet é bastante diversificada e estatisticamente significante.

 

Tabela 3. Frequências e porcentagens de possibilidades de amizades através da Internet, segundo a opinião de idosos.

 

Alguns idosos opinaram negativamente, dizendo ser perigoso buscar amizade pela Internet, por ouvirem histórias de pessoas que foram enganadas; outros responderam que não gostam da idéia e preferem conhecer novos amigos pessoalmente. Apesar dessa diversidade, podemos entender que a Internet favorece a interação social possibilitando o surgimento de novos vínculos na Rede. Kachar (2002) fala que os conhecimentos dos recursos do computador estão presentes no cotidiano das pessoas e desconhecê-los pode ser um ponto de exclusão social. Goldman (2002) ressalta que das relações virtuais surgem, algumas vezes, relações reais que beneficiam o idoso em seu aspecto psicossocial. Ainda de acordo com Goldman (2002) e Oliveira (2006), a Internet pode favorecer a inserção social do idoso, ampliando seu círculo social.

A Figura 2 refere-se aos usuários da Internet e destaca o que a Internet acrescentou em suas vidas. Realizou-se o teste de Qui-quadrado (X2o= 8,41, sendo o X2c= 11,07, n. sig.=0,05 e ngl=5) e pela análise dos dados observou-se que há uma homogeneidade em relação às possibilidades que o idoso considera para se beneficiar pelo uso da Internet.

 

Figura 2. Porcentagens das respostas sobre mudanças na vida após o uso da Internet, segundo os idosos.

 

Pela análise dos dados, podemos considerar que a vida dos idosos que utilizam a Internet é marcada por mudanças significativas que podem favorecer seu desenvolvimento psicossocial e permitir melhor qualidade de vida. Castells (2004) afirma que a Internet é uma expansão da vida em todas as suas dimensões, ou seja, ela amplia as possibilidades de lazer, amizade, conhecimento, entre outras, na medida em que facilita o acesso ao conhecimento e a interação com outras pessoas. Goldman (2002), ao relatar um estudo de salas de bate-papo para pessoas acima de 50 anos, ressalta que nesses encontros há uma forte dimensão social. Outro benefício citado por Kachar (2002) é a oportunidade de o idoso tornar-se um aprendiz virtual – que poderá continuar adquirindo conhecimento –, e isso lhe proporciona bem-estar e estimulação mental. Shapira e Barak (2007) concluíram, a partir de um estudo com um grupo de idosos israelenses, que o aprendizado do uso de computadores e da Internet na velhice mostrou uma melhoria significativa em aspectos como depressão, solidão e autocontrole.

A Tabela 4 destaca a opinião dos idosos a respeito da Internet. Realizou-se o teste de Qui-quadrado (X2o= 1,38 sendo o X2c= 3,84, n. sig.=0,05 e ngl=1) e verificou-se que não há diferenças estatisticamente significantes quanto ao que o idoso pensa a respeito da Internet.

 

Tabela 4. Frequência e porcentagem da percepção de idosos sobre a Internet.

 

Os dados demonstraram que os idosos consideram a Internet uma ferramenta positiva. A maioria dos entrevistados destacou a comunicação como um sinônimo da Internet, devido à facilidade de interagir com outras pessoas de diferentes lugares. Pode-se sugerir que existe uma preocupação maior nessa fase da vida com os vínculos afetivos. Kachar (2002) destaca a importância para os idosos de manterem contato com parentes e amigos distantes. Santos (2005) afirma que os idosos estão motivados a usar a Internet com a finalidade de se ocupar através do conhecimento de coisas novas e de pessoas. Alguns entrevistados responderam que pela Internet podem visitar museus, ver obras de artes, buscar novos conhecimentos e muitos consideram que a Internet é uma forma de se ligar ao mundo.

 

Conclusão

A Internet propicia o estabelecimento de novos vínculos, podendo favorecer o desenvolvimento psicossocial do idoso. A opinião do idoso referente à possibilidade de fazer amizade por meio da Internet vai ao encontro do referencial teórico. Os idosos que são usuários da Internet relataram que ela traz mudanças significativas, como valorização pessoal, comunicação, informação e lazer.

Foi observado que a ferramenta mais usada pelo idoso é o e-mail. Essa restrição pode estar relacionada ao fato de outras ferramentas serem mais complexas, exigindo maior conhecimento ou familiarização com o computador.

De maneira geral, os dados obtidos nesta pesquisa revelam que, apesar de o idoso ter medo e resistência quanto ao uso do computador, há interesse em aprender.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Silvana Marinaro Verona
Rua PE. Landell de Moura, 147
CEP: 03337-080 – São Paulo, SP
E-mail: sm.verona@uol.com.br.

Enviado em Dezembro/2007
Revisado em Julho/2008
Aceite final em Novembro/2008
Publicado em março/2009

 

I Nota dos autores: Painel apresentado na XXXVII Reunião Anual de Psicologia, 2007.

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