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Temas em Psicologia
versão impressa ISSN 1413-389X
Temas psicol. vol.20 no.1 Ribeirão Preto jun. 2012
DOSSIÊ "ACERCA DA INTELIGÊNCIA HUMANA"
Prefácio
A Inteligência foi escolhida como um tema central para esta edição especial da revista Temas em Psicologia, 2012. Ofereceremos uma breve descrição sobre as razões para esta escolha, antes de introduzir os diferentes trabalhos que compuseram esta edição especial.
Não há dúvida de que o mundo está mudando rapidamente. Diversos equipamentos estão sendo criados para fazer as mesmas coisas que tempos atrás tomavam muito tempo para fazê-las. Por exemplo, nós não necessitamos ir à nossa casa, escritório ou a um telefone público para fazer uma ligação telefônica. Agora, temos telefone celular. Nós não necessitamos ir aos correios para enviar uma carta. Há o correio eletrônico. Nós não necessitamos ir ao cinema. Há o DVD. Nós não necessitamos de câmeras especiais de TV para registrar um evento inesperado. Todos podem registrar um evento usando uma câmera embutida num telefone celular. Não necessitamos memorizar rotas, pois temos o GPS. Não necessitamos viajar a França para visitar o Museu do Louvre. Nós podemos fazer isso (confortavelmente sentados em nossas cadeiras) usando a internet. Em outras palavras, as pessoas rapidamente são mais instrumentadas, mais interconectadas e, provavelmente, mais inteligentes. As três palavras (instrumentação, interconexão e inteligência) são os núcleos da nova campanha International Business Machine, a famosa companhia conhecida como IBM. As três palavras caracterizam muito bem a sociedade tecnológica do novo milênio. Por esta razão, em janeiro de 2010, o Sr. Sam Palmisano, o Diretor-Presidente da IBM, anunciou, durante sua palestra na "The Royal Institute of International Affairs" (a famosa Bristish Think Tank, sigla em inglês para Tanque de Cérebros Britânico), a denominada "Década da Excelência". Para exemplificar esta "Década de Excelência", Palmisano descreveu as iniciativas de sua empresa no sistema de congestão de tráfego, sistemas de dados sobre criminalidade, redução das emissões de carbono e outros sistemas inteligentes para resolverem (ou reduzirem) muitos dos problemas cruciais das cidades, países ou indústrias - e obviamente, contratos multimilionários. De acordo com o Diretor-Presidente da IBM, o objetivo será ajudar a criar um planeta inteligente. Para a psicologia científica é claro que se o mundo está se tornando mais planeta inteligente, então o principal processo psicológico humano que subjaz esta mudança é a faculdade do pensamento, raciocínio e produção do conhecimento. Este processo psicológico é científica e popularmente conhecido como inteligência. Sem inteligência, seria difícil para o mundo alcançar melhor instrumentação ou uma interconexão mais eficiente.
A edição especial da revista Temas em Psicologia, 2012, é uma tentativa de elevar a informação científica sobre inteligência, em que estudos brasileiros e internacionais são expostos. Na presente edição, o primeiro estudo "El capital humano y la riqueza de los países" (The Human capital and the wealth of nations), escrito pelos professores Roberto Colom da Universidade Autónoma de Madrid, Espanha, e Carmen Flores-Mendoza da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil, mostra a importância da inteligência para o desenvolvimento de uma nação. De acordo com os autores, a despeito das diferenças cognitivas entre nações, há forte evidência de que o Efeito Flynn (ganho cognitivo entre gerações) está ocorrendo em nações em desenvolvimento, especialmente no Brasil.
O segundo trabalho escrito pelos professores Joseph Nedelec, Joseph Schwartz, Eric Connolly e Kevin Beaver da Florida State University, explora a relação nas diferenças de QI entre-gêmeos e as medidas de resultados examinadas. Este estudo usou quatro ondas de dados coletadas entre 1994 e 2008 pelo Estudo Nacional Longitudinal de Saúde em Adolescentes nos Estados Unidos. Surpreendentemente, os autores encontraram uma relação significativamente fraca nos QI(s) entre gêmeos e relevantes resultados de vida.
O terceiro artigo foi escrito pelos Professores Denise Descanio da Universidade Federal de São Carlos, Brasil, Fabián Olaz da Universidade Nacional de Córdoba, Argentina, Anne Fontaine da Universidade do Porto, Portugal, Olga Rodrigues da Universidade Estadual Paulista, Brasil, Almir Del Prette e Zilda A.P. Del Prette da Universidade Federal de São Carlos, Brasil. Este estudo comparou o desempenho de adolescentes brasileiros com altos e baixos níveis de chumbo no sangue nas medidas de habilidades sociais, inteligência e desempenho escolar.
O quarto artigo escrito pelos professores Fabio Feitosa da Universidade Federal de Rondônia, Zilda Del Prette e Almir Del Prette da Uni da universidade Federal de São Carlos, examina o papel da competência cognitiva como mediador da relação entre habilidades sociais e desempenho escolar.
O quinto estudo foi escrito pelos professores Nermin Dapo, Jadranka Kolenovic-Dapo, Nina Hadziahmetovic e Indira Fako da Universidade de Saravejo (Bosnia e Herzegovina). Os autores exploram a relação entre os Três Gigantes de Eysenck com as Inteligências Fluída e Cristalizada, e o Potencial para Aprendizagem entre adolescentes.
O sexto artigo escrito pelos professores Aurelio Figueredo, Alyssa Cuthbertson, Ilyssa Kaufman, Elana Weil da Universidade do Arizona (USA) e Paul Gladden do Macon State College (USA) mostra que as funções executivas parcialmente mediam a estratégia histórica e o acasalamento a curto-prazo, e a relação entre lenta história de vida e inteligência emocional.
O sétimo manuscrito escrito pelos professores Gerhard Meinsenberg da Ross University Medical School (Dominica), Heiner Rindermann da Chemnitz University of Technology (Alemanha), Hardik Patel e Michael Woodley da Ross University Medical School (Dominica) analisa a relação entre diferenças nacionais de religiosidade e diferenças nacionais de QI.
O oitavo estudo escrito pelos professores brasileiros Ricardo Primi da Universidade São Francisco, Tatiana Nakano e Solange Wechsler da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, descreve um estudo ainda em andamento sobre a adaptação brasileira do Teste Woodcock-Johnson de Habilidade Cognitiva. Os resultados preliminares parecem provar a pertinência da Teoria C-H-C.
O nono estudo elaborado pelos professores Carmen Flores-Mendoza da UFMG, Keith F. Widaman da Universidade da California, Davis, Marcela Mansur-Alves da UFMG, José H. da Silva Filho da Universidade Federal do Amazonas e Sonia Pasian da Universidade de São Paulo, Campus de Ribeirão Preto (USP-RP), mostra a estimativa do tamanho do topo do capital humano no Brasil, o qual é cerca de 10% da população.
Finalmente, o último estudo escrito pelos professores José Aparecido Da Silva (USP-RP), Nilton Ribeiro-Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Rosemary Conceição dos Santos da Universidade de São Paulo (USP/Capital) e Universidade Estadual Paulista (UNESP/São José do Rio Preto), revisa como os impactos da inteligência (ou habilidades cognitivas), mensurada por escores dos testes, são diretamente relacionados à renda individual, produtividade, crescimento econômico, bem como, com outros importantes indicadores sociais, de saúde e educacionais.
Muito tem sido aprendido e muito ainda precisa ser aprendido. Isto é certamente verdadeiro para a inteligência.
Carmen Flores-Mendoza
e
José Aparecido Da Silva
30 de junho de 2012