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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.22 no.4 Ribeirão Preto dez. 2014

https://doi.org/10.9788/TP2014.4-03 

ARTIGOS

 

Análise de dois contextos interativos em uma díade mãe-criança com deficiência visual

 

Analysis of two interactive contexts in a mother-child with visual impairment

 

Análisis de dos contextos interactivos en una madre-hijo con discapacidad visual

 

 

Carolina Silva de MedeirosI; Nádia Maria Ribeiro SalomãoII

IUnidade Acadêmica de Educação do Campo da Universidade Federal de Campina Grande, Sumé, Paraíba, Brasil
IIDepartamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo teve por objetivo analisar a interação de uma díade mãe-criança com deficiência visual, a partir de dois contextos interativos: uma situação de brincadeira livre e uma situação de brincadeira estruturada, buscando apreender estratégias maternas que facilitam a participação da criança no processo interacional e identificar cenas de atenção conjunta. Foram realizadas observações com uso de filmagem, na residência da díade. Realizou-se uma análise qualitativa dos episódios interacionais. Na situação de brincadeira livre a estratégia materna em dar espaço à criança para iniciar a interação favoreceu a participação infantil. Na situação de brincadeira estruturada observou-se que o comportamento materno de aproximar objetos da criança ou de aproximar a mão da criança dos objetos, além de fazer uso de indicações gerais de como a criança deve utilizar os recursos que dispõe, possibilitou que a criança identificasse os objetos e suas localizações. Evidenciou-se, de um modo geral, que na díade mãecriança com deficiência visual a atenção conjunta vai acontecer por meio do toque e que estratégias de questionar à criança sobre as propriedades dos objetos e de aproximar os mesmos do campo tátil da criança facilitam o reconhecimento e a posterior identificação. Considera-se que estes dados podem fornecer pistas para que intervenções sejam realizadas com o intuito de promover o desenvolvimento da criança com deficiência visual, a partir da interação com a mãe, mas também por meio do uso dos recursos perceptíveis que dispõe, como o tato e a audição.

Palavras-chave: Contextos interativos, deficiência visual, cenas de atenção conjunta.


ABSTRACT

This study aimed to analyze the interaction between a mother and a child with visual impairment, throughout two different interactive contexts: a free play and a play structured situation. These contexts provided an understanding of the maternal strategies used within the purpose to facilitate the child's participation in the interactional process and also identify potential scenes of joint attention. Observations were conducted in the dyad residence, by the use of film record. Qualitative analyses of the observations were made. In free play situation, maternal strategy to give space for the child to initiate interaction favored child participation. In structured play situation it was observed that the maternal behavior to approach the objects to the child or to approach the child's hand to objects, besides making use of general indications of how the child must use the resources that are available, allowed the child to identify objects and their locations. The results shows that in the mother-child with visual impairment, the scenes of joint attention will occur through the use of touch and that the use of questions made for the child, concerning the properties of objects, facilitates the recognition and subsequent identification. It is considered that these data may provide clues to elaborate interventions whose purpose is to promote the development of children with visual impairment, from the interaction with the mother, but also through the use of resources, such as touch and hearing.

Keywords: Interactive contexts, visual impairment, scenes of joint attention.


RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo analizar la interacción de una pareja madre-hijo con discapacidad visual, a partir de dos contextos interactivos: situación de juego libre y situación estructurada, tratando de comprender estrategias maternas que faciliten la participación del niño e identificar escenas de la atención conjunta. Las observaciones se realizaron utilizando grabación de las escenas, en la residencia de la pareja. Se hizo un análisis cualitativo de las observaciones. En la situación libre, la estrategia en dar espacio para que el niño inicie la interacción favoreció la participación. En situación estructurada, se observó que el comportamiento maternal de aproximación de los objetos al niño o de aproximación de la mano del niño a los objetos, además de hacer uso de las indicaciones generales de la forma en que el niño tiene que utilizar los recursos de que dispone, permitió al identificar objetos y sus ubicaciones. En la pareja madre-hijo con discapacidades visuales la atención conjunta va a suceder por medio del tacto. Las estrategias de cuestionamiento al niño acerca de las propiedades de los objetos más allá del acto de llevar los niños de lo campo táctil facilitan el reconocimiento y la posterior identificación. Estos datos pueden proporcionar pistas sobre qué intervenciones se llevan a cabo, cuyo propósito es promover el desarrollo de los niños con discapacidad visual, a partir de la interacción con la madre, por medio del uso de los recursos notables que tienen: el tacto y la audición.

Palabras clave: Contextos interactivos, discapacidad visual, escenas de atención conjunta.


 

 

A criança com deficiência visual severa apresenta, além de outras características, a ausência da percepção visual enquanto forma de apreensão de informações, o que pode dificultar o reconhecimento do ambiente, das pessoas e de objetos. Esta constatação afirma a relevância de estudos que investiguem as interações entre pais e filhos com deficiência visual, a fim de compreender como estas interações acontecem e quais repercussões podem apresentar para o desenvolvimento das crianças.

De acordo com os estudos de Vygotsky (1995), a deficiência visual cria dificuldades para a participação em muitas atividades da vida social, mas, por outro lado, mantém a principal fonte de conteúdos de desenvolvimento, isto é, a linguagem. A utilização de recursos linguísticos se constitui em uma das maneiras de superar as consequências da deficiência visual. Os intercâmbios sociais comunicativos apresentam uma marcada influência, sendo através deles que a criança percebe o mundo e regula as suas ações (Ochaita & Rosa, 2004).

Nesse sentido, com a ausência da visão, a linguagem surgirá como principal veículo de comunicação entre a criança e o meio que a circunda. Dunlea (1989) atenta para o fato de que examinar a linguagem na população deficiente visual pode promover uma oportunidade única para avaliar como a linguagem se inter-relaciona com outras capacidades. Logo, não apenas é importante compreender o desenvolvimento dos processos comunicativos de uma criança desprovida da visão, mas também as relações estabelecidas com o seu principal cuidador, que geralmente nos primeiros anos de vida, é a mãe.

De acordo com Oliveira e Marques (2005), as pesquisas envolvendo a aquisição linguística da criança com deficiência visual mostram controvérsias quanto aos aspectos responsáveis pelo seu desenvolvimento. Considera-se que a evidência ou não de um possível atraso na linguagem das crianças com deficiência visual não é inerente às mesmas, mas sim consequência da ausência de estimulação das pessoas com as quais as crianças se relacionam. Nas crianças com deficiência visual, é possível que as primeiras palavras demorem a aparecer, quando comparadas com crianças videntes. No entanto, conforme apontam Ochaita e Rosa (2004), quando as primeiras palavras são produzidas, o vocabulário das crianças com deficiência visual logo é expandido e a linguagem torna-se, então, fluente.

Segundo Cunha (1997), a aquisição linguística na criança com deficiência visual é um marco evolutivo dentro do espectro maior do desenvolvimento infantil, especificamente no que diz respeito aos processos de socialização. Apesar de apresentarem diferentes posições e conclusões, o que torna necessário maiores investigações, os estudos (Batista, 2004; Santos, Galvão, & Araújo, 2009) concordam com a importância do contexto em que a criança está inserida e as estimulações que recebe para o desenvolvimento linguístico. A potencialidade de cada criança para aprender a interagir em condições satisfatórias em seu meio familiar, na escola e na comunidade, pode ser estimulada ou inibida pelo comportamento das pessoas que com ela convive.

Nas conversas de adultos com crianças, frequentemente fala-se sobre objetos perceptivos e eventos. São várias as ocasiões em que os pais tendem a nomear e a descrever os objetos que se encontram dentro dos seus campos perceptivos e visuais. É dessa forma que as crianças podem ter acesso aos significados das palavras, visto que a contemplação dos pais acerca de objetos e eventos pode servir de base para tal. Nesse sentido, as interações diádicas vão, aos poucos, se modificando e passando a se constituir tanto de objetos quanto de pessoas, o que irá resultar em cenas de atenção conjunta (Aquino & Salomão, 2010).

A presença da atenção conjunta no início do desenvolvimento infantil é um diferenciador para a aquisição linguística (Tomasello, 2003), pois promove o estabelecimento de um foco conversacional, através de um contexto comum tanto à criança quanto à pessoa com a qual se relaciona. Verifica-se que há uma interatividade na comunicação, isto é, no caso da interação entre as díades, a conduta da mãe será de ajuste às características infantis, adequando a fala e os gestos no intuito de melhor comunicar-se com a criança.

De acordo com Aquino e Salomão (2010), tanto a mãe quanto a criança apresentam diferentes perspectivas no que diz respeito à atividade em que estão engajadas, no entanto, há um compartilhamento da situação da interaç o. Para as autoras, há um nível de intersubjetividade presente que, a depender da situação, pode tornar desnecessário o olhar da criança para o adulto.

Considera-se que em crianças com desenvolvimento atípico, como é o caso de crianças com deficiência visual, a atenção conjunta pode se estabelecer por meio de funções perceptíveis como a função tátil e auditiva (Bosa & Souza, 2007; Colus, 2012; Kreutz & Bosa, 2009). A presença de experiências constantes e bem estruturadas possibilita que a díade estabeleça um formato comunicacional que irá facilitar a compreensão entre ambos, especificamente da mãe, que tende a interpretar as ações infantis (Cunha & Enumo, 2003).

Destaca-se o papel da mediação, posto que possibilita que a criança adquira capacidades ainda não desenvolvidas com a ajuda de outra pessoa, a qual pode atuar como facilitadora neste processo. A mediação da mãe, por exemplo, é de suma importância para o estabelecimento de laços afetivos, cognitivos, sociais e linguísticos com a criança. No entanto, as baixas expectativas maternas sobre as reais capacidades dos filhos podem levar a um padrão inadequado de mediação. Uma postura mais rígida, mais controladora e mais diretiva também pode afetar o desenvolvimento cognitivo de uma criança com necessidades educativas especiais, no caso, a criança com deficiência visual.

Ao considerar a importância da mediação para o desenvolvimento infantil, especificamente no que diz respeito ao desenvolvimento da linguagem, o uso de recursos lúdicos diversos é percebido por estudos da área (Vectore, 2003; Vygotsky, 2007), como meio que facilita a aquisição de novas habilidades bem como a interação entre o adulto e a criança. Nesta perspectiva, as crianças mais novas devem ser estimuladas para atividades mais livres, com exploração de objetos diversos, por exemplo. Este é um dos caminhos iniciais para que os pais se apropriem das experiências diárias a fim de torná-las momentos de aprendizagem.

Uma das maneiras de facilitar a interação da mãe com a criança com deficiência visual é através dos brinquedos. De acordo com Motta, Marchiore e Pinto (2008), os jogos e brinquedos que desenvolvem as percepções táteis e auditivas ajudam a criança a aprimorar esses sentidos, compensando a deficiência visual. O uso dos brinquedos apropriados à faixa etária da criança e a sua condição visual pode ser um dos caminhos para que o adulto, no caso, a mãe, faça o papel de mediadora, buscando facilitar e despertar a participação da criança. Em estudos realizados (Hueara, Souza, Batista, Melgaço, & Tavares, 2006; Souza & Batista, 2008) foi verificado que o ato de brincar favorece o desenvolvimento cultural da criança com deficiência visual. Várias pesquisas sobre a brincadeira e sua relação com o desenvolvimento infantil baseiam-se em métodos observacionais, sendo uma forma adequada e plausível de estudar o comportamento infantil.

A esse respeito, o estudo realizado por Behl, Akers, Boyce, e Taylor (1996) teve por objetivo comparar comportamentos de interação em mães de crianças cegas nas idades dos 15-61 meses, em situação de brincadeira livre, com mães de crianças com desenvolvimento típico. O estudo identificou que as mães de crianças cegas eram mais fisicamente envolvidas, usaram mais estratégias de controle e falaram mais que as mães das crianças típicas. Estes achados corroboram com o estudo de Medeiros (2010), que, realizado com bebês com deficiência visual e bebês com desenvolvimento típico na faixa etária dos seis aos 13 meses de vida, evidenciou que as mães dos bebês cegos falaram mais que as mães dos bebês videntes e, ao mesmo tempo, estiveram em contato corporal, provavelmente com a intenção de demarcar a sua presença no cenário interativo.

Outro estudo realizado (Moore & McConachie, 1994), o qual envolveu a interação e a comunicação entre pais e crianças com deficiência visual, sendo oito crianças cegas e oito crianças com deficiência visual severa, aos 18 meses de vida, evidenciou que os pais das crianças cegas iniciavam mais a interação e tendiam a usar comentários verbais sem acompanhamento de ações. Os dados foram obtidos através de filmagens das crianças interagindo com um dos pais. Os pais das crianças cegas também falaram pouco sobre os objetos que estavam no foco de atenção da criança e eram mais propensos a descrever a propriedade dos objetos para a criança, usando termos gerais, como pronomes e substantivos.

Os resultados evidenciaram ainda que os pais das crianças com deficiência visual severa descreviam os objetos às crianças, mas as crianças dos dois grupos receberam solicitações de ação. Os autores identificaram uma dificuldade dos pais das crianças cegas em iniciar e sustentar as interações.

A esse respeito, pode-se argumentar que a idade das crianças, além da condição visual, pode ter dificultado a manutenção das interações, uma vez que as crianças mais novas apresentam uma tendência a terem a atenção dispersa e fluida e, no caso de crianças cegas, o contato estabelecido com os pais necessita de recursos sistemáticos para que a comunicação se estabeleça, mas também se mantenha.

Destarte, a partir da perspectiva sociointeracionista assinala-se a relevância da linguagem e do sentido tátil para o desenvolvimento humano, especificamente em crianças com deficiência visual, para as quais os recursos linguísticos serão a principal via de acesso ao ambiente, às pessoas e aos objetos. O tato, por exemplo, será fundamental para o reconhecimento sensorial dos objetos, conforme apontam Ochaita e Rosa (2004).

Neste sentido, considerando a linguagem enquanto eminentemente interacional, destaca-se a importância de investigar as interações socialmente estabelecidas entre a mãe e criança, a partir de situações contextuais que façam parte da rotina da criança, isto é, situações de brincadeira livre, mas também a partir de situações estruturadas, com indicação de um brinquedo específico a ser utilizado, visando identificar as estratégias maternas utilizadas neste cenário.

 

Método

Tipo de Estudo

Diante das explanações teóricas e empíricas acima mencionadas, realizou-se um estudo de caso que teve por objetivo analisar a interação de uma díade mãe-criança com deficiência visual, a partir de dois contextos interativos: uma situação de brincadeira livre e uma situação de brincadeira estruturada, buscando apreender as estratégias maternas utilizadas para facilitar a participação da criança no processo interacional e identificar possíveis cenas de atenção conjunta.

Os estudos de casos são realizados quando o pesquisador tem por finalidade responder a questões do tipo "como" e "porque" (Yin, 2005). Neles, a estratégia do pesquisador consiste em investigar o fenômeno em sua profundidade, no intuito de realizar uma descrição detalhada e minuciosa e consequentemente, adquirir a compreensão mais abrangente do mesmo.

De acordo com Salvatore e Valsiner (2010), na pesquisa idiográfica, na qual os estudos de caso estão inseridos, é reconhecida a dinâmica do objeto de estudo e a sua particularidade. Nesta perspectiva, cada evento é único. Segundo Valsiner (1997), optar por estudo de casos individuais é uma maneira de compreender o desenvolvimento enquanto processo de mudança, o que pode contribuir para responder a questões teóricas.

Participantes

Participou deste estudo uma díade mãe-criança. A criança, sexo feminino, possuía 36 meses de vida e foi diagnosticada com uma deficiência visual (cegueira total), sem outras alterações neurológicas e/ou motoras. Optou-se por incluir a criança nessa faixa etária porque se considera que, em geral, a criança com 36 meses de vida já apresenta habilidades socicomunicativas complexas, em função do desenvolvimento linguístico. Para a mãe, o critério de inclusão foi de que fosse maior de 18 anos e que permanecesse com a criança por pelo menos um turno do dia. Dados sociodemográficos obtidos, a fim de caracterizar a díade, revelaram que a mãe tinha 37 anos de idade; o ensino fundamental completo e não trabalhava fora de casa, sendo a principal cuidadora da criança.

O acesso à díade participante aconteceu por meio de instituições especializadas em atender crianças com necessidades educativas especiais, entre as quais, as crianças com deficiência visual. Através de um contato inicial por telefone, em que a pesquisadora explanou sobre o objetivo do estudo, a mãe foi convidada a participar e, com o consentimento dela, fez-se uma primeira visita à residência domiciliar.

A criança apresenta o diagnóstico de Retinopatia da Prematuridade, a qual, segundo dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (Ferreira, 2007) é considerada uma das principais causas da deficiência visual na infância, sobretudo em países da América Latina.

Instrumentos e Procedimentos para Coleta dos Dados

Para analisar a interação mãe-criança com deficiência visual e identificar as estratégias maternas, os comportamentos comunicativos infantis e possíveis cenas de atenção conjunta, foram realizadas duas observações, através de filmagens, com uso de uma câmera de vídeo digital e de um cronômetro para demarcar o tempo de duração de 20 minutos.

Na situação de brincadeira livre, solicitou-se à mãe que brincasse com a criança como normalmente o faz no dia a dia, tentando tornar a situação o mais natural possível, mesmo com a presença da câmera de vídeo digital e da pesquisadora. A situação estruturada aconteceu por meio da sugestão da pesquisadora no uso de um brinquedo, escolhido de acordo com a faixa etária e com a condição visual da criança. Por se tratar de uma criança com cegueira total, foi fornecido à mãe um brinquedo de encaixar peças de plástico, com formatos geométricos diferenciados. Este brinquedo foi utilizado porque se considera que favorece o uso do tato por parte da criança para reconhecer os objetos, além da ajuda e apoio que a criança obtém através das ações e estratégias maternas.

Nesta situação, a pesquisadora fez a seguinte instrução:

Hoje eu trouxe este brinquedo para a senhora brincar com seu filho(a). O objetivo é tentar encaixar as peças em seus respectivos orifícios, mas faça da maneira que a senhora achar melhor. Se tiver alguma dúvida, sinta-se a vontade para perguntar.

Os dados foram coletados na residência, dando preferência por um momento do dia em que estivessem presentes somente a díade participante e a pesquisadora, a fim de evitar possíveis interrupções. No primeiro contato da pesquisadora com a díade, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, contendo os objetivos da investigação, o anonimato dos participantes e a liberdade em contribuir com a pesquisa. Houve espaço para tirar dúvidas sobre os procedimentos do estudo. Neste primeiro contato também foi realizada a observação em situação de brincadeira livre, com tempo de duração de 20 minutos. Aproximadamente oito dias depois, foi realizada a observação em situação de brincadeira estruturada, na qual a pesquisadora entregou à díade um brinquedo de encaixar peças. O tempo de duração da filmagem também foi de 20 minutos. O intervalo entre as duas situações foi devido às atividades da díade, a qual frequenta instituições de atendimento especializado por pelo menos duas vezes na semana, além de ter outros compromissos.

Procedimentos para Análise dos Dados

O processo de análise das observações teve início com a transcrição manual e literal de 10 minutos intermediários dos 20 minutos de cada filmagem, que foram posteriormente digitados e arquivados no sistema CHAT do programa computacional CHILDES (Child Language Data Exchange System). O CHAT (Codes for human analysis transcripts) consiste em um sistema de transcrição dos dados. Utilizou-se este sistema a fim de obter protocolos padronizados, com destaque para os comportamentos comunicativos verbais e não verbais da mãe e da criança.

A análise dos comportamentos comunicativos maternos e infantis, além da identificação dos episódios interativos foi feita por meio de uma análise minuciosa. A análise minuciosa possibilita a apreensão do tempo de duração dos episódios interativos, os processos de trocas interativas, as estratégias de mediação entre mãe e criança e uma descrição detalhada dos contextos situacionais. O contexto, neste estudo, é caracterizado através da estrutura da atividade da mãe e da criança, compreendida a partir da configuração do episódio interativo.

Um episódio interativo define-se através da realização da atividade conjunta entre dois participantes diante de um objeto ou evento. O início do episódio interativo acontece quando um dos parceiros em interação dirige um comportamento comunicativo ao outro e a resposta para este comportamento acontece no máximo de cinco segundos, conforme proposta de Seidl-de-Moura (2009). O fim do episódio acontece quando há mudança de foco de interesse para outro objeto ou evento por um dos membros da díade. Com base nos critérios de continuidade e descontinuidade, buscou-se identificar quem iniciou o processo interacional, para depois compreender como este processo fluiu e/ou se houve uma quebra, acarretando em uma descontinuidade.

Os comportamentos comunicativos maternos e infantis possibilitaram a identificação dos episódios interativos, atentando para possíveis cenas de atenção conjunta. A identificação dos processos interacionais contínuos toma por base a sequência aos tópicos de fala e ação, isto é, quando tanto a fala/ação materna quanto a fala/ação infantil voltam-se para uma mesma atividade, diz-se que há uma continuidade na interação.

Em contrapartida, nos episódios descontínuos observam-se primeiramente como houve a quebra na interação, ou seja, a mudança de foco, para posteriormente apreender as estratégias utilizadas que possibilitaram o retorno à continuidade da interação. Especificamente, procurou-se identificar as estratégias maternas que promoveram a participação da criança durante a cena interativa. Ao final do episódio, atenta-se para a realização e finalização de uma atividade em comum.

Parte-se do pressuposto de que a análise dos dois contextos situacionais, isto é, a situação de brinquedo livre e a situação estruturada, possibilitam a apreensão dos aspectos que podem promover o avanço linguístico infantil, além da identificação dos tipos de comportamentos comunicativos que surgiram em determinada situação.

Considerações Éticas

Considerou-se a Resolução do Ministério da Saúde 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, de que as pesquisas no âmbito da Psicologia e demais Ciências que lidam com seres humanos, devem ser submetidas à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Logo, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital Universitário Laureano Wanderley (HULW), tendo sido aprovado sob o número do protocolo 644/10. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido contendo os objetivos da pesquisa, a não obrigatoriedade em participar da mesma e o anonimato dos participantes foi entregue e assinado pela mãe.

 

Resultados e Discussão

Nesta seção serão apresentados e discutidos os dados obtidos nas duas situações contextuais já destacadas, isto é, a situação de brincadeira livre e a situação de brincadeira estruturada.

Análise de um Episódio na Situação de Brincadeira Livre

A tabela abaixo apresenta informações relacionadas a um episódio interativo na situação de brincadeira livre, com destaque para o tempo de duração, bem como as estratégias maternas utilizadas para manter a criança engajada.

 

Tabela 1

 

A situação aconteceu na sala de estar da casa da díade, durante o período da tarde. Para compor a cena interativa, a mãe optou pelo uso de poucos brinquedos, como uma banheira de plástico com alguns bonecos também de plástico, os quais, quando apertados, apresentavam um barulho.

A situação tem início com a díade sentada lado a lado no sofá da sala. A mãe solicita que a criança ajeite as pernas e coloca a banheira de plástico no meio das pernas da criança, a qual fica em contato direto com os bonecos de plástico que se encontram em seu interior. A criança toma iniciativa perguntando a mãe se ela "dá de comer" aos bonecos. A mãe responde que quem irá fazer isso é a própria criança, conforme pode ser visto na descrição abaixo:

A criança, tirando os bichinhos da banheira e segurando-os, pergunta à mãe: "tu dá de comer?" A mãe, olhando em direção à criança, responde: "eu num vou dá de comer a eles agora não. Você que vai dá de comer prá ele". A criança, então, pergunta: "E o caracolzinho? Tomá banho?" A mãe, olhando em direção à criança e depois em direção à câmera, responde: "vai, o caracolzinho toma banho também".

A criança continua tirando os bichinhos da banheira, um por um, manipulando-os, provavelmente com a intenção de reconhecer cada objeto em particular. A mãe, atenta ao interesse da criança, solicita que ela dê banho em cada um dos bonecos e para isso, faz perguntas direcionadas para os bonecos. Para tanto, a mãe, olhando em direção à criança, diz: "Dê banho no caracol, cadê o caracol?" A criança manuseia cada boneco separadamente e entrega-os à mãe, assim que ela solicita e diz: "toma, dê banho". A mãe, olhando em direção à criança, diz: "eu vou dar banho depois, depois a gente leva ele pró banheiro, tá certo? Deixa ele dormir aí um pouquinho". A criança finaliza a cena interativa quando se levanta do sofá e dirige-se até a cozinha da casa.

A cena interativa se constitui em torno da banheira e dos bonecos que nela estão. Verificou-se que tanto a criança quanto a mãe tomam iniciativa em torno do faz-de-conta, ao simular a ideia de que os bonecos estão tomando banho. Para tanto, a díade participa em conjunto da atividade, observando-se, na maior parte do tempo, uma interação entre ambas.

A mãe segue o foco atencional da criança e mostra-se atenta às suas solicitações, além de deixar a criança livre para propor novas configurações. O comportamento materno proporciona à criança oportunidade para que ela explore os objetos e os identifique, o que foi realizado pela criança através do toque e da manipulação.

A esse respeito, Salomão (2012) enfatiza a relevância da continuidade da conversação, ou seja, quando as expressões verbais do adulto fornecem sequência aos tópicos de fala da criança, há um favorecimento em termos de maior participação infantil na interação. Desse modo, a criança mostrou-se atenta às requisições maternas, demonstrando participação ativa no episódio interativo.

De acordo com Queiroz, Maciel e Branco (2006), a brincadeira de faz de conta é uma atividade que possibilita a promoção da representação e da metarepresentação no desenvolvimento da criança. É no ato de brincar que a criança se posiciona de forma ativa, exercendo diferentes papéis sociais e mesmo atribuindo sentidos diversos aos objetos com os quais está em contato. A brincadeira pode ser considerada como uma situação natural da criança, tendo em vista fazer parte do seu desenvolvimento, e, através da qual a criança constrói significados sociais e culturais, conforme preconiza Vygotsky (2007).

Em se tratando de interação entre adulto e criança cega, o primeiro pode estimular a criança a verbalizar sobre as noções que apresenta em relação ao brinquedo, além de ajudá-la na manipulação. Para tanto, o adulto pode fazer uso de questionamentos diversos e instruções precisas que possibilitem a identificação do objeto pela criança. No episódio interativo aqui discutido, esta foi uma estratégia materna observada, qual seja, a de questionar à criança sobre os objetos, além de instruí-la a como fazer o correto uso dos mesmos.

Nesse sentido, é importante compreender que a estratégia da mãe em dar espaço à criança para iniciar a interação, a qual propõe a brincadeira de faz-de-conta, pode ser uma forma de favorecer a participação infantil. Todavia, ao recusar o papel social que a criança lhe atribui, sugerindo inclusive que a criança o assuma, a mãe pode promover descontinuidades na interação, isto é, quebras e interrupções, o que pode repercutir na finalização do episódio interativo, não sendo, pois uma estratégia positiva. Este comportamento foi observado no recorte interativo, mas não levou ao fim do episódio, haja vista que a criança logo introduziu um novo elemento configurativo, ao referir-se a possibilidade de dar banho nos bonecos.

Desta constatação decorre a importância de investigar a interação diádica a partir de um olhar bidirecional, uma vez que o comportamento materno influencia o comportamento infantil e vice-versa. A partir do recorte previamente discutido, evidenciou-se que a mãe esteve atenta às solicitações e sugestões da criança e esta, por sua vez, também demonstrou sintonia para com o comportamento comunicativo materno.

A cena de atenção conjunta acontece a partir da triangulação entre criança, adulto e objeto. Isto significa dizer que na interação, mãe e criança compartilham a atenção diante de um terceiro objeto ou evento (Tomasello, 2003). Em se tratando de crianças cegas, são poucos os estudos que investigam a presença de cenas de atenção conjunta. Há, no entanto, evidências de que a atenção conjunta acontece mesmo na ausência da visão (Bigelow, 2003; Fonte, 2011; Medeiros, 2010).

A pesquisa realizada por Fonte (2011) com uma criança cega e sua mãe defendeu a tese de que na interação mãe-criança cega o toque vai apresentar o estatuto do olhar no funcionamento da atenção conjunta e que estratégias de manutenção da atenção podem favorecer o foco de atenção da criança. No entanto, as estratégias que redirecionam a atenção infantil promovem quebras e não possibilitam continuidade na interação. Isto significa dizer que o redirecionamento apresenta diferentes funções e que, desse modo, faz-se necessário investigar o contexto situacional em que estes comportamentos são utilizados.

Estratégias maternas de perguntar à criança sobre propriedades dos objetos; nomeá-los e descrever as suas qualidades são consideradas como positivas e necessárias para o estabelecimento de cenas de atenção conjunta, principalmente em crianças cuja visão não se faz presente. Aquino e Salomão (2010) acrescentam ainda a importância de a mãe apresentar comentários acerca do contexto interativo para que a atenção conjunta não apenas aconteça, mas também se mantenha. Estas características foram observadas no contexto interativo aqui analisado, através da participação materna, mas também da participação ativa da criança.

A seguir, será descrito um episódio na situação de brincadeira estruturada, a qual foi permeada pelo uso de um brinquedo de plástico, com orifícios em sua estrutura para que peças geométricas fossem nestes encaixados. Este brinquedo foi uma sugestão da pesquisadora a qual explicou a díade o correto manuseio do objeto e teve como critério de escolha a idade da criança e a condição visual.

Análise de um Episódio Interativo na Situação de Brincadeira Estruturada

A tabela a seguir mostra o episódio interativo na situação de brincadeira estruturada.

 

Tabela 2

 

A situação inicia-se com a díade sentada no chão da sala de estar da casa. O brinquedo encontra-se entre a mãe e a criança, as quais, juntas, vão tentando encaixar as peças. A estratégia utilizada pela mãe é de questionar a criança a identificação dos objetos, isto é, se se trata de um quadrado, círculo ou retângulo e para tanto, a mãe aproxima o objeto da mão da criança. A criança, por sua vez, a fim de identificar os objetos, faz uso do manuseio tátil, explorando as suas propriedades e fazendo questões para a mãe acerca dos mesmos.

Neste recorte observa-se também a estratégia materna de facilitar a participação da criança na interação e na atividade proposta, ao direcionar o comportamento da criança, ou seja, a mãe sugere a criança o uso do dedo indicador como facilitador para a colocação dos objetos nos orifícios da torre de plástico, conforme se verifica no trecho a seguir:

A mãe, pegando o dedo da criança e passando pelo local de encaixar o círculo, diz: "olha, aqui o lugar do círculo, olha. Oh o indicador oh, prá procurar o lugar do círculo, olha, tá vendo?" A criança nada diz, mas segura a peça e passa a mão pelo local de encaixar. A mãe, olhando em direção à criança, fala: "Tá vendo? Vamo colocar aí? Vamo?" A criança tenta encaixar a peça e neste momento a mãe, olhando em direção à criança, diz: "devagar que você coloca". A criança, então, consegue encaixar o círculo no orifício correto.

Outra estratégia materna observada é a de suporte de apoio, não apenas através do contato físico que é estabelecido entre a díade, mas também por meio de feedbacks de aprovação que incentivam a criança a continuar a atividade, conforme se verifica na descrição abaixo:

A mãe, segurando o objeto e olhando em direção à criança, dá um sorriso e diz, com uma entonação alta: "Isso! Tá vendo?" A criança passa a mão pelo objeto e diz: "colocou?" A mãe, então, olhando em direção à criança, pergunta: "vamo colocar o que agora?" A criança pega outra peça geométrica, manuseia e encaixa no respectivo orifício.

Estudos realizados (Fonte, 2011; Medeiros, 2013) envolvendo a identificação de cenas de atenção conjunta entre díades concluíram que há estratégias que podem promover e manter a atenção dos participantes. A estratégia de manter a atenção da criança vai favorecer o estabelecimento do seu foco, enquanto que o redirecionamento, através da insistência em ter a atenção da criança voltada para si ou para determinado objeto, pode promover quebras no processo interativo.

Destaca-se que o comportamento materno de aproximar objetos da criança ou de aproximar a mão da criança dos objetos, além de fazer uso de indicações gerais de como a criança deve utilizar os recursos que dispõe, possibilita que a criança identifique os objetos e suas localizações, e assim, atue de forma ativa no processo interacional. Estas estratégias são de suma relevância na interação mãe-criança com deficiência visual, já que o uso do toque assume a função do olhar, tornando possível a apreensão das informações por parte da criança cega.

No episódio interativo descrito, a descontinuidade acontece em um momento posterior em que a criança solicita a retirada dos objetos que estão dentro da torre, mas a mãe direciona o seu comportamento para terminar de colocar todas as peças nos respectivos orifícios. Para tanto, a mãe utiliza da estratégia de segurar as mãos da criança e de aproximar ainda mais a torre e as peças do seu campo tátil. No entanto, a criança não retoma a atividade proposta e finaliza-se o episódio interativo.

De acordo com Silveira, Loguercio e Sperb (2000), é de suma importância a organização do ambiente em que a díade se encontra, a fim de que o ato de brincar seja melhor estruturado. Também é importante o papel do adulto neste processo, haja vista ser ele o principal responsável por promover a participação infantil.

Considera-se, portanto, a relevância dos processos mediacionais para o desenvolvimento da criança com deficiência visual. O adulto enquanto participante mais "competente" pode promover na criança com deficiência visual situações que lhe possibilite melhor apreender os objetos e os acontecimentos ao seu redor, através de experiências organizadas e estruturadas, tendo a linguagem e o contato tátil enquanto suporte de apoio.

No caso de crianças com deficiência visual, somado ao comportamento de mediar, é também relevante considerar o mecanismo de compensação, isto é, a possiblidade de descobrir o caminho que cada criança constrói, o que possibilita abrir portas para que ela demonstre o seu potencial (Vygotsky, 1995). Para tanto, a linguagem apresenta um papel fundamental enquanto suporte e enquanto recurso que promove as trocas interativas. Para Santos et al. (2009), somado à necessidade de estabelecer trocas interativas e de considerar os processos de compensação, é importante considerar o contexto em que a criança cega está inserida, com ênfase em aspectos qualitativos, como a qualidade das interações que podem vir a promover ainda mais o desenvolvimento infantil, sobretudo o desenvolvimento linguístico.

A análise do contexto aqui descrito evidencia a importância das interações sociais entre mãe e criança com deficiência visual para promover o desenvolvimento linguístico infantil. Neste cenário, a identificação de episódios de atenção conjunta, por meio de outras funções que não utilizam a visão, é de extrema relevância.

 

Considerações Finais

Em crianças com deficiência visual (cegueira e baixa visão), as experiências sociais serão aproveitadas a partir de situações que possibilitem a apreensão das informações por meio das outras funções que lhes são disponíveis, isto é, o sistema tátil e o sistema auditivo. No presente estudo, verificou-se que os comportamentos comunicativos maternos foram utilizados para envolver a participação da criança no processo interacional.

A identificação dos episódios interativos com base nos critérios de continuidade e descontinuidade possibilitou identificar cenas de atenção conjunta. Verificou-se, portanto, que na díade mãe-criança cega a atenção conjunta acontecerá principalmente através do contato tátil, que assume a função do olhar. As estratégias maternas de seguir o foco atencional da criança e de manter a atenção infantil, através de questionamentos sobre as propriedades dos objetos, por exemplo, podem estabelecer as cenas de atenção conjunta e também enriquecer os recursos linguísticos utilizados pela criança, favorecendo, por conseguinte, o seu vocabulário. Considera-se, portanto, que as cenas de atenção conjunta são oportunidades positivas para que a criança desenvolva as suas habilidades sociocomunicativas.

Os achados do presente estudo contribuem não apenas para a compreensão das habilidades sociocomunicativas apresentadas pela criança com deficiência visual quando em interação com sua mãe, mas também para apreender as estratégias maternas utilizadas que podem facilitar o contato com a criança e assim, promover o seu desenvolvimento.

Ademais, preconiza-se a necessidade de novas pesquisas que envolvam outros agentes sociais, isto é, que investiguem as interações entre a criança com deficiência visual e crianças mais velhas (estudos com pares) e ainda a interação criança com deficiência visual - educador e suas implicações para a inclusão escolar. Ressalta-se também a relevância de novas investigações que envolvam um maior número de participantes, além de destacar ainda mais a importância das cenas de atenção conjunta para o desenvolvimento sociocognitivo infantil, especificamente em crianças cuja visão está ausente.

 

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Endereço para correspondência:
Carolina Silva de Medeiros
Rua Aluísio Cunha Lima, 724, Catolé
Campina Grande, PB, Brasil 58410-258
E-mail: carolinasdm@gmail.com

Recebido: 16/08/2013
1ª revisão: 21//11/2013
2ª revisão: 30/01/2014
Aceite final: 19/03/2014

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