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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.26 no.1 Ribeirão Preto jan./mar. 2018

https://doi.org/10.9788/TP2018.1-04Pt 

ARTIGOS

 

Violência conjugal: o poder preditivo das experiências na família de origem e das características patológicas da personalidade

 

La violencia conyugal: el poder predictivo de las experiencias en la familia de origen y de las características patológicas de la personalidad

 

 

Marcela MadalenaI; Lucas de Francisco CarvalhoII; Denise FalckeIII

IOrcid.org/0000-0001-9397-3116. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil
IIOrcid.org/0000-0002-3274-9724. Universidade São Francisco, Itatiba, SP, Brasil
IIIOrcid.org/0000-0002-4653-1216. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Experiências na família de origem e características dos transtornos da personalidade são apontadas como fatores de risco para a violência conjugal. Este estudo tem como objetivo investigar o poder preditivo das experiências na família de origem e das características patológicas da personalidade para a violência conjugal, cometida e sofrida. A amostra foi constituída por 170 casais heterossexuais da região metropolitana de Porto Alegre. Os participantes responderam aos seguintes instrumentos: Inventário Dimensional Clínico da Personalidade (IDCP), Family Background Questionnaire e a Revised Conflict Tactics Scale (CTS2). Foi realizada análise de regressão linear múltipla, através do método stepwise. Os resultados apontaram a Instabilidade de Humor e a Impulsividade como preditoras da violência cometida pelas mulheres; o Abuso Físico paterno e a Agressividade como preditores da violência cometida pelos homens; a Desconfiança e o Estilo de Decisão Materno como preditores da violência sofrida pelas mulheres; e o Abuso sexual, a Evitação Social e o Ajustamento Psicológico Paterno como preditores da violência sofrida pelos homens. Apenas características do indivíduo estiveram associadas à violência conjugal, nenhuma característica do parceiro apresentou correlação. Os dados do estudo possuem implicações para futuras pesquisas, sugerindo a existência de diferentes modelos explicativos da violência entre os sexos.

Palavras-chave: Violência conjugal, transtornos da personalidade, família de origem, maus-tratos infantil.


RESUMEN

Experiencias en la familia de origen y las características de los trastornos de personalidad se identifican como factores de riesgo para la violencia doméstica. Este estudio tiene como objetivo investigar la capacidad de predicción de experiencias en la familia de origen y las características patológicas de la personalidad a la violencia conyugal, cometidas y recibidas. La muestra fue de 170 parejas heterosexuales en la región metropolitana de Porto Alegre. Los participantes respondieron a los siguientes instrumentos: Inventario de Personalidad Clínica (PICD), Cuestionario de antecedentes familiares y tácticas de conflicto revisadas escala dimensional (CTS2). El análisis de regresión lineal múltiple se llevó a cabo mediante el método por etapas. Los resultados mostraron que la inestabilidad del humor y la impulsividad como predictores de violencia cometidos por las mujeres; Abuso físico paterna y la agresividad como predictores de violencia cometidos por los hombres; La desconfianza y el estilo materno Decisión como predictores de la violencia sufrida por las mujeres; y el abuso sexual, la evitación social y ajuste psicológico Paterno como predictores de la violencia que sufren los hombres. Sólo las características individuales se asociaron con la violencia doméstica, ninguna característica socio correlacionada. Los datos del estudio tienen implicaciones para la investigación futura, lo que sugiere la existencia de diferentes modelos explicativos de la violencia entre los sexos.

Palabras clave: Violencia doméstica, trastornos de la personalidad, familia de origen, maltrato infantil.


 

 

A violência conjugal é um tema de preocupação social devido ao impacto que possui na saúde pública do Brasil e do mundo (Ministério da Saúde, 2008; Vives-Cases, Álvarez-Dardet, & Caballero, 2003). Com relação à perpetração da violência, estudos de meta-análise apontam a existência de simetria entre os sexos (Stith et al., 2000; Straus, 2011), contrariando a perspectiva trazida por estudos feministas de que as mulheres são as principais vítimas (Johnson, 2006; Kelly & Johnson, 2008). No entanto, é relevante destacar que apesar de existir simetria na perpetração da violência, o efeito é assimétrico, pois a violência praticada pelo homem pode ser mais danosa do que a praticada pelas mulheres (Straus, 2011).

Com o objetivo de compreender o comportamento violento nos relacionamentos, muitos estudos investigam variáveis que possam estar associadas ao fenômeno. Entre elas, as experiências adversas na infância vivenciadas na família de origem são os fatores de risco mais comumente investigados (Fang & Corso, 2007, 2008; Fehringer & Hindin, 2009; Fergusson, 2011; Godbout, Dutton, Lussier, & Sabourin, 2009; Jaoko, 2010; Wareham, Boots, & Chavez, 2009; Yoshihma & Horrocks, 2010). De acordo com Stith e colaboradores (2000), testemunhar ou sofrer violência no ambiente familiar está associado a vivenciar violência conjugal na idade adulta, tanto como vítima quanto como agressor.

De forma geral, experiências adversas na infância incluem abuso físico, sexual, emocional, negligência (Ministério da Saúde, 2008), abuso de substâncias psicoativas por parte dos pais (Fergusson, Boden, & Horwood, 2008), entre outros. Destas experiências, as de abuso são as mais investigadas. Alguns estudos transformaram as medidas de abuso físico, sexual e emocional em uma única medida de experiências adversas na infância e identificaram associação da variável com a perpetração da violência conjugal (Jin, Doukas, Beiting, & Viksman, 2014; Mair, Cunradi, & Todd, 2012; McKinney, Caetano, Ramisetty-Mikler, & Nelson, 2009; Roberts, McLaughlin, Conron, & Koenen, 2011). Outros estudos, que identificaram especificamente cada experiência de abuso na infância, indicaram associações mais específicas, porém controversas. Foram identificadas associações das experiências de abuso físico, sexual e abuso de substâncias por parte dos pais com a perpetração da violência conjugal na idade adulta (Fergusson, et al., 2008). No entanto, alguns autores identificaram o abuso físico como o principal preditor da perpetração da violência (Fergusson et al., 2008), enquanto outros identificaram o abuso físico juntamente com a negligência (Fang & Corso, 2008). De forma divergente, o abuso sexual foi identificado em outro estudo com maior poder preditivo para a perpetração da violência (Fang & Corso, 2007). Considerando as associações com a violência conjugal sofrida, se observa uma diversidade de resultados entre os estudos, como o uso de drogas e crimes praticados pelos pais (Fergusson et al., 2008), ser vítima de abuso físico e sexual (Afifiet al., 2009) e ser vítima abuso físico e negligência (Widom, Czaja, & Dutton, 2008).

As associações entre experiências adversas na infância e violência conjugal foram identificadas tanto em homens quanto em mulheres (Afifiet al., 2009; Fergusson et al., 2008; Hines, 2008; McKinney et al., 2009; White & Widom, 2003), mas o impacto das mesmas pode ser distinto entre os sexos. Resultados de estudos sugerem que os homens podem sofrer maior impacto destas experiências vivenciadas na família de origem do que as mulheres. Além disso, observa-se que a relação destas experiências com a violência conjugal pode ter um caminho direto no caso dos homens. (Fergusson, 2011; Jin et al., 2014). Caminho direto refere-se ao fato de que não existem outras variáveis mediando a relação, enquanto que caminho indireto refere-se à existência de variáveis mediando. Este aspecto foi observado no estudo realizado por O'Leary, Slep e O'Leary (2007). Através de modelagem de equações estruturais, os autores identificaram que as experiências de abuso na família de origem possuem um caminho direto para a perpetração da violência pelos homens. Já nas mulheres esta relação é indireta, ou seja, é mediada por outras variáveis.

Ainda assim, os resultados das pesquisas evidenciam que possuir experiências adversas na família de origem não é um fator determinante para que o padrão se repita na vida adulta (Fang & Corso, 2007, 2008; Fehringer & Hindin, 2009; Fergusson, 2011; Godbout et al., 2009; Jaoko, 2010; Wareham et al., 2009; Yoshihma & Horrocks, 2010). Alguns estudos investigam variáveis que mediam esta relação, entre elas, as características dos transtornos da personalidade (Liu et al., 2012; O'Leary et al., 2007), que são frequentemente investigadas como associadas à violência entre os casais (Costa & Babcock, 2008; Ehrensaft, Cohen, & Johnson, 2006; Fowler & Westen, 2011; Holtzworth-Munroe, Meehan, Herron, Rehman, & Stuart, 2003; Liu et al., 2012; Maneta, Cohen, & Schulz, 2013; Thornton, Graham-Kevan, & Archer, 2010).

Os transtornos da personalidade são caracterizados por um padrão rígido em pelo menos duas das seguintes áreas: (a) afeto; (b) cognição; (c) padrão de relacionamentos interpessoais; e (d) controle de impulsos. Estas características implicam em sofrimento e prejuízos clinicamente significativos ao indivíduo (Associação Americana de Psiquiatria [APA], 2014). De acordo com o DSM-V, são dez os transtornos da personalidade, sendo eles definidos como Paranóide, Esquizóide, Esquizotípica, Borderline, Antissocial, Histriônica, Narcisista, Dependente, Obssessivo-Compulsiva e Esquiva (APA, 2014).

As características de personalidade Borderline e Antisocial são as que aparecem com maior frequência na literatura (Costa & Babcock, 2008; Fowler & Westen, 2011; Holtzworth-Munroe et al., 2003; Liu et al., 2012; Maneta et al., 2013; Pico-Alfonso, Echeburúa, & Martinez, 2008; Ross & Babcock, 2009; Walsh et al., 2010; Weinstein, Oltmans, & Gleason, 2012), e também são observadas compondo tipologias dos agressores conjugais. No entanto, os transtornos da personalidade Esquizóide, Esquizotípica e Paranóide, do agrupamento A (Ehrensaft et al., 2006; Thornton et al., 2010), bem como o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, do agrupamento C (Fernández-Montalvo & Echeburúa, 2008), também foram identificados como associados à violência conjugal. Embora este último deva ser observado com cautela por apresentar controvérsias entre os estudos, tendo também sido identificado como protetivo em relação a estas situações (Ehrensaft et al., 2006; Thornton et al., 2010).

Ainda que poucas pesquisas tenham investigado características dos transtornos da personalidade associadas à violência sofrida, quando o fizeram identificaram associações. Os resultados apontaram para os transtornos do agrupamento A (Pico-Alfonso et al., 2008) e os transtornos da personalidade Borderline e Antissocial (Kuijpers, Knaap, Winkel, Pemberton, & Baldry, 2010; Walsh et al., 2010).

Além disso, alguns estudos têm valorizado a investigação da díade esposa-marido nas situações de violência conjugal (Bouchard, Sabourin, Lussier, & Villeneuve, 2009; Langhinrichsen-Rohling, 2010; Maneta et al., 2013). Afinal, pessoas envolvidas em relacionamentos diádicos podem influenciar os pensamentos, emoções e comportamentos uma da outra, mecanismo chamado de efeito parceiro (Kenny, Kashy, & Cook, 2006).

A partir dos aspectos abordados observa-se que a violência conjugal é fenômeno complexo e multideterminado. Nesse sentido, o presente estudo se propõe a investigar o poder preditivo das experiências na família de origem e das características patológicas da personalidade das esposas e dos maridos para a ocorrência de violência conjugal, praticada e sofrida por cada um dos sexos.

 

Método

Delineamento

Trata-se de um estudo quantitativo, de corte transversal, com delineamento explicativo, pois busca identificar variáveis que contribuem para a ocorrência do fenômeno da violência conjugal.

Amostra

A amostra deste estudo foi constituída por 170 casais heterossexuais, residentes da região metropolitana de Porto Alegre com idade entre 19 e 81 anos (m=40,61; DP=12,74). O tempo de relacionamento variou entre seis meses e 56 anos (m=15,18; DP=11,82). Para participar do estudo os casais deveriam estar em um relacionamento amoroso e em coabitação com o parceiro. Como critérios de exclusão, definiu-se: casais que coabitavam há menos de seis meses e indivíduos que não possuíam escolaridade para compreender e preencher os instrumentos, que eram autoaplicáveis. A caracterização da amostra está apresentada na Tabela 1.

 

 

Instrumentos

O questionário esteve composto pelos seguintes instrumentos:

Questionário de Dados Sóciodemográficos: com 23 questões que investigaram dados como idade, nível de escolaridade, ocupação, renda, tempo de relacionamento, entre outros.

Subescalas do Family Background Questionnaire (FBQ): o FBQ (Melchert, 1998a, 1998b) é um instrumento que contém 179 itens, a serem respondidos em escala Likert de cinco pontos. Possui 15 subescalas que se referem às recordações do sujeito com relação às experiências vivenciadas na família de origem. Para este estudo foram utilizadas as subscalas de negligência física materno e paterno, abuso físico materno e paterno, abuso sexual, abuso de substâncias materno e paterno, ajustamento psicológico dos pais e estilo de decisão materno e paterno. O instrumento foi traduzido para o português por Falcke (2003) e obteve bons índices de confiabilidade - 0,9902 para a escala total e entre 0,40 e 0,95 para as subescalas. No presente estudo, os Alfas de Cronbach obtidos para cada subscala foram os seguintes: negligência física (0,616); abuso físico paterno (0,848); abuso físico materno (0,781); abuso sexual (0,307); abuso de substâncias paterno (0,939); abuso de substâncias materno (0,875); ajustamento psicológico paterno (0,589); ajustamento psicológico materno (0,514); estilo de decisão paterno (0,811); estilo de decisão materno (0,798).

Inventário Dimensional Clínico da Personalidade - IDCP (Carvalho, 2011): avalia características patológicas da personalidade. Os sintomas do eixo II do DSM-IV e a teoria da personalidade de Millon (2011; Millon, Grossman, Millon, Meagher, & Ramnath, 2004) sustentam o instrumento, composto por 215 itens, que devem ser respondidos em uma escala Likert de quatro pontos. Os itens do IDCP compõem 12 fatores, que correspondem a características da personalidade e podem ser indicadores de transtornos da personalidade. No presente estudo, os Alfas de Cronbach obtidos para cada subscala foram os seguintes: Dependência (0,857); Agressividade (0,878); Instabilidade de Humor (0,920); Excentricidade (0,862); Necessidade de Atenção (0,810); Desconfiança (0,818); Grandiosidade (0,771); Desapego (0,796); Evitação Social (0,783); Conscienciosidade (0,684); e Impulsividade (0,675).

Revised Conflict Tactics Scales - CTS2 (Straus, Hamby, Boney-Mccoy, & Sugarman, 1996, traduzida para o português por Moraes, Hasselmann, & Reichenheim, 2002): é composta por 78 itens, a serem respondidos em uma escala Likert. Avalia as dimensões de coerção sexual menor e grave, violência física menor e grave, lesão corporal menor e grave, agressão psicológica menor e grave e negociação. As afirmativas compreendem as ações da violência cometidas pelo respondente e sua percepção das ações do companheiro. Para este estudo serão utilizadas as dimensões de violência física menor e grave, como uma medida global de violência. Neste estudo, o Alpha de Cronbach obtido para a medida global de violência física cometida foi de 0,997 e para a medida global de violência física sofrida foi de 0,998.

Procedimentos de Coleta de Dados

Os casais foram selecionados por conveniência e responderam ao questionário em sua residência. Inicialmente foi realizado contato telefônico para agendar o dia e horário da aplicação do questionário, de acordo com a disponibilidade dos participantes. O questionário foi respondido na presença da pesquisadora ou de um bolsista de iniciação científica e o tempo de aplicação durou entre 60 e 90 minutos. Foi preenchido em apenas um encontro.

Considerações Éticas

Esta pesquisa faz parte de um estudo maior, intitulado "Variáveis Preditoras da Violência Conjugal: Experiências na família de origem, características pessoais e relacionais", que foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) sob o parecer número 09/117. Nesse sentido, seguiu as recomendações éticas, de acordo com as orientações das Resoluções 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e 026/2000 do Conselho Federal de Psicologia. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) autorizando a utilização de seus dados na pesquisa. Foram informados quanto ao sigilo de sua identificação e sobre a possibilidade de desistirem de participar a qualquer momento, sem prejuízos. Os participantes que apresentaram níveis de violência conjugal foram encaminhados para a clínica-escola da Universidade.

Procedimentos de Análise dos Dados

Os dados foram analisados através do programa estatístico SPSS (versão 20.0). Inicialmente foram realizadas análises descritivas das dimensões de violência física da CTS2, cometida e sofrida pelos homens e pelas mulheres. As dimensões de violência física menor e grave foram transformadas em uma única medida de violência.

Com relação ao instrumento IDCP, foram aplicadas três diferentes versões do mesmo, de modo que os participantes do estudo responderam à versão completa (n=146) ou às versões reduzidas do instrumento, A (n=122) e B (n=72). Para possibilitar ter dados da forma completa para todos os participantes, inicialmente os dados foram rodados no Winsteps, que se baseia no modelo de Rasch da Teoria de Resposta ao Item (TRI). Desta forma, os índices de dificuldade (b) dos itens foram fixados com base nos dados obtidos a partir do grupo normativo. Os dados foram rodados separadamente por fator, obtendo-se os thetas (nível de traço latente) para cada participante em todas as dimensões. Desta forma, todas as análises que incluíram o IDCP foram realizadas a partir dos valores dos thetas.

A etapa seguinte consistiu na análise de correlação de Pearson entre os fatores do IDCP e as subescalas do FBQ com as dimensões de violência física (cometida e sofrida) da CTS2. Foram rodadas separadamente as análises para os homens e as mulheres. Posteriormente, o banco de dados foi reestruturado de forma pareada, a fim de investigar associação entre os fatores do IDCP e as subescalas do FBQ das esposas com as dimensões de violência da CTS2 dos maridos, e vice-versa.

A partir dos resultados identificados nas análises de correlação, foram selecionadas as variáveis para a realização das análises de regressão linear múltipla. Deste modo, apenas aquelas que apresentaram associação significativa com as dimensões de violência física (cometida e sofrida) dos homens e das mulheres, foram inseridas como variáveis independentes nos modelos. O método escolhido para a análise de regressão foi o stepwise, que é um procedimento que ajusta o modelo, realizando a inserção de variáveis significativas e a retirada de variáveis que não são significativas (Hair, Anderson, Tatham, & Black, 2005).

 

Resultados

Por meio de análises descritivas foram identificadas as frequências das dimensões de violência física cometida e sofrida pelos homens e pelas mulheres. Os resultados estão apresentados na Figura 1. De acordo com os dados, não houve diferença estatística significativa entre os sexos nas dimensões da CTS2 (x2=1,859; gl=1; p=0,173).

Com o banco pareado, foram realizadas análises de correlação de Pearson entre as características patológicas da personalidade dos maridos e as dimensões de violência física das esposas. O mesmo procedimento foi realizado com as características patológicas da personalidade das esposas e as dimensões de violência física dos maridos. De acordo com os resultados, não foram identificadas associações significativas entre as variáveis (p>0,05).

Com o banco não pareado foi realizada análise de correlação para identificar quais variáveis entrariam no modelo de regressão. A Tabela 2 apresenta os dados das correlações realizadas.

Todas as associações identificadas foram fracas, mas são estatisticamente significativas e fornecem suporte para a realização das análises de regressão. O objetivo da análise de regressão múltipla pelo método stepwise foi avaliar o poder preditivo das características patológicas da personalidade e das experiências na família de origem sobre a violência física cometida e sofrida por homens e mulheres da amostra. Para tanto, foram inseridas na análise apenas as variáveis que apresentaram associação significativa com a violência física. Quatro análises independentes foram rodadas considerando os quatro diferentes desfechos: violência física cometida pelas mulheres, violência física cometida pelos homens (Tabela 3), violência física sofrida pelas mulheres e violência física sofrida pelos homens (Tabela 4).

Observa-se que as variáveis instabilidade de humor e impulsividade foram as preditoras no Modelo final feminino e explicaram juntas 19% da variância de violência física cometida pelas mulheres. A associação entre as variáveis independentes e a de critério do modelo é moderada (R=0,43). Os coeficientes padronizados da regressão indicam que a característica de personalidade instabilidade de humor (β=0,293; p=0,008) foi a variável preditora mais robusta do modelo. As características de personalidade instabilidade de humor e impulsividade estão positivamente associadas à violência física cometida pelas mulheres.

Com relação à violência física cometida pelos homens, as variáveis abuso físico paterno e agressividade foram preditoras do Modelo final masculino, explicando 11,8% da variância. Os coeficientes padronizados da regressão indicam que o abuso físico paterno (β=232; p=0,024) variável mais robusta, seguida pela agressividade (β=204; p=0,046).

Os resultados apontam que as variáveis desconfiança e estilo de tomada de decisão materno são as preditoras do Modelo final feminino e explicam juntas 18,3% da variância de violência física sofrida pelas mulheres. Os coeficientes padronizados da regressão indicam que a característica de personalidade desconfiança (β=322; p=0,001) explica a maior parte do modelo, sendo complementada pela variável estilo de tomada de decisão materna (β=-246; p=0,003). A variável desconfiança está positivamente associada à violência física, enquanto a variável estilo de tomada de decisão materno é negativa, indicando que quanto mais alta a pontuação nesta escala, menos violência.

Considerando-se a variável dependente violência física sofrida pelos homens, identifica-se que as variáveis abuso sexual, evitação social e ajustamento psicológico paterno são as preditoras do Modelo final e explicam 21,9% da variância. Os coeficientes padronizados da regressão indicam que o abuso sexual (β=282; p=0,004) é a variável mais robusta, seguida pela evitação social (β=203; p=0,038) e o ajustamento psicológico paterno (β=-197; p=0,048). As variáveis abuso sexual e evitação social estão positivamente associadas à violência física, enquanto a variável ajustamento psicológico paterno apresenta uma correlação negativa, mostrando-se protetiva em relação à ocorrência de violência.

 

Discussão

O objetivo deste estudo foi analisar o poder preditivo das características patológicas da personalidade e das experiências na família de origem para os quatro diferentes desfechos: violência física cometida pelas mulheres, violência física cometida pelos homens, violência física sofrida pelas mulheres e violência física sofrida pelos homens. Inicialmente foram realizadas análises descritivas dos dados de violência física. Neste estudo, os resultados apontaram que não houve diferença significativa entre homens e mulheres com relação a cometer ou sofrer violência física. Este resultado evidencia que nesta amostra a variável sexo não foi determinante para explicar o fenômeno, conforme observado em estudos anteriores (Stith et al., 2000; Straus, 2011).

De acordo com os resultados, as características patológicas da personalidade identificadas como preditoras da perpetração de violência conjugal foram instabilidade de humor, agressividade e impulsividade. É importante relembrar que estes fatores não se configuram como transtornos da personalidade. No entanto, cada um deles está mais relacionado a características de um ou de outro (Carvalho, 2011). Neste sentido, ao longo do artigo serão apresentadas as relações entre as características patológicas da personalidade do IDCP e as características dos transtornos da personalidade investigadas pelos estudos.

Os fatores instabilidade de humor, agressividade e impulsividade estão relacionados às características dos transtornos da personalidade Borderline e Antissocial, que são frequentemente apontados como associados à violência conjugal (Fowler & Westen, 2011; Ross, 2011; Ross & Babcock, 2009; Whisman & Schonbrun, 2009). A característica de personalidade instabilidade de humor refere-se a indivíduos com tendência ao humor triste ou irritável, oscilações no humor e nas crenças, com reações impulsivas e extremas. Estas são características do transtorno da personalidade Borderline (Carvalho, 2011). O fator agressividade refere-se a indivíduos que desconsideram o outro para conseguirem o que desejam, são inconsequentes e geralmente violentos. Já o fator impulsividade refere-se a indivíduos que possuem reações impulsivas, gosto por atividades violentas, capacidade de inventar desculpas e envolvimento em problemas (Carvalho, 2011). Estes dois últimos fatores apresentam características do transtorno da personalidade antissocial (APA, 2014).

Considerava-se que outras características patológicas da personalidade também poderiam aparecer como explicativas da perpetração da violência conjugal, mas esta suposição não foi confirmada. Diante disso, os resultados deste estudo corroboram o que é trazido pela maioria dos estudos sobre agressores conjugais (Askeland & Heir, 2014; Jose, O'Leary, Gomez, & Foran, 2014; Maneta et al., 2013; Reingle, Jennings, Connell, Businelle, & Chartier, 2014; Thomas, Bennett, & Stoops, 2013). Além disso, a característica de personalidade que melhor explicou a perpetração da violência pelas mulheres, instabilidade de humor, está mais relacionada à personalidade Borderline e a que apareceu como preditora para os homens, agressividade, está mais relacionada à personalidade Antissocial. Estes mesmos preditores para os homens e as mulheres também foram identificados no estudo realizado por Ross e Babcock (2009) com agressores conjugais. Na mesma direção, o estudo realizado por Weinstein et al. (2012) identificou que as características do transtorno da personalidade Borderline nas mulheres possuíam maior força como preditoras de violência conjugal do que nos homens. Isto pode estar relacionado ao fato de que o transtorno é três vezes mais comum nas mulheres (APA, 2014).

Além destas, outras diferenças entre os sexos foram observadas. De forma oposta ao resultado encontrado para os homens, nenhuma experiência na família de origem esteve presente no modelo final da violência cometida pelas mulheres. Este dado pode sugerir que as experiências adversas na família de origem possuem menor impacto na conjugalidade das mulheres, indo ao encontro do que é trazido na literatura (Fergusson et al., 2008). Outra possibilidade seria considerar que a associação entre as experiências adversas na família de origem e a violência cometida pelas mulheres pode não ser direta, conforme referido em estudo realizado por O'Leary et al. (2007). Os autores identificaram um caminho indireto entre experiências adversas na família de origem e a perpetração da violência pelas mulheres, através da técnica de modelagem de equações estruturais. É possível compreender este aspecto ao observar que as experiências adversas na infância, vivenciadas no ambiente familiar, são consideradas algumas das variáveis etiológicas no desenvolvimento do transtorno da personalidade Borderline (Cohen et al., 2014; Laporte, Jiang, Pepler, & Chamberland, 2011) e o fator instabilidade de humor apresenta características do mesmo. Desta forma, esta é uma hipótese consistente e vai ao encontro do estudo realizado por Liu e colaboradores (2012), que identificou características do TPB mediando parcialmente a relação entre experiências de abuso na infância e perpetração de violência conjugal.

Estes dados contribuem no debate sobre a perpetração de violência pelas mulheres. Frequentemente surge a questão: as mulheres perpetram violência contra o parceiro por autodefesa ou por aspectos psicopatológicos, como identificado nos homens (Ross & Babcock, 2009)? Neste estudo foi evidenciada a importância das características patológicas da personalidade como parte da explicação deste comportamento.

Com relação ao fator impulsividade, que também apareceu como preditor da violência cometida pelas mulheres, identifica-se que o mesmo possui características mais relacionadas ao transtorno da personalidade Antissocial (APA, 2014). Este foi um dado inesperado, considerando que as características do transtorno da personalidade Borderline são as mais associadas à violência perpetrada pelas mulheres (Ross & Babcock, 2009; Weinstein et al., 2012). Ainda assim, é importante considerar que este fator apresentou menor força do que a instabilidade de humor na predição da violência cometida por elas.

Neste estudo, a violência física cometida pelos homens foi explicada pelo abuso físico paterno e pela característica patológica da personalidade agressividade, sendo que a experiência de abuso foi a variável mais robusta. Este dado é coerente com a literatura que aponta as experiências de abuso na infância como preditoras da violência conjugal perpetrada pelos homens (Fang & Corso, 2007, 2008; Fergusson et al., 2008), podendo explicar melhor este comportamento do que outras variáveis (Jin et al., 2014). Tal resultado vai ao encontro de autores que apontam o abuso físico como principal preditor (Alexander, Moore, & Alexander, 1991; Fergusson et al., 2008) e contraria aqueles que referem o abuso sexual (Fang & Corso, 2007, 2008).

O que tem aparecido de forma mais frequente na literatura é o fato das experiências na família de origem possuírem maior impacto no comportamento dos homens do que no das mulheres (Fergusson et al., 2008). A relação entre estas variáveis é referida pela teoria da aprendizagem social que compreende esta questão através da repetição que a criança faz dos comportamentos de seus modelos (Bandura, Ross, & Ross, 1963). No caso da violência, pode ser encarada como estratégia para resolução de problemas. Nesta perspectiva, o sexo do modelo contribui para a imitação, de forma que é relevante considerar as implicações dos papéis de gênero no desenvolvimento. Neste estudo, este aspecto foi observado através do impacto do abuso físico paterno para a violência cometida pelos homens, em conformidade com estudo anterior (Alexander et al., 1991).

Apesar dos resultados deste estudo estarem de acordo com a literatura com relação ao abuso na infância explicar melhor a violência perpetrada pelos homens, é intrigante que existam estas diferenças entre os sexos. Por que os homens sofrem maior impacto destas experiências precoces do que as mulheres? Que aspectos relacionados ao sexo influenciam este resultado? Estas são perguntas que necessitam de investigações futuras no sentido de aprofundar a compreensão do fenômeno. De acordo com O'Leary et al. (2007), a relação entre estas variáveis no caso dos homens possui um caminho direto, enquanto que nas mulheres o caminho é indireto. Mas de que forma ocorre este fenômeno? Como possível explicação para esta questão, Falcke (2003) sugeriu que as mulheres tendem a avaliar suas experiências da infância, possibilitando que superem determinados aspectos. Por outro lado, os homens não se envolvem tão frequentemente nesta reavaliação. Sem dúvida estas diferenças entre os sexos desafiam uma perspectiva linear ou homogênea de concepção da violência conjugal.

Mesmo possuindo menor poder explicativo que o abuso físico, a característica de personalidade agressividade compôs o modelo final da violência perpetrada pelos homens. O poder preditivo da característica de personalidade agressividade, que apresenta características da personalidade antissocial, já vinha sendo identificada na literatura como associada à violência conjugal (Costa & Babcock, 2008; Holtzworth-Munroe et al., 2000; Kivisto, Little, Moore, & Rhatigan, 2011; Ross & Babcock, 2009). Esta é uma das características relevantes do subtipo de agressor "geralmente violento", identificado na tipologia de Holtzworth-Munroe e Stuart (1994).

Sem dúvida ainda existem muitas questões a serem respondidas com relação à associação das características patológicas da personalidade com a perpetração da violência conjugal. Whisman e Schonbrun (2009) sugerem a necessidade de investigar de forma bastante específica quais características da Personalidade Borderline estão associadas à perpetração da violência conjugal. O mesmo pode ser sugerido para as características da Personalidade Antissocial.

Contribuindo com a compreensão do fenômeno da violência conjugal, foram realizadas análises para investigação da violência sofrida pelos homens e pelas mulheres, aspecto ainda pouco investigado nos estudos. Os resultados apontaram como preditores tanto experiências adversas na família de origem, quanto características patológicas da personalidade. A variável mais robusta do modelo final das mulheres foi a personalidade e no modelo dos homens a experiência de abuso. Estes resultados são semelhantes ao que foi identificado na perpetração da violência.

O fator desconfiança, preditor da violência sofrida pelas mulheres, refere-se a indivíduos que possuem uma incapacidade persistente de confiar em outras pessoas por receio de suas intenções, apresentando persecutoriedade (Carvalho, 2011). Apesar de ser uma característica presente em diferentes transtornos da personalidade, pode ser mais relacionado às características da personalidade paranóide. Este resultado vai ao encontro do estudo realizado por Pico-Alfonso et al. (2008) com mulheres vítimas de violência conjugal.

Salienta-se que poucos são os estudos que investigam características dos transtornos da personalidade associadas à violência sofrida (Kuijpers et al., 2010; Maneta et al., 2013; Reingle et al., 2014; Walsh, et al., 2010). Além disso, apenas um estudo foi identificado na investigação de outras características da personalidade além da Borderline e Antissocial (Pico-Alfonso et al., 2008). Neste sentido este é um resultado que necessita ser melhor compreendido. Entretanto, é possível considerar que atitudes de desconfiança podem impactar o relacionamento conjugal, principalmente se estas atitudes forem dirigidas ao cônjuge. A confiança é apontada por alguns autores como importante variável para a comunicação positiva entre os casais (Rempel, Ross, & Holmes, 2001). Deste modo, pode-se considerar a hipótese de que indivíduos com característica de desconfiança podem influenciar os comportamentos violentos no cônjuge através do chamado efeito parceiro.

Considerando ainda o modelo explicativo da violência sofrida pelas mulheres, aliado ao fator desconfiança está o estilo de decisão materno, que apresentou associação negativa com a violência sofrida. Esta dimensão da família de origem refere-se à coerência das atitudes dos pais com seus filhos e à escuta compreensiva, que contribuem com um ambiente de segurança, confiança e estabilidade (Melchert, 1998b). Desta forma, esta experiência pode ser considerada um fator de proteção da violência sofrida pelas mulheres. Pode também indicar que quando as primeiras relações fornecem segurança e validação, contribuem com o estabelecimento de relacionamentos mais saudáveis. Este aspecto foi identificado no estudo realizado por Treboux, Crowell e Waters (2004) que identificaram que indivíduos com apego seguro possuíam melhor qualidade nos relacionamentos amorosos e menores níveis de conflito.

Considerando o modelo de violência sofrida pelos homens, observa-se que a experiência de abuso sexual na infância foi a de maior impacto. Este resultado está de acordo com o estudo realizado por Afifie colaboradores (2009), que identificou a experiência de abuso sexual associada ao aumento da probabilidade dos homens serem vítimas de violência conjugal. Contrariando esta ideia, outros autores identificaram esta experiência como preditora da violência cometida por eles contra suas parceiras (Fang & Corso, 2007, 2008). Diante disso, será realmente possível chegar a respostas conclusivas? Estar atento ao impacto que estas experiências provocam, principalmente nos homens, é fundamental no sentido de abordar estes aspectos nos tratamentos de vítimas de abuso na infância, assim como de agressores conjugais. Aliado a este dado, o ajustamento psicológico paterno mostrou-se um fator protetivo das situações de violência, evidenciando que a estabilidade emocional do cuidador contribui com o desenvolvimento saudável. Assim como nos resultados identificados na amostra feminina, observa-se a importância do sexo do modelo para os comportamentos dos indivíduos.

O fator evitação social compôs o modelo final dos homens, com menor poder preditivo que o abuso sexual. Esta é uma característica que está associada aos transtornos da personalidade esquiva, esquizoide e esquizotípica, mas em especial ao primeiro (Carvalho, 2011). Suas características incluem crenças generalizadas de incapacidade e medo de ser criticado ou humilhado (Carvalho, 2011). Este aspecto também foi observado no estudo de Pico-Alfonso et al. (2008), que identificou altas pontuações na escala de personalidade esquiva em vítimas de violência conjugal. Entretanto, este foi um estudo realizado apenas com mulheres. Ainda assim, é possível supor que esta característica patológica da personalidade torne o indivíduo vulnerável aos comportamentos agressivos da parceira. Considerando que, diante do medo de ser criticado e das crenças de incapacidade possa ser ativado um comportamento de esquiva das situações de conflitos, a cônjuge pode interpretar tal atitude como hostil ou como um desinteresse em engajar-se na resolução de problemas conjugais. No entanto esta é ainda uma ideia inicial que necessita ser melhor investigada por estudos futuros.

Chama a atenção que não tenha sido identificada associação entre os fatores de personalidade dos parceiros e a violência conjugal no banco pareado. Estudos internacionais já haviam identificado associações entre características da personalidade das esposas com características de personalidade do marido, bem como características de personalidade de um dos cônjuges e a violência perpetrada pelo parceiro (Bouchard et al., 2009; Maneta et al., 2013). Considera-se que este resultado não tenha sido identificado neste estudo por não ter sido realizado com população clínica, apresentando níveis de psicopatologia e mesmo de violência mais baixos. Deste modo sugere-se que estudos futuros considerem este aspecto em sua investigação.

 

Considerações Finais

Este estudo possui implicações no debate desta temática. As análises foram rodadas separadamente para homens e mulheres, pois ampliar o método de investigação não significa desconsiderar as diferenças de gênero, que foram inclusive identificadas neste estudo. Enquanto as mulheres sofreram maior impacto das características patológicas da personalidade na explicação da violência, os homens sofreram maior influência das experiências na família de origem. Estes dados levantam uma importante questão a ser investigada e salientam a necessidade de observar a violência como um fenômeno heterogêneo. Considerando que são poucos os estudos que investigam características patológicas da personalidade associadas à violência sofrida, os resultados e hipóteses levantadas fornecem suporte para futuras investigações.

Com relação à perpetração da violência, os dados encontrados incitam a sugestão de diferentes modelos da violência conjugal para os homens e para as mulheres. Desta forma, através da técnica de modelagem de equações estruturais é possível testá-los. No modelo das mulheres, considera-se que o transtorno da personalidade Borderline possa ser testado como variável mediadora da relação entre experiências na família de origem e violência conjugal. No modelo dos homens pode ser testado se o transtorno da personalidade Antissocial media a relação entre experiências na família de origem e violência conjugal ou se esta é uma relação direta.

Este estudo possui limitações. Entre elas destaca-se que não foram mensurados os transtornos da personalidade nesta investigação, mas características patológicas da personalidade. Também não foi investigado o impacto da idade ou tempo de relacionamento. Sugere-se que estudos futuros considerem estas variáveis. Além disso, os dados foram coletados em população não clínica, de modo que abrangem situações de violência provavelmente em níveis de intensidade inferiores aos observados em casos de denúncia. Com relação às experiências na família de origem, deve-se considerar que o instrumento utilizado baseia-se nas memórias dos respondentes, sendo uma pesquisa de caráter transversal. No entanto este estudo contribui no sentido de fornecer suporte para futuras intervenções com indivíduos em situação de violência, assim como para o debate da temática, principalmente no cenário brasileiro.

 

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Endereço para correspondência:
Marcela Madalena
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Centro de Ciências da Saúde
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Recebido: 16/03/2016
1ª revisão: 30/11/2016
2ª revisão: 1º/02/2017
Aceite final: 1º/02/2017

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