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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)

versão On-line ISSN 1413-6295

Cad. psicanal. vol.42 no.42 Rio de Jeneiro jan./jun. 2020

 

ARTIGOS

 

Psicanálise on line e elasticidade da técnica1

 

Psychoanalysis on line and elasticity of technique

 

 

Jô Gondar*

Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ - Brasil
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO - Brasil
International Sándor Ferenczi Network - Brasil
International Federation of Psychoanalytic Societies - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Escrito durante a quarentena imposta pela pandemia de 2020, o artigo procura refletir sobre as transformações da clínica psicanalítica a partir da entrada de novas tecnologias no setting. A recomendação de elasticidade da técnica, proposta por Ferenczi, é articulada ao pensamento de dois filósofos que trabalham nossa relação com a técnica e a tecnologia: Walter Benjamin e Jacques Derrida.

Palavras-chave: Clínica psicanalítica, Novas tecnologias, Setting.


ABSTRACT

The paper was written during the quarantine imposed by the 2020 pandemic. It seeks to think on the transformations of psychoanalytic clinic since the entry of new technologies into the setting. The recommendation of technique elasticity, proposed by Ferenczi, is articulated to the ideas of two philosophers who work our relationship with technique and technology: Walter Benjamin and Jacques Derrida.

Keywords: Psychoanalytic clinic, New technologies, Setting.


 

 

Psicanálise on line e a elasticidade da técnica

A pandemia de 2020 trouxe elementos para o exercício da psicanálise que jamais tinham se colocado anteriormente. Todos os analistas, mesmo os mais recalcitrantes, se viram obrigados a realizar tratamentos on line. Novas tecnologias foram impostas ao dispositivo analítico, passando a integrar cotidianamente o setting. Muitos de nós praticávamos as sessões on line de maneira eventual, quando um paciente viajava ou se mostrava impossibilitado de comparecer ao tratamento. Todavia, as circunstâncias da quarentena pelo COVID-19 exigiram que todos os pacientes fossem atendidos dessa maneira. Nesse momento, as ideias defendidas por Sándor Ferenczi em Elasticidade da técnica psicanalítica (1928/1992) têm se mostrado extremamente atuais e oportunas. Trata-se de um texto considerado por muitos como divisor de águas, momento em que Ferenczi surge radicalmente como Ferenczi e, nesse desvio em direção a si mesmo, torna-se o pai da psicanálise contemporânea (GREEN, 2008).

Nesse artigo de 1928, os analistas são convocados a sair de sua posição de saber e a se colocarem mais horizontalmente na situação clínica, sentindo com o paciente. "A modéstia do analista não é uma atitude aprendida, mas a expressão da aceitação dos limites do nosso saber" (FERENCZI, 1928/1992, p. 31), ele escreve. Propõe ao terapeuta uma elasticidade que lhe permita colocar-se no diapasão do paciente, sentindo com ele seus caprichos e humores, porém mantendo, ao mesmo tempo, o exame e a crítica das associações livres e de suas próprias tendências.

Essa elasticidade se mostrou propícia e necessária no momento em que todos os analistas tiveram que se haver com a entrada de novos fatores no setting. A elasticidade da técnica psicanalítica passou a abarcar, nesse momento, o paciente na circunstância em que ele se encontrava e com os meios tecnológicos de que ele e seu analista dispunham. Poderíamos dizer que todos os analistas tiveram que admitir algo que Ferenczi sempre nos convocou a enxergar: quem recebemos em tratamento não é apenas um sujeito, mas um sujeito e sua circunstância; se não a levamos em conta, não poderemos tratá-lo.

Embora Ferenczi não tenha conhecido as inovações tecnológicas do nosso tempo, podemos abordá-las sob sua inspiração, considerando a recomendação da elasticidade na técnica psicanalítica. Com esse propósito, falarei aqui de dois filósofos que tratam da nossa relação com a tecnologia de uma maneira que se alinha muito bem com as propostas ferenczianas. Um é Walter Benjamin. O outro é Jacques Derrida.

 

Ferenczi com Benjamin

O filósofo alemão Walter Benjamin escreve sobre o assunto em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936/1985). É um texto onde mostra como a nossa forma de percepção - e até mesmo nosso aparelho perceptivo - se transformaram com a chegada da fotografia e, principalmente, do cinema. O primeiro filme que os irmãos Lumière apresentaram ao público em 1895, um curtíssima-metragem de um minuto, chamava-se A chegada do trem à estação de La Ciotat. A câmera focalizou o trem chegando de frente. Ao ver as imagens, os espectadores entraram em pânico e saíram correndo, acreditando que um trem de verdade estaria vindo para cima deles. Creio que nós hoje, em relação às sessões on line, somos um pouco como esses espectadores do primeiro filme dos irmãos Lumière. Não temos uma sensibilidade e um aparato perceptivo tão preparado para esse tipo de interação.

É nesse sentido que Walter Benjamin se torna um pensador interessante para nós. Toda a sua obra é uma tentativa de nos mostrar o quanto as formas de percepção são históricas e culturais, ou seja, o quanto as pessoas sentem ou percebem as coisas e o mundo de maneiras muito diferentes conforme o momento histórico e a cultura à qual pertencem (HILDENBRAND, 2017).

No texto que mencionamos, Benjamin aponta essa mudança em relação à obra de arte. Antes da fotografia ou do cinema, tínhamos uma determinada atitude em relação às obras de arte, como a pintura e a escultura; parávamos diante delas numa atitude de recolhimento, contemplando-as durante um certo tempo. Essa era a nossa experiência com a arte: mergulhávamos na obra, para apreender o seu sentido. Mas quando chega o cinema, toda essa experiência se transforma. Nem bem começamos a contemplar uma imagem e logo ela é substituída por outra imagem, fazendo-nos experimentar um sobressalto a cada mudança. Benjamin escreve que as imagens cinematográficas são como pequenos projéteis; sua sucessão brusca produz choques em nosso aparato perceptivo. A partir do cinema, é a obra de arte que mergulha em nós, como se as imagens nos fizessem sofrer pequenos golpes. Nossa percepção deixa de se fundar na contemplação e passa a se fundar no efeito de choque. Nesse sentido, o cinema funciona num ritmo mais próximo do homem moderno, que precisa enfrentar o tráfego, a grande quantidade de pessoas nas grandes cidades e o ritmo rápido da linha de montagem. "O cinema é a forma de arte correspondente aos perigos existenciais mais intensos com que se defronta o homem contemporâneo. Ele corresponde a metamorfoses profundas do aparelho perceptivo" (BENJAMIN, 1936/1985, p. 192). Por esse motivo, Benjamin dirá que o aparelho psíquico do homem moderno é um pouco anestesiado; essa anestesia é uma proteção necessária quando a experiência do choque se torna a norma (BENJAMIN, 1939/1989). Na passagem para a modernidade, o aparelho psíquico se altera e as formas de sensibilidade e de percepção são outras.

Benjamin escreveu esse texto há quase 100 anos, e hoje o cinema faz parte nosso horizonte de experiências. Ainda assim, podemos assinalar algumas mudanças na nossa própria percepção das imagens cinematográficas. Os filmes de vinte ou trinta anos atrás tinham um ritmo bem mais lento do que os filmes contemporâneos. Aqueles que são mais velhos - entre os quais eu me incluo - têm dificuldade em acompanhar um filme atual de ação ou de suspense, por exemplo, porque enquanto estamos tentando compreender o que está acontecendo, a imagem já se alterou. Devemos, por conta disso, pensar que os filmes do passado eram melhores? Será que podemos dizer, como um lamento, que o verdadeiro cinema se perdeu? Mas essa atitude não denotaria, de nossa parte, uma resistência às mudanças da arte e do mundo? Talvez possamos pensar que o que nos deixa pouco adaptados à rapidez das imagens no cinema contemporâneo é nossa forma de percepção em desacordo com o ritmo dos filmes. Nosso aparato perceptivo não está tão preparado para este tipo de interação.

Podemos fazer um raciocínio semelhante em relação aos nossos analisandos e às alterações do dispositivo analítico. Foi o que fez Ferenczi. Em Análise de crianças com adultos (1931/1992), ele convida todos nós a nos adaptarmos aos nossos pacientes e às suas circunstâncias: "a causa do fracasso [terapêutico] será sempre a resistência do paciente, não será antes o nosso próprio conforto que desdenha adaptar-se às particularidades da pessoa, no plano do método?" (1931/1992, p. 71). Em outros termos, quem precisa fazer um esforço para transformar a sensibilidade e a percepção, para que ela possa apreender as singularidades, somos nós. Isso vale, naturalmente, para as sessões on line e as alterações do dispositivo analítico. A afirmação de que essa não é a verdadeira psicanálise porque uma sessão deve ser presencial, que o encontro analítico não pode incluir imagens porque a essência da psicanálise está na palavra, todas essas bandeiras de pureza e de verdade tinham um nome para Ferenczi: hipocrisia profissional.

Um exemplo: muitos pacientes atualmente têm dificuldade de fazer associações livres. Deveríamos então dizer que eles não são analisáveis? Ou, ao contrário, devemos mudar nossa forma de trabalhar para nos adaptarmos a eles? Quando nos apegamos a certas bandeiras - a uma determinada teoria, a uma determinada técnica, a um determinado formato do setting - é porque temos medo de entrar em contato, de fato, com a singularidade e com as circunstâncias do nosso analisando. Somos nós que resistimos a esse contato. E resistimos através da hipocrisia profissional, aferrando-nos ao modelo que conhecemos.

Os analistas que, devido às circunstâncias, têm atendido exclusivamente on line, apresentam uma queixa comum: o cansaço. As sessões virtuais têm sido bem mais cansativas do que as sessões presenciais. É verdade que durante a pandemia nos encontramos todos num estado de trauma coletivo, e podemos considerar o cansaço como um efeito traumático. Mas é possível levarmos também outros fatores: não estaria o cansaço ligado à tentativa de, ao invés de se adaptarmos ao novo dispositivo, buscarmos reproduzir os parâmetros do antigo numa situação incompatível? Se nos fixamos a um determinado modelo de atendimento, vamos resistir a entrar num novo modo de sentir e de perceber os pacientes e, consequentemente, vamos resistir ao encontro e à situação clínica. Quando atendemos on line, o que vemos no celular ou no computador é mais enquadrado, mais focado, mais liso do que numa sessão presencial; dessa maneira, precisamos fazer grande esforço para manter os mesmos parâmetros que eram utilizados presencialmente.

Alguns analistas dizem que com a análise on line perdemos o senso de presença, o que nos obrigaria a trabalhar mais para perceber toda a comunicação. Esse tipo de argumento toma como universal e a-histórica uma forma de estar presente e de sentir a presença. Nas análises on line não se perde a presença, e sim um certo modo de presença. Se nos pautamos pelo atendimento presencial e tentamos repetir esse modelo, naturalmente vamos ter que fazer mais esforço e, em consequência, ficaremos mais cansados. Poderíamos, em vez disso, trabalhar com essa nova forma de presença que se manifesta através da voz, do olhar e do território compartilhado. O fato de nos sentirmos menos cansados hoje do que quando começamos esses atendimentos não poderia indicar que nosso aparato perceptivo está começando a se adaptar ao novo dispositivo?

 

Ferenczi com Derrida

Gostaria agora de abordar outro aspecto dos atendimentos on line e para isso vou me servir de outro filósofo, Jacques Derrida, que escreveu sobre as modificações que o uso de uma tecnologia pode trazer à psicanálise. Podemos dizer que a tecnologia, em si mesma, não é nem boa nem má. Mas também não é neutra. Isso quer dizer que skype, whatsapp ou zoom não são meios neutros que podem ser colocados a serviço da clínica psicanalítica, tudo dependendo do uso que é feito deles. É sobre este aspecto que Derrida nos ajuda a pensar.

Num certo momento de O mal de arquivo: uma impressão freudiana (1995), Derrida propõe um curioso exercício de ficção científica em relação à psicanálise. Como sabemos, a correspondência manuscrita desempenhou papel muito importante na construção da teoria psicanalítica. Grande parte dessa teoria foi criada através da troca de cartas entre Freud e Fliess, entre Freud e Ferenczi, entre todos os seus discípulos e colaboradores. E aqui entra o exercício ficcional de Derrida. Ele se pergunta: como seria a psicanálise se Freud e seus discípulos, ao invés de escrever milhares de cartas à mão, se comunicassem por e-mail ? Vale notar que o livro é de 1995, quando o e-mail era a grande novidade tecnológica que existia na época.

Derrida argumenta que se Freud e Fliess, ou se Freud e Ferenczi tivessem se comunicado por e-mails e não por cartas manuscritas, o que eles escreviam um ao outro teria outro tempo de elaboração, outra velocidade de resposta, outro modo de dispor o corpo na atividade da escrita, outra forma de leitura, outro tipo de letra, mais impessoal do que na correspondência à mão. O resultado disso, escreve Derrida, é que nós provavelmente teríamos outra teoria psicanalítica. A psicanálise não teria sido o que ela é se o e-mail tivesse existido há um século.

O que Derrida nos mostra com seu exercício ficcional é que a técnica de comunicação não é apenas um meio de comunicar algo que poderia ser comunicado por qualquer outra técnica. A técnica não transforma somente a forma da comunicação; ela altera até mesmo o conteúdo do que vai ser comunicado. McLuhan (1967) já havia dito algo parecido, quando afirmou que o meio é a mensagem: o mais importante não é o conteúdo da mensagem, mas o veículo através do qual ela é transmitida.

Penso que muitos de nós temos vivido essa experiência nos atendimentos on line. Em minha clínica me surpreendo com algo que ouço também da parte de alguns colegas: através do celular ou do computador, os pacientes dizem coisas que não diriam numa sessão presencial. É uma outra sessão. Não creio que se possa dizer que o corpo está ausente porque a voz está presente, o olhar - ao menos nas sessões que incluem imagem - está presente, e há uma atmosfera passível de ser sentida, mesmo na ausência do corpo físico. Como afirmou Gilles Deleuze (1974), o corpo virtual também é real, apenas apresenta outro modo de realidade. Portanto, não se trata de uma sessão degradée, como dizem alguns, isto é, uma sessão mais fraca do que a presencial. Trata-se de uma sessão diferente, com aspectos que podem, inclusive, ser aprofundados de um modo mais forte do que na presença.

Noto em alguns pacientes antes atendidos sob forma presencial que seu processo analítico é agora permeado por certas nuances que não apareciam anteriormente. Eles enveredam por temas que não costumavam abordar, dizem coisas que jamais tinham dito, emocionam-se com mais intensidade. Percebo a mudança e eles me falam dela. Ouvi mais de uma vez a mesma explicação: "é porque agora não tenho que sair de casa e pegar um transporte para ir até o seu consultório. Parece que agora temos mais intimidade, porque você é que vem à minha casa, ao meu quarto". É um aspecto relevante sobre o qual não parávamos para pensar: ter um consultório numa cidade grande e engarrafada como o Rio de Janeiro exige que o paciente se desloque pela cidade durante quase uma hora para entrar no território de seu analista, com suas regras, sua disposição de móveis, seu ambiente. Com alguns pacientes, essa relação ganhou uma intimidade que não possuía antes. E porque agora podem falar com o analista desde a intimidade de seu próprio quarto, certos pacientes se sentem capazes de dizer coisas que, em presença, e dentro de outro território físico, não falariam.

Essa maior intimidade também acontece em análises por telefone. Alguns analistas dizem que a análise por telefone mantém os princípios da verdadeira psicanálise na medida em que reduz o tratamento à dimensão da palavra. Ao eliminar o sentido da visão, a sessão fica restrita à fala e à escuta. Eles, porém, esquecem que, nesse caso, também se trata de outro dispositivo: muitos pacientes têm, por telefone, uma maior sensação de intimidade, comentando: "antes você falava com distância, mas agora sinto você falando no meu ouvido". Isso não se reduz à dimensão da palavra e precisa ser levado em consideração.

É claro que os atendimentos on line nos colocam também dificuldades. A questão do silêncio, por exemplo: em algumas análises, em alguns momentos, acontecem silêncios de 15, 20 minutos, e essa experiência é importante para o tratamento. Seria bem mais difícil que isso acontecesse on line. Outro detalhe relevante: certos pacientes que não se deitam precisam do olhar do analista. Numa sessão por Skype ou whatsapp, contudo, é impossível olhar nos olhos. Se olho para a imagem do analisando, minha imagem aparece para ele como se eu olhasse para baixo. Para parecer que olho diretamente para ele, preciso olhar para a câmera, mas nesse caso não vejo mais o paciente. Mais uma questão: um colega me falava da dificuldade que sentia de empatizar pelo vídeo. Quando um paciente expressava com muita intensidade um sofrimento, sua sensação era de artificialidade, como se se tratasse de um ator representando. A empatia, o sentir com, se torna, segundo ele, mais difícil sem a presença do corpo físico.

Talvez tenhamos que transformar a nossa forma de empatizar. Talvez estejamos deslocando para um outro registro a forma de empatia que conhecemos - e num registro onde isso não funciona mais tão bem. Talvez tenhamos que descobrir outras formas de empatizar. Ou de ouvir. Ou de perceber.

Com isso não quero dizer que uma análise on line é pior ou melhor do que uma análise em presença. Mas sem dúvida é diferente, e devemos considerar que a situação transferencial fica modificada. A relação entre analista e analisando não é a mesma: ela se torna mais horizontal, mais próxima do que Ferenczi propunha. Diversas noções formuladas pelo psicanalista húngaro retiram o analista de uma zona teórica e técnica de conforto, apostando na possibilidade de colocar-se no diapasão do paciente: a perspectiva de um diálogo entre inconscientes, a suposição de que a resistência provém do analista, a denúncia de uma hipocrisia profissional, a análise pelo jogo, a ênfase na atmosfera de confiança. Todas essas contribuições estabelecem uma horizontalidade relacional que nos deixa, a nós analistas, sem a proteção do lugar hierárquico do suposto saber e sem a proteção de regras técnicas que buscavam garantir os estratos verticais da relação. Um analista costumava receber um paciente em seu próprio território, com sua própria disposição espacial e arquitetônica, oferecendo a ele um lugar para deitar ou sentar; talvez pudesse até oferecer água ou lenços de papel, segundo seu estilo. Ora, nas sessões on line o território é de quem? E como fica o suposto saber quando os pacientes mais jovens entendem muito mais de plataformas de internet do que seus analistas, podendo inclusive ensiná-los a se situarem nessas plataformas?

Falar por skype ou por whatsapp instaura outros limites entre o público e o privado, outro ritmo, outra forma de engajamento, de hierarquia, outras formas de relação pessoal e de relação política. Daí Derrida concluir que a técnica não estabelece apenas a forma ou a estrutura da comunicação; ela determina também o conteúdo do que vai ser comunicado. Isso pode ser resumido numa frase que, dita por Derrida (1995), poderia também ter sido dita por Ferenczi: não se vive mais da mesma maneira aquilo que não é comunicado da mesma maneira. Se no passado a psicanálise não teria sido o que foi se determinadas tecnologias tivessem existido, no futuro ela não será mais o que Freud e tantos psicanalistas anteciparam desde que essas tecnologias se tornaram possíveis.

 

 

Referências

BENJAMIN, W. (1936). A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN, W. Obras escolhidas I. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 165-196.         [ Links ]

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Artigo recebido em: 13/05/2020
Aprovado para publicação em: 26/05/2020

Endereço para correspondência
Jô Gondar
E-mail: jogondar@uol.com.br

 

 

*Membro efetivo do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro (CPRJ). Doutora em Psicologia Clínica. Professora titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Membro do comitê executivo do International Sándor Ferenczi Network e do International Federation of Psychoanalytic Societies. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
1Este texto serviu de base para a live "A elasticidade da técnica em tempos de COVID-19: Psicanálise e tecnologias", promovida pelo Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi em 26/04/2020.

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