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Psicologia da Educação

versão impressa ISSN 1414-6975versão On-line ISSN 2175-3520

Psicol. educ.  no.50 São Paulo jan./jun. 2020

https://doi.org/10.5935/2175-3520.20200001 

EDITORIAL

 

PED 50 anos, 50 edições da revista: itinerários de pesquisa e compromisso ético-político com a educação

 

 

Mitsuko Aparecida Makino Antunes; Ruzia Chaouchar dos Santos

IPontifícia Universidade Católica de São Paulo - São Paulo - SP - Brasil; miantunes@pucsp.br
IIPontifícia Universidade Católica de São Paulo - São Paulo - SP - Brasil; ruziachauchar1@gmail.com

 

 

Celebramos, com esta publicação, o número 50 da Revista Psicologia da Educação, referente ao último quadrimestre de 2019, ano em que comemoramos os 50 anos do Programa de Estudos Pós-graduados em Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Vale lembrar que nosso Programa foi o primeiro em Psicologia e o segundo em Educação no país. Na seção "Compartilhando", oferecemos o texto "Focalizando um momento de mudança na trajetória de 50 anos do PED-PUCSP", de Melania Moroz, como contribuição para o conhecimento dessa história que há meio século vem sendo construída.

É com alegria que trazemos também o anúncio de que este periódico passou, a partir de 2019, a ser quadrimestral e publicar pelo menos doze artigos em cada número, com a finalidade de contribuir para a ampliação da difusão da pesquisa na área.

Isso não seria possível sem a incansável colaboração de muitas pessoas, entre elas muitas mestrandas, doutorandas e ex-alunas, hoje doutoras e pós-doutorandas, do nosso Programa: Ruzia Chaouchar dos Santos, Bárbara Palhuzi, Daniele Kramm, Luciana Magalhães, Marcus França Lopes, Regina Prandini, Claudia Leite, João Carlos Ribeiro, Cíntia de Fátima, Sandra de Oliveira, Jaqueline Nery, Jéssica Silva, Priscila da Costa, Aline Matos, além do eficientíssimo assistente de coordenação do Programa, Edson Aguiar, e nossa colega Wanda Aguiar, professora do nosso PED. Devemos especial agradecimento para muitos colegas da área que, em meio a tanto trabalho, têm colaborado como pareceristas ad hoc. Não podemos deixar de fazer menção ao Programa PIPEq, da PUCSP, que tem financiado esta publicação.

Entretanto, nem tudo é celebração. Os 50 anos de nosso PED-PUCSP e o número 50 de nossa Revista acontecem em meio à eclosão de grandes e graves problemas que assolam o mundo e, em especial, o Brasil. A pandemia causada pelo Covid-19 mudou a face do planeta, de um lado mostrando como o descaso com a ciência, a negligência de governantes e a prioridade dada às grandes corporações, em nome da defesa dos empregos, agravaram a situação, aumentando o número de mortes, que poderia ser evitado, e naturalizando a perda da vida de centenas de milhares de seres humanos e a infecção de milhões de pessoas. Mas, por outro lado, também mostrou como a solidariedade e o compromisso ético-social têm ajudado a mitigar o sofrimento de tantos atingidos; tem explicitado os impactos sobre a natureza, com a diminuição da poluição causada pelas indústrias e pelos meios de transporte; mas sobretudo reforça a importância do conhecimento científico para o enfrentamento de catástrofes, como esta que nos atinge.

Esta situação de pandemia, porém, tornou muito mais visível a desigualdade social, no mundo e no Brasil. Os mais atingidos, direta e indiretamente, pelo SARS-COV-02 e por suas consequências são as populações mais pobres das periferias das grandes cidades e, no Brasil, de forma perversa, também as populações originárias. Nesse cenário, a escola foi diretamente atingida pela necessidade inquestionável de isolamento social. Mas, os efeitos mais cruéis da pandemia incidem sobre os estudantes mais pobres, da educação infantil à universidade, mostrando de forma nua e crua como a desigualdade social, profunda em nosso país, é responsável pela precariedade e escassez de recursos na maioria das escolas públicas, atingindo igualmente educandos, educadores, funcionários e famílias. Tais circunstâncias, que refletem a intensificação do desmonte da educação pública, gratuita e de qualidade à população brasileira, se expressam na precarização das condições de trabalho dos educadores, tal como as práticas de aumento da sobrecarga de trabalho, situações de desviso de funções, exposição dos educadores a diversos riscos, inclusive o de morte, ações de assédio moral e ameaças, entre outros impactos aos trabalhadores que são reponsabalizados a gerir, muitas vezes individualmente, as situações de ordem eminentemente social. Essas determinações sociais concretas repercutem em diferentes esferas da trama social e materializam-se no desrespeito à vida e aos direitos conquistados historicamente por educadores e sociedade.

Entretanto, educadores vinculados a diversos setores da sociedade têm mobilizado esforços coletivos na defesa da educação de caráter emancipatório e, na atual conjuntura, no cuidado e compromisso com os educandos, seja no âmbito pedagógico ou social. É preciso reconhecer e registrar, portanto, que este momento dramático tem mostrado o comprometimento ético e político de professoras, gestoras e demais atores sociais, que por meio do fortalecimento de mecanismos intersetoriais com os serviços públicos do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Conselhos Tutelares, Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), entre outros, muitas vezes sem ou com poucos recursos, têm se reinventado e construído novas práticas, resistindo ativamente, agenciando outras possibilidades concretas de organizanção, desdobrando-se, por meio de responsabilidades compartilhadas, para que a escola prossiga sem "nenhum a menos", frente a diversas formas de manisfestação de desumanização.

Cabe ressaltar que a educação pública brasileira, em todos, absolutamente todos, os seus segmentos, tem sido atacada em várias direções. Não só a tentativa de diminuição de verbas, ainda insuficientes, mas também o sistemático desmonte de direitos já adquiridos ou previstos, como o Plano Nacional de Educação ou o piso salarial dos docentes, que têm sido recorrentes nesses dias que estamos vivendo. Especial destaque deve ser feito às decisões reiteradas que levam à diminuição de verbas para a pesquisa, tendo como alvo especialmente as ciências humanas, dentre as quais nós nos situamos. Todos os estudantes, de todo o mundo, terão, certamente, um ano atípico, o que os iguala, mas os diferencia na forma como está se dando o enfrentamento à situação. A superação dessa situação não os encontrará de maneira igualitária. As consequências para os mais pobres, tendo em vista a tendência que se observa em países como o Brasil, deverá ser muito mais profunda, devastadora e deverá perdurar por muito tempo. E não só em relação ao processo de escolarização!

O compromisso de nosso Programa e de nossa Revista se multiplica nessa situação! E esperamos continuar honrando nosso comprometimento com a escola pública, democrática e igualitária, por meio da difusão e da socialização do conhecimento produzido por pesquisadoras e pesquisadores brasileiros e estrangeiros.

Assim, neste número, apresentamos artigos empíricos e teóricos, que abordam as várias faces da educação, com foco nos diferentes segmentos do ensino, por diferentes abordagens teóricas e metodológicas, produzidos no Brasil e no exterior. Neste número, e refletindo uma tendência ascendente na produção de conhecimento em educação, vários artigos abordam a educação inclusiva sob diferentes focos.

Neste número, contamos com a colaboração de Pereira, com o artigo Psicologia, eugenia e o cotidiano da Educação Infantil na imprensa (1893-1917), uma relevante contribuição historiográfica para a área. Há artigos que têm como foco a desigualdade social e políticas de enfrentamento a esta condição, como: Permanência de estudantes pobres nas universidades públicas brasileiras: uma revisão sistemática, de Abreu e Ximenes e A dimensão subjetiva da aprendizagem do estudante adulto em situação de vulnerabilidade social, de Paulino e Rossato. O número maior de artigos versa sobre a inclusão escolar, sob vários enfoques: A inclusão escolar de alunos multiculturais a partir da percepção dos pais, de Porto-Ribeiro e Fleith; Educational goals for college students diagnosed with disabilities: From individualist to transformative activist agenda, de Dušana Podlucká, de LaGuardia Community College, City University of New York; de Remoli, Oliveira, Mencia e Capellini, Programa para desenvolvimento da criatividade a alunos com e sem altas habilidades/superdotação; na esteira da crítica aos processos de exclusão e o artigo Distúrbios de aprendizagem e fracasso escolar na visão de professores e licenciandos, de Fonseca e Maldonado. Outros artigos, cujos temas são variados, completam este núnero, ampliando a discussão teórico-metodológica de outros campos da educação; são eles: De que social somos feitos: discurso educativo e seus efeitos de verdade, de Lerner e Fonseca; Os processos relacionais na pós-garaduação sob a perspectiva da bioecologia do desenvolvimento humano, de Jung, Rosa, Teixeira, Itaqui e Yunes; Competências socioemocionais de professores: avaliação de habilidades sociais educativas e regulação emocional, de Justo e Andretta e, completando um artigo sobre formação de professores, de Araújo, Formação continuada: constituição e contribuições para a identidade docente. Na seção Compartilhando, oferecemos o já citado texto de Moroz, sobre a história de nosso Programa. Por conseguinte, apresentamos a resenha da obra intitulada O cérebro aprendiz: neuroplasticidade e educação de Roberto Lent (2019), produzida por Hohl.

Finalizamos este editorial, de número 50 e que encerra as comemorações dos 50 anos de nosso Programa, dedicando-o a Joel Martins, que o criou, e a Abigail Alvarenga Mahoney, a primeira docente contratada para, com ele, dar início ao PED.

 

 

Recebido: 14 de agosto de 2020
Aprovado: 14 de agosto de 2020

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