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Construção psicopedagógica
versão impressa ISSN 1415-6954versão On-line ISSN 2175-3474
Constr. psicopedag. vol.32 no.33 São Paulo 2022
https://doi.org/10.37388/CP2022/v32n33a07
RELATO DE EXPERIÊNCIA E PESQUISA
Vivência de mães universitárias do ISB/UFAME
Xperience of university mothers at ISB/UFAM
Karoline da Rocha Ferreira1; Maria Aparecida Silva Furtado2
Universidade Federal do Amazonas
RESUMO
A maternidade é uma experiência própria da vida da mulher e deveria ser percebida como um processo natural, mas em determinadas circunstâncias a maternidade ganha outro sentido: o de sobrecarga. É o caso, por exemplo, quando a maternidade está associada à vida universitária, em que essa mulher necessita desdobrar-se na função de ser acadêmica e de ser mãe, além de outras atribuições profissionais, sociais e familiares. Estudos sobre a vivência de mães universitárias mostram que o contexto emocional, familiar, social, financeiro, dentre outros, pode transformar-se em um desafio diário quanto à permanência dessas mães na academia. Desse modo, faz-se necessário examinar que contexto rege a vida de mães acadêmicas universitárias. No Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (ISB/UFAM) não há estudos até o momento que tratem dessa questão, ou algum instrumento de levantamento de dados de quantas acadêmicas estão gestantes ou já são mães. Lacuna esta oportuna a pesquisas. Este estudo tem como objetivo geral analisar o perfil sociodemográfico e a vivência de mães acadêmicas universitárias do ISB/UFAM. Trata-se de um estudo de corte transversal, do tipo descritivo, com abordagem quantitativa e qualitativa. O instrumento de coleta de dados foi um questionário sociodemográfico criado pelas autoras e aplicado às mães universitárias. A análise quantitativa revelou informações sociodemográficas sobre o público-alvo, as quais podem ser úteis para um processo de planejamento e tomada de decisão para distribuição de serviços e atendimento das demandas sociais do público estudado. Já a análise qualitativa, embasada na Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2011), demonstrou não só os aspectos facilitadores e dificuldades de permanência na universidade, mas também os sentimentos e vivências que sinalizam a necessidade de debate sobre a temática, visando à melhoria da assistência prestada para estas mulheres.
Palavras-chave: Perfil sociodemográfico, Mães universitárias, Vivência universitária.
ABSTRACT
Motherhood is a unique and subjective event in the life of a woman and her family. What can often cause overload when it is concomitantly linked to mothers who attend some level of education, within this group we will approach university academics, who unfold in the functions of being a mother, professionalization and even individual attributions as unique women. Studies on the subject call attention to their experience, which depending on the emotional, family, social, financial context, among others, can become a daily challenge regarding staying in the gym. Thus, an analysis of the general context that governs the life of university academic mothers is necessary. At the Institute of Health and Biotechnology of the Federal University of Amazonas (ISB/UFAM) there are no studies to date that address this issue, or any method used to collect data on how many academics are pregnant or are already mothers. Gap is timely for research. The general objective of this study is to analyze the sociodemographic profile and the experience of university academic mothers at ISB/UFAM. This is a cross-sectional study, of the descriptive type, with a quantitative and qualitative approach. The data collection instrument was a sociodemographic questionnaire created by the authors and applied to university mothers. The quantitative analysis revealed sociodemographic information about the target audience, which can be useful for a planning and decision-making process for the distribution of services and meeting the social demands of the studied public. The qualitative analysis, based on the Content Analysis proposed by Bardin (2011), demonstrated not only the facilitating aspects and difficulties of permanence at the university, but also the feelings and experiences that signal the need for debate on the subject, aiming at improving the assistance provided to these women.
Keywords: Sociodemographic profile, University mothers, University experience.
Introdução
A conquista do diploma de curso superior tornou-se uma busca fundamental para grande parte dos jovens e isso é notável pelos crescentes índices estatísticos sobre as inscrições no Ensino Superior. No Brasil, em 2004 a parcela de jovens de 18 a 24 anos no Ensino Superior era de 32,9% e cresceu para 58,5% em 2014, de acordo com o IBGE (2015) na Síntese de Indicadores Sociais (SIS).
Além disso, observa-se, nos últimos anos, um aumento da população universitária, carregando consigo características bastante heterogêneas no tocante à classe social, gênero, objetivos, expectativas, trajetória acadêmica anterior, faixa etária, situação de trabalho, opção pelo turno de estudo, entre outras (LIMA et al., 2015).
Das características dessa população universitária, destaca-se o ingresso da população feminina nas universidades que, segundo Baylão (2014), cresceu de forma significativa dada a inserção da mulher no mercado de trabalho e na busca pela ascensão na carreira profissional.
Para Mesquita et al (2019), ao longo dos anos, o nível de escolaridade das mulheres tem aumentado, representando a maior parte de estudantes nas universidades, segundo dados do INEP, do Censo da Educação Superior, que são referentes ao ano de 2017, as mulheres são 55% de estudantes ingressantes, 57% de matriculados e 61% de estudantes formados nos cursos de graduação. Já na licenciatura, elas representam 70,6% de matrículas. Apesar da representatividade desse público nas universidade, as mulheres ainda têm de lidar com o preconceito acerca do gênero, diferente dos homens, que mesmo sendo casados e com filhos, tendem a se ascenderem mais rapidamente em comparação com o sexo oposto (URPIA; SAMPAIO, 2011).
Diversas mudanças ocorreram no cenário nacional relacionado aos direitos da mulher na sociedade, principalmente quando se refere à busca de igualdade entre gêneros e sua atuação nos diferentes contextos sociais. As mulheres, com o passar do tempo, conquistaram o seu espaço e a possibilidade de desempenhar muitas funções, para além daquelas restritas da reprodução e dos cuidados domésticos. (SILVEIRA, 2019).
De acordo com Urpia (2009), a entrada das mulheres nas universidades, como também no mercado de trabalho, não as tem desobrigado do cuidado da casa e dos filhos. Diante da maternidade, conforme o autor, algumas mulheres optam por jornadas parciais, flexibilização de horários e até mesmo interrupções na vida acadêmica/profissional, que trazem consequências custosas para a realização de suas atividades.
Na fase universitária, a rotina é baseada em estudos teóricos ou práticos, trabalhos e amigos, porém quando as responsabilidades da maternidade se juntam aos da academia, o que para algumas poderia ser motivo de comemoração acaba se tornando uma aflição pela dupla jornada (MENEZES et al., 2012).
A experiência individual envolve mudanças e reconstrução do self para abarcar a nova posição de ser mãe e universitária - após o nascimento do filho a vida precisa se adequar à nova situação, fato que pode lançar a vida de mulheres em uma temporária confusão (URPIA; SAMPAIO, 2011).
Nesse processo, a mãe divide-se entre a responsabilidade do cuidado à criança e a demanda enquanto acadêmica de uma universidade, destacando o papel múltiplo e particular que afeta as mães e a relação familiar (BARBOSA, 2012).
As questões relativas à saúde reprodutiva no Brasil têm despertado interesse de pesquisadores, gestores e sociedade, por se tratar de um tema relevante para o delineamento de políticas públicas e para o desenvolvimento socioeconômico do país (MARTINS, 2014).
Assim entende-se que, é necessário conhecer a dimensão do problema de acordo com a realidade vivida por cada universitária, partindo do pressuposto de que uma análise mais detalhada pode contribuir com intervenções efetivas a fim de promover a permanência dessas mulheres ao seu referido curso. (JORGE; HOLANDA, 1996; OLIVEIRA; MELO-SILVA, 2010; VALENTE et al., 2015).
Identificar a dimensão do problema de acordo com a realidade de cada mulher, conforme expressam Urpia e Sampaio (2011), possibilita uma visão mais ampla de todo o processo psicossocial que rege a vida delas, entendendo de forma humanizada os problemas vivenciados diariamente por elas mesmas.
Da mesma forma, conhecer informações demográficas e a vivência das mães universitárias é imprescindível no processo de tomada de decisão. Os dados coletados podem servir como subsídios na criação de estratégias ou políticas públicas para esta população.
No ISB/UFAM ainda não foram realizados estudos que abordem essa temática, ou mesmo tenha sido feito qualquer levantamento de dados de quantas acadêmicas estão gestantes ou são mães. Lacuna esta oportuna a este estudo.
Como estudante do Curso de Enfermagem, mãe, esposa e trabalhadora autônoma, a autora principal deste trabalho observa também em outras estudantes as mesmas dificuldades que se sente para o cumprimento das responsabilidades oriundas da conciliação da maternidade com os estudos acadêmicos. Desta inquietação nasceu o desejo de conhecer, juntamente com a segunda autora, qual é o perfil e a vivência assim como a incidência de mães universitárias no ISB/UFAM: local de filiação das autoras.
Partiu-se inicialmente, da hipótese de que a vivência da maternidade no contexto acadêmico impõe às mães universitárias uma série de dificuldades as quais sobrecarregam a trajetória acadêmica.
Diante disso, buscou-se respostas para as seguintes questões: Quem são as mães universitárias dos cursos da saúde do ISB/UFAM? Existe dificuldade em conciliar a vida universitária com a maternidade? Quais aspectos facilitadores e dificultadores contribuem para a permanência na universidade? Quais os sentimentos em relação à convivência com outros acadêmicos? Quais os sentimentos destas mães em relação às responsabilidades familiares, acadêmicas, estado físico, emocional e social?
A fim de encontrar respostas a tais questões, foi traçado como objetivo geral para este estudo, analisar o perfil sociodemográfico e a vivência universitária de mães estudantes dos cursos da área da saúde do ISB/UFAM, tendo como objetivos específicos: verificar a incidência das mães universitárias; caracterizar o perfil sociodemográfico; descrever as vivências da maternidade; identificar as dificuldades de conciliar a vida acadêmica e os aspectos facilitadores de permanência universitária.
Metodologia
A pesquisa em questão caracteriza-se por ser um estudo de corte transversal, do tipo descritivo, com abordagem quantitativa e qualitativa.
O estudo foi realizado no ISB/UFAM, situado no município de Coari, interior do Amazonas, a 363 km de Manaus, capital do Estado, Brasil. O ISB está presente no município de Coari desde 2005 e é resultado do Programa de Expansão do Ensino Superior, promovido pelo Governo Federal, que traz como denominação no Amazonas a sigla "UFAM Multicampi". A história do ISB é recente, mas a UFAM faz parte do município desde 1970.
O Instituto de Saúde e Biotecnologia oferece quatro cursos na modalidade de bacharelado, na área da saúde, a saber: Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia e Medicina. Também oferece dois outros na modalidade de licenciaturas duplas relativas às áreas da Matemática e Física, Biologia e Química. Esta pesquisa delimitou-se aos quatro cursos da área da saúde por se conjecturar ser este um público que, teoricamente, teria mais acesso a conhecimentos acerca de métodos contraceptivos e fatores correlacionados à da maternidade.
Como não se tinha no ISB/UFAM nenhum registro ou informação concreta do quantitativo de estudantes mães, a população deste estudo inicialmente foi vislumbrada no projeto em 30 mães. Em termos éticos, o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da UFAM, sob número de CAAE 53342421.5.0000.5020, parecer: 5.188.107.
Após levantamento de mães universitárias na instituição, a pesquisa identificou 23 acadêmicas. Na sequência, foi encaminhado para este grupo um questionário on-line de levantamento de dados. Ao final do período de coleta, o estudo recebeu de volta 22 questionários preenchidos integralmente, contando, assim, com 22 participantes.
Todas as dúvidas oriundas da pesquisa foram esclarecidas previamente no formulário online às mães estudantes participantes, com o objetivo de tranquilizá-las. Desse modo, não houve nenhuma ocorrência de riscos advindos do desenvolvimento desta pesquisa no contexto universitário, os quais pudessem estar associados a constrangimento às respostas ao questionário, tais como estresse, receio de quebra de anonimato, ou outros.
Como configuração final, a pesquisa constituiu-se de 22 estudantes mães universitárias que, seguindo aos critérios de inclusão previamente traçados e submetidos ao comitê de ética, aplicou-se a maiores de 18 anos e com filhos de até 5 anos de idade, regularmente matriculadas no período letivo de 2021/1, nos cursos da área da saúde, ofertados pelo Instituto de Saúde e Biotecnologia, a saber: Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia e Medicina.
Não houve cálculo amostral neste estudo, pois fizeram parte desta pesquisa todo o universo das mães universitárias dos cursos da área da saúde do ISB/UFAM, que se dispuserem a participar do estudo, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Assim, a amostragem foi considerada do tipo não probabilística por conveniência.
A coleta de dados ocorreu no período de 15 de janeiro a 15 de março, de forma remota, por meio do instrumento questionário de características sociodemográficas, sendo criado no Google Forms pelas autoras, facilitando a coleta para que os sujeitos da pesquisa pudessem responder com calma e quando se dispusessem.
O instrumento de coleta foi composto por: variáveis sociodemográficas com relação à idade, cor/raça, situação conjugal, se o companheiro estudava no ISB/UFAM; variáveis relacionadas a que o curso da área da saúde estudava, período da graduação, se já havia feito trancamento do curso, motivo de trancamento; paridade e desenvolvimento sexual relacionado ao número de filhos, início da vida sexual, uso de contraceptivo, quando engravidou, planejamento da gravidez, se morava com filhos, com quem ficava seus filhos, onde morava, horas semanais dedicados a casa e filhos; condições socioeconômicas sobre a renda familiar, se exercia alguma atividade remunerada, jornada semanal no trabalho; e as experiências relacionadas discriminação na universidade, dificuldades com os componentes curriculares do curso, aspectos facilitadores para a permanência na universidade e questões abertas relativas às vivências.
Quanto ao tratamento aplicado aos dados coletados, foi feita uma análise descritiva com abordagem quantitativa e qualitativa.
Para a análise quantitativa ou estatística da significância entre as variáveis, foram utilizados os dados coletados em gráficos do Google Forms e os resultados interpretados à luz de correlações com outros estudos, sendo as informações representadas por gráfico e tabelas, essencialmente associadas às informações sociodemográficas.
Já para o exame qualitativo, foi utilizada uma análise de conteúdo seguindo proposta por Bardin (2011) com vistas a examinar as vivências das mães universitárias. Trata-se de uma abordagem metodológica cuja análise baseia-se numa modalidade temática capaz de assegurar uma descrição sistemática com interpretação objetiva dos dados coletados. Conforme propõe Bardin (2011) a Análise de Conteúdo prevê três fases fundamentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados - a inferência e a interpretação. Esse procedimento foi adotado e os resultados apresentados na seção 3.2 na forma de agrupamento temáticos.
A seguir, apresentam os resultados e discussão dessas análises, sendo em 3.1 a análise quantitativa e em 3.2 a análise qualitativa.
Resultados e discussão
Análise quantitativa
A pesquisa apresenta, nesta seção, análises do corpus constituído das informações questionários recebidos, que revelam a realidade vivenciada por cada uma das 22 mães universitárias. A fim de manter o anonimato, as acadêmicas são identificadas neste estudo pelo nome mãe, seguido do numeral cardinal de 01 a 22.
Houve bastante interesse ao tema e disposição das respondentes em colaborar com a pesquisa, tendo 100% de concordância com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e com a emissão de autorização de sua participação da pesquisa.
Os dados recebidos foram categorizados e analisados conforme mostra os resultados seguir.
Considerando dois dos critérios de seleção das mães universitárias que foi de serem maiores de 18 anos e terem filhos até 05 anos de idade, vê-se, no gráfico acima, que a idade mínima das participantes foi de 20 e a máxima foram 39 anos, todas com filhos até 05 anos de idade.
Conforme demonstrado na tabela acima acerca do perfil sociodemográfico das mães universitárias analisadas, em se tratando da cor da pele, 72,8% se autodeclaram pardas e 9% pretas. As outras declarações de menor número foi a cor branca, amarela e etnia indígena.
Com relação à situação conjugal, (quadro1) 50% das mães declararam união estável, 32% eram solteiras, 9% casadas, 9 % separada/divorciada e nenhuma viúva. Compreende-se que uma mãe solteira, com filho menor de cinco anos pode desempenhar menor participação ativa dentro da universidade, tal fato é consolidado pela dependência em que os filhos têm da mãe, fato que favorece a necessidade de se obter uma rede de apoio para um melhor desempenho na sua vida acadêmica.
O curso de Enfermagem lidera com o número de 10 estudantes neste perfil duplo de mãe e acadêmica, representando 45,5% das participantes. Apesar de ser um curso que possui orientação sobre a saúde da mulher e que ensina desde os primeiros períodos sobre os métodos contraceptivos, ainda há uma alta prevalência de mulheres que engravidam durante a graduação. O curso de Fisioterapia apresenta 9, indicando 40,9% das estudantes, o curso de Nutrição 02 alunas, com o percentual de 9,1% e o curso de Medicina com 01 estudante, concebendo 4,5% do total.
Em se tratando dos períodos de estudo, 10 acadêmicas, 45,5%, estão entre o 7º ao 10º período, 09, cerca de 40,9%, do 4º ao 6º período e 03, o equivalente a 13,6%, do 1º ao 3º período.
No percurso universitário, 04 acadêmicas fizeram o trancamento da matrícula, sendo que 3 delas sentiram uma extrema necessidade de realizar o trancamento da matrícula. Por outro lado, em se tratando do acompanhamento regular do curso, das 22 mães pesquisadas, 13 delas se encontram fora do período letivo ideal do seu curso, relatando dentre os principais motivos como: instabilidade emocional, financeira e desgaste físico, falta de compreensão dos professores mesmo com a licença a maternidade, falta de tempo para se dedicar às disciplinas e reprovação por faltas devido às emergências maternas.
De acordo com Urpia e Sampaio (2011, p. 14) trancamentos, abandonos e faltas acabam sendo consequências para as estudantes-mães. Sublinha-se ainda que "as interrupções significam mais do que a desaceleração do processo formativo, elas implicam quebra de vínculos afetivos e podem representar uma passagem dolorosa e pouco estimulante".
Conforme demonstraram os dados, 82% das mães examinadas relataram não possuir um companheiro. Parece que a falta de um cônjuge traz algumas consequências importantes a estas mães, tais como: questão financeira, emocional e desgaste físico. Isso poderia gerar uma rede de apoio a estas mães já que as informações relatadas nas questões de análise qualitativa demonstraram que nem todas conseguiram conciliar com êxito a dupla e até mesmo tripla jornada de tarefas de serem, ao mesmo tempo, mães, acadêmicas e provedora do lar.
Segundo Henriques (2016), mesmo que muitas mães universitárias optam pelo trancamento de suas matrículas ou persistem ainda com reprovações na universidade, devido à dificuldade para conciliar à dupla ou tripla jornada de trabalho que precisam assumir quando assumem a maternidade, há situações em que a interrupção temporária do curso, aliada a agenda de atribuições domésticas, familiares, trabalho remunerado extralar, conduz a "perda" da vontade para retornar e concluir à graduação (HENRIQUES, 2016).
A falta de flexibilidade por parte das instituições nas quais essas mães estudam, não permite a eficácia entre a maternidade e as atividades acadêmicas, devido aos horários e regimes rígidos, afirmam Gonçalves; Ternovoe, (2017).
Acerca do planejamento familiar, 17 acadêmicas declararam ser mãe de um filho, 3 são mães de dois filhos e 2 possuem três filhos. De todo o universo pesquisado, 20 mães nunca tiveram aborto e 02 declararam que sim.
Quanto ao uso de contraceptivos, 15 participantes relataram que não faziam o uso de anticoncepcionais na ocasião da gravidez e, dentre os motivos, destacaram-se o desejo pela gestação; a maior parte dentre as quais engravidaram pela sua própria vontade, relataram ter parado o uso durante as tentativas de fertilização, como é o caso deste depoimento: "engravidei porque quis. Parei de tomar contraceptivo durante um ano, até conseguir engravidar. Usava injetável. Uno_ciclo", (Mãe nº 15).
Quanto ao uso de métodos conceptivos utilizados quando foi feita a coleta dos dados desta pesquisa, 10 mães declararam fazer uso dos injetáveis, 04 preferiam preservativos masculino/feminino, 02 usavam pílulas combinadas, 02 possuíam DIU, 01 tinha laqueadura e 03 faziam uso de outros métodos.
Dados da pesquisa mostram ainda que estas mães dependem de família, ajudante, companheiro ou creche para olharem seus filhos enquanto elas estudam, sendo que 04 delas revelaram que levam seus filhos para a universidade. Apenas 01 mãe conta com os serviços de creche. Diante das dificuldades em 2017, o Ministério da Educação garantiu o direito à amamentação nas escolas, universidades e outras instituições federais de ensino. Todavia, até o presente ano, muitas instituições de ensino não possuem equipamentos ou ambientes exclusivos para esse fim.
Tauil (2019) mostra a mitigação dos impactos negativos sobre a mulher que toma a decisão de prosseguir com a vida acadêmica após a maternidade pode se dar por meio de leis que amparam esse grupo da sociedade e resguardam seus direitos, bem como através de políticas públicas que tornem a instituição de ensino mais preparada para acolher a mulher nesta situação.
Com relação à renda familiar que caracteriza o perfil socioeconômico, 13 mães informaram que possuem renda de 1 salário-mínimo, 1 participante declarou 1 salário-mínimo e meio, 3 disseram 2 salários-mínimos, 4 expressaram que recebem 3 salários-mínimos ou mais e 1 participante não respondeu. O cuidado de toda criança requer uma condição econômica adequada, que possa suprir suas necessidades do dia a dia afirmam (MENEZES et al., 2012). Neste contexto, um salário-mínimo não traz condições boas de vida para mãe e filho.
Segundo a Pnad Contínua Educação (2019), a cada quatro mulheres entre 14 e 29 anos que abandonaram os estudos, uma (23%) deixou para trabalhar, uma (24%) por desinteresse e uma (24%) por gravidez.
Os resultados acima configuram-se como a análise quantitativa do corpus. Com ela, foi possível verificar a incidência das mães universitárias nos cursos de saúde ofertados pelo ISB/UFAM e caracterizar o perfil sociodemográfico dessas estudantes. Além disso, introduziu-se a noção de dificuldades inerentes a tal perfil, que será mais detalhada na análise qualitativa a seguir.
Análise qualitativa
A fim de descrever os sentimentos e as vivências das mães universitárias e identificar as dificuldades e os aspectos facilitadores de permanência na universidade, apresenta-se, a seguir, uma análise qualitativa, à base da Análise de Conteúdo de Bardin (2011), a qual compôs-se de três fases fundamentais: uma pré-análise, uma exploração do material e um exame das informações à base de inferência e interpretação dos seus sentidos.
A pré-análise constituiu-se de uma leitura flutuante dos 22 questionários coletados e a identificação se todas as questões foram respondidas por todas as participantes da pesquisa, exame panorâmico de respostas similares e díspares, formulação de hipóteses de análises possíveis e a preparação do material.
A segunda fase da exploração formou-se do agrupamento inicial das informações sequenciais em conformidade com a sequência do questionário aplicado, exame da frequência de aparição de determinadas respostas em percentual e operações de composição dos dados em temáticas e subtemáticas.
Na terceira fase foi reformulado o agrupamento inicial e sistematizadas as informações em três grandes eixos temáticos, a saber: 1) dificuldades e sobrecarga para conciliar a maternidade com a universidade; 2) Sentimentos das mães universitárias em relação a sua convivência universitária, às suas responsabilidades familiares e acadêmicas e ao seu estado físico, emocional e social; 3) Aspectos facilitadores que contribuem para a permanência na universidade. Apresentam-se, abaixo, a análise interpretativa dos agrupamentos realizados.
Eixo 01 - Sobrecarga e dificuldades e para conciliar a maternidade com a universidade
Esta temática 'dificuldades e sobrecarga para conciliar a maternidade com a universidade' emergiu de algumas perguntas, a saber: "você já era mãe quando ingressou na universidade? Se a reposta for SIM, você sentiu dificuldades ao ingresso? Se a sua resposta for NÃO, como foi conciliar a maternidade com a vida acadêmica? Exemplificando com os dados coletados, apresentam-se o depoimento das mães 03 e 21:
Sim, senti muita dificuldade ao ingresso (Mãe 03).
Não. Consegui me manter firme por muita persistência, esgotamento físico e mental. É uma sensação desesperadora ter você como centro de tudo para cuidar de um ser dependente de você e um milhão de responsabilidades da faculdade (Mãe 21).
Também foi perguntado às universitárias se após a maternidade houve mudança na vida acadêmica e, ainda, como foi conciliar a maternidade com a vida acadêmica. Em geral, as respostas foram na mesma direção da citação a seguir:
A maternidade é ser responsável por cuidar, proteger, educar e suprir as necessidades de um ser que depende totalmente de você. Com muita dificuldade, pois se concentrar em algum estudo ou trabalho e dar a devida atenção a criança. Normalmente tenho que estudar de madrugada (Mãe 14).
Nestes depoimentos surgiram subtemas como a falta de tempo, a sobrecarga de atividades para o gerenciamento do tempo de estudos, ausência de vida social, a questão da dedicação e a relação da responsabilidade de ser mãe e ao mesmo tempo acadêmica. Vieira et al., (2019), afirmam que conciliar a maternidade com a vida acadêmica não é uma tarefa fácil, as transformações físicas e psicológicas durante a gravidez e as demandas com os cuidados com o bebê fazem com que algumas mães optem por desistir do curso, para dedicarem-se exclusivamente à maternidade.
Os depoimentos da pergunta a seguir reforça a necessidade de se fazer alguma intervenção na variante 'tempo': "você consegue ter um tempo livre somente para você fazer algo que goste (atividade física, ler um livro, assistir uma série, dormir, passear ou namorar)"?
O tempo por aqui pra mim está zero, no momento não estou tendo tempo direito para mim, somente para a minha filha praticamente (Mãe 11).
Não consigo! Em partes, o único dia que ela fica com o pai esse é meu momento de folga que eu aproveito como dá. Dormir é a melhor parte delas (Mãe 17).
Me esforço todos os dias para fazer atividades físicas, por uma questão de saúde tanto física quanto mental. (Mãe 06).
Nesse momento não consigo. Aqui em Coari estou longe da minha família, então aqui a minha filha só tem a mim e a babá. No tempo livre da faculdade é o tempo que tenho que cuidar de casa, dar atenção a minha filha e dar a folga da babá que mora conosco. (Mãe 18).
De acordo com Silva et al (2015), as mulheres que já são mães ou se tornaram mães durante o curso superior fazem parte de um grupo específico de alunas que diariamente enfrentam alguns desafios para alcançarem seus objetivos na instituição formadora.
Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio-PNAD (2018), no Brasil, revela que as mulheres trabalham quase que o dobro em tarefas domésticas e cuidados com os familiares, realizando, assim, duplas jornadas de trabalho que não são reconhecidas socialmente como trabalho remunerado.
A fim de categorizar as principais dificuldades que interferem significativamente na vida ou no contexto acadêmico das mães universitárias, também foi disponibilizado, no questionário, um conjunto de varáveis e dada a oportunidade de as mães marcarem mais de uma opção. A porcentagem apresentada, na lista abaixo, diz respeito ao quantitativo das suas escolhas, ou seja, às ocorrências temáticas mais determinantes na formação do perfil destas mães.
1. Escassez de tempo para estudar e realizar as atividades acadêmicas e dificuldade de planejamento organização do uso do tempo ( 77,3%).
2. Tarefas relacionadas ao cuidado com os filhos. (72,7%).
3. Dificuldades com as atribuições com o trabalho doméstico. (45,5%).
4. Dificuldades financeiras. (50%)
5. Carga excessiva de trabalhos domésticos e cuidados com os filhos. (36,4%).
6. Dificuldades de aprendizado. (31,8%).
7. Carga excessiva de trabalhos acadêmicos. (27,3%).
8. Falta de disciplina / hábito de estudo. (18,2%).
9. Dificuldade com a distância da casa para a universidade. (13,6%).
10. Dificuldades de acesso a materiais e meios de estudo. (13,6%).
11. Declaração de não possuírem dificuldades. (9,1%).
12. Carga excessiva de trabalho remunerado. (9,1%).
13. Dificuldade de relacionamento com docentes. (4,5%).
Como se vê, desse conjunto, a temática que mais se destaca pelo quantitativo de escolhas é, novamente, a escassez de tempo para estudar e realizar as atividades acadêmicas, além da dificuldade de planejamento e organização do uso do tempo.
Ainda em se tratando das dificuldades, agrupam-se neste primeiro eixo temático, as questões ligadas à renda familiar. Como apresentado no tópico anterior, 59% das mães vivem em família com renda de 1 salário-mínimo.
Considerando este cenário, urge um debate universitário com mudanças, redefinindo o alcance da assistência estudantil e necessitando inovar as políticas de ações afirmativas para atender de forma específica este público-alvo (FARIA; ZANETA, 2008).
Eixo 02 - Sentimentos das mães universitárias em relação a sua convivência universitária, às suas responsabilidades familiares e acadêmicas e ao seu estado físico, emocional e social
Agrupam-se, aqui, questões sobre o tema básico dos sentimentos. Pergunta: durante e depois da gravidez como você se sentia fisicamente, emocionalmente e socialmente na universidade?
No momento estou grávida do meu segundo filho, me sinto exaustivamente cansada fisicamente, emocionalmente (principalmente) e uma sensação de abandono socialmente. As pessoas 'meio' que parecem se afastar (Mãe 03).
Me sentia um pouco diferente por ser jovem e estar grávida. Fisicamente me sentia bem, emocionalmente abalada (Mãe 05).
Como se vê acima, surgem, nas respostas, subtemas como o cansaço físico e emocional e a questão de ser jovem e estar grávida. Corroborando com esses dados, estudo de Gonçalves et al (2018) mostra que após o nascimento do filho, muitas universitárias encontram em exaustão física e emocional e acabam se ausentando das aulas por um certo período e depois não conseguem mais retomar as atividades acadêmicas.
Esta pergunta, a seguir, amplia e reforça a percepção anterior: como você se sente em ter de lidar com as responsabilidades da vida acadêmica, do trabalho doméstico ou remunerado, do cuidado com os filhos e de outras funções cotidianas?
No início achei que não daria conta, mas Deus é tão maravilhoso que colocou pessoas maravilhosas em minha vida, que me fez enfrentar os obstáculos e me ajudaram, meus amigos, família, e até mesmo o pai da minha filha, que sempre me apoiou, mas claro que a gente não consegue fazer tudo, muitas das vezes abri mão de cuidar de mim, e me sentia sobrecarregada, acumulava trabalhos, assuntos para provas, etc., em casa fazia o possível para dar a comida na hora, uma comida diferenciada e saudável, era impossível cuidar da casa, faculdade, filha, e mim , sempre abria mão de uma coisa ou outra. Cheguei a chorar, mas sempre agradecida, por Deus ter feito eu conseguir vencer os obstáculos. (Mãe 04).
Cuidar do filho se torna algo bem cansativo, o puerpério que é a fase que estou no momento, é muito complicado, é um período de dor para amamentar, do não saber por que o choro do bebê, é um aprendizado até então, agora neste momento não estou fazendo os trabalhos domésticos, a vida acadêmica é complicada, é muito frustrante não poder acompanhar mesmo que remoto, as vezes a mãe aqui chora, por não conseguir lidar e nem resolver certas situações. (Mãe 14).
Dos depoimentos acima, emergem novamente o subtema 'falta de tempo', mas também o 'cansaço' que se associa ao tema maior do sentimento. Por outro lado, surge um aspecto positivo: a esperança de que tal fase vai passar.
Conforme aponta Costa (et al, 2018), as dificuldades vivenciadas pelas mães universitárias contribuem para um caminho mais cansativo na sua trajetória acadêmica, constituindo-se potenciais fatores de risco à evasão desta mãe e interferindo na continuidade dos estudos e/ou na qualidade da aprendizagem dessas estudantes. Logo, entende-se que estas subtemáticas são relevantes e precisam ser levadas em consideração no contexto universitário.
Seguindo a categorização, apresenta-se a nova pergunta: você já teve algum atendimento psicológico da Universidade? Acha que isso poderia lhe ajudar em que sentido?
Não, talvez ajude sim. Sempre é bom um acompanhamento, eu fazia fora da UFAM e antes da bebê. (Mãe 09).
Não, eu tenho sérios problemas com ansiedade, porém ainda não estou preparada para um tratamento. (Mãe 07)
Não. Com toda certeza ajudaria sim um atendimento psicológico. (Mãe 12).
Não. [O atendimento psicológico] poderia me ajudar no desgaste físico e mental que a rotina tem ocasionado. (Mãe 18)
Não. Acredito que deveria ser mais exposto esse apoio que existe na universidade, mas pouco conhecemos. Ajudaria nos dias que a gente quer desistir de tudo e muitas vezes não temos ninguém para nos apoiar, ouvir, dar um conselho que nos ajude a seguir. (Mãe 21)
Nota-se que a experiência da maternidade na universidade pode apresentar significados diferenciados, até mesmo opostos, para expressar os conflitos que vivem as jovens, ao se depararem com uma gravidez. Nos relatos acima, a maioria acredita que o apoio psicológico poderia trazer contribuição para amenizar o sofrimento.
De acordo com Vieira et al (2017, p.09), muitas das mães universitárias podem relatar uma variedade de sentimentos que sentem ao descobrir a gravidez, como medo e felicidade, ou, em muitos casos, que durante a gestação, se sentem "no físico feliz, mas, no psicológico, abaladas" e choram muito.
Eixo 03 - Aspectos facilitadores que contribuem para a permanência destas mães estudantes na universidade
A questão a seguir também poderia ter sido agrupado como a temática 'dificuldades', mas optou-se para a orientação da temática em 'aspectos facilitadores' por entender que esta denominação possa trazer uma perspectiva de intervenção a ser realizada nas universidades para contribuir com este público ora analisado.
O ISB oferece subsídios que ajudam estudantes de baixa renda a se manterem na universidade. Dentre os recursos oferecidos, o auxílio acadêmico é oferecido para alunos de baixa renda que comprovem uma renda per capita inferior a um salário-mínimo, o auxílio moradia é designado para estudantes de ouros estados ou municípios que comprovem a estadia de aluguel na cidade. Há outros auxílios que se abrem editais como menor frequência na universidade, mas que se fossem regulares poderiam ajudar o grupo dessas mães em estudo, tais como: auxílio para a compra de materiais para ajudar nos estudos, auxílio creche para apoiar as mães com poucas condições aquisitivas a estudar enquanto seu filho estiver em um local seguro e o auxílio internet para assegurar a acessibilidade nos conteúdos das aulas.
Pergunta: você possui auxílios financeiros na universidade? Em que sentido os auxílios universitários podem estimular as mães estudantes a permanecerem na universidade?
Só contínuo na Universidade devido aos auxílios. Não tenho como trabalhar e estudar. Meu esposo está desempregado. Não somos da cidade Coari, moramos alugado, então esses auxílios são essenciais na minha permanência na Universidade. (Mãe 03).
Com o auxílio estudantil, tem facilitado para as compras de matérias e EPIS do curso, porém o auxílio creche ajudaria bastante para que tanto eu quanto o pai da bebê possamos estudar, pois ajudaria como pagar alguém para ajudar nos momentos de estudo. O auxílio internet deveria ser estendido durante todo o período letivo, pois assim seria menos uma preocupação (Mãe 09).
Aqui há subtemas como auxílio creche, auxílio estudantil (acadêmico), auxílio internet, que sustentam outra temática: a permanência na universidade. Além disso, implicitamente, percebe-se a subtemática da baixa renda.
Sobre a possibilidade do acesso de seus filhos à creche, essa possibilidade seria um importante recurso no processo de conciliação maternidade-vida acadêmica. Urpia e Sampaio (2009, p. 38) dizem que, neste cenário, as mães saberiam onde os filhos estariam, tendo a possibilidade de acesso sempre que possível, pois compartilhariam o mesmo espaço institucional.
Procurou-se conhecer também sobre o relacionamento das participantes com a comunidade acadêmica para compreender se isso seria mais um dos aspectos facilitadores. Deste, emergiu a temática 'convivência'. No que diz respeito aos relacionamentos com os colegas da Universidade, 02 (duas) participantes deixaram a questão em branco - sem resposta - e 20 responderam. Destas respostas, 40% revelaram que têm boa convivência, 30% excelente e 30% regular. Dados que demonstram um bom convívio diário destas acadêmicas com seus pares.
Em se tratando da relação com os professores, as 22 estudantes responderam as opções numa escala de excelente a péssimo. 4 relataram relacionamento excelente, 15 declararam ter bom relacionamento e 3 expressaram ter um relacionamento regular.
Por fim, para o relacionamento com os funcionários, das 22 respondentes, 2 (54,6%) demonstraram possuir uma boa relação, 5 (22,7%) disseram excelente e 5 (22,7%) expressaram regular.
Como se vê pelos dados, a temática da convivência mostra-se favorável ao contexto universitário dessas mães.
Conclusão
Com as análises apresentadas, foi possível atingir os objetivos traçados e responder às perguntas da pesquisa. O ISB/UFAM não possuía nenhum registro do quantitativo de alunas-mães. Neste levantamento feito, observou-se a incidência de 23 mães universitárias nos cursos de saúde ofertados pelo ISB/UFAM, sendo que 01 foi excluída do estudo por não entregar o questionário, resultando 22 no total, depois de uma busca ativa empreitada.
Quanto à questão quem são as mães universitárias dos cursos da área da saúde do ISB/UFAM, observou-se que elas são mães, mas também universitárias, que buscam concluir seus cursos em meio às muitas dificuldades e sobrecarga materna. A maternidade impõe nelas a obrigação de se tornarem responsáveis por inúmeras obrigações para além das que já tinham com a vida acadêmica. Ao caracterizar o perfil sociodemográfico das mães universitárias, percebeu-se que as informações sociodemográficas podem ajudar muito no processo de planejamento, tomadas de decisão de políticas públicas que favoreçam o público do estudo. O efetivo conhecimento dessa população e a interação entre as dificuldades e os aspectos facilitadores podem ser determinantes para o planejamento e ações no que diz respeito à entrada das mães nas universidades.
Dentre as dificuldades encontradas pelas mães estudantes para conciliarem a vida universitária com a maternidade, que são partes integrantes de outra pergunta desta pesquisa, destaca-se, majoritariamente, a temática da falta de tempo. Devido a maternidade, muitas se dedicam aos filhos e afazeres domésticos, diminuindo ainda mais o tempo de estudo. Somada a isso, ainda surge a subtemática da baixa renda familiar para suprir as necessidades básicas e de conforto. A maioria das mães sobrevivem com um salário-mínimo e contam com o companheiro ou familiares para cuidarem de seus filhos para continuarem seus estudos.
Observado isso, percebe-se a confirmação da hipótese de que a vivência da maternidade no contexto acadêmico traz, sim, uma série de dificuldades que podem afetar a permanência dessas mães estudantes na universidade.
A pesquisa ainda mostrou que muitas universitárias pensaram em trancar o curso por enfrentar as dificuldades apontadas. Algumas, inclusive, já foram obrigadas a tomar tal decisão.
Com relação à pergunta que aspectos facilitadores contribuem para a permanência destas mães estudantes na universidade, observou-se que os aspectos facilitadores estão relacionados aos auxílios acadêmicos e creche, embora a grande maioria não tenha tido a oportunidade de receber a remuneração do auxílio creche e um apoio psicológico ou psicopedagógico ou ainda um apoio de mulheres com a mesma vivência. Como aspecto facilitador, observou-se que há boa convivência dessas mães com colegas, professores e funcionários do ISB.
A Psicopedagogia institucional é um campo de estudo, que poderia contribuir com este grupo em estudo, já que seu principal foco se volta para ações ligadas à prevenção, cujo objetivo é o fortalecimento da identidade de um grupo e modificação da sua realidade, manifestando-se em três processos: prevenção, diagnóstico e intervenção. Neste sentido, o psicopedagogo poderia fazer atendimentos a essas mães assim conforme geralmente atendem grupos dentro de escolas, empresas, hospitais e até mesmo em ONGs, oportunizando as mães universitárias a desenvolverem a autoestima, o raciocínio, inteligência, imaginação, criatividade, entre outros aspectos para atravessarem com mais tranquilidade esta fase da maternidade na universidade.
A identificação dos sentimentos das mães universitárias respondeu a última questão da pesquisa. Observou-se que a maioria delas se sente sobrecarregada com as responsabilidades familiares e acadêmicas, sendo identificado um estado físico e emocional abalado, além da ausência de uma vida social.
Por fim, os resultados demonstraram que o exercício da conciliação da maternidade com a universidade é um dos maiores desafios enfrentados pelas acadêmicas aqui estudadas.
Com relação aos benefícios de realização desta pesquisa, espera-se que os resultados possam contribuir de forma significativa para futuras estratégias de ajuda, principalmente da saúde mental, que visem à melhoria da assistência prestada a essas mulheres e colaborar para que novos estudos sejam feitos, visando o entendimento e a compreensão da realidade vivenciada por cada mulher que se tornou mãe dentro da universidade.
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1 Graduanda de Enfermagem. kah.rf20@gmail.com
2 Docente universitária. Mestra e Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais. mariapfurtado@gmail.com