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Boletim - Academia Paulista de Psicologia
versão impressa ISSN 1415-711X
Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.40 no.98 São Paulo jan./jun. 2020
I. TEORIAS, PESQUISAS E ESTUDOS DE CASO
Experiências emocionais da gravidez na adolescência: entre expectativas e conflitos
Emotional experiences of teenage pregnancy: between expectations and conflicts
Experiencias emocionales del embarazo adolescente: entre expectativas y conflictos
Graziela Vasconcelos da SilvaI, Jorge Luiz Ferreira AbrãoII
IMestranda em Psicologia - UNESP - Assis (Universidade Júlio de Mesquita Filho), Avenida Siqueira Campos, 332 - Centro - CEP. 19700-000 - Paraguaçú Paulista, SP, e-mail: gravasconcelossilva@gmail.com, ORCID 0000-0002-5476-3922
IILivre Docente, Faculdade Ciências e Letras - UNESP Assis, Avenida Dom Antonio, 2100 Centro - CEP. 19814-000 Assis, SP, e-mail: abrao@assis.unesp.br, ORCID 0000-0002- 3069-2285
RESUMO
O presente artigo tem o objetivo de compreender a vivência, expectativas e angústias das adolescentes, em seu período gestacional. Participaram da pesquisa duas adolescentes, com 17 anos de idade, as quais se encontravam na sala de espera do setor de gestação de alto risco do Hospital Regional de Assis. Como instrumento da pesquisa foi utilizado uma entrevista semiestruturada e a aplicação do procedimento desenho-estória com tema. Os dados obtidos indicaram que: a gravidez na adolescência é uma experiência capaz de ocasionar consequências tanto positivas quanto negativas para as jovens; as participantes ainda não têm consciência das possíveis dificuldades que se apresentarão, após o nascimento da criança; o apoio familiar tem muita importância com relação à aceitação da nova condição de mãe e na estrutura oferecida para o acolhimento do filho. Os resultados evidenciam o despreparo das participantes em receber a notícia e lidar com a maternidade; suas expectativas de planos futuros permanecem as mesmas, exceto pela circunstância de terem que prolongar o tempo para realização dos acontecimentos. Em outro passo, a gravidez parece ser algo prazeroso, quando as participantes pensam na imagem do filho e na forma como se desenrolará sua relação com ele, trazendo o amor como algo que vencerá os empecilhos diante das mudanças vividas.
Palavras-chave: adolescência; gravidez; psicanálise; relação mãe-bebê.
ABSTRACT
This article aims to understand the adolescents' experiences, expectations and anxieties during their gestational period. Two adolescents, aged 17 years, participated in the research, who were in the waiting room of the high-risk pregnancy sector of the Regional Hospital of Assis. As a research instrument, a semi-structured interview and the application of the drawing-story procedure with theme were used. The data obtained indicated that: teenage pregnancy is an experience that can cause both positive and negative consequences for young women; the participants are not yet aware of the possible difficulties that will present after the child's birth; family support is very important in terms of accepting the new condition as a mother and in the structure offered to welcome the child. The results show the participants' lack of preparation to receive the news and deal with motherhood, their expectations of future plans remain the same, except for the circumstance of having to prolong the time for the events to take place. In another step, pregnancy seems to be something pleasant when the participants think about the image of the child and the way their relationship with him will unfold, bringing love as something that will overcome the obstacles in face of the changes experienced.
Keywords: adolescence; pregnancy; psychoanalysis; mother-baby relationship.
RESUMEN
Teniendo en cuenta que en nuestra sociedad actual hay una sobrevaloración de la cultura juvenil, un embarazo en esta etapa de descubrimientos puede tener un impacto considerable en la vida de los adolescentes. Este artículo tiene como objetivo comprender las experiencias, expectativas y ansiedades de tres adolescentes durante su período de gestación. Participaron en esta investigación,tres adolescentes, con edades comprendidas entre 16 y 17 años, que se encontraban en la sala de espera del área de embarazos de riesgo del Hospital Regional de Assis, sin embargo, al final de este artículo, se tomarán en consideración solamente dos gestantes. Como instrumento de investigación, se utilizó una entrevista semiestructurada, fue aplicado también el de dibujo-historia con el tema. La metodología utilizada se basó en la investigación cualitativa con un diseño de estudio de caso. Los datos obtenidos con la aplicación de las técnicas indicaron que el embarazo en la adolescencia es una experiencia que puede causar consecuencias tanto positivas como negativas para las adolescentes, aunque pareciera que las participantes todavía parecen ignorar las posibles dificultades que se presentarán después del nacimiento del bebe.El apoyo familiar juega un rol importante en términos de aceptar la nueva condición de madre y en la estructura ofrecida para la recepción del niño.
Palabras clave: adolescencia; embarazo; psicoanálisis; relación madre-bebé.
Introdução
Por ser a adolescência uma fase de transformações físicas e psíquicas, na vida do sujeito, ficar grávida nesse período é potencialmente um fator gerador de grandes mudanças e conflitos. O presente artigo tem o objetivo de entender como as adolescentes vivenciam a experiência da gravidez, as suas expectativas e angústias frente a esse acontecimento, seja no tocante ao contexto familiar em que vivem, seja nas suas relações sociais.Para tal, serão feitas algumas considerações teóricas sobre os temas adolescência e maternidade e, posteriormente, será abordada a delimitação da pesquisa, contendo a metodologia utilizada, para, finalmente, discutir-se, na conclusão, as repercussões que a gravidez na adolescência exerce sobre essas jovens mães. Partindo do objetivo enunciado acima, o presente artigo será baseado nos dados colhidos de duas participantes da pesquisa, as quais receberam nomes fictícios de Fauna e Primavera. Serão focalizados os pontos relevantes identificados a partir do relato apresentado por elas, na entrevista semiestruturada, e dos dados colhidos por intermédio do procedimento de desenho-estória com tema. O cotejo desse material forneceu indicações sobre a vivência da gravidez na adolescência. Por fim, será esboçada uma conclusão, fazendo-se considerações a propósito da relevância do estudo elaborado e dos resultados obtidos com a realização da presente pesquisa.
Considerações teóricas sobre adolescência e maternidade
Embora a adolescência seja uma fase do ciclo vital que historicamente já teve diversos significados e variações, de acordo com a sociedade a que o indivíduo pertence, atualmente, depara-se com um contexto no qual o meio social e a mídia representam o jovem como alguém potente, bonito, feliz e pronto para gozar o mundo que lhe pertence (Ávila, 2011). O psicanalista David Léo Levisky, em sua obra Adolescência: Reflexões Psicanalíticas (1998), faz diversas considerações importantes a respeito de como se desenvolve essa fase da vida. O referido autor considera que, desde as civilizações primitivas até as sociedades atuais, o significado social da adolescência concerne à aquisição da capacidade reprodutora, em especial, marcada pelo início da ejaculação e pela menarca, condições que também evidenciam a busca de um novo objeto de amor fora da família. Em outro passo, Levisky (1998) entende que a juventude passou a ser valorizada por volta do século XVII, em um contexto social no qual o jovem está inserido e define e organiza as regras, leis e costumes que norteiam o processo de definição de status infantil e adulto, inclusive com relação à maneira como ocorrerá essa transição.
Para Vieira (2017), a adolescência é um período de transição, quando se espera a passagem da dependência para a independência em relação à família de origem. Nesse enquadre, os marcos da vida ocorreriam de forma sequencial, ou seja, término dos estudos, entrada no mercado de trabalho, saída da casa dos pais, casamento e primeiro filho. Tal concepção linear de transição foi elaborada a partir da realidade dos países capitalistas centrais após a Segunda Guerra, período marcado pelo alto crescimento econômico (Vieira, 2017). De acordo com Ávila (2011), a propaganda e a imersão na sociedade de consumo são fatores que contribuíram para que a população passasse a supervalorizar a adolescência, especialmente com o intuito de que esses jovens se desenvolvessem como adultos responsáveis e aptos para uma ação transformadora sobre a realidade. Entretanto, o que se tem é um contexto social cercado por relações pautadas no imediatismo e nos diversos anseios familiares em oferecer condições para que as aspirações desses jovens sejam atendidas, o que pode ocasionar uma não tolerância à frustração (Ávila, 2011).
Assim, diante de tantas mudanças e cobranças sociais, é comum que o jovem prolongue cada vez mais o seu papel de adolescente no meio que o cerca. Ávila (2011) afirma ser a chamada "síndrome da adolescência sem fim" (p. 45), momento no qual, embora o indivíduo já tenha adquirido o corpo de um adulto e sua capacidade reprodutiva, ainda permanece em sua condição de adolescente por um período além do esperado, muitas vezes por insegurança e comodismo, mas nem sempre tal circunstância se concretiza por uma opção sua.
Nessa vertente, o adolescente se encontra em uma situação na qual, a despeito de as transformações corporais serem constantes, tais descobertas o colocam em uma posição com traços físicos de um adulto, porém, de certa forma, ainda impossibilitado de prover o próprio sustento sem o auxílio de outra pessoa com mais idade ou acomodado na condição de filho, evitando levar uma vida autônoma (Vieira, 2017). Considerando ser um período em que o ser humano passa por diversas mudanças hormonais e, geralmente quando inicia a sua vida sexual ativa com um parceiro, outra questão pertinente a respeito é como esse jovem pode se valer do prazer sexual, sem que tal ato tenha consequências indesejadas para sua vida (Levisky, 1998).
Com o desenvolver do desejo sexual, nasce a necessidade de começar uma vida sexual ativa; nessa oportunidade, alguns se rendem aos seus impulsos e outros os reprimem ou os manifestam, por meio de formas alternativas (Levisky, 1998).
David Léo Levisky (1998, p. 31) assim conclui:
Os impulsos para uma vida sexual ativa estão presentes, independentemente da cultura. As possibilidades de experimentação, que favorecem a identidade sexual, são restringidas pela expectativa da cultura e decorrem do conflito edípico, fruto da interdição do incesto. Os alicerces da cultura encontram-se na resolução do complexo de Édipo, por meio de processos de identificação, de sublimação, e da organização do superego, com suas funções organizadoras e repressoras.
Diante de todas as transformações físicas e psíquicas observadas nessa fase do desenvolvimento, pode-se entender que o adolescente é uma figura social que, embora um tanto passiva perante o meio que o cerca, não é mais aquela criança que recebe o total respaldo dos adultos, inclusive com relação às consequências de seus atos. Noutro passo com relação às considerações sobre a adolescência para as jovens do sexo feminino, é importante ressaltar as mudanças ocorridas no contexto social e a inserção da mulher como alguém que estuda, trabalha, escolhe seus parceiros e participa do mundo que a envolve. Assim, a imagem de fêmea submissa foi se dissolvendo e o prazer sexual foi relativamente permitido para elas. Com isso, a maternidade foi se tornando cada vez mais tardia, diminuindo o número de mulheres que tenham filhos voluntariamente com tão pouca idade ou até das que anseiam por gerar filhos (Travassos- Rodriguez & Féres-Carneiro, 2013). Nessa perspectiva, questão muito presente na sociedade contemporânea é o fato de adolescentes, muitas vezes despreparadas emocional e economicamente, ficarem grávidas de seus namorados ou de alguém com quem tenham apenas ficado. Ora, num meio social em que a adolescência é extremamente valorizada, com o advento da maternidade, essas jovens se veem pressionadas a deixar tal fase tão desejada e superestimada e do papel de adolescente que deseja o mundo, passando a buscar o mundo para a vida desse bebê que está por vir (Piccinini, Gomes, Nardi & Lopes, 2008). A propósito da maternidade, a psicanalista Eliana Marcello De Felice, em seu livro Vivências da maternidade e suas consequências para o desenvolvimento psicológico do filho (2006, p. 15), assevera:
Quando a mulher engravida, inicia-se um processo psicologicamente rico e complexo, que sofrerá uma evolução a partir da gravidez, passando pelo parto, puerpério e posteriormente por todo o desenvolvimento do filho. (...) Esse processo, carregado de intensas emoções durante todo o seu percurso, não termina e tampouco tem volta. Uma vez mãe, uma mulher provavelmente nunca é mais a mesma de antes; uma transformação se operou nela, alterando sua condição, sua visão de si mesma, sua vida emocional, seu lugar na família e no mundo.
Para Bergamaschi e Praça (2008), a gravidez na adolescência pode se sobrepor à crise da adolescência, pois exige, além de todo um mecanismo para reestruturar a sua identidade, ao abandonar o papel e os padrões infantis. A gravidez, ocorrendo nessa fase da vida, aciona uma nova busca para redefinição de papéis, com novos conflitos capazes de acarretar uma maior desestruturação da personalidade, articulada com mudanças orgânicas e psíquicas. O processo de constituição da maternidade inicia-se antes da concepção do bebê, ou seja, desde as primeiras relações e identificações da mulher, passando pela atividade lúdica, infantil, adolescência, o desejo de ter um filho e a gravidez propriamente dita. A gravidez é um momento de significantes reestruturações na vida da mulher e no papel que esta exerce, porque ela tem de passar da condição de só filha para também de mãe e reviver experiências anteriores (Piccinini, Gomes, Nardi &Lopes, 2008). Segundo Dadoorian (2003), não só no Brasil, mas no mundo todo, a incidência de gravidez na adolescência vem aumentando significativamente. Aqui, de acordo com os dados estatísticos apresentados pelo SUS, no ano de 2000, dos 2,5 milhões de partos realizados nos hospitais públicos do país, 689 mil eram de mães adolescentes com menos de 19 anos de idade, sendo que a maioria das adolescentes grávidas pertencia às classes populares (Dadoorian, 2003). No contexto brasileiro, embora a fecundidade das jovens entre 15 e 19 anos tenha declinado nos primeiros anos do século XXI, ainda se pode afirmar que há um rejuvenescimento da fecundidade, no país, visto que foram registrados 559.991 nascimentos de mães com menos de 19 anos, em 2013 (Vieira, 2017). De acordo com uma notícia publicada pela Organização das Nações Unidas (2018), a estimativa mundial é de que, para cada mil nascimentos, 46 deles sejam frutos de gestantes de 15 a 19 anos de idade. Relevante citar que o Brasil supera a estimativa mundial, elevando, em seu território, a taxa para 68,4 nascimentos, o que supera inclusive a taxa prevista na América Latina e no Caribe, os quais apresentam uma estimativa de 65,5 nascimentos. Assim, tendo em vista o elevado índice de jovens que engravidam, no Brasil, importante se faz a presente pesquisa, por sua relevância social, bem como a título de auxiliar na promoção de conhecimentos de estudos referentes ao tema, por meio de uma dinâmica dialética entre teoria e prática acerca da gravidez na adolescência. Com isso, as peculiaridades atinentes a cada fase do desenvolvimento físico e psicológico do indivíduo devem ser analisadas a partir da subjetividade de cada ser, contextualizada com o meio que o cerca. Para tanto, é imperiosa uma conscientização sobre as vantagens e desvantagens de vivenciar uma gravidez na adolescência; dessa maneira, a pesquisa não só atende a essa demanda, como também contribui para o esclarecimento das mulheres, em seu contexto materno.
Delimitação da pesquisa
Buscando alcançar o objetivo proposto, a pesquisa caracteriza-se por uma abordagem qualitativa, no formato estudo de caso. O estudo de caso qualitativo é marcado por pesquisadores que entram pessoalmente em contato com as atividades e operações do caso, refletindo e revisando as descrições e menções a respeito do contexto em foco. Nesse sentido, muitas observações críticas e dados de entrevistas são subjetivos, uma vez que a maioria dos estudos de caso é constituída por estudos empíricos da atividade humana (Denzin & Lincoln, 2005). Para Yin (2001), o estudo de caso é uma estratégia a ser usada, quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto social da vida real.
Participantes
Participaram da presente investigação três adolescentes, com idade entre 16 e 17 anos; no entanto, neste trabalho, serão realizadas considerações a respeito de duas das gestantes, ambas com 17 anos de idade, as quais foram localizadas na Unidade Materno-Infantil do Hospital Regional de Assis SP, no setor de gestação de auto risco, oportunidade em que a pesquisadora fez os devidos esclarecimentos sobre os procedimentos aplicados e as jovens e as suas representantes legais assinaram os termos que autorizavam a realização do trabalho.
Instrumentos
Foram empregados, para a coleta de dados, os seguintes instrumentos: a entrevista semiestruturada e o procedimento desenho-estória com tema.
Procedimentos
Os desenhos feitos pelas gestantes participantes foram disparadores para que elas se utilizassem da associação livre, a fim de contar a estória referente ao desenho que acabavam de produzir. Logo, por esse procedimento metodológico, foi possível compreender a maneira como essas adolescentes se percebem antes e durante a gravidez.
A entrevista seguiu um roteiro pré-definido, composto das seguintes questões:
1) Como é sua rotina de vida?
2) Em que momento descobriu que estava grávida?
3) Como sua família recebeu a notícia? E o pai da criança?
4) A notícia foi um impacto para você? Qual é o maior desafio e a maior dificuldade enfrentada por você?
5) Quais são suas expectativas em relação ao futuro?
6) Que tipo de mudança de vida a gravidez trouxe?
7) Como você imagina a relação com o seu bebê, quando ele nascer?
As respostas do questionário foram analisadas com base na teoria psicanalítica, de modo que as experiências de cada adolescente fossem vistas como singulares.1
O relato das experiências vividas durante a gravidez na adolescência é interessante de ser analisado, porque, além de esse ser um período de mudanças e descobertas que são vivenciadas de maneira muito subjetiva, o material pode auxiliar tanto no contexto social das adolescentes que vivenciam tais experiências como nas políticas preventivas referentes ao evento.
As vicissitudes da gravidez na adolescência e suas características a partir do olhar das gestantes
Fauna
Fauna, uma jovem muito meiga, com 17 anos de idade, contou que está grávida de 31 semanas do menino que teria o nome de Caléu, pois este seria o nome que seu marido teria, caso a mãe dele não tivesse optado por Israel.
A adolescente se mostrou bastante calma e colaborativa, ao participar das atividades propostas. Durante a entrevista, respondeu de imediato às perguntas sugeridas, sem parar muito para pensar, demonstrando a segurança que pode ser atribuída ao fato de ser casada e ter um suporte familiar.
Ao realizar a técnica desenho-estória com tema, no momento em que iniciou o primeiro desenho, Fauna disse que não desenharia apenas uma adolescente, mas também algumas amigas, pois, para a jovem, quando a adolescente não está grávida, ela pode sair e fazer o que quiser, oportunidade na qual as amigas estão sempre presentes, fato esse diverso do que ocorre quando a adolescente engravida, já que todas se afastam e ela só pode contar com o marido.
História
Antes da gravidez, a menina pode limpar a casa, fazer faculdade, usar qualquerroupa, sair para onde quiser e voltar na hora que quiser. Agora, na gestação, você tem que se preocupar com a roupa, fica mais com seu marido porque suas amigas não tevisitam, o marido que fica mais do seu lado. Agora, a gente fica sem as amigas, mas tem família, eu acho mais complicado para as meninas que engravidam e não têm marido.
Na história contada, Fauna destaca que, além dos conflitos referentes às modificações físicas vividas na adolescência, ela também precisa lidar com os hormônios gestacionais, o aumento de peso, preocupando-se com as roupas apropriadas para uma mulher grávida. Pensar o adolescente em plena tempestade hormonal, no seu nível de angústia em sentir-se mudar definitivamente, remete à introdução de um limite preciso, o corpo, ou seja, uma hipótese definidora que demonstra o fato de aquele ser não poder ser mais "fantasticamente" tudo. Em consequência, o pensamento não é sentido como algo que ocasiona liberdade para o desenvolvimento, todavia, como uma restrição (cf. Busato,1996). Entretanto, mesmo aparentando estar muito tranquila, principalmente pelo apoio familiar recebido, a adolescente demonstra a dificuldade que está sendo, para ela e para o marido, se estruturar diante da gravidez e da chegada do filho. Nesse contexto, a jovem tem que abandonar os estudos e as amigas que segundo ela, parecem não se importar com a adolescente, quando ela está grávida. O psicanalista Peter Blos, em sua obra Adolescência: Uma Interpretação Psicanalítica (1998), enfatiza que nessa etapa da vida, o adolescente se afasta definitivamente dos objetos de amor infantis, mas os desejos edípicos e seus conflitos voltam a surgir. O intuito desse rompimento interior com o passado abala e traz angústias para a vida emocional desse jovem; pela mesma razão, essa ruptura lhe possibilita horizontes desconhecidos, cria esperanças e medos.
Além das inseguranças e cerceamento de liberdade que Fauna já vivenciava, na sua vida de adolescente, o fato de ser casada e não viver mais com os pais lhe proporciona gozos e obrigações diversos de uma adolescente comum. Com a gravidez, há um aumento da insegurança relativa à perda de afetos vividos no seu ciclo de amizades e, embora tenha uma melhor estrutura para elaborar suas angústias, especialmente pelo fato de ter um marido, Fauna entende que deverá zelar pela vida do filho que está para chegar, mas ainda apresenta certa dificuldade em lidar com sua nova realidade.
Os desenhos feitos pela jovem foram simplórios e desprovidos de muitos detalhes, como mãos, pés ou vestuário, incluindo as duas amigas desenhadas embaixo e um pouco distantes da adolescente que não está grávida; embora tenham tamanhos menores, as colegas são bem parecidas com a Fauna antes da gravidez. No desenho da adolescente grávida, o que a diferencia da outra adolescente não grávida é apenas a barriga e Fauna também desenhou o marido ao seu lado, num tamanho um pouco menor.
Ao desenhar pessoas ao seu redor, tanto antes quanto depois de estar grávida, ou seja, as amigas e o marido, a participante evidencia um pouco a sua angústia em ficar só, colocando as amigas e a família como pontos fundamentais com relação ao seu bem- estar. Entretanto, no primeiro desenho (adolescente sem estar grávida) as amigas estão abaixo dela e num tamanho bem menor; já no segundo desenho (adolescente grávida) a imagem do marido, embora também seja menor, mas ainda maior do que a imagem das amigas aparece ao lado da gestante, o que demonstra a percepção que ela tem de que o marido estará presente e a apoiará nessa nova etapa de sua vida.
A despeito de ter o suporte do médico que a acompanha, da mãe e da sogra, Fauna traz a questão da insegurança e da responsabilidade, ao carregar o seu primeiro filho em um momento tão inesperado, contudo, mesmo assim, se mostra afetuosa e acredita que não conduzir os estudos da forma como seguiria, caso não tivesse engravidado, será algo necessário, pelo menos até o momento em que a criança já esteja mais grandinha.
A jovem reforça, em seu discurso, o fato de ter um marido e, por isso, ser mais fácil engravidar ainda tão jovem, o que traduz um pouco da cultura familiar na qual a adolescente está inserida, porque não ter um homem como companheiro, nesse momento, pode ser algo que agrave a situação, inclusive com relação à aprovação social.
Fauna mostra especificidades que não são muito comuns, no período da adolescência: pelo fato de já ser casada com tão pouca idade e não residir mais com os pais, ela não é uma adolescente típica, não está elaborando a saída da adolescência apenas pelo fato de estar grávida, porém, por todo o seu contexto de vida, que é algo mais parecido com a realidade adulta.
Assim, apesar de também estar passando por uma fase de transição, como qualquer outra adolescente, a situação de as amigas estarem mais distantes e de a jovem estar entrando em um momento mais adulto, para ela, é algo mais fácil de lidar, pois sua estrutura de vínculo amoroso e ambiente vivido já condizem mais com a realidade adulta.
Violeta
violeta, uma jovem muito risonha e tímida, com 17 anos de idade, contou que está com 22 semanas de gestação de um menino que teria o nome de David Lucca, o mesmo nome do filho do jogador de futebol Neymar.
Durante a entrevista, ofereceu respostas um tanto curtas e pouco elaboradas, todavia, na medida em que a pesquisadora solicitava detalhes sobre o que ela respondia, a jovem parecia estar à vontade e fornecia mais informações.
Os desenhos realizados pela adolescente retrataram exatamente o que ela havia exposto na entrevista, uma vez que, excluindo o fato de a segunda adolescente desenhada apresentar uma barriga, os dois desenhos das duas adolescentes são os mesmos, inclusive com relação à roupa usada e aos detalhes de cabelo, boca, nariz e dos olhos. Observa-se que a jovem desenhou apenas o contorno dos olhos, sem a parte interna, o que nos dá a impressão de que as adolescentes desenhadas não estejam enxergando, o que fica evidente pelo discurso da jovem, a qual aparenta não estar tendo uma noção clara a respeito das responsabilidades e dificuldades de ter um filho.
Estória
Na primeira figura, ela estava com 16 anos quando engravidou e não sabia, foi descobrir quandojá tinha completado 17 anos e estava com três meses de gestação e foi bem assustador quando descobriu, mas agora já está se acostumando com a ideia. Na outra figura, ela aparece grandona e agora já está melhor, todos já sabem e aceitaram, o que foi um alivio. Antigamente, ela podia sair de fim de semana e estudar, agora, daqui pra frente, a rotina será cuidar do filho e, se Deus quiser, terminar a escola e fazer a faculdade.
Na estória contada, Violeta demonstra a surpresa e a dificuldade em lidar com a gravidez e contar para a sua família, além da vontade, mas também da incerteza quanto ao término dos estudos, clamando inclusive a Deus para que tal feito se realize. Entretanto, ao contrário do que trouxe na estória, em seu discurso, a adolescente afirma estar tudo normal e que nada mudou desde a gestação, bem como parece viver a ilusão de que a única obrigação que terá, a partir de então, será cuidar da criança, algo como brincar de bonecas. A jovem parece não ter muita noção do suporte necessário para suprir as necessidades de um filho, inclusive com relação ao tempo extra de que ela vai precisar, para sanar as carências básicas do bebê. De acordo com Aberasture e Knobel (1992), as mudanças corporais, ao chegar à puberdade, e o advento da capacidade de gerar um filho impõem ao adolescente uma mudança de papel frente ao mundo exterior, exigência que é vivida como uma invasão a sua própria personalidade. Mesmo que não queira, o adolescente que muda, de repente as cobranças de ser adulto geralmente produzem como defesa, o desejo de manter-se nas suas atitudes infantis.
Ademais, com relação ao futuro que pretende ter com a criança e o namorado, Violeta também aparenta não apresentar uma concepção clara quanto aos obstáculos que encontrará para fazer faculdade, inclusive ingressar e realizar o curso de medicina. A jovem revela, em seu discurso, quase que um mundo de conto de fadas, no qual, como a parte conflituosa já foi resolvida, que para ela seria o fato de as pessoas saberem e aceitarem a notícia, agora é só viver com o príncipe e o filho, e o tão esperado "felizes para sempre".
Resultados
Os resultados encontrados viabilizaram que os pontos comuns e divergentes entre as adolescentes participantes sejam destacados e discutidos à luz da teoria utilizada neste trabalho. Além das considerações já expostas, os resultados obtidos foram analisados e serão discutidos a partir das categorias apresentadas abaixo.
A descoberta da gravidez e a repercussão da notícia para a adolescente, para o pai da criança e perante os familiares
A sociedade atual nos apresenta um contexto que demonstra as dificuldades culturais, sociais e econômicas em se ter um filho, algo perceptível por meio da diminuição da taxa de natalidade, nos últimos tempos pela presente pesquisa, podemos observar algumas dessas questões, tanto para as adolescentes participantes como quanto às pessoas de seu convívio, desde o recebimento da notícia da gravidez. Segundo Bergamaschi e Praça (2008), a condição de gerar um filho remete a uma intensa reestruturação pessoal e social, ocasionando a mudança de identidade que deve ser articulada às modificações orgânicas e psíquicas. A adolescente gestante, assim como toda mulher que vivencia a gestação, vive o processo e redesenha o seu percurso. Nesse contexto, tanto Fauna como Violeta afirmaram que o fato de engravidar foi algo inesperado e que, a princípio, gerou espanto e angústia. Ademais, as participantes só passaram a lidar com o fato quando perceberam que era algo concretizado: Fauna, quando descobriu que a menstruação estava atrasada, comprovou o ocorrido através do exame de laboratório; Violeta descobriu a gravidez após três meses de gestação. "Eu fiquei muito assustada, pois sou muito nova para engravidar agora, foi complicado, eu ainda estou estudando no segundo ano do Ensino Médio." (Fauna). "Quando eu descobri a gravidez, eu já estava com um pouco mais de três meses, fiquei muito assustada, mas agora todos já se acostumaram com a notícia." (Violeta). Com relação à aceitação por parte do pai da criança, encontramos dois contextos diferentes, pois Fauna é casada e Violeta namora o genitor do filho, há cerca de um ano e meio. No entanto, os dois parceiros se impactaram com a novidade e ficaram assustados em exercer a paternidade, no momento. O marido de Fauna só acreditou no ocorrido quando a barriga da jovem realmente começou a crescer, enquanto o namorado de Violeta também não queria ter um filho tão cedo, especialmente por ainda estar cursando o primeiro ano do Ensino Médio. No tocante à aceitação da família com relação à gravidez das participantes, de acordo com os relatos apresentados, parece que, embora tenha havido certo receio e surpresa, no começo, todas foram acolhidas e recebem apoio no seu dia a dia.
Os impactos positivos e negativos da gravidez na adolescência
A filósofa Elisabeth Badinter, em sua obra Um Amor Conquistado: O Mito do Amor Materno (1985), alude a um contexto social no qual a maternidade vai além dos nove meses de gestação, porque a mãe permanece a principal dispensadora de amor para o bebê; é a ela, ou a um substituto feminino, que está reservado o prazer ou o fardo de assumir esse primeiro corpo, o corpo vital para a criança. Para Badinter (1985), além da figura da mãe que arca com as necessidades básicas do bebê, também foi imposto à mulher o dever de assegurar a educação dos filhos e se dedicar a uma parte importante de sua formação intelectual, como sendo a figura mais indicada para assumir esses encargos. Ou seja, a maternidade não é uma condição natural da mãe, mas um encargo social forjado ao longo de séculos, de tal forma que a conotação atribuída à maternidade, na atualidade, carrega consigo todos esses elementos. O peso dessas representações sociais pode trazer para a adolescente uma maior sobrecarga afetiva. Dentre as participantes, Fauna pareceu estar mais segura diante dos encargos e desafios advindos de uma gravidez inesperada, especialmente devido ao fato de ser casada e contar com a ajuda de seu companheiro:
É bem complicado com barriga, às vezes, você quer lavar o banheiro, não tem como, por conta da barriga, mas mesmo assim acha bom, sinto mais dificuldades, pois tenho que ter mais segurança e cuidados, não é só a própria vida, agora tem o nenê também. Agora tenho como desafio deixar a vida de adolescente para viver uma vida de mãe. (Fauna).
Pinheiro (2001) entende que a adolescência remete, necessariamente, ao narcisismo, com uma personalidade voltada para a onipotência e avessa à melancolia, porque, embora seja o momento de ajuste e aceitação da castração, o narcisismo também é o recurso rebelde diante da castração. A construção de modelos é necessária, para que o adolescente possa construir a sua identidade, no intuito de redirecionar o seu ideal identificatório. Noutro passo, Fauna se mostrou mais preocupada com as mudanças do corpo e das roupas que a adolescente pode usar, quando não está e quando está grávida. Conforme Violeta, essas questões parecem ainda não ter se manifestado conscientemente como algo evidente, o que ficou demonstrado especialmente quando a participante desenhou as duas adolescentes, no mesmo contexto, com a mesma imagem e vestes, exceto pela barriga. A respeito das transformações corporais na adolescência, segundo Pinheiro (2001), o corpo que muda passa a ser o corpo com formas bem delineadas, mas é como se, nesse momento, esse corpo entrasse igualmente na roda do tempo: não é mais um corpo infantil que cresce, porém, um corpo que, assim como o do adulto, envelhece e o torna mortal. Apesar das duas adolescentes terem apresentado como impactos negativos a dificuldade em receber a notícia, interromper os estudos e não poder sair como antes, as participantes aceitaram a gravidez, de sorte que o amor pelo futuro filho, que está por vir parece ser o principal fator positivo.
As expectativas da adolescente com relação ao presente e futuro
Encarar o futuro com uma criança para cuidar poderia alterar as expectativas e sonhos das jovens participantes, no entanto, mesmo que a ideologia futura possa não condizer com a realidade, as duas adolescentes pensam no futuro da mesma forma como pensariam, caso não tivessem um filho, inclusive quanto ao fato de continuar os estudos e fazer faculdade, tendo como diferença apenas a circunstância de terem que prolongar o tempo para a realização dos acontecimentos. Contudo, de acordo com Miura et al. (2019), embora muitas adolescentes consigam ter uma visão diferenciada do problema, todas as jovens tendem a cultivar projetos para o futuro, especialmente onde os vazios emocionais e as faltas sentidas possam ser superados. Nesse sentido, as reflexões dessas adolescentes sobre futuras implicações da gravidez, a princípio, não parecem ter consequências sobre os seus sonhos e planos.
Com relação à vida amorosa, Fauna e Violeta pretendem cuidar do filho tendo como companheiro o pai da criança: Fauna, dando continuidade à sua união matrimonial, e Violeta, quando for possível financeiramente, pretende morar com o namorado.
As adolescentes participantes demonstraram o intuito de ter uma relação afetiva muito boa e próxima ao filho que está para nascer, o que, na perspectiva delas, será algo bem prazeroso para vivenciar.
Considerações finais
Com os dados obtidos e analisados, é possível afirmar que ter um filho, no período da adolescência, não seria prioridade na vida das adolescentes participantes. Engravidar, nessa etapa da vida, além de gerar medo e insegurança, tem ocasionado para elas uma pausa nas atividades normalmente desenvolvidas e proporcionado maior dependência com relação aos familiares. O impacto da notícia e o despreparo para ter um filho com tão pouca idade estão presentes em ambas as participantes. Ora, mesmo para a que aparenta viver um contexto um pouco mais adulto, pelo fato de estar casada e não morar com os pais, a repercussão da notícia, num primeiro momento, veio como algo negativo e inesperado. No entanto, tanto pelo discurso, mas especialmente pela técnica do desenho-estória com tema, ficou evidente que a adolescente casada está mais preparada e enxerga um pouco mais a realidade vivida do que a outra adolescente, pois, ao desenhar as duas adolescentes solicitadas, uma antes da gravidez e outra depois, a adolescente casada desenhou os olhos das figuras com contorno e os preencheu internamente. Todavia, a outra adolescente, a qual ainda não se casou e não possui a estrutura de uma vida adulta, desenhou apenas o contorno dos olhos das adolescentes, sem preencher a região interna, algo um tanto simbólico, diante da sua falta de visão perante a sua nova realidade.
Com relação ao genitor do bebê, embora a notícia tenha causado espanto e até desconfiança, nenhum deles se negou a apoiar ou contribuir na criação do filho, o que também proporcionou às gestantes uma sensação de conforto. Os planos para o futuro das jovens parecem não ter mudado muito do que era pretendido por elas, caso não tivessem engravidado, a não ser pelo fato de momentaneamente interromperem os estudos, o que evidencia um pouco a falta de entendimento a respeito do tempo de dedicação e gastos necessários para cuidar de um filho. Em outro passo, a despeito das dificuldades referentes à aceitação e à adaptação, a gravidez parece ser algo prazeroso, quando as participantes pensam na imagem do filho e na forma como se desenrolará sua relação com ele, trazendo o amor como algo que vencerá os empecilhos diante das mudanças vividas. Durante a coleta de dados, foi possível perceber certa dificuldade, por parte das gestantes, em entrar em contato com sentimentos angustiantes. Foram feitos desenhos pobres e estórias mal elaboradas e com pouco conteúdo, evitando-se que as associações pudessem se desenvolver. Assim, verifica-se a dificuldade em lidar, dentre outras questões particulares que envolvem a maternagem, com aspectos angustiantes de ter um filho em um momento inoportuno e sem estrutura psíquica para tanto. Pelo exposto, entende-se que a forma como cada adolescente vai lidar com a chegada do filho e com as mudanças ocasionadas por isso dependerá da estrutura familiar que lhe for oferecida e de como a jovem conseguirá elaborar seus lutos e encarar sua nova realidade. É recomendável que estudos futuros possam complementar este aqui apresentado, de modo a acompanhar as adolescentes já no contexto pós-parto, para que, assim, as discussões a respeito dos impactos e repercussões da gravidez na adolescência possam ser mais abrangentes e não se limitem ao período gestacional, agregando maior valor a esse campo de estudo.
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Recebido: 30.08.2019
Corrigido: 16.03.2020
Aprovado: 02.04.2020
1 Para assegurar o anonimato das participantes, seus nomes foram substituídos por Fauna e Violeta. Vale ressaltar que foram obedecidos todos os procedimentos éticos solicitados para a pesquisa com seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Assis/SP, através da Plataforma Brasil, com aprovação (CAAE) nº 90330518.5.0000.5401.