Editorial

É com muita alegria e reconhecimento a todos que têm acompanhado e alavancado sua trajetória, que o BOLETIM ACADEMIA PAULISTA DE PSICOLOGIA, lança agora seu 100º. número, completando seus 41 anos de publicação semestral ininterrupta. Nesta sua rota, tem buscado manter-se fiel aos princípios éticos da Psicologia, em suas diversas linhas e abordagens, procurando sempre divulgar estudos teóricos, pesquisas e relatos de experiência de reconhecido valor científico, que venham, não só a expor resultados atuais e promissores, mas que propiciem gerar novas e promissoras indagações práticas e questionamentos teóricos, os quais, por sua vez, gerem estudos e pesquisas nos mais diversos setores. Nesse caminhar, vem obtendo progressivo e sólido apoio de pesquisadores de Psicologia das diversas regiões do Brasil, filiados a universidades públicas e particulares, que têm enviado ao Boletim, para serem submetidos à publicação, seus resultados de estudos e pesquisas, alicerçados em suas considerações teóricas e seguidos de sólidas discussões teórico-práticas e proposições de novos estudos e pesquisas a serem desenvolvidos. Nesse sentido, o Boletim tem ampliado seu quadro de pareceristas, selecionados com o maior rigor, afim de que atendam à crescente demanda de publicações, na constante busca de manter seu bom nível e atender a sua diversidade e atualização temática, inclusive, à relativa à crise de saúde vivenciada atualmente por todos nós. Também é com muita satisfação, louvor e gratidão por todo seu trabalho realizado na história da Academia Paulista de Psicologia e do Boletim, que este número publica uma matéria especial sobre a vida e obra da profa. Aidyl Macedo de Queiroz Pérez-Ramos, nossa coeditora, inserida em Memória, que acompanha a trajetória do Boletim desde seu nascimento, com a maior dedicação e cuidado quanto ao alto nível de suas publicações, a quem, aqui, seus coeditores, que assinam esse Editorial, expressam aqui seu mais sincero agradecimento e louvor pelo trabalho realizado e votos de continuidade do mesmo. A relação dos artigos publicados nesse número, que prioriza a Psicologia da Saúde, reflete a grande angústia que nos assola, a nós e ao mundo todo, devido à pandemia da Covid, já em seu 2º. ano de existência, com gravíssimas consequências físicas, psicológicas e sociais, associadas ainda ao alto número de mortes diárias. Neste número do Boletim, os textos provêm de diversos Estados do Brasil, assim como de universidades públicas e particulares, o que comprova a extensão da aceitação, penetração e reconhecimento que o Boletim tem tido pelo Brasil. Traz ainda dois artigos com participação de autores internacionais. Inicia-se com matéria atual, profunda, bem redigida e conduzida sobre estudos de caso do processo diagnóstico e psicoterápico na depressão e ansiedade em análise fenômeno-estrutural, artigo proveniente de autores do Instituto de Psicologia da USP. O estudo avaliou que o processo conduzido permitiu aos participantes encontrarem potencial para conseguir lidar com os mecanismos de cisão que causavam seu sofrimento. A seguir, segue artigo enviado pelo Instituto Federal de Brasília, em conjunto com autor da Associación de Acompañantes Terapeuticos de la Republica Argentina e Universidade Nacional de Cordoba, sobre o Acompanhamento Terapêutico grupal, o qual analisa como essa modalidade de atendimento, AT, vem sendo conduzida de forma diversa na Argentina e no Brasil e sugere um intercâmbio de experiências e reflexões entre os dois países. A seguir, estudo teórico em inglês, acompanha a relevância da memória na construção saudável da história de vida e enfoca o papel fundamental da representação simbólica via lúdico na ressignificação das lembranças de vivências da criança. Considerando o caráter prejudicial do stress excessivo, artigo a seguir expõe dados de uma revisão integrativa sobre o Treino de Controle do Stress de Lipp, realizado na Universidade Estatual de Campinas com a colaboração da autora desse treinamento e pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas, o qual conclui que o mesmo foi adaptado a diversas populações e se mostra eficaz na redução do stress. Ainda sobre níveis de stress, mas junto a dependentes químicos, pesquisa enviada de Uberlândia, MG, a qual também se utilizou do Inventário de Sintomas de Stress para adultos de Lipp, aponta para a prevalência de fatores internos de insegurança emocional nos sintomas e para a importância de estratégias de enfrentamento ao mesmo. A seguir, artigo enviado pela USP, por autor, mestre em Psicologia das Emoções pelo Instituto Universitário de Lisboa, aborda o mecanismo psicológico regulatório da promoção de saúde e prevenção de doenças e chama a atenção, inclusive de órgãos públicos, para programas de intervenção nesse sentido, na busca de alterar comportamentos inadequados. Em artigo muito atual e relevante à nossa realidade, proveniente de centros universitários de Santa Catarina, tem-se um relato de experiência de estágio em Psicologia Hospitalar realizado em unidade cirúrgica de hospital público no sul do país, com foco na humanização da atenção integral, em hospital integrado ao Sistema Único de Saúde. As intervenções incluíram escuta da equipe técnica, visita aos leitos e elaboração de protocolo padrão dos dados obtidos, o que significou investir na prática profissional ancorada em teoria dos alunos de Psicologia. Também proveniente do sul do Brasil, mas de S. Leopoldo, Rio Grande do Sul, temos artigo sobre percepções de mães alexitímicas sobre a maternidade e seus bebês com sintoma somático funcional. Durante a pesquisa, foi possível às mães identificar possíveis fa tores que contribuíram para seu funcionamento e sua maternidade, mas, por outro lado, apesar de identificarem esse comportamento em seus filhos, o vêm como próprio dos bebês e não como possível fruto de sua relação com eles. Encerrando a relação de artigos desse número do Boletim, artigo proveniente do Estado do Rio de Janeiro, da Universidade Federal Fluminense, em colaboração com o IPUSP, apresenta proposta Psicodiagnóstica Compreensiva e Interventiva sobre Adolescência e Autolesão. Ressalta que a OMS categoriza tal comportamento como um problema de saúde pública. Os dados revelaram que tal comportamento tem a dupla função de impedir o aniquilamento total do Eu, assim como, de alertar para possíveis falhas nos cuidados ambientais. O psicodiagnóstico desenvolvido traz contribuições de grande valia a propostas preventivas e terapêuticas junto aos adolescentes. A relação de artigos apresentada neste Boletim completa-se com dois artigos referentes ao problema da obesidade, que ainda persiste atualmente em vários países, o que leva à busca de compreensão de sua causa e dinâmica. Estudo proveniente da Universidade São Judas, São Paulo, procurou compreender melhor a percepção da própria imagem corporal em homens e mulheres após se submeterem à cirurgia bariátrica. Os resultados apontaram satisfação associada ainda à prevalência remanescente de afetos negativos relacionados à figura obesa. Concluindo a relação de artigos deste Boletim, ainda sobre o tema, segue artigo que expõe uma revisão sistemática sobre as representações sociais do sobrepeso e da obesidade, enviado pela Universidade Tuiuti, de Curitiba, Paraná. A pesquisa constatou que o excesso corporal é visto de diferentes maneiras, mas que sempre prevalece sua visão negativa, como algo a ser prevenido e combatido, ou ainda, a ser mais discutido a fim de ser evitado e/ ou estigmatizado. Assim, o número 100 do Boletim é um convite à reflexão sobre fatores psicológicos que afetam a saúde não só mental, mas também física do ser humano. Neste sentido, o Boletim cumpre sua missão de discutir e atualizar o leitor sobre assuntos pertinentes a esfera humana neste momento de crise mundial da COVID 19. Cem números sem interrupção! Trabalho oriundo da vontade, determinação e idealismo dos que integram a Academia Paulista de Psicologia. É uma grande honra darmos continuidade ao trabalho que editores prévios desempenharam para que o Boletim tivesse este percurso de assiduidade e relevância.

Vera Barros de Oliveira
Marilda Lipp
Coeditoras