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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.43 no.104 São Paulo jan./jun. 2023  Epub 22-Nov-2024

https://doi.org/10.5935/2176-3038.20230013 

Resenha

Resenha

Hilda Rosa Capelão Avoglia54 

54Professora Doutora pelo IPUSP. Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Desenvolvimento e Políticas Públicas – Universidade Católica de Santos e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde – Universidade Metodista de São Paulo. Rua José Benedetti, 237. São Caetano do Sul – SP. CEP 09531-000. E-mail: hildaavoglia@terra.com.br

Criatividade:, nuances teóricas na perspectiva da Filosofia e da Psicologia. Sakamoto, C. K.; Trindade, M. A.. São Paulo: Gênio Criador, 2022.


Nesta obra, Criatividade – nuances teóricas na perspectiva da Filosofia e da Psicologia, duas dimensões temáticas – Filosofia e Psicologia – se articulam nos brindando com aproximações necessárias à compreensão teórica e, consequentemente ao exercício da (con)vivência humana. A organização da obra é sistematizada em duas partes, contando com cinco capítulos cada uma; sendo, Parte I destinada às “Nuances Teóricas da Criatividade na Filosofia”; e, Parte II, “Nuances Teóricas da Criatividade na Psicologia”, oferecendo contornos tênues que se entrecruzam em um diálogo essencial. Ao longo da obra, é possível nos deparamos com o bem-sucedido esforço de manter o interesse no diálogo que contorna as duas áreas, permeado pela criatividade, atribuindo profundidade e sentido singular que acompanha seus capítulos. A criatividade se constitui no fio condutor que veicula cada um dos assuntos abordados no livro, desdobrando-se desde pensamentos teóricos, como de Hannah Arendt, Rubem Alves, Tomás de Aquino, Diego Gracia, Juan Maisá, Mihaly Csikszentmihalyi, Paulo Freire; até fenômenos da prática cotidiana como educação de jovens adultos, robótica, tecnologia, política, ética, arte e o mundo contemporâneo. Assim sendo, são apresentados 10 capítulos que traduzem a complexidade da concepção proposta. O avanço tecnológico que povoa o século XXI é exposto ao olhar crítico e referenciado dos autores do primeiro capítulo, trazendo a baila os princípios que sustentam o modo ser no mundo tecnológico. A indicação que norteia o texto nos impacta, questionando o papel da tecnologia que, por um lado, serve a humanidade e, por outro, a mantém submissa. O consumo e o risco de banalização são variáveis que atravessam os valores éticos e o desenvolvimento de políticas públicas fomentando o fecundo debate proposto pelos respectivos autores. O capítulo segundo inspira-se em Rubem Alves e Tomás de Aquino e reserva-se à aplicação dos conceitos de imaginação, brincadeira e lúdico, no âmbito da religião e da brincadeira. A Filosofia e a Teologia são observadas a partir de uma nova visão, diferentemente do pensamento construído na Idade Média, neste caso, partindo da tese do Logos Ludens, de Jean Lauand, considerando o lúdico como fator próprio da criatividade e vital para o desenvolvimento humano. De maneira sensível, o capítulo três aborda a simpatia, a criatividade, indiscernibilidade e intensidade, enquanto recursos para o fortalecimento da subjetividade e enfrentamento de contextos marcados pela afetação e aceleração tecnocientífica e tecnoestética que controlam e capturam a biopolítica da vida. O caso do aplicativo Replika ilustra o referido capítulo agregando valor e demonstrando o impacto da tecnologia no cotidiano dos dias atuais. O argumento ético e educativo de Paulo Freire diante da concepção de consciência crítica ilumina situações que envolvem polarizações e fanatismos ideológicos tão frequentes e cotidianos na atual realidade brasileira, são discutidos no capítulo quatro, buscando superar a imposição de manipulações e condicionamentos que atingem o ser humano. O fortalecimento da esperança e a capacidade de reflexão são apontados como princípios que regem seu pensamento educativo emancipatório. O capítulo cinco descreve a conexão entre Filosofia e Criatividade, enfatiza os parâmetros da ética como forma de diálogo em um mundo entendido como plural, situado na convivência em tempos de pandemia. Destaca que esse se constitui em um desafio, diante do qual o autor discute a evolução das atitudes éticas nas instituições e nas pessoas, conforme os pensamentos de Gracia e Masiá, ao discutirem injustiças e imposições para responsabilidades e possibilidades presentes na vida. A parte II da obra contempla as nuances teóricas da criatividade na Psicologia e, assim, é inaugurada pelo capítulo seis, voltado para a criatividade, sociedade e futuro na contemporaneidade. A sociedade globalizada e o uso das redes sociais impõem o desafio de se posicionar a tecnologia a serviço do ser humano, almejando sua qualidade de vida. Nesse sentido, a criatividade é vivida como uma experiência humana capaz de colaborar no modo de assumir decisões melhores, de preservar tanto a natureza quanto as relações humanas, mesmo em uma sociedade tecnologicamente avançada. Os conceitos da Psicologia da Gestalt são associados à ideia da “boa forma” com a criatividade, considerados, pela autora, neste capítulo sete, como um ato de valentia, ressaltando-a como algo característico do humano, ou seja, o resultado criativo e o processo potencializador de valores, referindo-se à prática clínica e à atenção psicológica. Já o capítulo oito ocupa-se das contribuições da psicanálise e da fenomenologia ao estudo da criatividade, tendo a arte como elemento recorte para a discussão. Os processos artísticos são apresentados como contribuições para a compreensão que o indivíduo tem acerca de si mesmo, expressando e ressignificando sua história, promovendo autoconhecimento e saúde. Nos processos educativos, a criatividade desperta grande interesse, no entanto, disciplinas como Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática parecem descuidar do potencial criativo dos estudantes no que tange a perspectiva pedagógica. Este capítulo nove, apresenta uma pesquisa que investiga a introdução da robótica privilegiando processos de exploração e experimentação - denominado tinkering, como estratégia pedagógica orientando os currículos e favorecendo a criatividade de estudantes de ensino fundamental. A educação de jovens adultos e o ato de criar é o tema tratado no capítulo dez. Sob o viés da reflexão teórica, o texto tem como foco o entrelaçamento da criatividade no ensino da arte no processo educativo de jovens adultos, oferecendo sentido no conteúdo aprendido e nas vivências, por meio do uso de imagens representativas de sua história de vida, pessoal e profissional, possibilitando a escolha de novos caminhos. Ao leitor, cabe alertar que o contato com a obra o convoca ao alargamento de horizontes existenciais, permitindo adentar ao universo de reflexões, advindas de pensadores e de práticas profissionais assentadas nos estudos filosóficos e psicológicos que emergem de inquietações fundamentais que desencadeiam a consciência acerca do desconforto e mal-estar social gerados pelo modo como pactuamos nossas relações na atualidade. A obra é recomendada como oportunidade de gerar uma saudável discussão sobre algumas temáticas atuais emergentes.

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