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Revista Mal Estar e Subjetividade

versão impressa ISSN 1518-6148versão On-line ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. v.3 n.2 Fortaleza set. 2003

 

EDITORIAL

 

Ecos de uma época

 

 

AIDS, espiritualidade, relação médico-paciente, feminino, pósmodernidade, enfermidade e trabalho. São estes os temas deste número de Mal-estar e Subjetividade e que agrupamos em torno da sigla ecos de uma época.

Ecos tomados pela vertente do sintoma que a ninfa desdenhada por Narciso carregava consigo a partir do momento que lhe foi tirada a capacidade de iniciar qualquer tipo de conversação, sem que seu interlocutor a interpelasse.

Com isso, sublinhamos, neste número, vários sintomas que exigem uma subjetividade digna de um interlocutor que possa iniciar uma conversação com uma ninfa transformada em pequenos traços que, somados, dão o ritmo do sofrimento da nossa época.

Ecos da AIDS, tomada como a enfermidade do século XX, que aparecem aqui sob a sigla de discursos e práticas e que apresentam as inquietudes e as experiências de vida de pacientes, familiares e profissionais em um estudo da etnografia no contexto institucional. Ecos da espiritualidade vivida mais intensa na medida em que o sujeito avança no tempo, como forma de atenuação do mal-estar da época.

Ecos do consumo e do desencontro da humanidade com o progresso tecnológico.

Ecos de um sintoma curioso, deflagrados entre a figura do médico e a do paciente, em que o poder tenta suplantar a dor, mas o desejo de cura e o propósito ético da profissão refazem as estratégias para a melhor configuração das variáveis que geram mal-estar no trato às doenças.

Ecos que clamam por um interlocutor que os faça articular subjetividade e saúde coletiva, além de atravessá-las pelas relações de trabalho.

Ecos da histeria feminina no espaço das instituições psiquiátricas que desencadeiam um discurso questionador e revolucionário, na medida em que lançam mão do corpo erógeno e diminuem a importância do tratamento sobre o corpo biológico.

Ecos do feminino que passaram por uma transformação conceitual a partir das relações promulgadas pelo tempo e pela história, marcando a diferença e a forma de representação. Ecos da relação depressão e o lugar feminino situado no estado pós-parto.

Para finalizar, consta, neste número, um outro eco importante para nossa época, quando se traz à tona uma resenha sobre a hospitalidade. Um sintoma que explode em todos os lugares, indagando principalmente que é entre esse outro radical e esse convidado que é hospedado em nome da família, onde, muitas vezes, são realizados sacrifícios em nome da lei da hospitalidade.

 

Henrique Figueiredo Carneiro

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