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Revista Mal Estar e Subjetividade

versão impressa ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.10 no.1 Fortaleza mar. 2010

 

EDITORIAL

 

Territórios do mal-estar

 

 

Atualmente os espaços públicos, institucionais e políticos, por nomear alguns dos mais críticos, suscitam uma reflexão sobre a relação do sujeito com o meio e com o próximo. Em destaque, os efeitos do mal-estar notadamente apresentados na qualidade deteriorada detectada nos laços sociais.

No curso deste argumento, a discussão sobre a dominação, as disputas por normas balizadoras, o redimensionamento dos espaços de lazer, o campo de atendimento e atenção psicossocial, colocam em cena as origens e efeitos do mal-estar.

Desta forma, o público, o privado e o íntimo renovam as esferas essenciais para se pensar a ética, os laços sociais e a posição do sujeito diante dos discursos constituídos no seio da sociedade.

Do lado do público, este número apresenta uma discussão sobre dispositivos institucionais com espaços terapêuticos, pensados para destacar o conceito de clínica ampliada, experimentada com sujeitos de idade avançada. Enfatiza as formas de atuação do saber médico psiquiátrico em função da verdade que regula a relação entre o normal e o patológico. Revisita a questão do mal-estar na civilização a partir de textos clássicos de Sigmund Freud e Herbert Marcuse. Avança com a perspectiva estética associada ao entendimento dos processos de subjetivação, utilizando o dialogismo de Bakhtin.

No contraponto do privado, a adolescência frente ao declínio da função paterna enseja impasses que reclamam novas concepções sobre o tratamento clínico psicanalítico. Analisa os incidentes e a legitimação da violência juvenil nos espaços de lazer e na rua. Aborda o tema da transferência na clínica da psicose, tomando como base a ideia de que a transferência está associada ao desejo do analista.

Repensando as inquietudes que atravessa o público e o privado, em função das normas balizadoras, é pertinente uma reflexão crítica sobre as diversas facetas desse paradoxo expresso na atual modalidade de "bem-estar" / "mal-estar", com ênfase em seus "excessos". Acentua ainda o recurso à religiosidade e sua preocupação com as representações do corpo, plasmado na figura corporal nos objetos doados pelos fiéis, como agradecimento de curas de patologias ou por acidentes físicos. Rediscute o cerne do espírito trágico e sua veiculação à verdade do desejo que se revela na tragédia em seu caráter puro. E, finalmente, analisa o processo de construção das narrativas identitárias étnicas, de forma mais específica a dos afrodescendentes, no espaço educacional da região Sul do Brasil.

Enfim, o público e o privado reclamam a presença de uma baliza e ela há de ser encontrada em cada passo, em cada ação realizada pelo sujeito, pelo fato de ser sempre guiado pelo desejo, que deflagra a presença inequívoca do mal-estar.

 

Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e organizador

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