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Revista Psicologia Política
versão impressa ISSN 1519-549Xversão On-line ISSN 2175-1390
Rev. psicol. polít. vol.18 no.43 São Paulo set./dez. 2018
EDITORIAL
Revista Psicologia Política: a psicologia política frente a conservadorismos, autoritarismos e ameaças à democracia
Revista Psicologia Política: political psychology in the face of conservatism, authoritarianism and threats to democracy
Revista Psicologia Política: la psicología política frente a conservadurismos, autoritarismos y amenazas a la democracia
Revista Psicologia Política: la psychologie politique face au conservatisme, à l'autoritarisme et aux menaces contre la démocratie
Frederico Viana Machado; Aline Reis Calvo Hernandez
Editores. UFRGS; Brasil
Chegamos ao número 43 da Revista Psicologia Política, último de 2018, com uma contribuição seminal para o estudo de fenômenos relacionados à essa renovada e fortalecida onda conservadora, que vêm trazendo graves consequências à democracia no Brasil e no mundo. Preconceitos, a reificação de hierarquias sociais, que sempre foram estruturantes da sociabilidade ocidental, hoje ganham força com as discussões sobre "Ideologia de Gênero" e o "Escola sem Partido". As contribuições aqui reunidas reforçam a tarefa assumida pela Revista Psicologia Política em debater o contexto político brasileiro, de forma posicionada e comprometida com o aprofundamento da experiência democrática. Uma vez que esta onda conservadora encontra ressonância em contextos políticos diversos, espalhados pelo mundo, os artigos estrangeiros publicados neste número nos ajudam a traçar paralelos e situar o debate no âmbito internacional.
Os acontecimentos políticos que culminaram com os resultados desta última eleição presidencial no Brasil deixaram muitos de nós perplexos, não apenas pelas arbitrariedades do processo político, mas também pelas novas dinâmicas sociais influenciadas pelos usos das redes sociais e pela irracionalidade de certos comportamentos políticos. As declaradas guerras culturais (e ideológicas) alimentadas por "fake news" celebram nossa entrada na era da pós-verdade, da celebração do fanatismo religioso e, até mesmo, da negação rasa de afirmações científicas básicas como o aquecimento global e o formato do planeta terra. Estes processos e comportamentos políticos, que se intensificaram nos últimos anos, precisam ser debatidos, interpretados e compreendidos. Desde esse prisma, a contribuição da Psicologia Política será fundamental, pois a questão do poder e suas configurações, as conflitualidades em torno da constituição da comunidade política, a construção de hegemonias e de enfrentamentos democráticos são interesses centrais a este campo de conhecimento.
Com este número consolidamos a proposta editorial de buscar parcerias editoriais e o fomento de produções em temas estratégicos e atuais. Compreendemos que, ao contrário de um repositório de artigos, a relevância deste periódico está em sua capacidade de "criar" uma comunidade, composta por leitores, autores e pareceristas, que faça dele um veículo para a circulação de ideias, tensionamentos e aprofundamento em debates, a fim de problematizar ritos e cânones institucionais.
Quando Rogério Diniz Junqueira nos encaminhou o artigo intitulado: A invenção da "ideologia de gênero": a emergência de um cenário político-discursivo e a elaboração de uma retórica reacionária antigênero, tivemos a clareza de que se tratava de uma discussão que demandava ampla visibilidade, diversidade de áreas e disciplinas, e precisão conceitual. Naquele momento começamos a amadurecer a ideia de um número temático que congregasse diferentes contribuições à área, e que, de certa forma, reunisse trabalhos que debatessem com o artigo de Junqueira, que abre este número.
Traçar este debate não seria uma tarefa simples, pois a atualidade e consistência das discussões apresentadas é ainda mais determinante para a relevância do material publicado. Temos consciência que qualquer publicação sobre estes temas entra automaticamente na arena de disputas entre as narrativas sobre "a" política. Por este motivo, para editorar este número, convidamos duas referências importantes para os estudos sobre gênero, sexualidade, direitos humanos e movimentos sociais no Brasil. A equipe editorial da RPP se sente honrada com a excelência do trabalho realizado. Sonia Corrêa e Marco Aurélio Máximo Prado aceitaram nosso convite para a condução do processo editorial, com a avaliação por pares, mas também para as revisões que foram aprofundando o debate e o entrelaçamento entre os artigos.
Sonia Corrêa é arquiteta de formação com Pós-graduação em Antropologia, Etnologia e Ciências das Religiões pela Universidade Paris VII. Foi uma das fundadoras do SOS CORPO - Instituto Feminista para a Democracia, trabalhou no IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas e trabalhou como professora convidada do departamento de Estudos de Gênero da London School of Economics. Tem diversas publicações sobre gênero, sexualidade e direitos humanos, dentre as quais podemos destacar: Population and Reproductive Rights: Southern Feminist Perspectives (1994), Sexualidade e Política na América Latina (com Richard Parker, 2004), Development with a Body (coautoria com Andrea Cornwall e Susan Jolly, 2008), Sexuality, Health and Human Rights (co-autoria com Richard Parker e Rosalind Petchesky, 2008) Sexualidade e Política na América Latina: Histórias, Interseções e paradoxos (com Richard Parker, 2011), Sexuality and Politics: Regional Dialogues from the Global South (com Rafael de la Dehesa e Richard Parker, 2013), Fumbling around the elephant: Emerging powers, sexuality and human rights (coautoria com Akshay Khana, 2015) e a série SexPolitics: Trends & tensions in the 21st Century (coeditada com Richard Parker, 2017-2018). Também faz parte do comitê editorial da Global Queer Politics da Editora Palgrave. Desde 2002, com Richard Parker, cocoordena Sexuality Policy Watch (SPW) ou Observatório de Sexualidade e Política, um fórum global composto por pesquisadores e ativistas que desenvolvem análises de tendências transnacionais em política sexual, projeto sediado na Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Em 2006, participou do grupo que elaborou os Princípios de Yogyakarta para a Aplicação das Normas Internacionais de Direitos Humanos em relação à Orientação Sexual e Identidade de Gênero.
Marco Aurélio Máximo Prado é Doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordena o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH/UFMG), que abriga diversos projetos de pesquisa e extensão sobre gênero e sexualidade. Com diversas publicações e orientações de mestrado e doutorado sobre o tema, realizou pesquisas sobre participação política e direitos LGBTI, transgêneros e saúde pública, e a construção da criminalização das identidades trans pelo discurso jurídico. Já fez diversos estágios internacionais de pesquisa, como recentemente, em 2015 na Universidade de Massachusetts com bolsa da Fundação Fulbright na Cátedra de Estudos Brasileiros. Foi um dos Editores da Revista Psicologia Política (2001-2007) e foi também Presidente da Associação Brasileira de Psicologia Política (2009-2011). Já atuou como membro da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (2014-2015). Participou como membro das Comissões de Área da Psicologia e da Área Interdisciplinar da CAPES. É o atual secretário na Diretoria da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), biênio 2018-2020.
Faltariam palavras para agradecer a qualificada participação destes dois editores convidados que abrilhantaram a trajetória da RPP com a qualidade do material publicado. O resultado deste trabalho constitui uma contribuição que consideramos importantíssima para o debate, não apenas aos estudos e pesquisas acadêmicas, mas, sobretudo, para pensar e agir junto às disputas políticas que estão em curso na sociedade.
Para a concretização desse número agradecemos a Juliano Bonfim, assistente dos editores convidados, dando suporte durante todo o processo de editoração e revisão. Destacamos o generoso e qualificado suporte de Rogério Diniz Junqueira, que acompanhou a avaliação e a revisão dos artigos, tendo traduzido o artigo A "teoria do gender" na Itália. Um posicionamento circunstanciado sobre um significante flutuante, de Lorenzo Bernini, e, juntamente com Marco Aurélio Máximo Prado, traduzido e editado o artigo "Ideologia de gênero" em movimento, de David Paternotte e Roman Kuhar.
Não poderíamos fechar o volume 18 sem agradecemos enfaticamente aos membros da Diretoria que encerra sua gestão à frente da Associação Brasileira de Psicologia Política (ABPP), neste final de 2018, sobretudo a Jader Ferreira Leite e Kátia Maheirie. Desde o início, o apoio da ABPP foi fundamental ao trabalho desenvolvido na RPP. Aproveitamos para saudar a nova diretoria, que contará com Frederico Alves Costa como presidente, ex-editor associado deste periódico.
Este trabalho é resultado dos esforços de muitas pessoas, esperamos que seja bem recebido e desejamos uma boa leitura!