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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.12 no.1 Itatiba abr. 2013

 

 

Estudo comparativo entre indicadores afetivos das técnicas de Pfister e Zulliger

 

Comparative study between the affective indicators of Zulliger and Pfi ster tests

 

Estudio comparativo entre indicadores afectivos de las técnicas de Pfi ster y Zulliger

 

 

Anna Elisa de Villemor-Amaral1; Giovana de Souza Quirino

Universidade São Francisco

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo foi verificar a hipótese de que haveria correlação entre os tipos de resposta de cor no teste de Zulliger – FC, CF e C – com o aspecto formal no teste das Pirâmides Coloridas de Pfister – Tapetes, Formações e Estruturas – considerando o fato de que ambos evidenciam os níveis diferentes de integração da percepção da cor com a forma. Participaram 60 crianças de escolas públicas de São Paulo, metade com 06 anos de idade e outra com 12 anos. Os dados encontrados demonstram que o TPC é sensível para identificar desenvolvimento cognitivo em grupos de crianças e adolescentes por meio dos aspectos formais Tapetes e Estruturas. No entanto, C correlacionou-se com o aumento de Estruturas no grupo mais velho. Esses dados podem ser compreendidos à luz das teorias do desenvolvimento, mas demonstram a necessidade de continuar verificando possíveis correlações entre as duas técnicas.

Palavras-chave: técnicas projetivas; avaliação psicológica; personalidade.


ABSTRACT

The main of this study is to verify if there is some correlations between the color responses on the Zulliger test – FC, CF e C – and the formal aspect of the Color Pyramid Test (TPC). Hugs, Formations and Structures, considering the fact that both instruments revels the different levels of integration between color and form. The sample was composed by 60 children from public schools of São Paulo-Brasil, half of them with age of 6 years and the others with 12. The data showed that the formal aspect of TPC is sensitive to points out the cognitive development among children with different ages, specially supported by hugs and structures. Nevertheless the determinant C showed correlation with structures among oldest children. These findings must to have interpreted under the concepts of Develop Psychology and demonstrate de importance of going on with this kind of researches.

Keywords: projective techniques; psychological assessment; personality.


RESUMEN

El objetivo de este estudio fue verificar la hipótesis de que habría correlación entre los tipos de respuesta de color en el teste de Zulliger – FC, CF e C – con el aspecto formal en el test de las Pirámides Coloridas de Pfister – Alfombras, Formaciones y Estructuras – considerando el hecho de que ambos evidencian los niveles diferentes de integración de la percepción del color con la forma. Participaron 60 niños de escuelas públicas de São Paulo-Brasil, mitad con 06 años de edad y otra con 12 años. Los datos encontrados demuestran que el TPC es sensible para identificar desarrollo cognitivo en grupos de niños y adolescentes por medio de los aspectos formales Alfombras y Estructuras. Todavía, C se correlacionó con el incremento de Estructuras en el grupo más viejo. Esos datos pueden ser comprendidos a la luz de las teorías del desarrollo, pero demuestran la necesidad de continuar verificando posibles correlaciones entre las dos técnicas.

Palabras-clave: técnicas proyectivas; evaluación psicológica; personalidad.


 

 

Os instrumentos psicológicos são de grande importância como auxílio na avaliação psicológica. No entanto só são considerados científicos após atenderem características que evidenciam validade e fidedignidade em seus resultados. Portanto, todo instrumento ou teste psicológico deve apresentar fundamentação teórica, estudos de validade e fidedignidade, sistema de correção e interpretação dos resultados.

De acordo com Urbina (2007), a validade de um instrumento se refere ao conjunto de evidências acumuladas que corroboram a interpretação dos escores do teste, ou seja, o grau de informações que somam na compreensão dos resultados. Autores como Cronbach (1996) e Noronha e Baptista (2007) apresentam formas de se obter a validade em três grupos: validade de conteúdo, validade de critério e validade de construto.

A validade de conteúdo trata basicamente de um exame do conteúdo do teste, para determinar se os itens cobrem uma amostra representativa do universo do comportamento a ser medido. Já a função da validade de critério está em apontar a eficácia do teste ao predizer alguma coisa, ou seja, o quanto ele é bom para prever um desempenho, ou um aspecto específico. Dentro da validade de critério se encontra a validade preditiva e concorrente. Para Noronha e Baptista (2007), o que distingue uma da outra é o tempo de coleta dos dados.

No entanto, Urbina (2007) destaca que a distinção entre a validade preditiva e a concorrente não se encaixa no tempo, mas sim no objetivo da testagem. A validade preditiva se propõe especificamente a fornecer dados futuros, predizer desempenhos como acadêmicos, de treinamentos entre outros. Já a validade concorrente fornece a possibilidade de comparar os dados de um grupo de sujeitos ou outro instrumento de mesmo construto. Geralmente, os dados são comparados com resultados já existentes ou colhidos no mesmo período, de modo a verificar a correlação entre os resultados obtidos, pois o seu foco está em fornecer dados atuais.

A validade de construto se refere ao grau pelo qual um teste mede o construto teórico ou traço do comportamento que ele propõe medir, sendo considerada a forma mais precisa de verificação da validade. A validade de construto pode ser aferida na correlação entre o desempenho dos sujeitos entre testes semelhantes ou divergentes e na análise fatorial que possibilita o agrupamento de variáveis (Noronha & Baptista, 2007).

Grande parte dos testes ou instrumentos psicológicos propõe em seu construto a avaliação de aspectos da personalidade. Conforme apontam Alves e Vert (2002) e Papalia e Olds (2000), a personalidade se refere a um conjunto de características que cada indivíduo, ao longo da vida, organiza e estrutura e é composta por traços emocionais e cognitivos que abrangem a maneira de se comportar, relacionar com o outro, pensar e sentir, aspectos estes influenciados por grande parte de suas relações sociais e culturais. Segundo Zimerman (2001), as teorias psicanalíticas sustentam que a maneira de ser, ou seja, a personalidade que o sujeito estabelece ao longo da vida, é determinada por certas defesas presentes no ego, construídas ao longo do ciclo vital juntamente com as experiências emocionais.

As emoções exercem grande influência na vida do ser humano, estando presentes nos gestos, atitudes, decisões e pensamentos, tornando-se a motivação para vida. São elas as responsáveis por expressar os sentimentos, sejam eles positivos ou negativos. Já na década de 60, Henri Wallon afirmava que a presença do afeto exerce grande influência no desenvolvimento infantil desde a concepção, que além de possibilitar a elaboração da maneira de sentir e agir, colabora também para a evolução mental. A expressão emocional está relacionada ao desenvolvimento cognitivo e o controle sobre a descarga afetiva, que envolve uma dinâmica entre a capacidade de perceber, compreender, controlar e expressar os sentimentos. Uma vez que o desenvolvimento emocional evolui em direção à maturidade, podem-se esperar diferenças importantes ao se avaliar faixas etárias distintas (Wallon & Carvalho, 1995).

Se considerarmos mais ou menos típicos os períodos de latência e puberdade, é possível pensar que aos seis anos as estruturações afetivas se encontram adormecidas, ficando seu desenvolvimento para segundo plano, enquanto sobressaem-se as estruturas cognitivas, destacando-se a organização do pensamento (Fiori, 1982). De acordo com a teoria piagetiana, trata-se do período operatório concreto no qual a maneira de pensar está mais ligada ao real e à lógica indutiva, nas próprias observações e experiências, predominando aí a racionalidade. Já, aos doze anos, a puberdade é marcada por várias mudanças e turbulências, de origem fisiológica e psicológica. A criança inicia sua transição para o mundo adulto, e em decorrência das crises vividas, o desenvolvimento trabalha para a reorganização das estruturas afetivas (Papalia & Olds, 2000).

Segundo Sallquist e cols. (2009), com o passar dos anos há um declínio da expressividade emocional, pois acreditam que a criança aprende a controlar a expressão das suas emoções. No entanto, esse controle deve vir acompanhado com aumento na acuidade do processamento cognitivo sobre as emoções, com exceção do desequilíbrio naturalmente observado na entrada da adolescência.

Um dos instrumentos tradicionalmente usados para verificar o desenvolvimento cognitivo relacionado com aspectos emocionais, refere-se aos de integrar estímulos cromáticos e percepção da forma, como ocorre em algumas técnicas projetivas. Segundo Villemor-Amaral (2005), "as cores têm sido utilizadas como modo de expressão emocional desde os primórdios da humanidade, estando presentes nas manifestações culturais e artísticas, e na vida dos indivíduos" (p. 25). É um estímulo natural inevitável que auxilia na percepção dos objetos, de modo que as impressões produzidas pela cor causam efeitos diferenciados no estado emocional das pessoas.

Nesse sentido, a organização das impressões sensoriais e a delimitação da forma, conforme aponta Villemor- Amaral (2005), se relaciona com o processo cognitivo e as funções de atenção e concentração de modo que, a precisão da forma equivale à precisão da percepção e do pensamento que, por sua vez, dependem tanto da capacidade intelectual quanto do controle emocional. Ao relacionar a percepção de Forma e Cor, acredita-se que quanto mais precisas forem as formas dos objetos percebidos, mais estáveis serão os afetos e quanto menor a percepção de forma maior a instabilidade afetiva. Dentre os instrumentos que consideram cor e forma como elementos fundamentais da interpretação, destaca-se o teste das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC) e o Zulliger.

O Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC) é um instrumento projetivo capaz de avaliar traços da personalidade. O TPC foi criado pelo coreógrafo, arquiteto e psicólogo Max Pfister (1888-1958) em 1951. Trata-se de uma técnica não-verbal, com características lúdicas. Um instrumento de fácil aplicação, em cuja aplicação é solicitado que o avaliando preencha um esquema de pirâmide com quadrículos coloridos de diferentes tonalidades. Após o preenchimento da primeira pirâmide, é solicitado que ele preencha outra e depois mais outra pirâmide. Ao término da terceira pirâmide preenchida é realizado um inquérito para verificar a preferência do examinando por suas produções (Villemor-Amaral, 2005).

Para a análise de resultados é necessário que seja considerado o processo de execução que traduz a forma como a pessoa realiza a tarefa no conjunto das três pirâmides; o modo de colocação que reflete a maneira como a pessoa dispõe as cores, sobre o esquema; o aspecto formal refere-se à configuração final da pirâmide e é um dos elementos fundamentais da análise por indicar as possibilidades de controle racional que o indivíduo tem sobre os afetos e as emoções, representadas pelas cores. O sujeito organiza a pirâmide de acordo com seus recursos emocionais e cognitivos. A maneira como se estrutura o estímulo cor sobre o esquema da pirâmide é uma expressão do modo como contém suas emoções. Quanto mais estruturada for sua pirâmide, maior o grau de maturidade emocional, já o inverso, menor estruturação, menos maturidade emocional. As estruturas podem ser classificadas como Tapetes indicativos de um nível intelectual rebaixado ou de pouca maturidade emocional; as Formações representam uma organização intermediária, e as Estruturas que resultam da combinação do estímulo num nível diferenciado, indicam maior grau de equilíbrio emocional (Villemor-Amaral & Franco, 2008).

A forma está relacionada com o funcionamento cognitivo e definir formas constitui uma tarefa cognitiva complexa. Nesse sentido, a precisão da forma equivale à precisão da percepção e do pensamento, que dependem tanto da capacidade intelectual quanto do bom controle emocional. A integração entre a forma e a cor pode constituir um indicador de como são feitas as trocas e descargas emocionais (Villemor-Amaral, 2005).

Vários estudos realizados com o TPC têm demonstrado sua validade e visam sua normatização. Costa e Villemor-Amaral (2004), por exemplo, compararam a técnica de TPC com a prova de raciocínio BPR-5 e puderam constatar que as construções do tipo tapete são mais frequentes em pessoas de baixo rendimento no BPR-5, sendo que as construções classificadas do tipo estruturas predominaram em pessoas com alto rendimento no BPR-5.

Outro dado importante apresentado pelas autoras nesse mesmo estudo é que alguns jovens com alto desempenho na prova de raciocínio também apresentaram tapetes, confirmando o fato de que o alto nível cognitivo não resulta diretamente em produções diferenciadas. Entretanto, os jovens com baixo desempenho não executam estruturas. Dessa forma, o baixo nível cognitivo impede as produções mais elaboradas. Cardoso e Capitão (2006) realizaram uma pesquisa com crianças, com o objetivo de comparar o desempenho cognitivo de crianças surdas e ouvintes. Nesse estudo, os autores compararam os resultados do TPC e do Desenho da Figura Humana (DFH) que demonstraram uma diferença significativa quanto ao aspecto formal entre os grupos, de modo que as crianças ouvintes apresentaram pirâmides mais elaboradas que as crianças surdas.

Alves e Loureiro (2008) realizaram um estudo com pessoas portadoras de transtornos orgânicos de personalidade por meio do TPC e constataram a presença de prejuízos motores e de coordenação viso-espacial, predomínio de execução metódica ordenada, construções do tipo tapete com fórmulas amplas e flexíveis, aumento das cores vermelho e marrom e diminuição do preto e branco, entre outros. Dessa forma, os dados apresentados pelo TPC mostraram-se de acordo com alguns dos critérios diagnósticos destacados pela CID 10, contribuindo assim para a utilização do TPC no auxílio da avaliação no contexto clínico.

O método Zulliger é derivado do método de Rorschach. A execução da tarefa é a mesma proposta por Rorschach, ou seja, consiste em apresentar os cartões com várias manchas de tinta aos sujeitos, um de cada vez, perguntando com que aquilo se parece. Após a apresentação dos cartões e anotações das respostas, realiza-se um inquérito repassando os cartões, e se pergunta onde a pessoa viu e o que fez com que parecesse com aquilo (Villemor-Amaral & Primi 2009). De acordo com os autores, o método de Zulliger se insere nas técnicas de estímulos não estruturados e traz como objetivo revelar informações da personalidade, tanto cognitivas como psicodinâmicas. Por apresentar qualidades semelhantes ao Rorschach e oferecer uma aplicação e análise mais rápida, seu uso se popularizou nas seleções em empresas e nas clínicas.

Villemor-Amaral e Primi (2009) ressaltam que para as pessoas escolherem partes das manchas que lhes chamam atenção, envolve a formação de impressões e percepções de características dos estímulos tais como: forma e cor. A pessoa recorre também à comparação com conceitos já gravados em sua memória, como registros de experiências e sucessivos ajustes até que as impressões e associações resultem em um conceito e a pessoa expresse uma determinada resposta.

Nos cartões do Zulliger, são impressas manchas de tinta, sendo que no cartão I a imagem é em preto e branco, representado a capacidade de adaptação inicial do sujeito a uma nova situação. O II cartão é colorido e por isto mobiliza afetos e eventualmente sentimentos de insegurança, pelo fato de os estímulos nas cores verde, marrom e vermelho serem entremeados com vários espaços em branco. O cartão III é preto, branco e vermelho e costuma representar a capacidade de relacionamento interpessoal, criatividade e empatia (Vaz, 1998; Villemor- Amaral & Franco, 2008).

A técnica de Zulliger vem sendo empregada tanto na forma de avaliação coletiva como individual, como instrumento de avaliação da personalidade, sempre que avaliação requeira um procedimento rápido e com um número elevado de pessoas. Villemor-Amaral e Primi, (2009) realizaram estudos para adaptação do Zulliguer para o Sistema Compreensivo, criado por Exner para o Rorschach na década de 1970, seu objetivo era uniformizar o procedimento de aplicação e os critérios de codificação de respostas, visando maior cientificidade ao método. Suas contribuições mostraram-se eficazes, o que estimulou sua utilização.

No Zulliguer, as respostas são codificadas considerando- se os determinantes, a precisão da forma do objeto verbalizado, conteúdos e localização na mancha. Depois de já codificadas, as respostas são listadas e as frequências registradas, criando variáveis que agrupadas em índices refletem a probabilidade da presença de traços e condições psicológicas (Anastasi & Urbina, 2000; Villemor-Amaral & Primi, 2009). No Brasil, alguns estudos vêm sendo realizados com o ZSC no Laboratório de Pesquisas em Saúde Mental (LAPSaM) da Universidade São Francisco.

No que diz respeito as suas qualidades psicométricas, Machado (2007) realizou um estudo de fidedignidade para o ZSC, com o objetivo de constatar a precisão da técnica por meio de teste-reteste, com intervalo de 5 meses entre as aplicações. Para a correlação dos dados foi utilizado o método de Pearson. Dos dezesseis indicadores selecionados, dez obtiveram precisão satisfatória, variando entre 0,60 a 0,99. Outros quatro indicadores obtiveram precisão entre 0,40 e 0,60. De modo geral, nesse estudo pode-se concluir que os resultados foram satisfatórios, contribuindo para a precisão do instrumento.

Pianowski e Villemor-Amaral (2008) realizaram um estudo a fim de verificar a sensibilidade do método de ZSC, para a avaliação do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Participaram do estudo 40 sujeitos, sendo 20 de pacientes com transtorno e 20 não pacientes. Os resultados encontrados se mostraram coerentes com a literatura da sintomatologia e a dinâmica psíquica do TOC, contribuindo deste modo, para as evidências de validade da técnica para auxiliar no diagnóstico do transtorno.

Considerando a relevância em desenvolver estudos que busquem evidências de validade para os métodos projetivos, este trabalho teve como objetivo verificar possíveis correlações entre os testes de Pfister e de Zulliger no que diz respeito à integração de Cor e Forma como preditores de níveis diferenciados de controle emocional e desenvolvimento cognitivo.

 

Método

Participante

Participaram deste estudo 60 crianças, sendo 30 com idade de seis anos, e 30 com doze anos. A metade era do gênero masculino. Todas as crianças frequentavam escolas públicas do interior de São Paulo. O critério de inclusão foi o de a criança nunca ter procurado ajuda psicológica ou psiquiátrica e não apresentar queixas específicas.

Instrumentos

Os instrumentos utilizados no estudo foram dois testes de personalidade sendo eles: ZSC que no momento não possui validade para o uso com crianças, e o TPC que já obteve sua validade para crianças, e no momento passa por revalidação, porém estudos mostram que o mesmo padrão apresentado antes tem prevalecido, um realizado de forma verbal e outro não verbal. O ZSC é uma técnica projetiva de autoria de Hans Zulliger, em 1948, e que avalia os aspectos cognitivos e afetivos da personalidade. Ele consiste na aplicação de três cartões, contendo manchas de tinta simétricas. É solicitado ao examinando que diga simplesmente com que elas se parecem. As repostas são anotadas exatamente do modo como foram ditas. Após a apresentação dos três cartões, e o registro exato das respostas, é feito o inquérito no qual o examinador indaga, para cada resposta, sobre o local na figura onde se localiza a resposta e o que fez com que se parecesse com aquilo, o que lhe sugeriu aquela ideia.

O TPC criado por Max Pfister, em 1951 e aprimorado por Heiss em 1951, propõe a execução de três pirâmides coloridas, conforme o gosto do examinando. Assim, o material necessário para a aplicação compõe-se de um jogo de três cartões em papel pardo, no qual se encontra desenhada uma pirâmide. O esquema da pirâmide vem acompanhado com um jogo de quadrículos coloridos compostos por 10 cores, subdivididas em 24 tonalidades. As cores que compõem o material do teste são o azul, o verde e o vermelho (quatro tonalidades de cada), violeta (três tonalidades), amarelo, laranja e marrom (duas tonalidades cada), preto, branco e cinza. A pessoa é convidada a construir três pirâmides e as instruções são simples e devem ser dadas de forma padronizada: Após o término das três pirâmides pergunta-se qual das três pirâmides ele preferiu e por quê.

Procedimento de coleta de dados

Após a autorização do Comitê de Ética, os instrumentos foram aplicados individualmente. Primeiro foi aplicado o TPC e em seguida o ZSC, a aplicação ocorreu apenas para os participantes cujos pais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; este foi apresentado aos pais com os objetivos explanados. O tempo estimado para cada aplicação ficou em torno de 40 minutos.

Procedimento para analisar as variáveis

Todas as variáveis deste estudo foram interpretadas a partir dos respectivos manuais, Pfister (Villemor-Amaral, 2005) e Zulliger (Villemor-Amaral & Primi, 2009), respeitando idade, sexo, grau de escolaridade e diagnóstico psicopatológico. O critério adotado para análise de cada hipótese foi de presença (1 ponto) e ausência (0 ponto). As hipóteses eram de que haveria uma correlação entre os indicadores do Pfister e do Zulliger, supondo-se que C e CF corresponderiam à maior frequência de tapetes e que FC corresponderia ao aumento de estruturas e/ou formações.

Resultados e Discussão

Os dados foram organizados em planilha e submetidos à estatística descritiva e inferencial, visando atender aos objetivos deste estudo. Os resultados revelaram que houve diferença estatisticamente significativa para os itens Estrutura e Tapete. Dessa forma, observa-se que as crianças de 12 anos apresentam um nível cognitivo diferenciado e uma maior maturidade afetiva, que permitiu o aumento da incidência de Estruturas nas respostas dadas (t = -3,24, p=0,002). Esse dado coincidiu com o aumento do número de Tapetes para as crianças de 6 anos, corroborando com a literatura do desenvolvimento infantil, que demonstra que as crianças pequenas apresentam menor maturidade cognitiva e maturidade afetiva quando comparadas com adolescentes (12 anos) (t=2,38; p = 0,02).

 

 

Novas análises foram realizadas a fim de verificar a correlação entre os aspectos formal no TPC e as respostas de cor no Zulliger. Conforme se vê na Tabela 2, não foram observadas relações significativas nesse aspecto.

 

 

A fim de verificar outras possíveis correlações entre as variáveis da TPC, desconsiderou-se o tipo Estrutura que não apareceu no grupo de 6 anos, considerando-se apenas as Formações e Tapetes, e as do ZSC (FC, CF e C). Novas análises foram realizadas, agora separando os grupos por idades, e novamente os resultados não foram significativos, como visto na Tabela 3.

 

 

As correlações geradas para as crianças de 12 anos, entre as variáveis do TPC (Estrutura, Formação e Tapete) e ZSC (FC, CF e C), evidenciaram como resultado uma correlação estatisticamente significante (Tabela 4). Observa-se que o item C do ZSC, indicativo de um processamento mais impulsivo e intenso das emoções, correlacionou- se com o item Estrutura do TPC, que indica um nível intelectual mais elaborado (r=0,44; p=0,01). Como visto na Tabela 4, este dado surpreende, pois contraria o que seria esperado, considerando-se o desenvolvimento cognitivo. Como o C indica dificuldade de controle emocional no ZSC, esperava-se que crianças mais velhas apresentassem menores índices nesta variável. Entretanto, esse dado pode ser compreendido levandose em conta a problemática característica à puberdade. Nessa fase as crianças, ao saírem do período de latência, enfrentam desafios emocionais importantes devido às alterações hormonais e o ressurgimento da sexualidade, o que compromete a capacidade de controle.

 

 

Considerações finais

Os dados encontrados demonstram que o TPC é sensível para identificar desenvolvimento cognitivo em grupos de crianças e adolescentes por meio dos aspectos formais Estruturas e Tapetes. Isso evidencia validade de critério baseada em grupos extremos (ver Tabela 1).

Tal como exposto anteriormente, o objetivo deste estudo foi verificar a hipótese encontrada na literatura a respeito das correlações entre cor e forma no Pfister e cor e forma no Zulliger. Ao submeter os dados da técnica de TPC ao teste t de Student, a fim de verificar as diferenças entre as médias, foi possível encontrar uma maior incidência de respostas Tapete correspondente de um desenvolvimento cognitivo mais primitivo nas crianças de 6 anos. A variável Estrutura, correspondente de um nível intelectual diferenciado e de maior maturidade afetiva, só foi encontrada nas crianças de 12 anos. Esse achado indica que as crianças de 12 anos possuem uma maturidade cognitiva superior em relação às crianças de 6 anos, e que o TPC contribui na avaliação de desenvolvimento cognitivo. Além disso, resultado semelhante foi encontrado por Costa (2004) que, ao comparar a TPC com a Bateria de Prova de Raciocínio BPR-5, constatou que as construções do tipo Tapete são mais frequentes em pessoas de baixo rendimento na BPR-5, e as estruturas mais frequentes em jovens com alto rendimento na bateria de raciocínio. Portanto, ambos os estudos evidenciaram a validade do TPC para avaliar nível intelectual e maturidade cognitiva com base no aspecto formal das pirâmides.

As correlações com as respostas de cor no Zulliger não corresponderam às hipóteses iniciais, nem para o grupo como um todo, nem se separando as idades, com exceção da alta correlação entre Estruturas e C observadas nas crianças de 12 anos. Esse resultado aponta para o fato de que apesar de um maior desenvolvimento cognitivo, a expressão emocional nessa faixa etária tende a ser menos controlada e imprevisível, o que de certo modo pode ser compatível com o esperado na puberdade e adolescência, com sua característica de instabilidade. A adolescência é o período em que a criança inicia seu processo de transição para uma nova reorganização do mundo interno em relação ao mundo externo, e em função das típicas crises da fase do seu desenvolvimento, está trabalhando para uma nova reorganização das estruturas afetivas (Fiori, 1982; Sallquist e cols. 2009).

Esse dado também leva a pensar que, no teste de Zulliger, as relações entre cor e forma, representadas nas respostas de cor, não estão tão subordinadas ao desenvolvimento cognitivo como ocorre no TPC, havendo outros indicadores mais fidedignos para avaliação do desenvolvimento cognitivo e intelectual. Em outras palavras, é possível supor que, no Zulliger, as respostas de cor – FC, CF e C – estão menos influenciadas pelo desenvolvimento cognitivo do que os indicadores de integração forma e cor no Pfister.

Os resultados encontrados neste estudo contribuem para o processo de validação dos instrumentos de ZSC e TPC para avaliação de crianças. Contudo, indicam também a necessidade de se investigar novas hipóteses que demonstrem as convergências, divergências ou complementariedade entre as duas técnicas.

 

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Recebido em janeiro de 2012
Reformulado em junho de 2012
Aceito em novembro de 2012

 

 

Sobre as autoras

Anna Elisa de Villemor-Amaral: é Professora Associada Doutora do Programa de Pós-Graduação Strico Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco e líder do grupo de pesquisa Avaliação Psicológica em Saúde Mental. É também professora da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Coordenadora do GT de Métodos Projetivos da ANPEPP
Giovana de Souza Quirino: é Psicóloga formada pela Universidade São Francisco – USF. Bolsista Probaic do Programa de iniciação cientifica da USF no período de 2007 a 2009. Atualmente matriculada na USF no programa de Pós-Graduação Strico Sensu em Psicologia do Trânsito.


1Endereço para correspondência:
Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Centro, Itatiba-SP. E-mail: anna.villemor@saofrancisco.edu.br