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Avaliação Psicológica
versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431
Aval. psicol. vol.14 no.1 Itatiba abr. 2015
Escala de Autoeficácia para Bailarinos (AEBAI): construção e evidências de validade1
Self-efficacy Scale for Dancers (SESD): Construction and validity evidences
Escala de Autoeficacia para Bailarines (AEBAI): construción y evidencias de validez
Andressa Melina Becker da Silva2, I; Tatiane Stephan Rocchetti LuzI; Renan de Morais AfonsoI; Murilo Fernandes de AraújoI; Isabella Goulart BittencourtII; Lucas de Francisco CarvalhoIII; Sônia Regina Fiorim EnumoI
IPontifícia Universidade Católica de Campinas
IIUniversidade Federal de Santa Catarina
IIIUniversidade São Francisco
RESUMO
Autoeficácia refere-se aos julgamentos que as pessoas fazem de suas próprias habilidades. É um conceito usado na Psicologia do Esporte, mas faltam instrumentos para a dança. Este estudo elaborou e verificou as evidências de validade da Escala de Autoeficácia para Bailarinos (AEBAI). Foram avaliados 410 bailarinos (10-19 anos), em festivais de dança nacionais e internacionais. Os itens foram selecionados com base na literatura e na experiência em dança da primeira autora, e avaliados por seis juízes treinados, obtendo-se 88,87% de concordância (índice Kappa). Foi conduzida a análise fatorial exploratória, que revelou dois fatores para seus 15 itens: Autoeficácia Física, com sete itens (α=0,82), e Autoeficácia Psicológica, com oito itens (α=0,81), apresentando boas propriedades psicométricas. Discutem-se os resultados à luz da Psicometria e importância para a Psicologia aplicada à dança.
Palavras-chave: autoeficácia; testes psicológicos; dança; psicologia do esporte.
ABSTRACT
Self-efficacy refers to judgments that people make about their own abilities. It is a concept used in Sport Psychology, but lacking instruments to dance. This study developed and verified the evidence of validity of the Self-Efficacy Scale for Dancers (SESD). We evaluated 410 dancers (10-19 years old) in national and international festivals of dance. The items were selected based on literature and practical experience with dance by the first author, and evaluated by six trained judges, obtaining 88.87% agreement (Kappa). Exploratory factor analysis revealed two factors for the 15-item instrument: Physical Self-Efficacy, with 7 items (α=0.82) and Psychological Self-Efficacy, with eight items (α=0.81), presenting good psychometric properties. We discuss the results in light of Psychometrics and importance for Psychology applied to the dance.
Keywords: self-efficacy; psychological testing; dancers; sport psychology.
RESUMEN
La autoeficacia se refiere a los juicios que las personas hacen sobre sus propias capacidades. Es un concepto utilizado en Psicología del Deporte, pero no hay instrumentos para la danza. En este estudio se construyó y verificó evidencias de la validez de la Escala de Autoeficacia para Bailarines (AEBAI). Fueron evaluados 410 bailarines (10-19 años) en festivales de danza nacional e internacional. Los ítems fueron seleccionados en base a la literatura y la experiencia práctica con la danza por el primer autor y evaluados por seis jueces entrenados, obteniendo 88,87% de acuerdo (Kappa). El análisis factorial exploratorio reveló dos factores para sus 15 ítems se llevó a cabo: Autoeficacia Fisica, con 7 ítems (α=0,82) y de Autoeficacia Psicológica, con ocho ítems (α=0,81), presentando buenas propiedades psicométricas. Los resultados se discuten a la luz de la Psicometría y la importancia de la Psicología aplicada a la danza.
Palabras-clave: autoeficacia; pruebas psicológicas; bailarines; psicología deportiva.
Autoeficácia é um conceito já consolidado na Psicologia, tendo sido apresentado pela primeira vez por Bandura no ano de 1977. Sua aplicação na Psicologia do Esporte é bem conhecida, sendo um dos preditores do desempenho esportivo e da adesão a atividades físicas (Azzi & Poldoro, 2006; Moritz, Feltz, Fahrbach, & Mack, 2000). Contudo, sua aplicação à dança ainda carece de instrumentos de avaliação, o que motivou este estudo.
Autoeficácia se refere aos julgamentos que as pessoas fazem de suas capacidades para organizar e executar seus planos de ação necessários para atingir determinados tipos de rendimento (Bandura, 1993). A autoeficácia diz respeito às habilidades e ao julgamento da pessoa sobre essas habilidades. Essa avaliação é produto de complexos processos de autopersuasão, que concretizam o processamento cognitivo das fontes de informações de confiança. Em outros termos, a pessoa busca informações armazenadas no cérebro relacionadas à confiança, para então emitir uma resposta, sendo esse processo responsável pela mediação da autoeficácia (Bandura, 2001; Maddux, 1995). O processamento cognitivo é proveniente, nesse caso, de quatro fontes: as experiências de domínio pessoal do desempenho, as experiências de modelos sociais, a persuasão social e os estados motivacionais e fisiológicos (Bandura, 2001).
Bandura (1993) cita dois aspectos distintos da autoeficácia. O primeiro é a "expectativa de eficácia pessoal", ou a convicção pessoal de ser capaz de realizar com sucesso os comportamentos exigidos para produzir um determinado resultado. No caso em estudo, o bailarino sabe a coreografia e tem convicção de que sabe realizá-la. O segundo é a "expectativa do resultado", definida como a crença pessoal de que um determinado comportamento produzirá determinados resultados. Neste caso, o bailarino sabe quais são os movimentos para executar uma coreografia perfeita, mas não sabe se consegue executá-los. Os dois tipos de expectativas servem como preditores de desempenho, embora a autoeficácia seja o preditor mais forte (Feltz & Chase, 1998).
Feltz, Short, e Sullivan (2008) consideram que os estudos sobre autoeficácia no esporte e na atividade física foram baseados nas "expectativas de resultados" de desempenho, por terem sido fundamentados no julgamento do indivíduo sobre experiências nas quais tem um ótimo controle da ação realizada. Uma metanálise de 45 trabalhos relacionados à autoeficácia na área esportiva mostrou uma correlação positiva entre a autoeficácia e o desempenho no esporte, evidenciando a importância da combinação dessas medidas (Moritz et al., 2000). Azzi e Polydoro (2006) afirmam que a autoeficácia é um dos melhores identificadores psicossociais de adesão a atividades físicas.
Há relação positiva entre autoeficácia e tomada rápida de decisão no esporte, pois a autoeficácia auxilia na dinâmica de decisão em situações de pressão (Hepler & Feltz, 2012). Gilson, Cisco, e Curnock (2012) afirmam que a autoeficácia é positivamente relacionada ao esforço, persistência e outros comportamentos adaptativos. Na pesquisa desses autores, a autoeficácia foi positiva e significativamente relacionada ao esforço contínuo em atletas de quatro modalidades esportivas distintas (N=99; idade média de 20; DP=1,2) em sessões de treinamento de força.
A autoeficácia é também um facilitador efetivo para o aprendizado de habilidades motoras e melhoria do desempenho (Moritz et al., 2000). Por exemplo, há uma ligação direta entre autoeficácia e feedback positivo para melhorar o desempenho motor (Saemi, Porter, Ghotbi- Varzaneh, Zarghami, & Maleki, 2012). Para Gao, Kosma, e Harrison (1999), indivíduos com altos níveis de autoeficácia geralmente atentam para melhores desempenhos, gastam todos seus esforços para conseguir isso, e é comum aumentarem, com sucesso, suas habilidades motoras. Saemi et al. (2012) afirmaram que os resultados de sua pesquisa com 24 tenistas (idade média=19,51; DP=1,08) indicam o impacto do feedback positivo para a autoeficácia e, com isso, o desenvolvimento do aprendizado motor e a melhora do desempenho. Também na dança, o feedback mostrou-se capaz de influenciar a autoeficácia (Dunlop, Beauty, & Beauchamp, 2011).
Contudo, esse estudo realizado com tenistas apontou que a autoeficácia no desempenho esportivo não substitui o talento físico, mas pode ser considerada um codeterminante do desempenho. O atleta conhece seu potencial, e isso determina, em parte, a sua percepção de eficácia pessoal (Moreno, 2007). Jackson, Potere, e Brobst (2006) complementam a explicação anterior afirmando que experiências de sucesso numa determinada tarefa aumentam as estimativas de eficácia, enquanto que os fracassos repetidos tendem a diminuí-la. Na opinião de Gouvêa (2003), no campo esportivo, não é suficiente que o atleta tenha capacidade física para conseguir um bom rendimento, pois, para isso ocorrer, é preciso que acredite que tenha capacidade para tanto.
Considerando a importância da autoeficácia para a prática esportiva, e constatando a falta de instrumentos psicológicos para bailarinos, este estudo visou a construir e verificar as evidências de validade da Escala de Autoeficácia para Bailarinos (AEBAI).
Método
A elaboração da escala
Inicialmente, realizou-se uma revisão da literatura das áreas (Psicologia, Educação Física e Dança), pesquisando- se livros e artigos sobre a temática, além de vídeos no Youtube, e participação presencial da primeira autora, que tem 22 anos de experiência em aulas de dança, para identificar os principais comportamentos relacionados à autoeficácia e à movimentação física dos bailarinos. Na listagem de comportamentos obtida foram incluídas as diversas habilidades necessárias para o bom desempenho na dança. Este método foi baseado em Ferreira (2008), que construiu uma Escala de Autoeficácia para o Futebol.
Assim, para a construção da AEBAI, foram relacionadas as habilidades necessárias para que o bailarino tenha um bom desempenho, como, por exemplo, saltar, girar, realizar movimentos de sustentação, entre outros. Nessa escala, o bailarino deve responder se se sente confiante ou não para realizar determinado movimento, sendo que sua resposta pode variar de 0% (nenhuma confiança) a 100% (absoluta confiança), numa escala, portanto de 0 a 100. Após essa etapa de construção do instrumento, foram adotados alguns procedimentos empíricos.
Busca de evidências de validade de conteúdo – a avaliação de juízes
Para verificar as evidências de validade de conteúdo, com base em Pasquali (2004), foi feita a análise dos itens do instrumento por seis juízes, sendo dois professores de português, dois psicólogos do esporte e dois especialistas em dança, para observar a análise semântica (compreensão dos itens) e sua pertinência. Para isso, foi utilizado um protocolo adaptado de Balbinotti, Benetti, e Terra (2007). Sobre a clareza de linguagem, foi perguntado aos juízes: "Você acha que os itens são claros o suficiente e, portanto, serão entendidos pelos bailarinos? O quão claros são os itens?" Quanto à pertinência prática, foi perguntado aos juízes: "Você acha que estes itens são pertinentes para os bailarinos? O quão pertinentes são os itens?"
No campo do protocolo destinado às observações, os juízes puderam apontar algumas falhas, sugerir correções ou mesmo exclusão de determinados itens. Para responder a essas questões, os juízes utilizaram uma escala de cinco pontos (de "pouquíssimo" a "muitíssimo").
Após receber as folhas com as respostas dos juízes, realizou-se o cálculo do Coeficiente de Validade do Conteúdo (CVC) para a clareza da linguagem e para a pertinência prática, conforme proposto por Hernández- Nieto (2002):
1. Com base nas notas dos juízes, calculou-se a média das notas de cada item (Mx):
2. Com base na média, calculou-se o CVC para cada item (CVCi):
3. Foi realizado o cálculo do erro (Pei), para descontar possíveis vieses dos juízes avaliadores, para cada item:
4. Com isso, o CVC final de cada item (CVCc) foi assim calculado:
5. Para o cálculo do CVC total do questionário (CVCt), para cada uma das características (clareza de linguagem e pertinência prática), foi usada a fórmula:
onde, Mcvci representa a média dos coeficientes de validade de conteúdo dos itens do questionário e Mpei, a média dos erros dos itens do questionário.
Para a avaliação da dimensão teórica do instrumento, calculou-se o índice Kappa de concordância entre cinco avaliadores treinados. Correções necessárias foram realizadas.
Busca de evidências de consistência interna dos itens – o estudo empírico
Constituiu-se, assim, a primeira versão da escala, que foi aplicada em 410 bailarinos brasileiros, sendo 93,42% mulheres, com idade entre 10 e 19 anos (M=15,35; ±3,36), que dançavam, em média, há 7,6 anos (±3,32). O nível socioeconômico médio dos participantes foi classificado como C1 (renda média de R$1.541,00, ou 631,56 dólares) pelo Critério de Classificação Econômica Brasil (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa [ABEP], 2013).
Esses bailarinos foram selecionados de modo não probabilístico, por conveniência, em festivais de dança nacionais e internacionais, conforme sua disponibilidade para participar do estudo. A aplicação dos instrumentos ocorreu antes dos ensaios de passagem de palco no dia da competição.
Com base nas respostas dos bailarinos, que compuseram um banco de dados, procedeu-se a análise da estrutura interna. Inicialmente, o número de fatores a serem mantidos na análise fatorial exploratória foi verificado com base na análise paralela (Hayton, Allen, & Scarpello, 2004; Watkins, 2006). Para realizar a análise, foi utilizado o software R, versão 2.15.3, que possibilita o uso da análise paralela para variáveis categóricas ordinais, como é caso do presente estudo.
A partir disso, foi gerado um banco de dados para o software MPlus, versão 6.12 (Muthén & Muthén, 2010) para realizar a análise fatorial exploratória com variáveis categóricas (E-SEM), além da obtenção de índices de ajuste que indicam a adequação da estrutura encontrada com base na presente amostra. Ressalta-se, ainda, que os índices de ajuste também sugerem a adequação da amostra para a realização da análise. Os índices utilizados, referindo-se ao nível de ajuste do modelo aos dados, foram χ2 ponderado pelos graus de liberdade (gl) (χ2/gl; <3 [aceitável] e <2, bom), RMSEA; <0,08 aceitável e <0,05, bom; CFI; >0,90 aceitável e >0,90, bom; e SRMR; <0,10 bom, de acordo com Hooper, Coughlan, e Mullen (2008). Considerando os fatores encontrados, foram investigados os coeficientes de consistência interna pelo alfa de Cronbach.
Aspectos éticos
O projeto foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (parecer n. 465.153), seguindo as normas da Resolução do CNS, n. 466/12. Os pais ou responsáveis pelos participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa, metodologia, riscos e benefícios, autorizando a participação dos filhos por meio do Termo Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Resultados
Evidências de validade baseadas no conteúdo
A construção do instrumento foi realizada com base na literatura da Psicologia do Esporte e Dança, e de acordo com a experiência prática da pesquisadora. Foram elaborados 15 itens para o instrumento, contendo aspectos físicos ou psicológicos inerentes à autoeficácia.
Houve concordância na análise dos seis juízes, calculada por meio do índice Kappa, de 91% para pertinência teórica, 91% para pertinência prática e 93% para linguagem (semântica e apropriação para a idade dos participantes), valores considerados excelentes (Landis & Koch, 1977). Os juízes propuseram pequenas alterações, que foram acatadas. Em relação ao coeficiente de validade de conteúdo, obtiveram-se os seguintes resultados: para a linguagem=0,99; para a pertinência prática=0,95; e para a pertinência teórica=0,95. Com esses resultados, percebe-se que a AEBAI possui evidências de conteúdo suficientes para ser utilizada. Os avaliadores passaram por treinamento e obtiveram 88,87% de concordância (índice Kappa), o que garante que todos os avaliadores (os próprios pesquisadores) aplicaram e corrigiram o instrumento da mesma maneira.
Evidências de validade baseadas na estrutura interna do instrumento
A partir da análise paralela para variáveis categóricas, foram obtidas até duas dimensões com eigenvalue expressivos não evidenciados ao acaso. Em seguida, procedeu-se à análise fatorial exploratória, via software MPLUS, forçando- se a solução composta por dois fatores, utilizando a rotação oblíqua geomin, e método de extração Maximum Likelihood com erros robustos (MLR), considerado como adequado para variáveis categóricas (Rhemtulla, Brosseau-Liard, & Savalei, 2012). Inicialmente, foram analisados os índices de ajuste gerados, sendo: χ2/ gl=2,18; RMSEA=0,055; CFI=0,935; SRMR=0,039. Considerando-se os pontos de corte (Hooper et al., 2008), todos os índices de ajuste foram dentro do considerado aceitável e marginalmente próximo ao ideal. O índice SRMR ficou dentro do considerado ideal.
Adotou-se neste estudo a estrutura fatorial composta por duas dimensões denominadas Autoeficácia Física e Autoeficácia Psicológica. As cargas fatoriais encontradas, o número de itens mantidos por fator e os índices de consistência interna (alfa de Cronbach) estão na Tabela 1.
Pode-se observar que a maior parte dos itens apresentou carga em ambos os fatores, geralmente superior a 0,30. Apesar disso, há uma clara distinção do peso do item nos fatores. Exceção é o item 8, cujas cargas foram muito próximas para os dois fatores (Tabela 1).
Considerando que, ainda que similar, a carga foi superior no Fator 2, verificou-se o incremento ao índice de fidedignidade do Fator 2 por esse item. A retirada do item implicaria diminuição de 0,81 para 0,78 do coeficiente de consistência interna no fator, por isso o item foi mantido. Os coeficientes de fidedignidade encontrados são considerados adequados (Nunnally, 1978). Vale ressaltar que se buscou manter o maior número de itens possível em cada fator, considerando que o número inicial de itens é pequeno.
Houve equilíbrio entre os fatores, sendo que o Fator 1 (Autoeficácia Física) foi composto por sete itens, e o Fator 2 (Autoeficácia Psicológica), por oito itens. Assim, a escala, em sua versão final, tem 15 itens, em que o bailarino assinala de 0% (nenhuma confiança) a 100% (confiança absoluta) em suas habilidades, conforme seu sentimento de capacidade para realizar tal comportamento (autoeficácia). O cálculo final da autoeficácia é a média dos itens, portanto os bailarinos podem apresentar uma autoeficácia de 0 a 100.
Discussão
A elaboração da Escala de Autoeficácia para Bailarinos (AEBAI) foi inspirada na Escala de Autoeficácia para o Futebol (Ferreira, 2008), mantendo questões breves e objetivas, pois tanto atletas quanto bailarinos não têm, em geral, paciência para responder instrumentos psicológicos longos (McCann, Jowdy, & Van Raalte, 2011). Além disso, como proposto por Bandura (2006), o formato ideal de um instrumento de autoeficácia utilize uma escala de 0 a 100%, para que o respondente identifique, de forma escalar o quanto acredita conseguir realizar algo. Acredita-se que, em nosso país, as escalas de 0 a 100% são bem compreendidas, tendo em vista que, em termos culturais, o brasileiro está acostumado a essa contagem desde a idade escolar – as notas das escolas costumam ser dadas de 0 a 100, o que facilita a compreensão do respondente.
Percebe-se que as questões que compõem esse instrumento podem ser utilizadas em todos os tipos de dança, tendo em vista que são movimentações abrangentes para diversas modalidades, bem como questões psicológicas, que influenciam a dança como um todo. Assim, esse instrumento pode ser empregado com bailarinos adolescentes para verificação da autoeficácia, observando- se que a pergunta-chave é: "O quanto você se sente capaz de realizar tal movimento?"
Em relação às evidências de validade do instrumento, a análise de juízes especialistas permitiu verificar evidências de validade de conteúdo satisfatórias para sua utilização em bailarinos adolescentes, tanto para as pertinências prática e teórica quanto em relação à linguagem, apropriada para a faixa etária. Segundo Landis e Koch (1977), o índice Kappa para mensuração da concordância intra-avaliadores foi considerada excelente. Foram encontradas boas evidências de validade de consistência interna do instrumento, apresentando um alfa de Cronbach acima de 0,80, o que garante sua fidedignidade e possível aplicação futura.
Percebendo-se a dificuldade em encontrar instrumentos que avaliem os aspectos psicológicos de bailarinos, principalmente em relação à autoeficácia, nota-se a importância deste estudo e sua futura aplicabilidade. A avaliação psicológica deve ser realizada por psicólogos para conhecer as condições psíquicas do indivíduo que será atendido, para que só então intervenções possam ser propostas de forma coerente (Nunes et al., 2012). Assim, o trabalho do psicólogo na dança se faz necessário. Além disso, futuras pesquisas são importantes para comprovar e complementar os achados aqui apresentados, visto que a busca por evidências de validade é contínua (Primi, Muniz, & Nunes, 2009).
Em termos de conclusão, a Escala de Autoeficácia para Bailarinos (AEBAI) apresentou propriedades psicométricas adequadas para utilização em bailarinos adolescentes. O instrumento foca habilidades físicas e psicológicas (os dois fatores encontrados após a análise fatorial exploratória), comuns ao cotidiano dos bailarinos. Em uma escala que varia de 0 a 100%, o bailarino assinala o quanto se acha capaz de realizar determinada ação. A versão final contém 15 questões (sete para a subescala Física e oito para a subescala Psicológica) objetivas, curtas e de rápida aplicação, podendo inclusive ser aplicado coletivamente, sendo autopreenchido pelos avaliandos.
Apesar de apresentar propriedades psicométricas, o estudo se limita a evidências de validade baseadas no conteúdo e na consistência interna. Sugere-se, portanto, outros estudos para verificar as demais evidências, baseadas no processo de resposta, nas relações com variáveis externas e nas consequências da testagem. Só assim se poderá conhecer a real dimensão e aplicabilidade do instrumento. Além disso, futuros estudos devem buscar replicar a estrutura encontrada, também verificando a possibilidade de aplicação de outros modelos fatoriais, como é o modelo bifatorial. Após essas aferições, poder-se-á realizar a normatização e padronização do instrumento.
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Recebido em abril de 2014
Reformulado em setembro de 2014
Aprovado em outubro de 2014
Sobre os autores
Andressa Melina Becker da Silva: é Psicóloga pela Universidade Paulista, educadora física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Doutoranda em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas); bolsista de doutorado da CAPES.
Tatiane Stephan Rocchetti Luz: é Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), em atividade voluntária de Iniciação Científica.
Renan de Morais Afonso:é estudante de Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCampinas), bolsista de Iniciação Científica do CNPq/MCTI.
Murilo Fernandes de Araújo: é estudante de Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCampinas), bolsista de Iniciação Científica do PIBIC/CNPq.
Isabella Goulart Bittencourt: é estudante de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em atividade voluntária de Iniciação Científica.
Lucas de Francisco Carvalho: é Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade São Francisco.
Sônia Regina Fiorim Enumo: é Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, bolsista de produtividade em pesquisa em nível 1B do CNPq/MCTI.
1Apoio: CAPES (bolsa de Doutorado para primeira autora); CNPq/MCTI (bolsa de produtividade em pesquisa em nível 1B para última autora).
2Endereço para correspondência: R. José de Alencar, 747, apto 41, Centro, 13013-040, Campinas-SP. E-mail: andressa_becker@hotmail.com