A reserva cognitiva (RC) é um conceito que enfatiza a complexa interação entre fatores biológicos e ambientais na determinação da capacidade cognitiva ao longo da vida. Observa-se que a RC desempenha um papel fundamental na compreensão das diferenças individuais em habilidades cognitivas e no desempenho das atividades diárias diante dos efeitos do envelhecimento cerebral (Stern et al., 2020). Estudos em neurociência e psicologia investigam a capacidade do cérebro de se adaptar e compensar os efeitos do envelhecimento, lesões cerebrais ou doenças neurodegenerativas (Farina et al., 2018; Stern, 2017).
Nessa perspectiva, os instrumentos de medida da RC são essenciais na pesquisa acadêmica e nas atividades clínicas devido à sua capacidade de quantificar a resiliência do sistema cognitivo diante de diferentes cenários do desenvolvimento humano (Stern et al., 2020). Eles possibilitam identificar indivíduos em risco de declínio cognitivo e podem orientar estratégias de intervenção. Além disso, esses instrumentos contribuem para avanços na neuropsicologia, proporcionando reflexões sobre os mecanismos subjacentes à proteção cerebral e ao fortalecimento da capacidade cognitiva ao longo da vida, impactando positivamente a qualidade de vida em diferentes fases da vida. Contudo, essas ferramentas ainda são escassas e com poucas evidências de propriedades psicométricas adequadas, em especial para população brasileira (Landenberger et al., 2019).
No contexto brasileiro, um estudo realizou a tradução, adaptação e investigações preliminares da Escala de Reserva Cognitiva (ERC) de León et al. (2011), de origem espanhola para o português do Brasil. A ERC compreende 24 itens que abrangem atividades cognitivamente estimulantes, agrupadas em categorias. Cada item é avaliado em uma escala Likert que varia de 0 a 4, com base na frequência com que o participante realizou cada uma dessas atividades ao longo de fases de sua vida (Landenberger et al., 2021).
Assim, para obter mais dados sobre a qualidade de um instrumento são necessários outros estudos de diferentes aspectos psicométricos de validade, fidedignidade e normatização (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2022). Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi investigar as evidências de validade baseadas em variáveis externas da ERC em uma amostra de adultos idosos brasileiros. Especificamente, pretendeu-se verificar a associação entre os escores da ERC com medidas cognitivas, sintomas depressivos e variáveis sociodemográficas em adultos idosos, além de verificar o valor preditivo dos fatores da ERC para o desempenho cognitivo e de sintomas depressivos.
Método
Participantes
A amostra contou com 206 adultos, idosos, da comunidade, com idades entre 60 e 102 anos (M=75,37; DP=10,07), dos quais a maioria eram mulheres e com ensino fundamental (incompleto ou completo). Ainda, o estado civil mais frequente foi casado e/ou em união estável, a maior parte recebia até dois salários-mínimos como renda familiar mensal e avaliou como boa ou ótima a sua saúde geral. As demais informações dos dados sociodemográficos encontram-se na Tabela 1. Incluíram-se no estudo adultos idosos com idade ≥60 anos, de qualquer nível educacional, e foram excluídos aqueles que apresentaram escores sugestivos de declínio cognitivo no Miniexame do Estado Mental (MEEM).
n | % | |
---|---|---|
Sexo | ||
Masculino | 77 | 37 |
Feminino | 129 | 63 |
Escolaridade | ||
Fundamental (incompleto/completo) | 178 | 86 |
Médio (incompleto/completo) | 16 | 8 |
Superior (incompleto/completo) | 12 | 6 |
Estado civil | ||
Casado(a) ou em união estável | 123 | 60 |
Separado(a) | 6 | 3 |
Viúvo(a) | 66 | 32 |
Solteiro(a) | 11 | 5 |
Renda familiar mensal | ||
≤ 2 salários-mínimos | 116 | 56 |
Entre 3-4 salários-mínimos | 59 | 29 |
Entre 5-6 salários-mínimos | 23 | 11 |
≥ 7 salários-mínimos | 8 | 4 |
Percepção subjetiva de saúde geral | ||
Péssima/ruim | 8 | 4 |
Regular | 79 | 38 |
Boa/ótima | 117 | 58 |
Instrumentos
Ficha de dados sociodemográficos. Desenvolvida especificamente para esse estudo, incluiu questões sobre idade, escolaridade, estado civil, sexo, renda familiar e percepção subjetiva de saúde.
Escala de Reserva Cognitiva – ERC (adaptada por Landenberger et al., 2021). A ERC é composta por 24 itens que verificam por meio de uma escala Likert de 5 pontos a frequência do envolvimento de atividades referentes à reserva cognitiva em três momentos distintos da vida: juventude (quando a pessoa tinha entre 18 e 35 anos de idade), idade intermediária (quando a pessoa tinha entre 36 e 64 anos de idade) e velhice (a partir dos 65 anos de idade). Os itens são divididos nos fatores Atividades de Vida Diária, Formação-Informação, Hobbies/Passatempos e Vida Social. No Brasil, a ERC demonstrou adequada consistência interna (α=0,94) para uma amostra de adultos jovens e idosos.
Miniexame do Estado Mental – MEEM (adaptado por Chaves & Izquierdo, 1992). É um dos testes de rastreio cognitivo mais utilizado no contexto clínico e de pesquisa para avaliação de quadros demenciais. O MEEM fornece medidas de orientação têmporo-espacial, registro, atenção e cálculo, evocação e linguagem, cujo escore total varia entre 0 e 30 pontos. Os pontos de corte adotados foram os sugeridos por Kochhann et al. (2010) conforme escolaridade, os quais estão adequados aos idosos da região sul do Brasil: 21 pontos para analfabetos, 22 para baixa escolaridade (entre um e cinco anos de ensino formal), 23 para média escolaridade (entre seis e 11) e 24 para alta escolaridade (12 ou mais).
Exame Cognitivo de Addenbrooke-Revisado – ECA-R (adaptado por Carvalho & Caramelli, 2007). O ECA-R é um instrumento de avaliação cognitiva breve composta diferentes tarefas que investigam habilidades de orientação (temporal e espacial), atenção concentrada, memória (imediata e tardia), fluência verbal, linguagem (compreensão, escrita, nomeação e leitura) e habilidades visuoperceptivas. No Brasil, o ECA-R já demonstrou evidências de validade a partir da associação de seus escores com outras medidas cognitivas (Dalpubel et al., 2019).
Teste dos Cinco Dígitos – FDT (adaptado por Paula & Malloy-Diniz, 2015). Objetiva investigar funções executivas, especificamente os componentes de inibição e flexibilidade cognitiva. É composto por quatro cartões com números e símbolos respectivos às tarefas de leitura, contagem, escolha e alternância. Na tarefa de leitura o participante deverá ler números; na tarefa de contagem deverá contar uma quantidade de dígitos; na tarefa de escolha deverá contar a quantidade de números; e por fim, na tarefa de alternância deverá intercalar entre contar a quantidade de número e ler o número. Os escores de cada cartão são utilizados para o cálculo dos indicadores de Inibição e Flexibilidade Cognitiva. O FDT já apresenta dados normativos e evidências de validade para a população brasileira.
Questionário Disexecutivo – DEX (Wilson et al., 1996). É constituído por 20 questões que investigam, por meio de autorrelato, dificuldades nas funções executivas. Os itens são respondidos por meio de escala Likert de 0 a 4 pontos correspondentes à frequência da ocorrência dos problemas executivos, e o escore total varia de 0 a 80 pontos, sendo pontuações elevadas sugerem maior incidência de problemas executivos. No Brasil, em adultos idosos o DEX demonstrou adequada consistência interna e associação com demais medidas cognitivas (Oliveira et al., 2021).
Escala de Depressão Geriátrica, versão reduzida – GDS-15 (adaptado por Almeida & Almeida, 1999). Composta por 15 questões dicotômicas (“sim” e “não”) acerca da ocorrência de sintomas depressivos. Cada resposta indicativa de sintomas depressivos recebe 1 ponto, podendo o escore total da escala variar entre 0 e 15 pontos. No Brasil, a versão adaptada demonstrou estabilidade dos escores totais de adultos idosos em medidas de teste-reteste
Procedimentos
O estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE removido pelos autores) e o termo de consentimento foi obtido de todos os participantes. Os adultos idosos foram recrutados da comunidade por conveniência e foram avaliados individualmente, em sala apropriada, em um encontro único com duração aproximada de 90 minutos.
Análise de dados
Utilizou-se estatística descritiva (média, desvio-padrão e percentual) e inferencial. A distribuição dos dados foi verificada por meio do Teste de Kolmogorv-Smirnov, os quais apresentaram distribuição não paramétrica. Dessa forma, a associação entre as variáveis foi investigada por meio de correlação de Spearman, sendo interpretadas como associações fracas (coeficientes ≥0,10), moderadas (coeficientes ≥0,30) e fortes (coeficientes ≥0,50) a partir da classificação de Cohen (1988). A fim de averiguar o valor preditivo dos fatores da ERC para o desempenho cognitivo e sintomas depressivos, utilizou-se regressão linear múltipla com método stepwise. Resultados com p <0,05 foram considerados significativos e o programa estatísticos utilizado foi o JASP versão 0.18.0.
Resultados
Os escores obtidos nos instrumentos encontram-se na Tabela 2. Verificou-se que entre os fatores da ERC, o que obteve média mais elevada foi Hobbies/Passatempos, seguido por Atividades de Vida Diária, Vida Social e Formação-Informação.
M | DP | Mínimo | Máximo | |
---|---|---|---|---|
ERC | ||||
Atividades de vida diária | 32,56 | 11,74 | 5 | 48 |
Formação-informação | 20,15 | 9,28 | 0 | 48 |
Hobbies/passatempos | 57,66 | 23,40 | 10 | 144 |
Vida social | 27,35 | 6,56 | 0 | 36 |
Total | 137,72 | 42,07 | 32 | 275 |
MEEM | 26,49 | 2,25 | 21 | 30 |
ECA-R | ||||
Orientação e atenção | 15,96 | 1,76 | 12 | 19 |
Memória | 15,50 | 5,86 | 1 | 28 |
Fluência | 8,07 | 2,56 | 1 | 14 |
Linguagem | 21,75 | 4,04 | 11 | 26 |
Visuoperceptivas | 12,25 | 2,91 | 2 | 16 |
FDT | ||||
Inibição | 29,40 | 45,65 | −309 | 420 |
Flexibilidade | 63,45 | 80,98 | −118 | 930 |
DEX | 15,97 | 9,66 | 1 | 50 |
GDS-15 | 2,97 | 2,63 | 0 | 14 |
Nota. ERC=Escala de Reserva Cognitiva; MEEM=Miniexame do Estado Mental; ECA-R=Exame Cognitivo de Addenbrooke-Revisado; FDT=Teste dos Cinco Dígitos; DEX=Questionário Disexecutivo; GDS-15=Escala de Depressão Geriátrica, versão reduzida
Os resultados referentes à correlação de Spearman encontram-se na Tabela 3. Ao se considerar as variáveis sociodemográficas, a idade e a renda familiar associaram-se, respectivamente, de maneira negativa e positiva, com todos dos fatores da ERC, à exceção do fator Vida Social. Já a escolaridade associou-se positivamente com todos os fatores da ERC.
ERC | |||||
---|---|---|---|---|---|
Atividades de vida diária | Formação-informação | Hobbies/Passatempos | Vida social | Total | |
Idade (anos) | −0,420*** | −0,329*** | −0,345*** | −0,064 | −0,400*** |
Escolaridade (anos) | 0,442*** | 0,462*** | 0,557*** | 0,208** | 0,570*** |
Renda familiar | 0,258*** | 0,281*** | 0,245*** | 0,116 | 0,289*** |
MEEM | −0,009 | 0,132 | 0,048 | −0,062 | 0,042 |
ECA-R – Orientação e atenção | 0,011 | 0,123 | 0,068 | 0,008 | 0,085 |
ECA-R – Memória | 0,192* | 0,400*** | 0,346*** | −0,069 | 0,380*** |
ECA-R – Fluência | 0,180 | 0,414*** | 0,386*** | −0,050 | 0,407*** |
ECA-R – Linguagem | 0,160 | 0,251** | 0,182 | 0,031 | 0,223* |
ECA-R – Visuoperceptivas | 0,257** | 0,286** | 0,168 | −0,162 | 0,233* |
FDT – Inibição | −0,168* | −0,153* | −0,208** | 0,003 | −0,204** |
FDT – Flexibilidade | −0,111 | −0,083 | −0,208** | −0,076 | −0,195** |
DEX | −0,085 | −0,082 | −0,084 | −0,152 | −0,117 |
GDS-15 | −0,133 | −0,195** | −0,253*** | −0,163* | −0,261*** |
Nota. ERC=Escala de Reserva Cognitiva; MEEM=Miniexame do Estado Mental; ECA-R=Exame Cognitivo de Addenbrooke-Revisado; FDT=Teste dos Cinco Dígitos; DEX=Questionário Disexecutivo; GDS-15=Escala de Depressão Geriátrica, versão reduzida; *p<0,05; **p≤0,01; ***p≤0,001
Já quanto às variáveis cognitivas, o escore de memória do ECA-R e o índice de inibição do FDT associaram-se, respectivamente, de forma positiva e negativa, com todos os fatores da ERC, exceto com o fator Vida Social. O fator Atividades de Vida Diária da ERC associou-se positivamente com habilidades visuoperceptivas do ECA-R, enquanto o fator Formação-Informação associou-se positivamente com habilidades de linguagem, fluência e visuopercepção do ECA-R. O fator Vida Social associou-se negativamente com o índice de flexibilidade cognitiva do FDT e positivamente com habilidades de fluência do ECA-R. Finalmente, os escores da GDS-15 relacionaram-se negativamente com todos os fatores da ERC, à exceção do fator Atividades de Vida Diária.
A partir dos resultados da correlação, conduziu-se uma análise de regressão linear múltipla com o intuito de verificar o valor preditivo dos fatores da ERC para o desempenho cognitivo e sintomas depressivos. Os resultados encontram-se na Tabela 4.
B±SE | β | t | p | R2a | |
---|---|---|---|---|---|
Memória (ECA-R) | 0,126 | ||||
Constante | 10,442±1,326 | 7,875 | ≤ 0,001 | ||
Formação-Informação (ERC) | 0,231±0,056 | 0,366 | 4,143 | ≤ 0,001 | |
Fluência (ECA-R) | 0,189 | ||||
Constante | 5,395±0,559 | 9,655 | ≤ 0,001 | ||
Formação-Informação (ERC) | 0,122±0,024 | 0,442 | 5,198 | ≤ 0,001 | |
Linguagem (ECA-R) | 0,061 | ||||
Constante | 19,242±0,946 | 20,335 | ≤ 0,001 | ||
Formação-Informação (ERC) | 0,115±0,040 | 0,264 | 2,879 | 0,005 | |
Visuoperceptivas (ECA-R) | 0,097 | ||||
Constante | 8,609±1,041 | 8,272 | ≤ 0,001 | ||
Atividades de vida diária (ERC) | 0,100±0,028 | 0,324 | 3,611 | ≤ 0,001 | |
GDS | 0,056 | ||||
Constante | 4,562±0,475 | 9,599 | ≤ 0,001 | ||
Hobbies/Passatempos (ERC) | −0,028±0,008 | −0,246 | −3,624 | ≤ 0,001 |
Nota. ECA-R=Exame Cognitivo de Addenbrooke-Revisado; ERC=Escala de Reserva Cognitiva; GDS-15=Escala de Depressão Geriátrica, versão reduzida
O fator Formação-Informação da ERC atuou como preditor para as habilidades cognitivas de memória, fluência e linguagem avaliadas pelo ECA-R, com variância explicada aproximada entre 6% e 19%. Já o fator Atividades de Vida Diária da ERC foi preditor para as habilidades visuoperceptivas (ECA-R), com variância explicada aproximada de 10%, enquanto o fator Hobbies/Passatempos da ERC atuou como preditor para os escores da GDS-15, com variância explicada de cerca de 6%. As demais variáveis não foram significativas e portanto não apresentaram modelos de regressão linear múltipla.
Discussão
O presente estudo teve como objetivo verificar evidências de validade baseadas em variáveis externas da ERC em adultos idosos, associando os escores da escala com demais medidas cognitivas (orientação, atenção, memória, linguagem, habilidades visupoerceptivas e funções executivas), sintomas depressivos e variáveis sociodemográficas (idade, escolaridade e renda). Ainda, buscou identificar o valor preditivos da reserva cognitiva para o desempenho das habilidades cognitivas.
Dentre os principais resultados, verificou-se que idosos mais jovens, com maior escolaridade e com maior renda familiar demonstraram maiores níveis de reserva cognitiva. Ainda, maior desempenho mnemônico, de funções executivas, de linguagem e de habilidades visuo-perceptivas associou-se com níveis de reserva cognitiva mais elevados. Em contrapartida, escores reduzidos de sintomas depressivos foram relacionados com maior reserva cognitiva. Na análise de regressão, o envolvimento ao longo da vida em atividades referentes à leitura, escrita e formação continuada foram fatores preditivos para maior desempenho de memória, funções executivas e linguagem. Já a capacidade funcional foi fator preditivo para maior desempenho em habilidades visuoperceptivas. O engajamento ao longo da vida em tarefas relacionadas a passatempos, participação em eventos culturais, pintura e realização de atividade física foram preditivos para índices reduzidos de sintomas depressivos.
Instrumentos padronizados que se propõem a avaliar a reserva cognitiva ainda são escassos, principalmente no contexto brasileiro (Landenberger et al., 2019; Nogueira et al., 2022), sendo que a maioria das pesquisas utiliza variáveis individuais (como idade e escolaridade) como estimativas da reserva cognitiva (Farina et al., 2021; Farina et al., 2018). Dessa forma, a ERC apresenta como diferencial uma investigação sistematizada dos principais componentes da reserva cognitiva considerando o modelo ativo (por exemplo, realização de atividades de vida diária, hábitos de leitura e de escrita, envolvimento em atividades musicais, prática de atividade física e interação social) (Landenberger et al., 2021; León et al., 2011).
Em relação aos resultados encontrados no presente estudo, os dados estão de acordo com a literatura (Panico et al., 2022). Demais pesquisas que também utilizaram a ERC como medida de reserva cognitiva encontraram associações entre os escores da escala e desempenho em testes de atenção, memória e funções executivas (Cabaco et al., 2023; Relander et al., 2021). No entanto, ao comparar com o estudo preliminar de validade da versão adaptada da ERC para o Brasil (Landenberger et al., 2021), os resultados foram discordantes. É possível que no presente estudo tenham sido encontradas associações significativas entre os escores da ERC e demais medidas cognitivas visto que o ECA-R é um instrumento que avalia diferentes habilidades, além de ter sido utilizada a GDS-15, a qual é específica para investigação de sintomas depressivos em adultos idosos. O estudo de Landenberger et al. (2021), entretanto, correlacionou os escores da ERC com uma medida breve de QI e uma escala de depressão voltada ao público geral.
Embora os dados desse estudo demonstraram evidências de validade da ERC, é necessário destacar algumas limitações, tais como a utilização de instrumentos de avaliação considerados de rastreio e breve, como as tarefas de fluência verbal e o ACE-R, para investigação do desempenho cognitivo. É possível que baterias de avaliação neuropsicológica mais completas poderiam identificar maiores níveis de associação, bem como analisar subcomponentes cognitivos de forma mais aprofundada, como a memória de trabalho. Além disso, o tamanho amostral e características dos participantes podem comprometer a generalização dos resultados.
No entanto, destaca-se que a ERC demonstrou evidências de validade baseada em variáveis externas, sendo um instrumento que poderá contribuir para demais pesquisas que tenham como foco a reserva cognitiva, principalmente em estudos longitudinais e de intervenção neuropsicológica em adultos idosos. Sugere-se para estudos futuros que as evidências de validade da ERC sejam verificadas em amostras clínicas.