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Revista da SPAGESP
versão impressa ISSN 1677-2970
Rev. SPAGESP v.7 n.2 Ribeirão Preto dez. 2006
ARTIGOS
Grupo de apoio para casais pretendentes à adoção: a espera compartilhada do futuro
Support group for couples intending to the adoption: the shared wait of the future
Grupo de apoyo para parejas que buscan la adopción: la espera compartida del futuro
Fábio Scorsolini-Comin1; Lissandra Maria Amato2; Manoel Antônio dos Santos3
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP
RESUMO
O objetivo do presente estudo é descrever um grupo de pais que aguardavam na fila para adoção. As nove sessões realizadas foram audiogravadas e transcritas integralmente. Os resultados mostram que, na percepção de seus participantes, o grupo teve um caráter suportivo e informativo. A opção pelo grupo fechado e de tempo limitado se constituiu como uma boa opção de intervenção, em se tratando de pessoas que estavam temporariamente na fila do Fórum aguardando o desenrolar do processo de adoção.
Palavras-chave: Adoção; Grupo de adotantes; Fatores terapêuticos.
ABSTRACT
The objective of the present study is to describe a group of parents who waited in the line for adoption. Nine sessions were carried through. The sessions had been audio recorded and transcribed integrally. The results show that the group had a supportive and informative character according the perception of its participants. Closed and time limited format has revealed a good option of intervention for people who were temporarily in the line of the tribunal waiting for the consumation of the adoption process.
Keywords: Adoption; Adopters group; Therapeutical factors.
RESUMEN
El objetivo del presente estudio es presentar un grupo de padres y madres que aguardaban en la cola de espera para adopción. Las nueve entrevistas fueron grabadas en audio y transcritas completamente. Los resultados mostran que, en la percepción de sus participantes, el grupo tuvo una actitud de apoyo e de información. La opción por el grupo cerrado y de tiempo restringido se constituyo como una buena opción de intervención, en se tratando de personas que estaban temporalmente em la cola del Foro aguardando el desarrollo del proceso de adopción.
Palabras clave: Adopción; Grupo de adotantes; Factores teraupeuticos.
A TEIA DE FANTASIAS QUE DEMARCAM O CAMPO IMAGINÁRIO DA ADOÇÃO
É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter.
Vinícius de Moraes e Toquinho
A inserção de uma criança em uma família pode se dar de várias formas que não a via biológica, sendo uma delas a adoção, que constitui uma maneira legal de organizar outras formas de relações de filiação (BRAUER, 1993).
Apesar de ser uma prática milenar, a adoção ainda é permeada na atualidade por mitos, fantasmas, estigmas e omissões, mesmo após tantas transformações de ordem ética, política, jurídica, de costumes e comportamentos (FONSECA, 1995). Em se tratando da realidade brasileira, esse fenômeno tem que ser visto em uma perspectiva sócio-cultural mais ampla, pois tem a ver com o lugar que historicamente foi atribuído à infância no Brasil (FREITAS, 1997).
Há inúmeros fatores que levam uma pessoa a querer adotar, mas, de acordo com alguns estudos (WEBER, 2000), o principal em nosso contexto é a infertilidade. Segundo Ebrahim (2001), citado por Souza-Oliveira; Rossetti-Ferreira (2004), 46,3% de adotantes convencionais (que realizam a adoção a partir de procedimentos legais) apontaram como principal motivo para adotar crianças “não ter filhos próprios”.
Em muitos casos, para que um casal se abra para outras possibilidades de se ter um filho, é necessário o processamento do luto da criança que não pode ser gerada no próprio ventre, e que se pense que, se a via biológica não foi possível, ainda há outras maneiras de ter esse desejo realizado.
Segundo Maldonado (2001), a adoção deve ser encarada como uma adoção recíproca, no sentido de mútua constituição. É preciso, mais do que a entrega, uma verdadeira doação de dedicação e sentimentos para que o futuro seja marcado por relações bem-sucedidas, de mútua construção de sonhos e compartilhamento das possíveis frustrações a serem vivenciadas.
Aceitar a condição de pais adotivos implica elaborar uma série de fantasias, crenças, valores, desejos e expectativas com relação à parentalidade. Esse processo de elaboração irá refletir na maneira como os futuros pais irão construir seu lugar e encarar sua nova família: se haverão de tentar reproduzir o modelo de família biológica, por meio de um processo de identificação com a criança calcado na busca de semelhanças físicas e do apagamento da origem do filho adotivo, ou se outras soluções serão encontradas para inserir a criança no imaginário parental, que permitam a elaboração do luto pelo filho não-nascido das próprias entranhas, mas concebido simbolicamente e adotado pelos laços de ternura.
Santos e Pereira (1999, p. 229) afirmam que as famílias ainda procuram reproduzir o modelo de família biológica ao máximo, adotando crianças recém-nascidas e de cor da pele semelhante à sua, privilegiando o perfil correspondente ao padrão familiar mais aceito e valorizado. Em sua pesquisa desenvolvida no Fórum de Ribeirão Preto, ao caracterizar o perfil dos candidatos à adoção e o perfil das crianças desejadas, esses autores observaram que 65% dos casais que se candidatam à adoção preferem uma criança branca, com idade máxima de até um ano (71%), 51% mostram-se indiferentes quanto ao sexo e 36% preferem crianças menina, sem problemas físicos (91%) e mentais (95%).
Santos; Pizeta (1999) destacam que as motivações que levam um casal a adotar uma criança estão permeadas por elementos conscientes e inconscientes. A nível consciente, os motivos da prática da adoção são a infertilidade e o desejo das pessoas de realizarem a maternidade ou a paternidade. Em nível inconsciente, os motivos podem ser: a substituição de uma criança falecida, a necessidade dos pais de provar competência, reparando suas decepções ou insatisfações, ou ainda problemas pessoais.
Esse tema é entremeado por uma série de fatores que vão levar a diferentes configurações e distintas formas de se lidar com cada situação. Muitas vezes pode ocorrer uma ambivalência de sentimentos, pois, ao mesmo tempo em que ocorre a gratificação de desejos com a chegada do filho adotivo, tem que se abdicar de outros. Esta constante negociação entre o filho desejado-ideal e o filho possível na concretude das ações faz parte de um processo de constituição das pessoas e das situações, que é construído e envolve desejos e frustrações das pessoas envolvidas na relação.
Inúmeras fantasias e preconceitos permeiam o processo de adoção, que muitas vezes é tomada como algo delitivo, como se tivessem cometido um roubo, gerando sentimentos de culpa e, conseqüentemente, medo de represálias, como o medo de perder a criança ou de que esta resolva retornar para os pais biológicos. Também é relatado pela literatura o preconceito de “sangue ruim”, ligado ao filho biológico, sendo que muitas pessoas acabam se posicionando contra a adoção devido à crença naturalista de que a criança já traria no sangue todas as mazelas, comportamentos e caracteres dos pais biológicos; preconceito da “criança das fadas”, refletido no comportamento dos adotantes que buscam um perfil específico de criança a ser adotada, preferindo as recém-nascidas; preconceito racial, escancarado nos abrigos, onde a maioria das crianças não adotadas são negras ou mulatas (MINGORANCE, 2006).
No processo de adoção ocorre um entrelaçamento do desejo da criança por uma família com o desejo de homens e mulheres em vivenciarem a paternidade e a maternidade. Compreender as motivações na busca de um filho, seja ele adotivo ou biológico, é importante, pois o lugar ocupado pelo mesmo no imaginário dos pais influirá nas relações entre ambos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) habilita qualquer pessoa maior de 21 anos, independentemente do estado civil, a adotar um filho, respeitando, para isso, uma diferença mínima de 16 anos entre o adotante e o adotando e ausência de parentesco (irmãos e avós), devendo o candidato à adoção se submeter a um parecer técnico e/ou do juiz. O ECA prevê um trabalho sistemático de preparação e acompanhamento por técnicos que orientem a criança e a família durante todo o processo de adoção.
Tais facilidades não acabaram com os obstáculos no processo de adoção, o que se deve principalmente aos diferentes aspectos que se relacionam às expectativas e temores ligados à adoção, ao perfil bastante específico da criança desejada pela maioria dos adotantes (MINGORANCE, 2006). Isso muitas vezes tornam o processo de esperar pela chegada da criança uma vivência emocionalmente dolorosa para os pretendentes à adoção. O adiamento da maternidade acarreta um custo emocional para os pretendentes à adoção que precisa ser considerado (TEIXEIRA, 1999).
A possibilidade de reunir pessoas que vivem essa condição parece ser uma oportunidade privilegiada para se criar um contexto propício para o intercâmbio de experiências e examinar os sentimentos e emoções despertados até que se possa consumar o tempo de espera. Como observa a literatura recente sobre grupos, as configurações vinculares que se formam no contexto dos novos arranjos familiares da contemporaneidade oferecem um campo potencial de trabalho para os profissionais que reconhecem o valor do grupo (ZIMERMAN; OSORIO, 1997; FERNANDES; SVARTMAN; FERNANDES, 2003). O trabalho com grupos nos contextos comunitários realça as potencialidades do grupo como um contexto fomentador de transformação e ferramenta de mudança individual (YALOM; VINOGRADOV, 1988; ZIMERMAN, 1999; FORSYTH; CORAZZINI, 2000).
Nesse sentido, o objetivo do presente estudo é descrever um grupo de pais que aguardavam na fila para adoção, focalizando os fatores terapêuticos presentes no processo grupal.
O MÍNIMO DENOMINADOR COMUM DOS GRUPOS: OS FATORES TERAPÊUTICOS
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver.
Ivan Lins, Novo Tempo
Bloch et al. (1979, apud BECHELLI; SANTOS, 2001) definem os fatores terapêuticos como sendo um elemento da terapia de grupo responsável por auxiliar na melhoria de condição de um paciente e que pode ser decorrente das ações do terapeuta do grupo, dos membros do grupo ou mesmo do paciente. Segundo Santos (2004) os fatores terapêuticos seriam mediadores de mudança, de transformação psíquica, sendo esses elementos comuns a toda terapia de grupo.
Yalom; Vinogradov (1992) descrevem onze fatores terapêuticos que poderiam estar presentes nos grupos terapêuticos, sendo eles: instilação de esperança; universalidade; oferecimento de informações; altruísmo; desenvolvimento de técnicas de socialização; comportamento imitativo; catarse; reedição corretiva do grupo familiar primário; fatores existenciais; coesão do grupo; aprendizagem intergrupal.
Seguindo as orientações propostas por Mackenzie (1997, citado por SANTOS, 2004), os fatores terapêuticos podem ser agrupados em quatro grandes grupos, a saber:
1. Fatores de apoio (universalidade, instilação de esperança, aceitação, altruísmo);
2. Fatores de auto-revelação (auto-revelação e catarse);
3. Fatores de trabalho psicológico: aprendizado interpessoal e insight;
4. Fatores de aprendizado: aconselhamento e aprendizado por intermédio do outro.
O GRUPO DE ADOTANTES
O grupo utilizado como instrumento de análise denomina-se Grupo de Orientação Psicológica para Adotantes e foi realizado no período de outubro a dezembro de 2002.
Participantes
Foram convidados para participar do Grupo de Orientação, por intermédio de carta endereçada às residências, aproximadamente 100 pessoas que aguardavam pela adoção de uma criança no Cadastro do Setor de Serviço Social e Psicologia do Fórum de Ribeirão Preto. Dos convidados, apenas 21 pessoas (dez casais e uma pessoa solteira) compareceram ao encontro prévio e 11 participaram de todo o processo de intervenção. Estes se comprometeram a permanecer até o final da intervenção, não sendo admitida entrada de novos participantes no desenrolar do processo, caracterizando uma modalidade de grupo fechado.
A convocação foi realizada por técnicos do referido Setor, sendo duas psicólogas e uma assistente social. A assistente social e uma das psicólogas fizeram parte da equipe de coordenação do grupo e participaram das supervisões dadas pelo profissional responsável e idealizador do projeto.
Local
Os encontros foram realizados em uma sala de aula gentilmente cedida para esse fim por uma escola privada localizada na região central da cidade de Ribeirão Preto, município do Estado de São Paulo. Esse local foi escolhido na tentativa de facilitar o acesso dos participantes.
Freqüência
O grupo foi realizado com encontros semanais, com duração de uma hora e meia cada, sempre às terças-feiras das 19:30 às 21:00, tendo duração limitada a dez encontros, sendo o primeiro dedicado à recepção e apresentação do modelo de trabalho.
Equipe de coordenação
A equipe de coordenação do grupo foi composta por quatro alunas da graduação (1°, 2º, 3º e 5° anos) do curso de Psicologia da FFCLRP-USP e por duas técnicas do Setor de Serviço Social e Psicologia do Fórum de Ribeirão Preto, tendo sido a equipe previamente autorizada pelo juiz da Vara da Infância e da Juventude para o desenvolvimento do projeto de intervenção.
Objetivos
O Grupo de Orientação Psicológica para Adotantes teve como objetivo principal fornecer orientação psicológica a pessoas que se candidatam à adoção de uma criança e também contribuir com informações sobre os trâmites legais desse processo. Dentro desse objetivo buscou-se de forma mais específica promover reflexões a respeito de temas que estão imbricados no processo de adoção, tais como: motivação, expectativas, concepções, fantasias, segredo, revelação, a diferença entre a criança idealizada e a criança real, tempo de espera, paternidade e maternidade.
Programação
De acordo com os objetivos do grupo, foi desenvolvida uma programação com temas e estratégias, a fim de se fazer uma distribuição adequada das temáticas relevantes a respeito do processo de adoção. Optou-se pela utilização de atividades lúdicas e de dramatização, tendo como finalidade a facilitação da reflexão pelos participantes.
Ao longo do processo, algumas atividades foram reformuladas, retiradas e acrescentadas ao programa, visando uma maior possibilidade de atingir os objetivos propostos.
Consideraremos dois dos fatores terapêuticos que foram mobilizados ao longo dos encontros: a universalidade e a instilação de esperança.
(1) UNIVERSALIDADE
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Ivan Lins, Novo Tempo
É o fator no qual o participante toma consciência de que mais pessoas no grupo possuem determinados impulsos, comportamentos, problemas ou conflitos, uma vez que outros membros também compartilham de experiências semelhantes as dele. O paciente rompe com o seu aparente isolamento, havendo a possibilidade de intercâmbio social franco e honesto.
A sensação provocada é a de alívio, melhora da auto-estima e redução do estigma. O senso de universalidade, como apontado por Santos (2004), é a conseqüência do processo de comparação social que ocorre naturalmente em grupos.
Nas sessões analisadas podemos destacar e comentar algumas seqüências interacionais em que este fator surge, como o que segue, narrado na segunda sessão do grupo, em que a participante A comenta:
A: (...) Ah, eu acho que é bem isso que a pessoa escreveu, né?! Eu acho que cada um de nós está aqui com esse objetivo, né, de aumentar a família... ou não ficar só nos dois ou tentar mais um filho.
Nessa fala, a participante A está concordando com o que foi colocado pela coordenadora do grupo (que estava lendo, em um papel, o que havia sido escrito por um dos participantes do grupo, em uma dinâmica ocorrida na sessão). Podemos perceber uma franca identificação da participante A com o que havia sido escrito por outro participante, que está no mesmo grupo e que coaduna com o objetivo que motiva A a freqüentar o grupo.
Explicitando melhor essa questão, e expressando o aspecto da identificação, podemos notar que a universalidade se estende em uma outra fala, como a que segue, na qual A tenta explicar aos demais integrantes do grupo os sentidos que o participante atribuiu na atividade ao escrever o que escreveu, sobre a questão da importância da família:
A: Ah, eu acho que a família é tudo na vida da gente. Quer dizer, se a pessoa que escreveu isso já tem esse sentido de formar uma família, é porque ela ama a família... sei lá, deve ser uma família cheia de amor, cheia de respeito.
Na segunda sessão do grupo, após a realização de uma dinâmica que pedia que os participantes completassem a seguinte frase: “Querer um filho significa...”, podemos reconhecer a emergência da universalidade entre os participantes em relação a essa significação, já que os membros mostram-se solidários uns com os outros, concordando quanto à questão de que ter um filho pode significar poder formar uma família e compartilhar afetos. Esse movimento fica claro no seguinte recorte da fala de um marido:
B. (lendo o que havia escrito) “...compartilhar um pouco de sua própria vida com outro ser que venha a fazer parte de sua vida”. (...) eu acho que é isso mesmo, compartilhar a vida. Assim como o C. falou, formar uma família.
C. (lendo o que escrevera) “...dar carinho e amor a quem não tem”. Acho que aqui já diz tudo!
Aqui podemos notar que os participantes concordam com a fala de um deles, atribuindo um caráter universal ao que havia sido escrito e, depois, compartilhado com o grupo.
(2) INSTILAÇÃO DE ESPERANÇA
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
Ivan Lins, Novo Tempo
Nos grupos os participantes freqüentemente observam, ao final do processo de intervenção, que o testemunho da melhora apresentada pelos outros ofereceu-lhe grandes esperanças quanto à sua própria condição. A sensação de que existe alguma possibilidade de alívio e melhora para o sofrimento decorrente das situações problemáticas enfrentadas no cotidiano, e que é possível atingir a meta que se deseja alcançar, desperta o otimismo e a confiança quanto ao seu potencial e ao seu futuro, predispondo o participante a um maior esforço em participar e trocar experiências com os demais.
Na oitava sessão recortamos um determinado trecho que parece ter funcionado como uma instilação de esperança advinda da experiência do grupo em relação à participação de um casal que, na sessão anterior, compareceu à reunião como convidado da equipe de coordenação para relatar a sua experiência bem-sucedida com a adoção tardia. Nesse sentido, a fala de um dos participantes é elucidativa de que a participação do casal alimentou a esperança do grupo, oferecendo apoio e segurança, como segue:
É, assim, mudou um pouquinho a conversa, né?! Porque a gente tava entendendo, assim, novinho; queria pegar bem novinho porque dava menos trabalho, não sei... Aquela preocupação de não dar conta, de querer educar do nosso jeito, de pegar maior... Mas a conversa que a gente teve com eles passou segurança para a gente de que você pode pegar numa idade mais avançada que você consegue lapidar ele do jeito que você quer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos perceber, em um primeiro momento, a importância do grupo de apoio, que surge como um espaço privilegiado no sentido de oferecer suporte emocional e também informativo e de orientação de aspectos práticos aos casais pretendentes à adoção.
Pontuamos que a escolha de se realizar um grupo fechado e de tempo limitado se constituiu como uma boa opção de intervenção, em se tratando de pessoas que estavam temporariamente na fila do Fórum aguardando o desenrolar do processo de adoção.
Por fim, destacamos que esse trabalho contribui para repensar a formação do profissional para o trabalho na área psi, que precisa estar munido de recursos para atuar em contextos grupais nos quais o objetivo não seja primariamente & ou exclusivamente & terapêutico. Oxalá que saibamos enxergar outras possibilidades de inserção profissional nos contextos comunitários, lançando nosso olhar para além daquilo que nos possa fazer sentido. Como diria Clarice Lispector: “O ser humano é um eterno mundo a se redescobrir”.
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Endereço para correspondência
Fábio Scorsolini-Comin
E-mail: scorsolini_usp@yahoo.com.br
Recebido em 12/04/06.
1ª Revisão em 19/06/06.
Aceite Final em 24/06/06.
1Aluno do curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP). Bolsista de Iniciação Científica (FAPESP). Membro do Centro de Investigações sobre Desenvolvimento Humano e Educação Infantil (CINDEDI) - FFCLRP-USP.
2Aluna do curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP). Membro do Grupo de Apoio Integral à Adoção - GAIA - FFCLRP-USP.
3Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Psicologia da FFCLRP-USP, psicólogo coordenador do Serviço de Psicologia do Grupo de Apoio Integral à Adoção - GAIA - FFCLRP-USP. Membro efetivo e Diretor Científico da SPAGESP. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.