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Revista da SPAGESP
versão impressa ISSN 1677-2970
Rev. SPAGESP vol.9 no.2 Ribeirão Preto dez. 2008
ARTIGOS
Grupos de apoio amplo: ancoragem e apoio psicológico em grupos terapêuticos 1
Wide supporting groups: etayage and psychological support in psychotherapeutic groups
Grupos de apoyo amplo: apuntaliamento e apoyo psicologico en grupos terapeuticos
Alexandre Mantovani 2
Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo - SPAGESP
RESUMO
A noção de apoio emocional é bastante diferente na psicanálise e em outros tipos de psicoterapias. O processo psicanalítico contrasta com as práticas conhecidas como psicoterapias de apoio, que visam oferecer ao paciente alívio de seus sintomas. As psicoterapias psicanalíticas de grupo seguem essa mesma concepção, mas acreditam que os grupos exercem formas de apoio emocional durante o processo analítico. Este artigo visa discutir estas funções de apoio emocional em grupos psicanalíticos, baseando-se no conceito de ancoragem, segundo o qual podemos considerar o grupo como um espaço para receber o conteúdo emocional dos pacientes. Nossa proposta é ilustrada com material clínico obtido a partir de experiências com grupos denominados como Grupos de Apoio Amplo, que ocorreram em uma clínica universitária social.
Palavras-chave: Grupo de apoio; Psicoterapia de grupo; Psicanálise.
ABSTRACT
The notion of emotional support is quite different between psychoanalysis and other kinds of psychotherapies. The psychoanalytical processes contrasts with the pratices called support groups which aim to offer to the patients relief from their symptoms. The group psychotherapies based on psychoanalysis follow this same conception, but they believe that group therapy is also responsible for emotional support during the analytical process. This article aims to discuss the functions of emotional support at psychoanalytical groups, based on the concept of etayage, whereby we can consider the group as a space to receive emotional contents from patients. Our proposal is illustrated with some clinical material provided from experiences with groups called Wide Supporting Groups, in a university social clinic.
Keywords: Support groups; Group psychotherapy; Psychoanalysis.
RESUMEN
El concepto de apoyo emocional es muy diferente entre el psicoanálisis y otros tipos de psicoterapias. El proceso psicoanalítico contrasta con las prácticas de llamada como las psicoterapias de apoyo que tiene por objeto ofrecer a los pacientes un alivio de sus sintomas. Las psicoterapias de grupo basada en el psicoanálisis sigue el mismo concepto, pero los grupos hacen algún tipo de apoyo emocional durante el proceso de análisis. Esto artículo se propone discutir estas funciones de apoyo emocional a los grupos psicoanalíticos, basado en el concepto de apuntalamiento, en la que podemos considerar al grupo como un espacio para recibir el contenido emocional de los pacientes. Nuestra propuesta se ilustran con material clínico dispone de experiencias con los grupos llamados Grupos de Apoyo Amplo que se produjo en una clínica de la universidad social.
Palabras clave: Grupos de apoyo; Psicoterapia de grupo; Psicoanalisis.
De um modo geral, nas diversas formas de psicoterapia entende-se que um trabalho de apoio psicológico corresponde ao oferecimento de alívio para os sintomas do paciente (DEWALD, 1981). Muitas vezes essa função é feita pelo trabalho voltado para a ênfase nos aspectos positivos do paciente, tal como se tem em uma abordagem como a de LeShan (1992).
Este tipo de psicoterapia contrasta com a psicanálise, considerando que o objetivo desta não é o alívio para a angústia e sim a compreensão acerca dos motivos inconscientes por detrás dos sintomas. Como diz Segal (1982, p. 17): “o papel do analista se restringe à interpretação do material do paciente, e evita-se rigorosamente todas as críticas, conselhos, encorajamentos, apoio [...]”. De modo resumido, pode-se afirmar que o psicanalista visa à investigação do inconsciente.
Apesar desta distância entre as concepções que fundamentam as psicoterapias de apoio e a psicanálise, há autores que abrem espaço para se considerar que no processo analítico é exercida uma função de apoio emocional, a qual não se constitui como o objetivo final de uma análise, mas é parte fundamental do processo. Esta função aparece em Bion (1966) com o conceito de réverie e em Winnicott (1983) com o conceito de holding.
Entende-se por réverie o processo mental pelo qual a mãe se sintoniza com o estado mental do bebê e assim pode se constituir como um continente para suas angústias. Este mesmo processo está presente no setting analítico, sendo que o analista se constituirá como continente para a angústia do paciente (BION, 1966).
O conceito de holding (WINNICOTT, 1983) se refere a um estado emocional da mãe que contém a angústia do bebê e lhe garante conforto e integração. Entende-se o holding como um estado da mãe em que ela se torna receptiva às comunicações silenciosas do bebê. É uma função exercida pela mãe que contribui para o desenvolvimento emocional e mental da criança. Ambos os conceitos tem como modelo original a relação mãe e bebê e se referem, em última instância, a uma função existente nas relações intersubjetivas pelo qual um sujeito pode receber e conter o estado emocional de outro.
Na psicoterapia de grupo há também referências à função de apoio. Foulkes e Anthony (1967) afirmam que o grupo oferece apoio aos participantes pelo sentimento de pertencimento. Neste sentido, valoriza-se o contato interpessoal como promotor do apoio. O fato do sujeito se sentir aceito por outros, de experimentar um espaço de livre expressão para seus conflitos e sua angústia é, por si, um fator terapêutico.
Outra consideração sobre a função de apoio exercida pelo grupo vem do conceito de ancoragem. Se o fator de pertencimento promove apoio através do sentimento de aceitação, a ancoragem se refere a um apoio de outro tipo, estritamente ligado ao investimento pulsional do sujeito no grupo. Este conceito foi apropriado por Kaës (1999) e aplicado aos estudos sobre grupos. Para compreendê-lo é necessário analisar sua origem na “Teoria Sexual” de Freud (1948).
Ao investigar os impulsos sexuais infantis, Freud (1948) propõe um encontro entre os impulsos sexuais e os impulsos de conservação da vida – atividade fisiológica como comer e dormir. No bebê, a satisfação do impulso sexual estaria atrelada a alguma atividade fisiológica, como mamar. Utilizando-se do termo alemão anhelung, cuja tradução pode ser “apoio”, Freud (1948, p. 802) diz:
No ato de sucção produtora de prazer podemos observar os três caracteres essenciais de uma manifestação sexual infantil. Esta se origina apoiada em alguma das funções fisiológicas de maior importância vital, não conhece nenhum objeto sexual, é autoerótica e seu destino sexual se encontra sob o domínio de uma zona erógena (grifo nosso).
O termo anhelung, se refere a esta função de apoio que o impulso sexual recebe do impulso de conservação. Este mesmo termo alemão foi traduzido para a língua francesa como etayage, para a língua espanhola como apoyo ou apuntalamiento e na língua portuguesa, aparece como apoio ou anáclise. Todos os termos podem se referir ao mesmo fenômeno, tal como se tem em Laplanche e Pontalis (1992).
Kaës (1999) utilizou-se do conceito de apoio para fazer considerações sobre a vida pulsional nos grupos. Mais precisamente, sobre o investimento pulsional que os sujeitos depositam no grupo.
Se em Foulkes e Anthony (1967) a função de apoio está vinculada ao sentimento de pertencimento e às relações interpessoais, com o conceito de ancoragem, tem-se outra via para pensar-se tal função. Esta via é a das formações vinculares inconscientes que por sua vez constituem-se no investimento que os sujeitos participantes do grupo depositam no mesmo.
O objetivo deste artigo é apresentar algumas considerações sobre a função de apoio psicológico em grupos psicanalíticos. Estes grupos foram denominados grupos de Apoio Amplo. Esta denominação indica que a função de apoio exercida neste tipo de grupo está relacionada à criação de condições de livre-expressão de conflitos e conteúdos inconscientes que formam os vínculos constituintes do próprio grupo. Em outras palavras, significa aplicar o enquadre psicanalítico para que ocorram estas formações vinculares. O fator terapêutico residente neste tipo de procedimento é resultante dessas formações vinculares que constituem o próprio grupo. Para discutir esta proposta será feita exposição de material clínico obtido em grupos terapêuticos de base psicanalítica.
CONTEXTO DO ESTUDO
Os grupos ocorreram em uma clínica social localizada em uma universidade do estado de São Paulo. O trabalho de psicoterapia era oferecido a estudantes e demais funcionários da universidade. Era promovido por dois psicólogos contratados que atendiam a diversas demandas relacionadas a: situações de estresse emocional, dificuldades de adaptação à vida universitária, dificuldades no cumprimento do curso, casos de doença mental e uso abusivo de álcool e drogas.
CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO
Os grupos eram abertos e heterogêneos, com sessões de uma hora e meia de duração, ocorridas semanalmente. Os grupos tinham tempo previsto de 12 encontros.
Participantes
L: buscou o atendimento psicoterápico por conta de dificuldades em seus relacionamentos estava indecisa quanto à profissão.
F: Já havia feito psicoterapia anteriormente. Referiu ser muito tímido.
D: Procurou a psicoterapia por sentir medo de ficar sozinha.
A: Referiu sentir-se muito ansiosa em situações de avaliação e em reuniões profissionais.
Para tratarmos da função terapêutica do grupo, faremos uma exposição sobre o desenvolvimento do grupo, seguindo de seu início até o desfecho.
Início do grupo
O primeiro trecho a ser analisado refere-se ao primeiro encontro do grupo, onde já vemos anunciado o tom emocional que permeará o grupo ao longo da terapia. Segue:
O grupo tem início pontualmente. Estão presentes, F., L. e D.
Faz-se um silêncio.
L.: Pensei em não vir hoje. Pensei na nossa conversa naquele dia (refere-se à entrevista com o terapeuta. Fala olhando para o mesmo) e saí daqui me sentindo bem. Por isso, pensei que não precisava vir mais...
Terapeuta: Mas vocês podem vir quando estão bem...Ou não?
Todos riem e mantém o olhar para o terapeuta.
Terapeuta: L., será que você pensou em não vir somente pelo fato de estar se sentindo bem, ou porque esta é nossa primeira sessão?
L.: É acho que tem isso também. Mas eu pensei em algumas coisas e achei que deveria vir. Sobre aquilo que falei sobre meu namorado, sobre a necessidade de pedir ajuda e sobre o ciúme. Domingo, pedi a ele (namorado) ajuda para fazer um trabalho sobre evolução, mas eu me irritei. Eu me irrito quando peço ajuda...
Terapeuta: A L. está falando da dificuldade em pedir ajuda. Mas será que isso não tem a ver com o nosso trabalho? Vir aqui também é uma forma de pedir ajuda? E se for, é difícil?
F.: É, é difícil. Quando eu vim a primeira vez, fazer a terapia anterior, eu demorei muito. Mas, com esse problemas com as meninas... Eu precisava vir. É preciso haver um crescimento para buscar ajuda.
Terapeuta: Como assim um crescimento?
F.: À medida que a gente cresce a gente perde as lembranças e é preciso um psicólogo pra te ajudar a lembrar...
Silêncio
Terapeuta: Eu pensei isso da seguinte forma. Imaginem um bebê. Quando ele é muito pequeno e ainda não fala, ele chora e, através do choro a mãe vai até ele e dá comida, dá colo, etc... A medida em que ele cresce e passa a usar as palavras, ele pode pedir a mamadeira, o papá e etc... Aqui é nossa primeira sessão do grupo. Vocês estão falando de si e estão dizendo que para pedir ajuda é preciso crescer, usando um termo da L., é evoluir.
L.: Eu acho que até hoje eu mais chorei do que falei.
Risos...
Durante a sessão, os participantes não trocam olhares entre si. Em raros momentos, quando se iniciava uma verbalização eles olhavam uns para os outros. Era ao terapeuta que os olhares e as falas eram dirigidas. Utilizando a metáfora do desenvolvimento infantil que foi usada durante a sessão, o grupo estava nascendo e ainda não tinha um olhar nem uma fala própria. Era na figura do terapeuta que os participantes, então se apoiavam, inclusive verbalmente quando L. remeteu sua fala a uma conversa anterior com o terapeuta, bem como quando F. diz que já havia feito uma terapia anteriormente e era preciso um “psicólogo” para garantir que suas lembranças fossem preservadas. Pode-se até considerar que estas lembranças, referidas por F., representam o próprio sujeito que está dividido e precisa de alguém para organizá-lo, ou agrupá-lo.
A partir dessa sessão, podemos considerar como uma primeira forma de apoio no grupo, a função “maternal” do terapeuta a quem cabe convidar os participantes a falarem de si, a se posicionarem e, simbolicamente, crescerem. Não seria um apoio no sentido de aliviar a angústia, mas sim de construir essa “malha intersubjetiva” que possibilitará a expressão daquilo que se sente e daquilo que se deseja.
A respeito das intervenções do terapeuta, há uma ênfase maior em fazer com que os sujeitos se coloquem no grupo, explicando, falando sobre aquilo que sentem e pensam, do que propriamente uma busca pela compreensão de um significado inconsciente subjacente às falas. Tampouco, buscou-se fazer um “gerenciamento” de problemas e focalizar as queixas particulares.
O intuito, inclusive com a interpretação do final da sessão, foi de mostrar como havia um sentimento presente no “aqui-agora” neste encontro e também elucidar que o trabalho ali seria construído.
O encontro
3° Sessão- Estão presentes: F., D. e L.
L.: Hoje eu tô bem...Varia, uma semana estou bem e outra mal. Na outra eu tava mal, mas talvez por causa da TPM.
F.: (Fala que teve sonhos perturbadores durante o feriado anterior ao grupo) Não sei se pela medicação (F. faz uso de antidepressivos) ou pela terapia, mas tive esses sonhos. Nem fui pra minha cidade. Fiquei pra descansar, mas com esses sonhos...
Terapeuta: Você gostaria de contar , ou comentar esses sonhos?
F.: Foram sonhos sobre aquelas situações que já falei...De controle, de cobrança...
Terapeuta: Então, parece que o grupo mexeu com vocês. Ambos se referiram a experiência passada...
L.: Parece que vir aqui falar das necessidades é perigoso.
Terapeuta: Mas vocês vieram. Apesar do grupo estar mexendo com vocês e parecer ser perigoso, vocês estão aqui hoje!
Silêncio.
D.: Eu não queria voltar pra cá. Fui pra minha cidade, fiquei com minha mãe, mas não queria voltar... Eu to com uns problemas na república onde eu moro. Não estou me dando bem com as meninas e estou dividindo quarto. Eu não sinto que tem um lugar pra mim, um lugar privativo.
Terapeuta: O que vocês acham do que a D. está falando?
L.: Eu também já tive muitos problemas em república. Morei com muitas pessoas e era uma bagunça, tinha um cachorro que fazia sujeira.
F.: Eu também já sofri disso. Morava num lugar onde o pessoal não respeitava, ligavam a TV de madrugada... Não tinha jeito de ficar lá tranqüilo...
Terapeuta: e como lidavam com isso?
F.: Eu não falava nada...
L.: Eu falava e não adiantava.
D.: Eu nem falo, acho que não adianta e depois vai ficar chato.
Silêncio.
D.: É difícil dividir as coisas.
F.: É difícil ficar sem ter espaço.
Nesta sessão o grupo foi representado pelos participantes. Inicialmente pelas falas de L., que fez referências a seu estado emocional na semana anterior, e também, diretamente na fala de F..
Para Anzieu (1993) a interpretação nos grupos difere-se da interpretação na psicanálise individual por essa ser histórica e a primeira a-histórica. Isso significa que, no grupo a interpretação deve focar o “aqui-agora” da sessão. Neste grupo, as interpretações seguiram este formato de enfatizarem o “aqui-agora”, com a particularidade de se fazerem sempre referências ao grupo e ao posicionamento dos participantes frente ao mesmo.
Ao falarem das dificuldades em viver com outros colegas, dificuldades de convivência, os participantes falam da própria situação de estar em grupo. Inclusive quando afirmam de modo unânime que “falar com os colegas de moradia não adianta”, estão se referindo ao grupo. Voltando à fala de L.: “falar das necessidades é algo perigoso”. O grupo é um lugar para se falar de necessidades.
Interpretar a fala do sujeito no grupo é uma forma de trabalhar a transferência do sujeito em relação ao grupo, o que contribui para que se promovam identificações e laços intersubjetivos. Essa formação de laços é uma forma de ancorar o sujeito no grupo. É uma estratégia que contribui para o apoio, pois a partir dessas identificações o sujeito poderá desenvolver um sentimento de pertencimento ao grupo, que, segundo Foulkes e Anthony (1967) seria o fator psicológico de apoio promovido pelos grupos.
Também, vale ressaltar, é uma forma de mostrar como o grupo representa o “grupo interno” do sujeito. O conflito de D. com suas colegas de república era também o conflito que estavam vivendo na sessão.
Para Kaës (1999, p. 130):
O grupo “externo” não é apenas um objeto de investimento , uma estrutura de apoio: é também um espaço de representação, uma cena de realização, um teatro para o cumprimento do desejo inconsciente e dos complexos defensivos que ele suscita. O grupo é o “pórtico” cuja metáfora expressa a posição psíquica paradoxal, onde o interno encontra o externo em pontos indecidíveis.
Assim, cria-se um laço entre o drama vivido pelo sujeito e o drama vivido pelo grupo e em grupo. Os problemas que chamamos do mundo “externo” do sujeito, no fim das contas representam seu drama particular e são encenados no grupo. Afinal, de que espaço F. estava se referindo? A república ou o grupo?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando se trabalha com referencial psicanalítico, a noção de um apoio psicológico não se enquadra com certas perspectivas que visam meramente gerenciar problemas ou resolver conflitos, ou ainda, trabalhar especificamente sobre uma queixa. Em psicanálise, a resolução de conflitos está vinculada ao trabalho de investigação acerca do inconsciente. Nos grupos, isso significa investigar a formação dos vínculos. O apoio psicológico exercido por estes grupos se caracterizou pela criação de condições para a enunciação e dramatização 3 de conflitos psíquicos no interior do grupo. A função terapêutica do grupo analisado seguiu uma concepção psicanalítica que pode ser resumida pela citação do casal Ortigues e Ortigues (1989, p. 16) para quem: “A finalidade da análise é chegar a perceber o tipo de problema que o indivíduo se coloca e a sua maneira de tentar resolvê-lo”.
Assim, longe de oferecer alívio sintomático, nosso intuito foi criar condições para que os sujeitos se colocassem no grupo e ali seus conflitos fossem representados pela vivência do próprio grupo. Vimos, com a análise dos dois trechos clínicos, que o grupo é um espaço de enunciação do sujeito, dos sujeitos singulares que contribuem para a formação do próprio grupo e de um sujeito do grupo, tal como conceitua Kaës (1999). Essa perspectiva de lidar com o grupo como um espaço de enunciação, nos leva a buscar os sentidos que o grupo adquire para o sujeito, de modo que este possa se posicionar frente a seus sintomas através de sua participação no grupo. Em outras palavras, é através do grupo e pelo grupo que conhecemos o sujeito em sua singularidade. Esse foi o princípio básico do trabalho. Também é pela formação do grupo que o apoio é exercido e cabe ao analista contribuir para que surjam as condições para os participantes se vincularem e assim desempenhar-se a função de ancoragem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANZIEU, D. O grupo e o inconsciente: o imaginário grupal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1993. [ Links ]
BION, W. R. O aprender com a experiência: os elementos da psicanálise. Rio de Janeiro: JZE, 1966. [ Links ]
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FOULKES, S. E.; ANTHONY, E. J. Psicoterapia de grupo. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1967. [ Links ]
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KAËS, R. O grupo e o sujeito do grupo: elementos para uma teoria psicanalítica do grupo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. [ Links ]
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1992. [ Links ]
LESHAN, L. O câncer como ponto de mutação: um manual para pessoas com câncer, seus familiares e profissionais da saúde. São Paulo: Summus, 1992. [ Links ]
ORTIGUES, E.; ORTIGUES, M. C. O Édipo africano. São Paulo: Escuta, 1989. [ Links ]
SEGAL, H. Introdução à obra de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago, 1982. [ Links ]
WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre, RS: Artmed, 1983. [ Links ]
Endereço para correspondência
Alexandre Mantovani
E-mail: mantovani.clinica@gmail.com
E-mail: alexmantova@hotmail.com
Recebido em 15/09/08.
1ª Revisão em 17/11/08.
Aceite Final em 19/12/08.
1 Artigo elaborado a partir da monografia de conclusão do curso de Especialização em Psicoterapia Analítica de Grupo e Coordenação de Grupos da SPAGESP.
2 Psicólogo. Mestre e doutorando do Programa de pós-graduação em psicologia da FFCLPR-USP. Especialista em Psicologia Clínica. Membro e Docente da Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo (SPAGESP). Docente da Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO/SEMAR – Unidade Sertãozinho).
3 Dramatização aqui se refere à experiência dos participantes assumirem papéis e do grupo representar o “grupo interno”. Não houve uma dramatização no sentido utilizado no psicodrama como um Role Play.