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Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.19 no.1 Ribeirão Preto Jan./Jun. 2018

 

ARTIGOS

 

Funcionalidade e comunicação conjugal em diferentes etapas do ciclo de vida

 

Functionality and marital communication in different stages of life cycle

 

Funcionalidad y comunicación marital en distintas etapas del ciclo vital

 

 

Susana König Luz1, I; Clarisse Pereira Mosmann2, II

IFaculdade Meridional – IMED, Passo Fundo-RS, Brasil
II
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, São Leopoldo-RS, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Objetivou-se avaliar e comparar a comunicação de cônjuges que tinham filhos em distintas etapas do ciclo vital familiar, com os diferentes níveis de funcionalidade definidos através da coesão, adaptabilidade e do ajustamento conjugal. A amostra foi constituída por 266 pessoas casadas ou em união estável, com filhos de 0 a 18 anos. Os participantes responderam individualmente ao protocolo online constituído por um questionário sociodemográfico, Escala Marital Inventory Communication, Escala Dutch Marital Satisfaction and Communication Questionnaire, Escala de Avaliação da Coesão e Adaptabilidade Familiar e a Escala de Ajustamento Diádico. Os resultados desta pesquisa podem subsidiar a prática clínica e estudos acerca da comunicação conjugal, visto que, a comunicação negativa mostrou permear todo o ciclo vital conjugal, principalmente nos primeiros anos de casamento.

Palavras-chave: comunicação; cônjuges; ciclo vital familiar.


ABSTRACT

The aim of this article was to evaluate and compare the communication between couples with children in different stages of vital family cycle and the different levels of functionality defined through cohesion, adaptability and marital adjustment. The sample consisted in 266 people, married or in a stable union with children from 0 to 18 years old. The participants answered individually to an online protocol consisting on the following: a socio demographic questionnaire, Marital Inventory Communication Scale, the Dutch Marital Satisfaction and Communication Questionnaire, the Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale (Faces III) and also the Dyadic Adjustment Scale. The results of this research may support clinical practice and studies on marital communication, since negative communication has been found to permeate the entire marital life cycle, especially in the first years of marriage.

Keywords: communication; spouses; household life cycle.


RESUMEN

Se buscó evaluar y comparar la comunicación de cónyuges que tenían hijos en distintas etapas del ciclo vital de la familia, con diferentes niveles de funcionalidad definidos por la cohesión, adaptabilidad y ajustamiento marital. La muestra se constituyó de 286 personas casadas o en unión marital, con hijos de 0 a 18 años. Los participantes respondieron individualmente a un protocolo online compuesto por un cuestionario sociodemográfico, Escala Marital Inventory Communication, Escala Dutch Marital Satisfaction and Communication Questionnaire, Escala de Evaluación de la Cohesión y Adaptabilidad Familiar y la Escala de Ajustamiento Diádico. Los resultados de esta investigación pueden subsidiar la práctica clínica y estudios acerca de la comunicación conyugal, ya que la comunicación negativa mostró permear todo el ciclo vital conyugal, principalmente en los primeros años de matrimonio.

Palabras clave: comunicación; cónyuges; ciclo vital familiar.


 

 

A conjugalidade, a partir da perspectiva sistêmica, está em construção constante e envolve as diversas fases do relacionamento amoroso, como nascimento dos filhos, possíveis problemas financeiros, entrada dos filhos na escola, permitindo que esta possa persistir frente às mudanças previsíveis e imprevisíveis do ciclo vital (Féres-Carneiro & Diniz-Neto, 2010; Scorsolini-Comin, Fontaine, & Santos, 2016).

Nesse sentido, cabe pensar que a conjugalidade tem um ciclo evolutivo próprio, que em alguns momentos pode se sobrepor ao ciclo vital familiar, com seus desafios e tarefas inerentes, mas também pode seguir um curso em paralelo.González (2005) destaca que os estágios evolutivos do casal vão de uma imaturidade, dependência e insegurança, até a constituição da identidade como um todo harmonioso, estável e integrado.Sattler, Eschiletti, de Bem e Schaefer (1999) pontuam três fases do ciclo evolutivo do casal: o apaixonar-se, a estabilidade e o rompimento ou reinvestimento do vínculo. Cabe ressaltar que as autoras salientam que o ciclo conjugal começa em estágios anteriores ao casamento e é influenciado pela família de origem de cada um dos cônjuges.

Uma outra perspectiva é trazida por Carter e McGoldrick (2001), onde postulam que o ciclo vital familiar acontece em seis fases, quais sejam, (1) saindo de casa, (2) o novo casal, (3) família com filhos pequenos, (4) famílias com filhos adolescentes, (5) lançando os filhos e seguindo em frente, (6) famílias no estágio tardio da vida. O presente artigo amparou-se nos estágios 3 e 4 da caracterização das autoras.

Dentro do ciclo evolutivo, a cada nova etapa, o casal precisa estabelecer a forma de resolução de seus conflitos, seu nível de ajustamento conjugal e também os seus padrões de comunicação (Wagner & Mosmann, 2011). A comunicação entre os parceiros possui características e componentes idiossincráticos, ou seja, formas de reagir e sentir muito próprias de cada um (Silva & Vandenberghe, 2008). Dessa forma, a literatura da área (Marlow, Tolley, Kohli, & Mehendale, 2010; McDougall, Edmeades, & Krishnan, 2011; Murta, Rodrigues, Rosa, & Paulo, 2012) sustenta que tanto o conteúdo quanto à forma se expressam em distintos aspectos da dinâmica conjugal, sendo unânime o entendimento de que a comunicação entre os cônjuges influencia na conjugalidade e tem características de retroalimentação.

Esse jogo interacional que irá compor a dinâmica conjugal pode ser identificado nos seus padrões de comunicação, os quais variam em níveis de funcionalidade. Olson (2000) postula em seu modelo circumplexo dos sistemas familiares que o nível de funcionalidade de cada casal vai existir dentro da interação de três dimensões: a coesão, a adaptabilidade e a comunicação, sendo esta a facilitadora do movimento entre as outras duas (Olson, 2000). Markman, Rhoades, Stanley, Ragan e Whitton (2010) pontuam que características da trajetória da comunicação negativa dentro do casamento estão associadas ao surgimento de problemas conjugais e divórcio.

Estudo realizado em Portugal, com uma amostra de 368 participantes com idades entre 20 e 69 anos e tendo filhos de até 18 anos, investigou se a coesão e a adaptabilidade variam ao longo do ciclo vital. Nos resultados apresentados, a coesão obteve médias maiores na etapa do ciclo vital com filhos pequenos e a adaptabilidade na etapa do ciclo vital com filhos adolescentes (Machado, 2008). Esses dados sustentam que a coesão e adaptabilidade tendem a se articular ao longo do ciclo vital para fazer frente às demandas de cada etapa e, nesse sentido, sabe-se que os níveis de oscilação dessas dimensões vão se expressar em maior ou menor funcionalidade das relações conjugais e familiares. Nessa interação, a comunicação surge como variável de extrema relevância.

Pesquisa realizada na cidade de São Paulo (Norgren, Souza, Kaslow, Hammerschmidt, & Sharlin, 2004), com 38 casais casados há mais de 20 anos, teve como objetivo identificar os processos e as variáveis associadas à satisfação conjugal na relação. Os resultados indicaram que a satisfação conjugal está associada às variáveis ajustamento conjugal, coesão, resolução de conflito e estratégias de comunicação. Para os casais insatisfeitos, as variáveis mais significativas foram crenças pessoais, expectativa social e medo de mudança. Na comparação entre os casais satisfeitos e os insatisfeitos com relação às variáveis de estratégia de resolução de conflito e comunicação, a diferença entre os dois grupos no item comunicação foi significativa, demonstrando que os casais insatisfeitos, normalmente, estabelecem estratégias de comunicação que visam à manutenção do relacionamento, mas não a resolução dos conflitos.

Outros estudos (Cameron, 2007; Rizzon, Mosmann, & Wagner, 2013; Sabatelli, Buck, & Kenny, 1986; Schmid, Mast, Bombari, & Mast, 2011) apontam que, além dessas variáveis diádicas, há o fator individualidade de cada parceiro. Apesar de todas as transformações sociais, a socialização ainda apresenta especificidades relativas ao gênero e este processo, segundo estudos, culmina em distinções nos padrões de comunicação. Homens e mulheres comunicam de formas diferentes. Mulheres tendem a utilizar mais o estilo de comunicação denominada positiva (carinho, romance, proximidade corporal) enquanto os homens utilizariam mais o estilo de comunicação reservado (silêncio, rigidez nas palavras) (Aranda, Carmona, & Luz, 2007).

Em contrapartida o estudo de Kouros, Papp, Goeke-Moerey e Cummings (2014) mostrou que tanto homens quanto mulheres utilizam padrões de comunicação negativos para resolver conflitos conjugais, isso estaria associado de forma mais predominante à dinâmica desenvolvida pelo casal do que pelo gênero dos cônjuges (Cameron, 2007; Morfa, 2003; Schmid et al.,2011). Na mesma perspectiva, Troost, Vermulst, Gerris e Matthijs (2005) desenvolveram uma medida (Dutch Marital Satisfaction and Communication) para avaliar os padrões de comunicação (comunicação positiva e negativa) com uma amostra de 624 casais holandeses em um estudo longitudinal no período de cinco anos. Neste estudo a comunicação negativa foi definida como críticas, culpas ao parceiro e conflitos. A comunicação positiva foi conceituada como partilha de sentimentos, discussão da relação e interação com o parceiro. Utilizando uma correlação entre os resultados obtidos durante os cinco anos pôde-se observar que padrões negativos de comunicação não se modificaram para homens e mulheres e os padrões positivos se modificaram ao longo do tempo para as mulheres e não para os homens.

A relevância de se investigar as especificidades de cada sexo na comunicação conjugal não se refere a distinguir diferenças para reforçar e justificar estereótipos de gênero. Mas sim, dadas as evidências de repercussões destas idiossincrasias nos relacionamentos amorosos e o consequente sofrimento dos cônjuges, ao desenvolvimento de estratégias de intervenção clínica que abarquem e enderecem estas especificidades (Backer-Fulghum & Sanford, 2015; Quirk, Owen, Inch, France, & Bergen, 2014).

Nesse panorama, identifica-se que a maioria dos autores citados converge ao afirmar que a comunicação influencia na dinâmica conjugal e é influenciada por ela (Féres-Carneiro & Diniz-Neto, 2010) e que cada casal vai aprender a construir a sua forma de comunicação a partir da composição de variáveis pessoais, sociais e familiares. Também se identifica que algumas pesquisas apontam diferenças na comunicação de homens e mulheres (Cameron, 2007; Sabatelli et al., 1986; Schmid et al., 2011; Schwarz, 2013), principalmente nos padrões negativos e positivos. Outras pesquisas (Rocha, Cherry, & Vincill, 2012) pontuam que não existem diferenças. Entretanto, os pesquisadores divergem ao afirmar, por um lado, que esse padrão de comunicação construído pelo casal, e por homens e mulheres, se cristaliza ao longo do tempo (Bateson, 1972; Féres-Carneiro & Diniz-Neto, 2010; Norgren et al., 2004; Silva & Lopes, 2011; Troost et al., 2005) e gera respostas comunicacionais similares independentemente da situação, ou pode, por outro lado, modificar-se com o passar do ciclo vital e suas tarefas e desafios (Féres-Carneiro & Diniz-Neto, 2010; Machado, 2008; Marlow et al., 2010; McDougall et al., 2011; Scorsolini-Comin, Santos, & Souza, 2012).

Além disso, ao revisar a literatura da área, identifica-se que existem muitas pesquisas sobre esse tema no contexto internacional, entretanto, muito pouco se tem publicado no contexto nacional. Considerando a alta incidência, na clínica, de casais com relatos de dificuldades na comunicação e sua associação ao conflito conjugal e seus desdobramentos (Bolsoni-Silva, Loureiro, & Marturano, 2011), neste estudo objetivou-se avaliar e comparar os padrões de comunicação (positivos e negativos) de homens e mulheres casados, que têm filhos em distintas etapas do ciclo vital familiar, com os diferentes níveis de funcionalidade definidos por meio da coesão, da adaptabilidade e do ajustamento conjugal.

 

MÉTODO

PARTICIPANTES

Inicialmente, participaram da amostra 286 sujeitos. Após uma primeira análise, 20 sujeitos foram excluídos por terem mais de um filho com diferenças de idades muito acentuadas, não sendo possível incluí-los em uma etapa do ciclo vital familiar apenas. Indivíduos recasados e com filhos dessa união também puderam participar da pesquisa. A amostra final é composta por 266 sujeitos (78 homens e 188 mulheres), que foram selecionados com base no critério de conveniência. Os critérios de inclusão foram os indivíduos estarem casados ou em uma união estável e com filhos de 0 a 18 anos.

A idade média dos participantes foi 39,69 (DP= 8,12), sendo a idade mínima de 21 anos e a máxima de 63 anos. Quanto ao tipo de união, 72,9 % dos respondentes eram casados e 27,1% estavam em uma união estável. Desses sujeitos, 79,7% estavam na primeira união e 20,3% eram recasados. O tempo mínimo de união foi de um ano e o máximo de 37 anos, com tempo médio de união de 14,19 anos (DP=7,58). A média do número de filhos dos participantes foi de 1,5 (DP= 0,66).

INSTRUMENTOS

O instrumento utilizado constituiu-se das seguintes partes:

Parte I – Dados sociodemográficos: 12 perguntas sobre idade, escolaridade, religião e renda.

Parte II – Marital Inventory Communication (Bienvenu, 1970): escala de 48 itens pontuados em uma escala Likert de 4 pontos (geralmente, algumas vezes, raramente, nunca) que avalia a capacidade do indivíduo de ouvir, entender e expressar a si mesmo. Maiores escores agregados refletem os níveis percebidos de capacidade de comunicação. O Alpha de Cronbach encontrado para essa escala foi de 0,83.

Parte III – Dutch Marital Satisfaction and Communication Questionnaire (Troost et al., 2005): Escala de 15 itens pontuados em uma escala Likert de 7 pontos (não aplicável, raramente aplicável, ocasionalmente aplicável, frequentemente aplicável, aplicável em partes, aplicável em grande parte e muito aplicável). Os itens contemplam comunicação negativa e comunicação aberta. Os primeiros itens medem até que ponto a comunicação negativa é característica da relação conjugal e os segundos a proximidade e intimidade dos cônjuges. O Alphade Cronbach encontrado no presente estudo para a comunicação negativa foi 0,74 e, para a comunicação aberta, foi 0,70.

As duas escalas (Marital Inventory Comunication e Dutch Satisfaction and Communication Questionnaire) não estavam traduzidas para a língua portuguesa. Passaram por um processo de Back Translation, ou seja, tradução reversa, que é um bom indicador da qualidade da tradução. Um instrumento de pesquisa bem traduzido deve ter uma boa qualidade semântica entre as línguas, equivalência cultural entre as fontes e equivalência normativa com a pesquisa (Beaton, Bombardier, Guillemin, & Ferraz, 1998).

As escalas passaram por duas tradutoras bilíngues, ambas com especialização em Língua Inglesa, que compararam suas versões para identificar discrepâncias, após, traduziram para o idioma de origem e o compararam com o documento original para verificar a validade da tradução. Na escala Marital Inventory Comunication, houve discordância entre as tradutoras quanto à equivalência de termos como no item 5"Você tem a tendência de manter seus sentimentos para você mesmo(a)?"e no item 19"Ele (a) permite que você busque seus próprios interesses e atividades?",permanecendo a versão final utilizada para este estudo. Na escala Dutch Satisfaction and Communication Questionnaire, não houve nenhuma divergência.

Parte IV– Escala de Avaliação da Coesão e Adaptabilidade Familiar – Faces III (Olson, Sprenkle, & Russell, 1979; validado por Falceto, 1997): É uma escala utilizada para avaliar a coesão e a adaptabilidade conjugal. Possui vinte itens pontuados em uma escala Likert de 5 pontos (quase nunca, algumas vezes, às vezes, com frequência, quase sempre). O coeficiente Alphade Cronbach encontrado para a dimensão coesão foi de 0,66 e, para a adaptabilidade, foi de 0,72.

Parte V – Escala de Ajustamento Diádico (Spanier, 1976, adaptada por Hernandez, 2008):Composta por 32 itens e possui quatro dimensões: consenso (13 itens), coesão (cinco itens), satisfação (10 itens) e expressão do afeto (quatro itens) os quais utilizam escalas tipo Likert, em alguns itens são usadas escalas de cinco pontos, em outros, seis pontos e, até, sete pontos. De acordo com Spanier (1976), os indivíduos que obtiverem 101 pontos ou menos devem ser classificados como desajustados ou em sofrimento no relacionamento conjugal, e os que alcançarem 102 pontos ou mais, como ajustados. O Alphade Cronbach encontrado foi de 0,69.

PROCEDIMENTO DE COLETA DOS DADOS

Os dados foram coletados via internet, e o primeiro convite foi encaminhado por conveniência a pessoas casadas e com filhos as quais a pesquisadora tinha acesso. Esse convite foi feito através de e-mail ou de mensagens privadas nas redes sociais (Facebook, Skype) buscando sempre indicações sucessivas entre os participantes e continha o link para a pesquisa. A pesquisadora também utilizou sua página pessoal no Facebook para disseminar a pesquisa.

Ao acessar o link da página da pesquisa, os participantes tinham acesso a informações sobre a pesquisadora, aos objetivos da pesquisa e ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), podendo decidir por participar ou não do processo. Optando por participar da pesquisa, os participantes deveriam informar um endereço de e-mail para o envio de uma cópia do conteúdo do TCLE e consentir a sua participação no estudo.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e seguiu todas as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos.

PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS

Os dados foram analisados através do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS; versão 20), considerando o nível de significância de 5% (p≤0,05). Inicialmente, foram avaliadas as propriedades psicométricas (confiabilidade e validade convergente) de cada instrumento. Após a comprovação dos supostos paramétricos dos resultados, foram feitas análises descritivas (médias, desvio-padrão, porcentagens) dos resultados em geral. Para atender ao objetivo geral do estudo, realizaram-se análises inferenciais de comparação de médias (t de Student e ANOVA).

 

RESULTADOS

Os autores que se dedicam ao estudo do ciclo vital conjugal (González, 2005; Sattler et al., 1999) o classificam em estágios evolutivos. Para construir os grupos e controlar a variável filhos, utilizou-se a classificação proposta por Carter e McGoldrick (2001) para definir os grupos. Dessa forma, a amostra foi dividida em três grupos, tendo por critério a idade dos filhos: 0-6 anos (casais com filhos pequenos), 7-12 anos (casais com filhos em idade pré-escolar) e de 13 a 18 anos (casais com filhos adolescentes). Os resultados apresentaram 40,2% dos casais com filhos de 0-6 anos, 30,1% dos casais com filhos de 7-12 anos e 29,7% dos casais com filhos de 13 a 18 anos.

O ajustamento conjugal definido a partir da classificação da escala DAS (Hernandez, 2008) indica que n= 67 (25,2%) dos sujeitos apresentam-se desajustados com pontuação de 101, e n= 199 (74,8%) que pontuaram 102 ou mais, estando ajustados conjugalmente. Nos resultados do Marital Inventory Communication, n= 119 sujeitos (44,7%) encontraram-se abaixo da média e n= 147 (55,3%) acima da média da escala.

Ao se comparar, através do teste ANOVA, as dimensões comunicação positiva (F= 1,522; p= 0,657), comunicação negativa (F= 0,421; p= 0,220), adaptabilidade (F= 2,280; p= 0,104), coesão (F= 1,157; p= 0,316), consenso (F= 0,384; p= 0,682), afeto (F= 0,193; p= 0,824), satisfação (F= 0,762; p= 0,468) e ajustamento (F= 0,206; p= 0,814), em relação às etapas do ciclo vital, não foram encontradas diferenças significativas em nenhuma das dimensões.

Foram, então, criados grupos por tempo de casamento, considerando que a literatura postula que o primeiro estágio evolutivo, seria o mais suscetível a mudanças na comunicação conjugal (Carter & McGoldrick, 2001; González, 2005; Sattler et al., 1999). A partir de então, utilizou-se intervalos de cinco anos. Os grupos ficaram, assim, compostos por cônjuges com até cinco anos de casamento, n= 33 (12,40%); de 5 a 10 anos de casados, n= 74 (27,81 %); de 11 a 15 anos de casados, n= 50 (18,79%); e acima de 15, n= 109 (41,00%), para avaliar se existiam diferenças nas dimensões nesses grupos.

Através do teste ANOVA, foi encontrada diferença significativa somente na dimensão da comunicação negativa (F= 2,624; p= 0,05). As médias entre os anos de casamento são as seguintes, até cinco anos (M= 22,96; DP= 6,40); entre cinco e dez anos (M= 26,10; DP= 8,10); entre onze e quinze anos (M= 24,02; DP= 7,28); acima de quinze anos (M= 23,15; DP= 7,36).

No intuito de comparar homens e mulheres, realizou um teste t de Student. Os resultados apontaram que os homens apresentam mais comunicação negativa (t= -2,087; p =0,03; M= 25,60; DP= 0,91) em comparação às mulheres (M= 23,50; DP= 0,52). Na comunicação positiva, as mulheres apresentaram médias significativamente superiores (t= 2,812; p= 0,05; M = 30,38; DP= 0,43) que os homens (M= 28,11; DP= 0,68) e na comunicação total (t= 0,732; p= 0,465) não houve diferença significativa.

Separaram-se então homens e mulheres por tempo de casamento para verificar se haveria repercussões na comunicação. Utilizou-se o parâmetro de 5 anos de intervalo. O grupo das mulheres ficou composto da seguinte forma: até 5 anos de casamento n= 27 (14,36%), 6 a 10 anos de casamento n= 53 (28,20%), 11 a 15 anos de casamento n= 36 (19,14%), acima de 15 anos de casamento n= 72 (38,30%). O grupo dos homens ficou composto da seguinte forma: até 5 anos de casamento n= 6 (7,69%) 6 a 10 anos de casamento n= 21 (26,93%) 11 a 15 anos de casamento n= 14 (17,94%) acima de 15 anos de casamento n= 37 (47,44%).

Os resultados apontaram as mulheres com mais comunicação negativa (t= 3,739; p= 0,012). Na comunicação positiva (t= 0,753; p= 0,522) e na comunicação total (t= 0,375; p= 0,771) não houve diferenças significativas entre homens e mulheres por tempo de casamento. As médias para as mulheres entre os anos de casamento são as seguintes: até cinco anos (M= 22,48; DP= 5,83); entre cinco e dez anos (M= 25,94; DP= 8,31); entre onze e quinze anos (M= 21,81; DP= 6,19); acima de quinze anos (M= 21,81; DP= 6,19).

 

DISCUSSÃO

Em relação ao ajustamento conjugal definido pelo DAS (Hernandez, 2008), o estudo mostrou que 74,8% dos sujeitos são considerados ajustados e apenas 25,2% desajustados, e, na escala de comunicação, 44,7% encontram-se abaixo da média e 55,3% acima da média. Esse dado vai ao encontro da literatura da área, que diz que a comunicação influencia na dinâmica conjugal (Marlow et al., 2010; McDougall et al., 2011).

Estudo realizado nos EUA por Markman et al. (2010), mostra que características das trajetórias da comunicação dentro do casamento estão associadas ao surgimento de problemas conjugais e divórcio. Por outro lado, o estudo de Norgren et al. (2004), ressalta que podem existir casamentos estáveis, mas não necessariamente satisfatórios, com padrões altos de comunicação negativa, mas que se mantêm por variadas razões, a saber, crença religiosa, medo da mudança, e até mesmo não querer dividir o patrimônio. Diante disso, pode-se entender que a comunicação conjugal permeia o cotidiano do casal e, uma vez associada a outras variáveis, vai compor o nível de funcionalidade de cada casal, a forma como eles criam e mantêm uma relação mais ou menos satisfatória.

Ainda que alguns estudos (Holley, Haase, & Levenson, 2013; Norgren et al., 2004) apontem diferenças na comunicação em relação às variáveis ajustamento, coesão, consenso, satisfação, afeto e adaptabilidade, os resultados no presente estudo não corroboram com os registros da literatura especializada, pois os achados não mostraram resultados significativos.

Por outro lado, a conjugalidade, para os indivíduos desse estudo, efetivamente tem o seu ciclo evolutivo próprio, não acompanhando o familiar (González, 2005; Sattler et al., 1999). O fato de não haver diferença entre a funcionalidade conjugal de acordo com a idade dos filhos ampara esse achado. Comparando esse dado com o estudo de Pérez e Estrada (2006), encontra-se sustentação para esse resultado, pois também não foi encontrada diferença entre os casais conforme a idade dos filhos.

Nesse sentido, a dimensão comunicação negativa em relação ao tempo de casamento foi a única que mostrou diferença significativa. Assim, a forma com que cada casal vai construir o seu relacionamento conjugal surge como norteadora dos níveis de ajustamento conjugal (Wagner & Mosmann, 2011) as habilidades de comunicação têm papel fundamental para a adaptação às demandas do ciclo vital.

Os resultados mostraram que nos primeiros cinco anos de casamento há menos comunicação negativa. Nesse momento, essa variável começa uma curva ascendente, tendo seu ápice nos dez anos de casamento e começando a descender dos quinze anos em diante. Segundo Sattler et al. (1999), essa é a fase do apaixonar-se, de manter-se apaixonado, na qual há uma tendência à idealização. Os casais terão que afirmar a sua identidade (Carter & McGoldrick, 2001) e construí-la. Nesse momento, geralmente, a comunicação acontece de maneira menos tensa, mas as diferenças podem surgir, principalmente aquelas vindas de regras, valores e definições da família de origem.

Um dos grandes equívocos cometidos pelos casais nesse momento e que é reforçado pelo caráter idealizador dessa fase e também pela imaturidade da relação é pensar que o outro mudará sua forma de agir, magicamente, começando, assim, uma escalada de mágoas e ressentimentos, que muitas vezes não são falados, corroborando para que a comunicação negativa ganhe espaço. Os casais, nesse período, ainda estão em momento de adaptação. Wagnere Mosmann (2011) pontuam sobre um molde na relação inicial que precisa ser reavaliado constantemente. Como aponta o estudo de Rech, Silva e Lopes (2013), a comunicação pode ajudá-los a superar esse momento, tornando-se conciliadora, mas também pode tornar-se geradora de conflitos (Silva & Lopes, 2011) se assumir o caráter de culpabilizar e criticar o parceiro (Troost et al., 2005), o que define a variável comunicação negativa do presente estudo.

Entre cinco e dez anos de casamento, a dimensão comunicação negativa apareceu com os escores mais elevados. Pode-se hipotetizar que esse seja um período de declínio do romance. Conforme Sattler et al. (1999), alguns casais apavoram-se com essa realidade, cobrando do outro o que eles idealizaram no começo da relação. Supõe-se que pode estar atravessada, aqui, a rotina e a acomodação (Penteado, 1997), a suposta falta de novidade na conjugalidade, se expressando em padrões deletérios de comunicação, que se reverberam na relação conjugal, criando um ciclo de cobranças, acusações e estratégias pouco construtivas de comunicação.

De dez a quinze anos de casamento, a curva da comunicação negativa começa a descender. Conforme Sattler et al. (1999), essa é a fase na qual os casais começam a se desfazer das ilusões e aceitar aquilo que realmente têm. González (2005) refere-se a esse período como a perda da espontaneidade, que, segundo o autor, é uma qualidade essencial para manter vivo o sistema conjugal. Mas como manter a espontaneidade diante do término das expectativas?

A literatura da área (Watzlawick, Beavin, & Jackson, 1967) aponta que alguns casais conseguem desenvolver estratégias e manter-se equilibrados, aceitando o padrão de comunicação de seus parceiros. Outros, como apontam os resultados do estudo de Norgren et al. (2004), usam da flexibilidade para promover a manutenção do relacionamento, articulando e adaptando-se às demandas do ciclo vital.

Após quinze anos de casamento, os resultados desta pesquisa ficam muito parecidos com os dos primeiros cinco anos. Se os casais permanecem casados, nessa fase a relação flui mais normalmente (Sattler et al., 1999). Parece haver um reconhecimento do amadurecimento da relação e a comunicação deve integrar esse amadurecimento.

Em relação aos resultados de comparação por sexo, os dados do presente estudo pontuam que quando comparados de forma geral, os homens se comunicam de maneira mais negativa e as mulheres de forma mais positiva. Estes dados corroboram a literatura internacional (Aranda et al., 2007; Cameron, 2007; Sabatelli et al., 1986; Schmid et al., 2011; Schwarz, 2013), indicando que apesar das especificidades de cada cultura, ainda atualmente, as expectativas em relação ao gênero masculino e feminino tem mais similaridades do que diferenças em distintos países.

Ainda nos dias atuais, desde muito jovens meninos e meninas se encontram inseridos em um contexto social que define expectativas em relação aos papéis de gênero. Desta forma, as diferenças na comunicação entre homens e mulheres advêm dos papéis a eles delegados. Padrões de comunicação são moldados nas famílias de origem (Guedes, Monteiro-Leitner, & Machado, 2008) através de comentários, comportamentos, escolhas de brinquedos, indiretamente pontuam-se o que é apropriado para cada gênero. Meninas são educadas para expressar mais sentimentos positivos, como carinho, afeição, delicadeza.

Por outro lado, os meninos são autorizados a ter mais padrões negativos de comunicação. Inúmeras vezes os pais se permitem ser mais delicados com as meninas e mais brutos com os meninos. Na adolescência a grande maioria das meninas prefere ser vista como"pequena" e delicada. Já os meninos"grandes" e fortes. Este estigma se reproduz também nos padrões de comunicação representando distintos estilos comunicacionais (Cameron, 2007; Morfa, 2003; Schmid et al., 2011). Estas idiossincrasias, referentes às diferentes formas como cada gênero se comunica, se estendem para a adolescência e perduram na vida adulta.

Quando separados por tempo de casamento os homens não apresentaram diferença significativa na comunicação, enquanto as mulheres apresentaram mais comunicação negativa dos seis aos dez anos de casamento. Estes resultados não corroboram a literatura. No estudo de Troost et al. (2005), os padrões de comunicação não se modificaram para homens e mulheres ao longo do tempo.

Discorrendo sobre a comunicação conjugal, a literatura aponta (Papp, Kouros, & Cummings, 2009) que tanto homens quanto mulheres utilizam padrões de comunicação negativa para resolver conflitos conjugais. Estes padrões podem ser observados na clínica de casais (Bolsoni-Silva et al., 2011). Inúmeras vezes, a díade procura por uma intervenção por encontrarem-se em sofrimento justamente por não conseguirem estabelecer um diálogo funcional.

Apesar da literatura (Aranda et al., 2007; Cameron, 2007; Schmid et al.,2011; Schwarz, 2013) pontuar a comunicação do homem como mais negativa, os resultados do presente estudo apontam as mulheres com mais comunicação negativa por tempo de casamento. Observa-se que a dinâmica de cada casal vai moldando-se com o passar do tempo, com os anos de convivência.

A experiência clínica mostra que em alguns momentos as mulheres assumem uma posição de ataque, de comunicação mais rígida, posição esta que a literatura atribui aos homens. Neste momento os homens cedem, recuam e inúmeras vezes sofrem em silêncio, utilizando uma forma de comunicação mais protetiva (Troost et al., 2005). Os mesmos autores pontuam que um excesso de comunicação positiva pode ser prejudicial.

A comunicação não-verbal é outra característica que se identifica de forma mais expressiva nas mulheres. O imaginário de que o parceiro necessita conhecer os seus gestos e olhares, pode, ao longo do casamento frustrar as expectativas aumentando assim a comunicação negativa (Papp et al., 2009).

Os dados indicam que as mulheres têm um nível mais elevado de comunicação negativa dos seis aos dez anos de casamento, esses dados agregam especificidades ao resultado por tempo de casamento, já que entre cinco e dez anos de casamento, a dimensão comunicação negativa apareceu com os escores mais elevados, para homens e mulheres. Pode-se com isso hipotetizar que este período seja a fase onde as ilusões do"felizes para sempre" estejam menos evidenciadas, de que o parceiro, na maioria das vezes, não alcança a mágica de adivinhar o que o outro está pensando, ou tentando dizer. Este período pode culminar com a chegada dos filhos, estabelecimento de metas de trabalho ou a diferenciação do casal.

Por outro lado, como mostram os estudos de Milburye Badr (2013) e Rocha et al. (2012), se o casal apresentar altos níveis de comunicação positiva, conseguem passar por esta e outras fases do casamento com um sofrimento menor. Ao contrário daqueles com níveis de comunicação negativa mais elevada.

A necessidade deste investimento na comunicação da díade vem sendo cada vez mais sustentada pelas evidências empíricas que embasam as intervenções clínicas (Aranda et al.,2007). Os homens, cada vez mais, estão participando do planejamento da família, do cuidado com os filhos e isso faz com que a interação comunicacional assuma características distintas daquelas antigamente atribuídas aos gêneros. Assim, conforme o estudo de Hartmann, Gilles, Shattuck, Kerner e Guest (2012), na medida em que há um maior envolvimento dos homens nas questões familiares isso se expressa positivamente nos padrões de comunicação.

Os padrões negativos não deixam de existir totalmente, mas, ao aprimorar os positivos, a tendência é de melhora na saúde conjugal. Entretanto, cabe ressaltar que os processos de transformações sociais são lentos e suas consequências tendem a se expressar de forma não uniforme nas famílias, o que leva a coexistência de núcleos mais marcados por novas características de papeis de gênero e outros ainda mantendo padrões mais tradicionais.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo avaliar e comparar a comunicação de cônjuges que têm filhos em distintas etapas do ciclo vital familiar, com os diferentes níveis de funcionalidade definidos através da coesão, adaptabilidade e ajustamento conjugal. Os resultados mostraram que a comunicação assume um papel de vital importância dentro dos relacionamentos conjugais, uma vez que foi a única variável que apresentou mudança ao longo do ciclo vital conjugal.

A comunicação negativa mostrou permear todo o ciclo vital conjugal, fazendo uma curva ascendente nos primeiros anos de casamento e descendente após 15 anos de casamento. Com isso, pode-se pensar na importância de se instrumentalizar os casais em habilidades de comunicação, antes mesmo do casamento. Os Programas de Educação Conjugal, no Brasil, ainda são incipientes, mas, nos Estados Unidos, os cursos para o aprimoramento da comunicação pré-conjugal são bastante difundidos e têm despertado interesse de estudiosos sobre o tema.

Os resultados mostraram que na comunicação, de forma geral, não existem diferenças entre os homens e as mulheres. O que existem são especificidades e particularidades de cada gênero. Estes achados sustentam que a forma como são socializados se expressa nos padrões de comunicação, tendo os homens deste estudo apresentado comunicação mais negativa e as mulheres mais positiva.

Ressalta-se que estes resultados devem ser compreendidos circunscritos a um contexto socioeconômico cultural e que não devem ser sustentados para reforçar ou justificar a comunicação negativa de homens e a positiva de mulheres, mas sim, ampliar a ideia de que este tema precisa ser mais estudado, de forma a esclarecer as nuances encobertas deste fenômeno. Ademais, pontuasse que duas escalas utilizadas na pesquisa (Bienvenu, 1970; Troost et al., 2005) não foram validadas para a realidade brasileira podendo significar um entrave, uma vez que as influências da cultura são cruciais na determinação da comunicação de homens e mulheres. Estudos de adaptação e validação das escalas podem ser pensados para ampliar de forma significativa os achados de pesquisas sobre comunicação conjugal.

Futuros estudos poderão ser realizados incluindo casais sem filhos ou ampliando a idade destes. Estudos de delineamento qualitativo poderiam proporcionar uma análise processual da dinâmica da comunicação na conjugalidade. Os profissionais que trabalham na clínica de casais e família devem estar atentos a reflexões e a um constante diálogo acerca da comunicação conjugal e de suas reverberações no sistema familiar.

 

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Endereço para correspondência
Susana König Luz
E-mail: susana.konig@hotmail.com

Recebido: 04/11/2016
Revisado: 11/06/2017
Aceito: 20/07/2017

 

 

1 Susana König Luz é mestre em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e docente da Faculdade Meridional.
2 Clarisse Pereira Mosmann é professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

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