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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.4 n.1-2 São Paulo dez. 2003

 

ARTIGOS

 

 

Trajetória Acadêmica e Satisfação com a Escolha Profissional de Universitários em Meio de Curso

 

University students’ academic trajectory and satisfaction with career choice in the middle of the course

 

Trayectoria académica y satisfacción con la elección profesional de universitarios en medio de curso

 

 

Marúcia Patta Bardagi* 1 2; Maria Célia Pacheco Lassance**; Ângela Carina Paradiso***

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

 

 


RESUMO

Apesar da importância da formação superior para o desenvolvimento vocacional, existem poucas informações sobre características e necessidades dos universitários brasileiros. Este trabalho investigou trajetórias acadêmicas, satisfação com a escolha profissional e expectativas quanto à orientação profissional em 391 estudantes de ambos os sexos (M= 23,6 anos), de semestres intermediários em 16 cursos universitários da UFRGS. Um questionário de 13 itens foi elaborado e validado para o estudo. Os dados foram submetidos a análises quantitativas e qualitativas. A maioria dos alunos mostrou-se satisfeita (56%) ou muito satisfeita (32,2%) com a escolha profissional; 42,7% pensaram em desistir ou mudar de profissão; e 15,9% ainda pensam nisso; 59,3% dos alunos acreditam poder se beneficiar de processos de orientação profissional. Participação em atividades acadêmicas e identificação com a profissão mostraram-se importantes para a satisfação com a escolha. Implicações para futuras intervenções e para o desenvolvimento vocacional são discutidas ao final do estudo.

Palavras-chave: Escolha profissional, Orientação profissional, Trajetória acadêmica.


ABSTRACT

Despite the importance of higher education for the vocational development of individuals, there’s a lack of information about the characteristics and needs of Brazilian university students. This study investigated academic trajectories, satisfaction with career choice and expectations related to professional guidance in 391 male and female students of Rio Grande do Sul Federal University (average age = 23,6 years), attending intermediate semesters of 16 courses. A 13-item questionnaire was constructed for this survey. Data were submitted to quantitative and qualitative analysis. Results showed that most of the students are satisfied (56%) or very satisfied (32,2%) with their choices, 42,7% have thought of giving up or switching profession at some point of the course, but only 15,9% still think about it; 59,3% of the participants believe that vocational guidance processes could be helpful. Academic activities and personal identification were significant factors for satisfaction with career choice. Implications for future interventions and vocational development are discussed in the last part of the study.

Keywords: Professional choice, Vocational guidance, Academic trajectory.


RESUMEN

Apesar de la importancia de la formación superior para el desarrollo vocacional, existen pocas informaciones sobre las características y necesidades de los universitarios brasileños. Este trabajo investigó trayectorias académicas, satisfacción con la elección profesional y expectativas en cuanto a la orientación profesional en 391 estudiantes de ambos sexos (M= 23,6 años), de semestres intermedios en 16 cursos universitarios de la UFRGS. Un cuestionario de 13 puntos se elaboró y se validó para el estudio. Los datos fueron sometidos a análisis cuantitativos y cualitativos. La mayoría de los alumnos se mostró satisfecha (56%) o muy satisfecha (32,2%) con la elección profesional; 42,7% pensaron en desistir o cambiar de profesión y 15,9% aún lo piensan; el 59,3% de los alumnos cree poder beneficiarse con métodos de orientación profesional. La identificación con la profesión y la participación en actividades académicas se mostraron importantes para la satisfacción con la elección. Al final del estudio se discuten implicaciones para futuras intervenciones y para el desarrollo vocacional.

Palabras clave: Elección profesional, Orientación profesional, Trayectoria académica.


 

 

Podemos definir a escolha profissional como o estabelecimento do que fazer, de quem ser e a que lugar pertencer no mundo através do trabalho (Bohoslavsky, 1977). A formação da identidade profissional complementa a identidade pessoal e contribui para a integração da personalidade, sendo que uma boa escolha é avaliada pela forma como é tomada e pelas conseqüências cognitivas e afetivas que produz. A escolha envolve mudanças, perdas, medo do fracasso e da desvalorização (Veinstein, 1994), supõe a elaboração de lutos e conflitos consigo mesmo e com outros significativos (Bohoslavsky, 1977) e requer reavaliações constantes. Embora o futuro de um indivíduo não dependa exclusivamente de sua opção profissional e mesmo sabendo que esta opção pode ser modificada, as questões vocacionais têm se tornado cada vez mais importantes para as pessoas. Nesse sentido, a problemática vocacional e suas conseqüentes derivações teórico-metodológicas assumem, também, um papel importante na pesquisa psicológica contemporânea.

A maioria das pessoas pode realizar escolhas de carreira conhecendo muito pouco sobre a totalidade das implicações das mesmas em termos de tarefas, dificuldades e responsabilidades. Não existe uma preocupação sistemática da escola ou da família em ensinar a filhos ou alunos habilidades de tomada de decisão. Nesse sentido, Müller (1988) salienta que a escola, por exemplo, não ensina a escolher, a pensar, a resolver conflitos, a refletir sobre as realidades: social, cultural, histórica e profissional; se o faz, isso acontece de forma ocasional e desarticulada. A ausência destas oportunidades ao longo do desenvolvimento vocacional, principalmente na adolescência, pode resultar em imaturidade e insegurança nos jovens e adultos em períodos posteriores da vida profissional, muitas vezes incapacitando-os para a formulação de projetos profissionais consistentes.

O desenvolvimento vocacional pode ser caracterizado como um processo que ocorre ao longo da vida do indivíduo (Osipow, 1999; Savickas, 1995; Super, 1963, citado por Brown & Brooks, 1996). Decisões, mudanças e dúvidas vocacionais aparecem não somente no momento da adolescência, sendo cada vez maior o número de pessoas colocadas em vários pontos do desenvolvimento vocacional que buscam auxílio ou simplesmente desafiam os técnicos da orientação profissional a elaborarem novos modelos explicativos e métodos de ação (Prenh, 1997; Teixeira, 1998). Osipow (1999), pesquisador do tema indecisão profissional, aponta que esta, originalmente focada na questão da escolha de adolescentes, agora engloba um espectro maior da vida por causa da crescente freqüência de eventos que exigem que as pessoas reavaliem suas decisões de carreira ao longo do tempo. Dúvidas e incertezas passam a ser encaradas, então, como estados que vêm e vão constantemente.

Rivas (1988) observa que mesmo sendo a escolha profissional um ponto comum do desenvolvimento vocacional dos indivíduos, que são, em algum momento, solicitados a optar por um entre diferentes caminhos profissionais, isso não significa que esta situação tenha o mesmo significado para todos. Enquanto para muitos as decisões e mudanças profissionais são vividas de forma mais tranqüila, para outros é muito difícil tanto se comprometer com escolhas profissionais (Hall, 1992), quanto enfrentar períodos de mudança e indecisão.

O período da formação universitária, por exemplo, tem imposto muitas questões aos teóricos e técnicos da orientação profissional. Tradicionalmente, este é um período de reativação das crises vocacionais (Bohoslavsky, 1977), de confrontação com a realidade ocupacional e de afirmação da escolha feita. Taylor (1982) descreve um aumento da incidência de indecisão vocacional de estudantes universitários desde o final da década de 70, sendo que este público se tornou a maioria da clientela dos centros de aconselhamento universitário americanos. Uma análise dos relatórios de exames vestibulares da UFRGS e UFSC no início da década de 90 mostrou que cerca de 30% dos vestibulandos afirmaram já ter prestado vestibular para outro curso anteriormente, cerca de 40% dos jovens que entram na universidade anualmente não chegam a concluir seus cursos e apenas 16 a 19% dos jovens afirmaram estar fazendo a inscrição para o vestibular no curso desejado (Lucchiari, 1992). Ao investigarem jovens aprovados no vestibular da UFSC em 1997, Hotza e Lucchiari (1998) observaram que cerca de 25% dos aprovados já haviam iniciado outro curso superior anteriormente, sem concluí-lo.

Em uma pesquisa longitudinal realizada com alunos da UFRGS desde seu ingresso no curso até a proximidade da formatura, Lassance (1997) descreveu a existência de fases distintas na relação entre o aluno, a escolha e o curso. A primeira fase seria de entusiasmo pela vitória no vestibular, o ingresso na universidade e a expectativa com o início da formação. A fase seguinte marca a decepção com o curso, os professores, a instituição, as condições de aprendizagem e inclui preocupações com uma possível re-escolha profissional. O terceiro momento mostra um aumento pelo interesse na continuidade do curso. Nesta fase, o engajamento em atividades acadêmicas é fundamental para a satisfação e o comprometimento. O quarto e último momento observado caracteriza-se pela proximidade com o término do curso. A qualidade das atividades exercidas e a avaliação da formação produzem, nessa fase, as expectativas para o início da atividade profissional. Um estudo americano, realizado com 165 formandos de 35 áreas diferentes confirmou a importância do envolvimento em atividades acadêmicas, mostrando que a realização de estágios, acompanhados ou não de trabalho na área, aumenta a cristalização da escolha (Brooks, Cornelius, Greenfield & Joseph, 1995).

Outra dimensão importante para o entendimento do desenvolvimento vocacional, além da dimensão individual, diz respeito às mudanças produtivas e sociais ocorridas nas últimas décadas e seu impacto sobre as escolhas de carreira. A principal característica do trabalho na pós-modernidade é a instabilidade, a incerteza quanto ao futuro (Cattani, 1996). Observa-se uma ansiedade generalizada dos profissionais inseridos no mercado, relativa à busca de emprego, busca de qualificação e afirmação de projetos e estratégias de carreira. Esta ansiedade é assumida também pelos estudantes em formação, que reproduzem já na universidade as preocupações e inseguranças dos profissionais em atividade. Prado Filho (1992) caracteriza o desajustamento profissional como um fator ‘epidêmico’ no universo produtivo atual. Este desajustamento refere-se tanto às próprias dificuldades econômicas, sociais e administrativas quanto à sobreposição destas dificuldades em relação ao desenvolvimento vocacional individual.

Há na literatura, além de estudos com amostras universitárias, registros de alguns programas de intervenção com esta população, a maior parte deles em projetos das próprias universidades, o que demonstra um aumento da preocupação institucional com as questões vocacionais (Bohoslavsky, 1983; Pacheco, Silva, Macedo, & Pinto, 1997; Rivas, 1988). Rivas (1988), a partir de uma experiência com assessoramento na Universidade de Valência (Espanha), apontou as principais razões descritas pelos alunos para participarem do programa: ter mais informações sobre as possibilidades profissionais (81,6%); confrontar planos profissionais com um profissional psicólogo (41%); esclarecer dúvidas sobre carreiras e áreas (40%); curiosidade sobre o processo (26%); medo de tomar decisões (24%); confirmar uma escolha (20%) e estar totalmente indeciso (10%). Bohoslavsky (1983) descreve detalhadamente a experiência com um programa de trabalho com os dez mil alunos da Universidade Nacional de Buenos Aires. Este trabalho teve como objetivos principais ajudar o estudante a tomar consciência dos reais motivos de sua escolha e sua articulação ou contradição com os projetos do curso no qual entrava; oferecer informação exaustiva e verdadeira sobre os cursos, sua situação atual, seus programas, critérios, conteúdo e objetivos, campo de trabalho e oferecer aos alunos um contexto de reflexão acerca do projeto profissional.

Estes estudos indicam que o trabalho com universitários deve priorizar a análise dos critérios utilizados na primeira escolha, suas influências e a forma como foi feita (Soares, 2000), além de incorporar processos de informação e esclarecer os motivos da insatisfação atual. Galotti (1999) salienta que educadores e psicólogos precisam ajudar as pessoas a se sentirem mais confortáveis para enfrentarem processos que envolvem ambigüidade e dúvida, e que requerem um investimento de tempo e esforço grandes, como são os processos de decisão e mudança vocacional.

Embora estes estudos iniciem discussões importantes e sugestões de intervenção próprias para estudantes universitários, ainda se observa, na área do desenvolvimento vocacional no Brasil, uma lacuna de informações a respeito desta população. A maioria dos estudos nacionais concentra-se em amostras adolescentes, ou aborda questões relativas à entrada no mercado de trabalho ou, ainda, conflitos de indivíduos já inseridos na esfera produtiva. Estudantes universitários, principalmente aqueles no período intermediário da formação, carecem de estudos que forneçam subsídios maiores para compreensão de sua problemática vocacional específica e para elaboração de propostas de intervenção consistentes com suas necessidades.

Com os objetivos de fornecer maiores informações para o entendimento da problemática vocacional dos estudantes universitários em meio de curso e investigar aspectos relevantes a serem considerados na formulação de propostas de intervenção com esta população, este estudo realizou um levantamento exploratório acerca de características relativas à trajetória acadêmica, nível de satisfação com a escolha profissional e demandas de intervenção em uma amostra de estudantes universitários gaúchos.

 

MÉTODO

Participantes

Participaram deste estudo 391 estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS )de ambos os sexos (55,9% homens e 44,1% mulheres), cursando os semestres intermediários de 16 cursos das 4 áreas de formação da universidade. Os alunos, com idades entre 18 e 64 anos (M = 23,6 anos; DP= 5,54 anos), cursavam regularmente as disciplinas do 4º, 5º ou 6º semestres de seus cursos à época do estudo. Quanto às áreas de formação, 44,2% dos alunos eram da área de Humanas, 28,9% da área de Biológicas, 16,4% da área de Exatas e 10,5% da área de Letras e Artes.

Instrumento

Para a realização deste estudo foi desenvolvido um questionário semi-estruturado composto por 13 itens. Estes itens referem-se a questões sócio-demográficas, trajetória acadêmica, participação em atividades acadêmicas, nível de satisfação com a escolha profissional e interesse por processos de Orientação Profissional. Profissionais que atuam na área da orientação profissional serviram como juízes para assegurar a validade aparente do instrumento. Um estudo piloto foi realizado com uma amostra (não incluída na amostra final) de 61 estudantes de dois cursos da universidade, permitindo a depuração dos itens do questionário e a definição dos procedimentos de rapport e aplicação. Após análise semântica (Pasquali, 1999), alguns itens de pouca compreensão por parte dos estudantes foram retirados da versão final do questionário.

Procedimento

Foi realizada aplicação coletiva do instrumento em sala de aula. Inicialmente, foram feitos contatos com as direções dos respectivos institutos e/ou departamentos da universidade e foi marcado diretamente com os professores o momento da aplicação. Cada aplicação foi precedida de uma breve explicação dos objetivos do estudo e foram disponibilizadas aos alunos informações e encaminhamentos, quando necessário. A participação dos estudantes foi voluntária, num índice de 91% de aquiescência.

 

RESULTADOS

Os dados coletados foram submetidos, num primeiro momento, a análises estatísticas descritivas e inferenciais, utilizando principalmente testes de associação qui-quadrado com análise de resíduos ajustados e regressão logística (a fim de determinar os principais preditores do nível de satisfação com a escolha profissional). Num segundo momento, foi realizada análise de conteúdo (Bardin, 1977) das respostas discursivas, onde categorias emergentes não exclusivas foram obtidas a partir da análise destas respostas. A Tabela 1 mostra alguns resultados quanto à trajetória e envolvimento em atividades acadêmicas e o nível de satisfação com a escolha profissional. Observa-se que a maioria dos alunos refere estar satisfeita ou muito satisfeita com sua escolha profissional

Tabela 1

Respostas Relativas à Trajetória Acadêmica e Satisfação Profissional

 

 

* É possível participar de mais de uma atividade

Muitos estudantes relatam estarem envolvidos com outras atividades remuneradas (41,5%). Dentre estes, somente 25,6% estão envolvidos com atividades relacionadas ao curso em que estão. Alunos da área de Letras e Artes possuem mais freqüentemente outras atividades remuneradas do que alunos de outras áreas (X2 =18,9; g.l=3; p<0,001). Quanto ao envolvimento em atividades acadêmicas, os alunos da área de Biológicas possuem maior atividade no curso enquanto os alunos da área de Letras e Artes possuem menor atividade (X2 =15,8; g.l=3; p<0,01).

Os alunos da área de Biológicas descrevem com maior freqüência estarem muito satisfeitos com sua escolha do que os outros (X2 =18,1; g.l=9; p<0,01). Aqueles alunos envolvidos em pelo menos uma atividade acadêmica relatam com maior freqüência estarem muito satisfeitos ou satisfeitos com a escolha profissional do que os alunos que não possuem atividades acadêmicas (X2 =10,8; g.l=3; p< 0,05). Não foi significativa a associação entre sexo e nível de satisfação com a escolha profissional (X2 =5,2; g.l=3; p<0,1). A análise de regressão demonstrou que, entre as variáveis: sexo, área de atuação e atividade no curso, esta última é a maior preditora do nível de satisfação com a escolha profissional.

Ao analisarem-se as justificativas para o nível de satisfação com a escolha profissional, a obtenção das categorias foi feita dividindo os alunos entre muito satisfeitos e satisfeitos (grupo 1) e pouco satisfeitos e insatisfeitos (grupo 2). Os alunos do grupo 1 utilizam principalmente as seguintes justificativas:

- Identificação pessoal: respostas de interesse pela área, curso, vocação, realização pessoal, satisfação de expectativas e gosto pela profissão. Ex. “Sempre sonhei em trabalhar com saúde física das pessoas, me identifico totalmente com a Educação Física(masc, 20 anos).

- Mercado promissor: respostas sobre boas perspectivas de trabalho, campo de trabalho amplo e promissor, boa remuneração. Ex: “Penso que terei grandes oportunidades de emprego como profissional de Administração(masc, 19 anos).

- Formação adequada: respostas sobre satisfação com o curso, a qualificação dos professores, matérias interessantes, bom preparo profissional. Ex: “Acho que estou tendo uma formação de qualidade, comparando com outras universidades(fem, 19 anos).

- Profissão interessante: respostas sobre as possibilidades de atuação profissional, atividade desafiadora, complexidade profissional. Ex: “Considero a Psicologia uma carreira desafiadora, uma descoberta constante(fem, 20 anos).

Os alunos do grupo 2 utilizam principalmente as seguintes justificativas:

- Mercado desfavorável: respostas referentes à dificuldade de conseguir emprego, poucas vagas de trabalho, remuneração ruim, concorrência excessiva. Ex: “Existem muitos administradores no mercado, não acho fácil conseguir emprego(masc, 18 anos).

- Descontentamento com o curso: respostas de frustração com as disciplinas, professores, carga horária, pouca atividade prática. Ex: “Imaginava tudo muito diferente, as aulas, os professores, os conteúdos das matérias, tudo(fem, 23 anos).

- Atividade desinteressante: respostas de descontentamento com a atuação profissional, o campo de atuação, o trabalho monótono e desinteressante, a desvalorização do profissional. Ex: “O professor não é considerado, sua formação é desqualificada e a sala de aula hoje não é mais a mesma, perdeu-se o respeito(masc, 22 anos).

- Fatores pessoais: respostas de frustração pessoal com a escolha, insegurança, indecisão, decepção. Ex: “Quando entrei, sabia que não era isso que eu queria e a continuidade do curso só aumentou a minha frustração com a Educação Física(masc, 19 anos).

A Tabela 2 mostra a freqüência com que as justificativas foram citadas pelos alunos dos dois grupos. Testes de diferenças entre proporções, realizados para os percentuais intragrupos, apontaram que no grupo 1 a categoria identificação pessoal foi significativamente mais freqüente do que as outras (p<0,001); as categorias mercado promissor e profissão interessante foram mais freqüentes do que a categoria formação adequada (p<0,01 e p<0,05, respectivamente). No grupo 2, a categoria mercado desfavorável foi mais freqüente do que todas as outras (p<0,01).

Tabela 2

Razões para o Nível de Satisfação com a Escolha (em %)

 

 

Entre os alunos que já pensaram em desistir ou mudar de profissão (43,9%), poucos ainda pensam nisso atualmente (16,7%). As mulheres declaram em maior proporção do que os homens já terem pensado em desistir ou mudar de profissão (X2 =8,5; g.l=1; p<0,01). Aqueles alunos muito satisfeitos ou satisfeitos com a escolha referem, com menor freqüência, já ter pensado em desistir ou mudar de profissão do que os alunos pouco satisfeitos ou insatisfeitos (X2 =17,7; g.l=1; p<0,001). A associação entre área de atuação e a intenção de desistir ou mudar de profissão não foi significativa (X2 =7,3; g.l=3; p<0,06).

As seguintes categorias foram obtidas a partir da análise das respostas sobre o momento em que os alunos haviam pensado em desistir ou mudar de profissão:

- Antes de iniciar o curso: respostas relativas ao término do segundo grau, período do pré-vestibular, logo antes do início na universidade. Ex: “Depois do segundo grau, pensei em desistir ou mudar de profissão várias vezes durante o cursinho(masc, 18 anos).

- Início do curso: respostas focalizando os semestres iniciais, a primeira metade do curso, o primeiro semestre. Ex: “No início da faculdade, estava muito confusa, ainda tateando, acho que pensei várias vezes em desistir(fem, 21 anos).

- Meio do curso: respostas referentes ao momento atual, aos semestres intermediários do curso. Ex: “Neste momento, tudo está meio confuso na minha cabeça, não estou certa de estar aqui(fem, 19 anos).

- Sempre: respostas quanto a estar sempre pensando em mudar, todos os semestres, várias vezes ao longo do curso, todo o momento. Ex: “Acho que desde que eu entre na Veterinária penso em mudar, às vezes acho que todas as semanas(masc, 20 anos).

- Final de semestre: momentos finais de semestre, todo o final de semestre. Ex: “No final do semestre eu penso tudo de novo, reavalio, mas acabo ficando(masc, 30 anos).

- Momentos de mau desempenho: respostas sobre notas ruins, desempenho medíocre, momentos de reprovação. Ex: “Quando recebo notas ruins, ou me sinto menos competente que os outros, acho que penso em mudar(fem, 19 anos).

A Tabela 3 mostra as freqüências com que os diferentes momentos foram citados pela amostra total. A categoria início do curso foi significativamente mais freqüente do que todas as outras (p<0,001). Quanto a processos de orientação profissional, a maioria dos alunos declara que se beneficiaria deles (63,4%). Não foram observadas relações significativas entre acreditar que poderia se beneficiar de um processo de orientação e sexo (X2 =0,1; g.l=1; p<0,74), área de atuação (X2 =0,9; g.l=3; p<0,81) ou nível de satisfação com a escolha profissional (X2 =4,9; g.l=3; p< 0,2).

Tabela 3

Momento em que Pensou em Desistir ou Mudar de Profissão (em %)

 

 

De todos os participantes do estudo, 3,8% relatam não ser possível descrever se poderiam ou não se beneficiar de um processo de orientação por desconhecerem suas possibilidades e características. Entre os alunos que relatam se beneficiar de orientação profissional, várias razões ou momentos foram citados como importantes:

- Início de curso: respostas que situaram o processo de orientação como fundamental no início do curso, nos semestres iniciais. Ex: “Acho super importante no início do curso, para situar as pessoas, resolver a indecisão inicial(fem, 18 anos).

- Resolução de dúvidas: respostas relacionando a orientação à solução de dúvidas, incertezas, inseguranças, independente do momento. Ex: “Quando a gente ta em dúvida é bom ter o profissional para aconselhar, mesmo no meio do curso” (fem, 21 anos). Sempre importante: respostas que destacaram a importância do processo de orientação em qualquer ocasião, a todo o momento, processo sempre válido. Ex: “Ter orientação deveria acontecer sempre, em qualquer momento(fem, 23 anos).

- Confirmação da escolha: orientação profissional como auxílio na confirmação da escolha, assegurar a opção feita. Ex: “Quando a gente escolhe precisa saber se é isso mesmo, ver se ta indo certo, então fazer orientação é uma saída(masc, 25 anos).

- Informação: respostas sobre solicitação de informações sobre as profissões, cursos, mercado de trabalho, áreas. Ex: “Tem muita coisa em cada profissão, muitas áreas, uma orientação poderia te ajudar a organizar essas informações(masc, 20 anos).

- Encaminhamento: respostas descrevendo o processo de orientação como uma oportunidade de encaminhamento ao emprego, contato com empresas, estágios. Ex: “Na saída da faculdade, no encaminhamento para os estágios, poderia ter alguém para orientar, ver o melhor local, conversar(masc, 19 anos).

- Escolha de área de atuação: respostas referentes à busca de especialização, ênfases, área de atuação. Ex: “A opção pela área ou seguimento dentro da faculdade poderiam ser ajudados num processo de orientação, é tipo outra escolha profissional tu te direcionar dentro do curso(fem, 22 anos).

- Projeto profissional: orientação profissional como um processo de auxílio na construção de planos e metas profissionais, esclarecimento de objetivos e estratégias para alcançá-los. Ex: “Me vejo pensando em várias coisas para o meu futuro, e fazer orientação poderia ajudar a gente a decidir por um caminho, se ver no futuro(fem, 23 anos). Ajuda imediata: respostas que depositam no processo de orientação uma expectativa de ajuda imediata, auxílio para enfrentar o momento difícil atual, resolução de problemas urgentes, solução de questões atuais dos alunos. Ex: “Eu queria alguém para falar agora, me dar uma luz nesse semestre, que eu estou perdido(masc, 20 anos).

A Tabela 4 apresenta as freqüências em que estas respostas apareceram. Testes de diferenças de proporções apontaram que as categorias: sempre importante e informação foram significativamente mais freqüentes do que todas as outras (p<0,01). Ainda, as categorias: encaminhamento, ajuda imediata e projeto profissional foram mais freqüentes do que a categoria início de curso (p<0,01).

Tabela 4

Razões para Participar de um Processo de Orientação Profissional (em %)

 

 

DISCUSSÃO

De forma geral, os achados deste estudo mostram-se consistentes com outros existentes na literatura. Há uma grande disparidade nas trajetórias acadêmicas observadas e nas necessidades de atendimento percebidas, caracterizando a população universitária pesquisada como um grupo bastante heterogêneo, como apontam Lassance (1997) e Soares (2000), entre outros autores. Nesse sentido, a experiência universitária se caracteriza como um campo a ser explorado pelos pesquisadores, tanto em relação a questões do desenvolvimento vocacional quanto a outros temas em Psicologia.

Quanto ao envolvimento com outros cursos, seja por vestibulares anteriores ou realização de outra graduação, observou-se que a maioria dos alunos está em seu primeiro contato com a realidade universitária e a formação superior. Mesmo que a média de idade (23,6 anos) tenha sido alta para alunos em meio de curso, é possível que, estes alunos, estejam trazendo para a universidade as preocupações e ansiedades da primeira escolha adolescente. Além disso, outros alunos parecem estar realizando, na universidade, um exercício exploratório, buscando experiências em uma, duas ou mais áreas de formação antes de se decidirem. Ao mesmo tempo em que a busca de mudanças e a possibilidade de troca sejam importantes e desejáveis em alguns casos, e que a situação de indecisão possa ser encarada sob uma perspectiva mais positiva (Krumboltz, 1992), talvez este exercício de exploração pudesse ter ocorrido anteriormente, como forma de treino de habilidades de decisão e como parte da formação até mesmo educacional dos indivíduos, conforme indicação de autores como Bohoslavsky (1977) e Müller (1988). Além da escola, muitas vezes a própria família e também a universidade não estimulam a escolher ou explorar, se não pela forma concreta do abandono e do recomeço. A universidade não propicia, dentro de seu próprio espaço, um processo de exploração vocacional, considerando, erroneamente, que o aluno já está definido e maduro ao ingressar no ensino superior.

A participação em atividades acadêmicas desempenhou neste estudo papel fundamental. Esta constatação é consistente com os achados de Lassance (1997) e Brooks e colaboradores (1995), para quem o contato com as atividades da área pode aumentar ou diminuir significativamente o comprometimento com a escolha. Este estudo demonstrou que o envolvimento em pelo menos uma atividade acadêmica era o maior preditor de satisfação com a escolha profissional. Um exemplo interessante é o fato de os alunos de cursos da área de Biológicas serem, ao mesmo tempo, os mais envolvidos em atividades acadêmicas e aqueles que descrevem com maior freqüência níveis altos de satisfação e com menor freqüência indicaram já ter pensado em desistir ou mudar de profissão. Em vez de supor que estas áreas são em si mais interessantes ou que os alunos destes cursos tenham feito melhores processos de escolha, é possível pensar que a aproximação que esta área permite, desde o início, entre teoria e prática contribui muito para a satisfação dos alunos. De forma geral, atividades acadêmicas, um estágio ou trabalho que permitam o desempenho de tarefas relativas ao campo escolhido podem facilitar a tomada de decisão e a cristalização da escolha.

O fato de a maioria dos alunos não participar de atividades acadêmicas (como monitoria, bolsa de iniciação científica e estágio) pode estar contribuindo para uma falta de informações realistas a respeito da profissão, e até mesmo impedindo que muitos deles possam descrever claramente seus sentimentos em relação à escolha. Alguns alunos (2,4 %), inclusive, verbalizam o fato de que ainda não ter tido um contato com a realidade da profissão os impede de se posicionarem. Nesse sentido, a participação em atividades acadêmicas por ser um exercício profissional antecipado, pode propiciar ou não a descoberta de características, habilidades e valores relevantes para o futuro exercício profissional, como bem apontam Brooks e colaboradores (1995). Muitas vezes esse exercício profissional só é realizado após a formação, e isso é normalmente fonte de insegurança, frustração e descontentamento.

Outro aspecto observado foi a necessidade declarada por muitos estudantes de se envolverem em outras atividades remuneradas não relacionadas ao curso. As necessidades financeiras muitas vezes fazem com que os alunos tenham que abdicar de experiências próprias de sua área de formação. Neste estudo, os alunos da área de Letras e Artes referem com maior freqüência estarem envolvidos em outras atividades remuneradas e possuir menor envolvimento em atividades acadêmicas. O fato de estes alunos terem a maior média de idade (26,6 anos; dp= 8,3) pode indicar que tenham outros compromissos, com moradia ou família, por exemplo, que os leva a buscar recursos fora do ambiente acadêmico. No entanto, tendo em vista que o envolvimento em atividades acadêmicas mostrou ser o maior preditor de satisfação com a escolha, aqueles alunos que necessitam afastar-se de sua área podem vir a experienciar menor satisfação com suas opções profissionais.

Com relação ao nível de satisfação com a escolha e o desejo de desistir ou mudar de profissão, os dados apresentaram-se coerentes com a literatura do desenvolvimento vocacional (Lassance, 1997; Osipow, 1999; Savickas, 1995; Taylor, 1982). Ao se analisaram as justificativas para a satisfação com a profissão, observou-se que o grande motivo para a satisfação é a identificação pessoal com a área. Estar comprometido com uma escolha em termos vocacionais promove uma avaliação mais otimista das possibilidades, relativiza as dificuldades eventuais para obtenção de resultados e promove um maior bem-estar psicológico.

O segundo grupo de fatores que promovem uma maior satisfação com a escolha são aspectos externos ao aluno, como mercado de trabalho favorável e boa estrutura do curso universitário. Para muitos indivíduos, estes são os fatores principais para a tomada de decisão (Lassance,1997; Rivas, 1988). Hoje se percebe uma dominância de fatores externos nas preocupações e necessidades dos alunos, tanto no trabalho com adolescentes antes da tomada de decisão de carreira, quanto dos estudantes universitários e profissionais inseridos no mercado (Bardagi e cols, 2001; Cattani, 1996; Lassance, 1997). Esta discussão é fortalecida pelos dados relatados pelos alunos pouco satisfeitos ou insatisfeitos com sua escolha. Para este grupo, 66,3% dos motivos de insatisfação são relativos ao mercado e às condições do curso de graduação. Sem deixar de considerar os aspectos sócio-econômicos relevantes nem tampouco as dificuldades e defasagens de muitos cursos de graduação (Bohoslavsky, 1977; Cattani, 1996), é possível considerar que estas pessoas talvez estivessem mal informadas a respeito da escolha e suas possibilidades ou estivessem depositando expectativas irreais na formação recebida ou no mercado de trabalho (Hotza & Lucchiari, 1998).

Existe uma lacuna no trabalho de orientação profissional em promover uma reflexão mais realista a respeito do mercado de trabalho, da diferença entre curso e profissão e da dimensão social e coletiva do trabalho. Neste estudo, inclusive, observa-se uma grande confusão entre a profissão escolhida e as características do curso mais especificamente, na qual o descontentamento com as condições do ensino é generalizado para um descontentamento com a carreira de uma forma geral. Um processo de atendimento à população universitária deve abordar aspectos gerais e específicos de informação, incluindo uma discussão sobre estes fatores externos – mercado, remuneração, perspectivas de inserção profissional, entre outros. Mas, como observa Lisboa (2000), é preciso fazer isso dentro de uma perspectiva crítica de trabalho com esta informação, para que ela possa ser um instrumento para a educação e construção de projetos e não um instrumento de alienação e manutenção da obsessão pelo mercado. Apesar dos alunos estarem bastante atentos aos aspectos econômicos e contextuais, a preocupação de alguns deles com a construção do projeto profissional deve ser salientada, pois indica que mesmo no período intermediário da formação já existe o interesse em formular um planejamento de carreira e estabelecer metas que permitam sua implementação. A intervenção em orientação profissional deve, cada vez mais, dar ênfase a esse aspecto, destacando a importância do comprometimento pessoal com a escolha e da formulação de objetivos realistas e coerentes com a identidade profissional.

A heterogeneidade das experiências dos participantes, citada no início desta discussão, é confirmada pelos momentos em que os alunos referem ter pensado em mudar de profissão ou desistir e pelos tipos de necessidades de intervenção apontadas. O momento inicial foi substancialmente mencionado como um momento de possível abandono ou mudança. No entanto, muitos alunos permanecem com esta idéia por todo tempo (apesar de seguirem os estudos), outros dizem que o período intermediário é o mais difícil, entre outras respostas. Qualquer proposta de intervenção deve abordar esta diversidade, em vez de estruturar um programa a priori a ser aplicado a todos os alunos. Uma intervenção no período inicial da graduação mostrou-se importante como possível fator preventivo de futuros conflitos e frustrações vocacionais, pois a percepção da possibilidade de mudança é maior e a sensação de desperdício de tempo ou acomodação podem ainda não estar presente.

É interessante discutir as diferenças de gênero nestas questões. As mulheres descrevem com maior freqüência do que os homens já terem pensado em desistir ou mudar de profissão. Este achado mostrou-se consistente com outros dados empíricos que apontam uma maior sensibilidade feminina para a percepção de dificuldades e problemas e também uma maior disposição para mudanças (Albert & Luzzo, 1999; Bardagi e colaboradores, 2001; Luzzo, 1995). Estes estudos mostram que as mulheres referem uma atribuição de causalidade mais externa, sendo mais suscetíveis a eventos fora de seu controle, como as exigências do mercado, as condições do curso universitário, entre outros. Por outro lado, as mulheres são descritas como mais capazes de discriminar aspectos da realidade e talvez por isso consigam identificar dificuldades e barreiras de carreira com maior freqüência do que os homens. A maior disposição a mudanças parece estar relacionada a aspectos desenvolvimentais, de socialização (Grusec & Lytton,1988; Maccoby & Martin, 1983) e não tanto a questões especificamente vocacionais. Como esta investigação não tinha o objetivo de analisar diferenças de gênero, novos estudos podem ser feitos com este recorte para melhor compreender as diferenças entre as experiências universitárias: masculina e feminina.

Em relação à percepção do benefício de processos de orientação profissional, não existiu um recorte específico de gênero, área ou nível de satisfação. Os resultados principais indicam que a lacuna de informações é bastante grande entre os universitários, demonstrando que talvez tenha havido um processo de exploração vocacional pobre no momento da escolha e mesmo durante o curso. Ao mesmo tempo, a descrição dos processos de orientação como sempre importantes, por muitos alunos, aponta uma valorização deste tipo de intervenção. Grande parte dos estudantes acredita nos benefícios da orientação, não somente aqueles que descreveram problemas com sua escolha ou que já pensaram em desistir ou mudar de profissão.

Embora seja consistente a afirmação de Lisboa (2000) de que em nosso país temos a tradição da administração por crises, parece estar havendo, ao menos por parte dos próprios alunos, uma percepção de que processos de intervenção não necessitam ocorrer apenas para solucionar problemas imediatos – ainda que esta demanda tenha aparecido em 10,9% dos casos. Talvez seja o momento dos próprios profissionais e serviços de atendimento buscarem maior preparação para atender a esta demanda, já que a maioria das intervenções atuais está organizada para a solução de problemas imediatos. Trabalhos de orientação profissional feitos sob a perspectiva da promoção de saúde e bem-estar psicossocial, como define Soares (2000), parecem não ser o foco central das iniciativas atuais.

De forma geral, a passagem pela universidade é um momento propício para a retomada ou o surgimento de conflitos vocacionais, tanto quanto a adolescência ou a adultez. Embora a maioria dos alunos tenha descrito bons índices de satisfação com a escolha, períodos de insatisfação, frustração e desejo de mudança são comuns. Os achados parecem corroborar a idéia de ciclo (Lassance, 1997), em que o ajustamento psicológico à escolha vai sofrendo alterações à medida que o aluno vai passando por diferentes experiências. Tanto a literatura quanto os modelos de atendimento dão ênfase a momentos de transição, como o ingresso no ensino superior ou a inserção no mercado de trabalho (Kalakorski & Nurmi, 1998), considerando o período da formação, especialmente o período intermediário, como um momento de calmaria ou acomodação no que se refere às questões vocacionais. No entanto, deve-se salientar que, ao longo de uma mesma etapa, ocorrem períodos de re-exploração e re-estabelecimento da escolha, isto é, o estudante universitário, ao expor-se a diferentes experiências, avalia e toma decisões vocacionais que formatam sua trajetória durante todo o curso. Isto faz da vivência dentro da universidade também um período de escolhas e re-escolhas, reatualizando o posicionamento de cada estudante frente à tomada de decisão, podendo caracterizar a graduação como um período tão turbulento quanto o período que a antecedeu ou o que a sucederá (Super & Thompson, citados por Brown & Brooks, 1996).

Foi objetivo deste estudo realizar um levantamento exploratório sobre algumas características vocacionais de estudantes universitários. Os resultados obtidos forneceram informações importantes sobre as relações entre trajetória acadêmica, aspectos contextuais e satisfação com a escolha profissional. Logicamente, são necessários novos estudos, especialmente de caráter longitudinal, que avaliem o desenvolvimento destas características e relações ao longo do tempo. Além disso, são importantes investigações que procurem variáveis explicativas para uma discussão mais ampla da satisfação com a escolha e das necessidades de intervenção. Um próximo passo seria, a partir destes e de novos dados, formular propostas de intervenção com a população universitária que levem em conta as características específicas destes indivíduos, nas diferentes etapas da formação.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido: 10/04/03
Revisado: 03/06/03
Aceite final: 16/06/03

 

 

1 Endereço para correspondência: Rua Guilherme Alves, 450/204, Bairro Jardim Botânico. Cep 90680000. Porto Alegre/RS. Fone: 33165446/33337456 E-mail: bardagi@ig.com.br.

 

Sobre os autores
* Marúcia Patta Bardagi é Mestre e Doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Psicóloga com formação em Orientação Profissional (InstSer/SP), trabalha e pesquisa na área do desenvolvimento vocacional de adolescentes e adultos.
** Maria Célia Pacheco Lassance é Mestre em Aconselhamento Psicopedagógico pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Coordenadora do Serviço de Orientação Profissional da UFRGS. Atual presidente da Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP), gestão 2002-2003. Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
*** Ângela Carina Paradiso é psicóloga clínica com formação em Orientação Profissional (InstSer/SP) e profissional colaboradora do Serviço de Orientação Profissional / UFRGS.

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